As aventuras do bom soldado Švejk

As aventuras do bom soldado Švejk Jaroslav Hašek




Resenhas - As aventuras do bom soldado Švejk


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Caco 27/03/2024

Livro bom pra Cachorro!
O melhor livro inacabado que li até hoje. Para amantes de causos mirabolantes, aventuras em contexto de guerra, e de personagens carismático, o soldado Svejk é um caso a parte. Atenção: contem dezenas de vira-latas ou cachorros mestiços! é bom pra cachorro!

Porém vale ressaltar que esse romance apresenta dois defeitos:
1) o livro termina e você fica triste;
2) é o único livro dele traduzido no Brasil;

Leia e divirta-se com o soldado Svejk, para fãs de filmes como A Vida é Bela, Underground e Trem da Vida, recomendadíssimooooo!

Nota: 9,54
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Reccanello 01/12/2023

Humildemente, senhor!
Obra-prima satírica de Jaroslav Hašek, "As Aventuras do Bom Soldado Švejk", nos transporta por um labirinto humorístico que desafia instituições e autoridades. No epicentro desse turbilhão está Josef Švejk, um personagem picaresco cuja ambiguidade intriga e encanta os leitores desde suas primeiras falas, levando-nos a questionar se ele é genuinamente um idiota, como frequentemente se identifica perante as autoridades, ou um malandro astuto e sagaz que habilmente finge sua estupidez.

Švejk, ao obedecer literalmente as ordens que lhe são dadas, frequentemente se encontra em situações inusitadas, lançando uma luz irônica sobre a sociedade corrompida em que está imerso. A ambiguidade do personagem, às vezes submisso e outras vezes agente subversivo do caos, cria uma tensão narrativa intrigante, uma vez que, ao mesmo tempo em que aceita imposições com entusiasmo, é notável na forma como habilmente mantém sua individualidade dentro desses limites.

Entretanto, Hašek vai além da comédia, utilizando a sátira para abordar temas mais profundos, como a natureza da loucura, entendida aqui como uma forma de escapismo em relação às instituições, e a busca pela liberdade em meio à opressão das rígidas estruturas sociais da época. A ambiguidade de Švejk também acentua a crítica afiada de Hašek à religião e à guerra: enquanto esta última é apresentada como uma extensão cruel dos absurdos presentes em um estado moderno complexo, o grande matadouro que foi a Primeira Guerra Mundial também não podia prescindir da benção eclesiástica.

A ausência de uma moral clara ou de uma visão alternativa do mundo destaca a maestria de Hašek em manter a dualidade do personagem como um mistério persistente. Infelizmente, o autor faleceu antes de concluir sua obra, resultando em uma conclusão ambígua que deixa a verdadeira natureza de Švejk aberta à interpretação. A falta de respostas definitivas destaca a complexidade da condição humana, convidando os leitores a refletir sobre suas próprias preconcepções sobre idiotia e astúcia.

Em suma, 'As Aventuras do Bom Soldado Švejk' é mais do que uma sátira cômica; é uma exploração magistral da ambiguidade, revelando-se como uma obra atemporal que desafia as convenções e nos convida a questionar não apenas as estruturas sociais, mas também nossas próprias preconcepções sobre a natureza humana.
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Faluz 07/11/2022

Leitura divertida sobre a situação do bom soldado Svejk. em plena 1* Guerra Mundial, Svejk tenta lutar por seu país e tropeça por peripécias dignas de nota para tentar fazê-lo, aproveitando-se de todas elas.
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Paulo Sousa 27/02/2022

Leituras de 2022 - #lista1001?
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As aventuras do bom soldado ?vejk [1926]
Orig. Osudy dobrého vojáka ?vejka za sv?tové války
Jaroslav Ha?ek (??, 1883-1923)
Alfaguara, 2014, 682p.
Trad. Luís Carlos Cabral
_____________________________
?? Então o senhor é o tal do ?vejk?
? Acho que devo ser ? respondeu ?vejk. ? Meu pai se chamava ?vejk e minha mãe era a senhora ?vejková. Não posso envergonhar meus pais renegando meu nome? (pág. 33/34).
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O bom soldado ?vejk, como aparece em algumas traduções, é o longo - e incompleto - relato do personagem homônimo, um sujeito azarado que, envolvido nos conflitos que deram causa à Primeira Grande Guerra, passa à margem da história, com seu jeito peculiar de ser e de irritar quem teve a desventura de conhecê-lo.
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À medida que ia lendo o livro, mais de uma vez, rindo à beça - pois estamos diante de um sátira épica - não pude deixar de ver em ?vejk uma versão europeizada do Forrest Gump, guardadas as devidas proporções. Isso porque ?vejk é o típico anti-herói, um quase idiota que se mete e cria confusões hilárias e exasperantes, ao tempo em que sua postura impassível e serena o fazem viver quase com facilidade um dos momentos mais tenebrosos da história, que foi a Primeira Guerra Mundial.
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Para muitos, pode parecer que ?vejk é apenas um idiota que cai de paraquedas no meio do conflito bélico, mas, podemos ver que Ha?ek, ao compor sua obra ? que, ficou incompleta (seria uma trilogia!), quis ironizar a bestialidade do conflito, criticar e denunciar os regimes autoritários, então em voga.
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À parte da crítica velada, comum aos escritores tchecos, o soldado ?vejk se torna um personagem inesquecível por suas longas histórias paralelas em resposta a qualquer pergunta, à forma invertida com que ele realiza as missões que lhe confiam, e a esse universo paralelo onde parece viver, bem semelhante ao contador de histórias Gump.
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Por fim, acho que antes de ?vejk, somente ?A relíquia?, de Eça de Queiroz, havia me feito rir tanto numa leitura. Vale!
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Andre24 14/11/2021

Divertido, com notas ácidas contra um governo perdido. Tem um humor variável, indo desde piadas com peido, até ironias sutis contra o exército. Me senti um tanto burro por não conhecer melhor a história da Áustria e Rep. Theca, acho que perdi várias passagens por não entender a referência. Realmente lastimável que o autor tenha morrido sem finalizar o livro.
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IvaldoRocha 16/09/2021

Um Idiota Genial.
Alguns personagens ficam para sempre na nossa memória, o bom soldado Svejk é um daqueles personagens tido como bobo, mas que acaba se mostrando, de uma engenhosidade e criatividade ímpar, se existir alguma possibilidade dele se meter em confusão, isso com certeza vai acontecer, agora se não houver a menor chance de algo dar errado ele dará um jeito e as coisas vão sair do controle como sempre. Como ele costuma dizer “Humildemente, gostaria de dizer que é a falta de sorte”.
Está no rol dos Sancho Pança, Candido, Pedro Malasartes, Chicó de Ariano Suassuna e outros. Svejk consegue transformar em um inferno a vida até das pessoas a quem quer bem e está sempre disposto a agradá-las. Enfim ser atrapalhado é sua sina.
Svejk havia sido dispensado do exército por se considerado um idiota, mas com o início da primeira guerra mundial ele é chamado a se alistar e a sua apresentação por si só já vale o romance.
Nosso anti-herói traz muito traços do seu criador, assim como Svejk, Jaroslav foi farmacêutico, vendedor de cachorros, serviu o exército no 91º Regimento de Infantaria, na 11ª Companhia, comandado pelo tenente Rudolf Lukas. Muitos dos personagens foram inspirados em pessoas que conheceu nesta época. O trajeto ferroviário até a frente de batalha, que terminou com a chegada a pé, levou aproximadamente 11 dias, e é narrado em boa parte do romance.
Publicado, após o fim da guerra em formato de folhetim, era lido em bares frequentado por Jaroslav e embora a critica o tenha desprezado a início, “O Bom Soldado Svejk” era sucesso em todas as tabernas.
Considerado um dos primeiros romances anti-guerra e embora as suas quase 700 páginas não seja um estímulo para muitos, acredite, você vai ler até o final sem ver passar as horas.
Após a guerra Jaroslav retorna para Praga, mas encontra resistência entre alguns grupos, que o acusam de traição e de bigamia. Já doente e extremamente obeso, não escrevia e ditava os capítulos de Svejk. Morre em 3 de janeiro 1923, deixando o projeto do “Bom soldado Svejk”, previsto para seis volumes inacabado.
Publicou cerca de 1500 contos.
Recebeu algumas honrarias curiosas como o batizado dos “Asteroide 2734 Hasek” e o “Asteroide 7896 Svejk”.
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Leonardo.Fernandes 15/04/2021

Palhaço
Imagine um palhaço indo pra guerra. É tipo isso

Fui ler esperando um livro de guerra mas se trata ‘apenas’ da convocação, alistamento, despacho etc sem nunca chegar ao campo de batalha
Nosso protagonista aparentemente força a barra pra se ferrar em qualquer oportunidade pois isso, pra ele, torna a vida mais engraçada e só assim ela faz sentido
Seu cinismo é tão grande que ele se torna o personagem e não existe mais fora dele

O ponto negativo do livro é que boa parte dele é uma contação de casos aleatórios que não acabam e não fazem o menor sentido. Uma característica da personalidade do nosso herói impulsivo e tagarela que não se contém
Pretendo reler algum dia
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Analuz 15/02/2021

O que me fez ter curiosidade para ler este livro foi saber que é a obra tcheca mais traduzida para outros idiomas, superando até "A Metamorfose" de Franz Kafka. E como nunca tinha ouvido falar sobre, fui atrás para ler.
Em "O Bom Soldado Svejk", tem-se uma narrativa inusitada acerca da Primeira Guerra Mundial. Em vez de adotar o tom dramático que usualmente se vê quando este assunto é abordado, o autor Jaroslav Hasek, que de fato combateu na guerra, utiliza o viés cômico ao criar esta sátira sobre um soldado idiota. Sim, isso mesmo: idiota! Ou melhor, assim ele foi diagnosticado quando participou do exército anteriormente, e por isso foi dispensado. Mas, com o ribombar da guerra, várias coisas acontecem (e em muitas delas, confusões em que ele mesmo se mete) e lá vai Svejk de novo para a zona de conflito.
Svejk, o protagonista, não é um herói que traça estratégias de guerra e combate duramente seus inimigos. Ele apenas está lá por situações do acaso, muitas vezes traçadas da forma mais absurda pelo autor. Aliás, tudo envolvendo o soldado beira o absurdo, incluindo seu diagnóstico como "idiota"!
É inegável que Svejk tem uma linha de raciocínio bem particular, mas também é perceptível que ele possui a malícia necessária para se dar bem em determinados momentos ou para limpar a barra de seus chefes.
Ainda que não tenha muito discernimento para entender a gravidade de algumas situações, ele não vê nenhum problema em enganar as pessoas, o que aliás é seu ganha-pão no início do livro. Svejk é um vendedor de cachorros, mas o problema é que ele inventa raças e misturas e vende os cães como se tivessem pedigree, quando na verdade se tratam de vira-latas. Este é só um dos exemplos da esperteza de Svejk, que apesar de ser um grande bobão, ainda carrega consigo uma malandragem nata.
Também deve ser dado o destaque para outra característica de Svejk: além de idiota e malandro, ele também é um grande contador de histórias! Diria que metade do livro é composta por pausas na narrativa da guerra em si, nas quais Svejk insere uma história sobre alguma coisa que aconteceu a alguém. São histórias divertidas, geralmente sem pé nem cabeça e que em nada agregam ao momento ou aos ouvintes do soldado. Mas ainda assim, é um bom recurso do autor para engrandecer a comicidade da obra.
No mais, todas as situações que envolvem o enredo chegam a ser bem loucas, mas também são uma grande crítica à sociedade no período de Guerra. Desde os motivos mais absurdos pelos quais as pessoas eram presas até a forma como os soldados eram convocados a lutar e suas tentativas desesperadas de contornar este fato.
Ainda que eu não saiba muito sobre a vida do autor, pelo pouco que sei é possível perceber que ele transpõe muito de si para o próprio Svejk, mesmo que de forma bastante inusitada. Afinal, o próprio Jaroslav Hasek lutou na guerra, inventava raças loucas para animais (acreditem!) e também foi mantido em um hospital psiquiátrico por um tempo (como o protagonista logo na primeira parte do livro). Enfim, percebe-se que ele aproveitou todas as situações incomuns e tristes pelas quais passou e as transformou em bagagem para a criação de "O bom Soldado Svejk", que foi publicado em partes separadas e de forma independente. Aliás, é importante ressaltar que o livro, originalmente planejado para ser escrito em 6 partes, encontra-se incompleto, pois o autor veio a falecer após a publicação da parte 4, nos deixando sem uma conclusão para as aventuras (ou desventuras) do bom soldado.
"O Bom Soldado Svejk" é uma obra que começa divertida e tem muitas partes cômicas, mas confesso que, da metade para o final, a leitura se tornou um tanto cansativa, seguindo uma fórmula pronta com os mesmos elementos. Dentre eles, vê-se Svejk se metendo em confusões, sendo um "idiota" e contando histórias sem lá nem crá. Não digo que a leitura se tornou enfadonha por abusar dos recursos, mas sim, ficou bem repetitiva...


site: https://youtube.com/c/AnaluzMarinho
Henrique Fendrich 24/07/2021minha estante
Resenha muito boa =). Só esclarecendo o que se diz sobre ser a obra tcheca mais traduzida, na verdade é a obra "em tcheco" mais traduzida, uma vez que o Kafka escrevia em alemão.




Henrique Fendrich 14/01/2021

Obra monumental e significativa, digna de ser bem mais conhecida e celebrada do que vem sendo. De inspiração nitidamente quixotesca, a obra conta as aventuras e, principalmente, as desventuras do soldado Švejk, sujeito que oscila entre a perfeita idiotia e análises sagazes do comportamento humano. Se o bom Sancho Pança frequentemente disparava a citar provérbio atrás de provérbio, para grande irritação do seu amo, o nosso Švejk conta história em cima de história e o resultado é idêntico para tantos quantos o cercam.

Trata-se de uma narrativa que flagra o início da Primeira Guerra Mundial a partir do exército Austro-húngaro, ao qual Švejk, como boêmio/tcheco, pertencia. Acontece tanta coisa ao longo do livro que ele termina antes mesmo de o batalhão de Švejk entrar efetivamente em combate (é que o autor morreu antes de concluir a obra, que seria, portanto, ainda maior).

Há sempre o humor a permear a narrativa, tudo a serviço de uma crítica bastante pertinente a respeito do militarismo e, muitas vezes, ao clericalismo. Talvez, em determinada altura, a leitura possa parecer um tanto repetitiva, mas as caracterizações que o autor faz daquele ambiente, com todos os seus personagens, é bastante proveitosa, e com o tempo começam a se fixar certos personagens marcantes na narrativa, como o subtenente Dub ou o comilão Baloun, que deixam a leitura bem agradável, inclusive com diálogos rápidos (pelos quais deve-se agradecer também à ótima tradução).

Em termos de estrutura, talvez alguém apontasse problemas na construção do que seria um "romance", mas é possível que a melhor leitura a se fazer seja a de uma grande novela, permeada por uma infinidade de pequenas histórias contadas pelo bom Švejk.

Um trecho que considero bem marcante, porque mostra a ironia diante da guerra, que acompanha todo o livro, e ao mesmo tempo uma bela construção literária:

"Voltavam ao campo de batalha em busca de novas feridas, mutilações e sofrimentos, ou para ganhar uma simples cruz de madeira em seu túmulo, sobre a qual, ainda depois de muitos anos, na triste planície da Galícia, ondeará sob o vento e a chuva um quepe descolorido de soldado austro-húngaro com a viseira oxidada; de vez em quando pousará nela um velho corvo que recordará os pantagruélicos banquetes de antanho e a interminável mesa cheia de saborosos cadáveres de homens e cavalos, e pensará que precisamente sob um quepe como aquele costumava encontrar o mais delicioso dos bocados: olhos humanos".

De maneira geral, o que os cenários apresentados pelo autor revelam é a grande bobagem que é não apenas a guerra, mas os próprios conceitos patrióticos que a embasam, pois por onde quer que se olhe se percebe homens que não estão à vontade de estar ali e que farão o que for possível para quebrar as regras, contentando-se apenas em manter as aparências.
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Artur.Medeiros 24/05/2020

Bom livro, porém depois da metade se torna repetitivo, mas seu tipo de humor agrada
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Monique 02/01/2019

As aventuras do bom soldado Svejk
Levei um pouco mais de 3 anos para completar essa leitura, porque é massante e enfadonha de ler.
Apesar de tudo, Jaroslav nao terminou o livro e imagino que daria uma trilogia, porque a historia vai se desenrolando muito e muito devagar. Eu li 688 páginas e eles ainda estavam chegando diante do front, toda a historia se passou entre a vida do Svejk como cidadão e como soldado.
É narrado em terceira pessoa e as partes cômicas se perdem no tempo e na diferença de tempo e sociedade, eu acabei não entendendo algumas, mas ri em outras.
Ele é insistente ao contar as historias para as pessoas e algumas acabam irritando-se; outras, escutam sem entender muito qual é a deele.
Por ai vai.
O livro é basicamente isso.
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none 08/01/2018

Extrair humor de dentro da guerra é como tirar leite de pedra
Jaroslav Hasek poderia ser o equivalente tcheco literário do que foi Chaplin e Buster Keaton no cinema, sua linguagem cínica, ranheta, mal humorada no entanto imprime sua marca peculiar. Muitas vezes durante a leitura me peguei comparando o protagonista com o seu equivalente americano Ignatius Reilly (de A confraria dos Tolos, John Kennedy Toole). Um quixote tcheco. Que foi parar no exército durante a primeira grande guerra por um enorme equívoco (equívocos na verdade são todas as convocações de todas as guerras, mas o de Svejk é maior porque ele é o maior palerma de todos, aquele que reflete a tolice ou a insanidade dos ''normais'' ao seu redor). O idiota da aldeia se sente muito bem como bom soldado, claro.
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Beluga 23/03/2017

‘As Aventuras do Bom Soldado Svejk’(lê-se Schweik) é um calhamaço tcheco sobre as aventuras do soldado titular durante a Primeira Guerra Mundial. De início, achei que fosse ter o mesmo problema que Dom Quixote: uma obra de tida como cômica cuja graça se perdeu com o contexto e o tipo de humor que apreciamos. Confesso que ainda não consegui ler a obra de Cervantes, mas não foi o que aconteceu com esse livro, definitivamente. Como Svejk foi originalmente escrito para ser algo informal, emulando a conversa das tavernas, ele não sofre por excesso de formalismo no vocabulário; é possível rir do livro, entender seu humor e compreender os muitos xingamentos utilizados. Ainda assim, é extremamente difícil avaliar criticamente uma obra como essa, uma vez que ela foi escrita com um contexto em mente e jamais seu autor pensou que ela poderia ser lida em outro continente, quase cem anos depois. Não dá para tomar o livro pelo que o autor se propõe porque simplesmente não dispomos de qualquer base razoável de comparação. Então novamente recorro ao que eu, pessoalmente, achei do livro: é bastante divertido.
Nunca fica claro qual é a do bom soldado: se ele é, de fato, um imbecil, ou é um grandioso dum sacana, que se diverte à custa do sistema e se mete no máximo possível de confusões de forma à evitar a Guerra Mundial que o cerca. Particularmente, opto pela segunda explicação, principalmente por conta do tratamento dado por Svejk à Baloun e ao subtenente Dub, onde ele demonstra mais malícia e esperteza do que seria possível caso fosse o completo idiota que pode parecer. Além disso, há o fato de que o livro tem fortes tons autobiográficos; boa parte das experiências narradas no livro transcorreram com Jaroslav, quando este era soldado na Grande Guerra. São feitas várias menções também às profissões que ocupou e as trapalhadas que fazia, como quando era redator de uma revista sobre animais mas fora demitido porque vivia inventando bichos novos. Jaroslav é claramente o que hoje chamaríamos de ‘troll’, e tenho cá para mim que Svejk é uma representação idealizada do autor: um sacana inveterado. O soldado, com sua enxurrada de exemplos inconvenientes para cada situação passa a aura real de um diálogo de bar, onde toda a história de Svejk lhe está sendo contada entre um caneco e outro. Parece muito que Jaroslav está de fato conversando com o leitor, e deu muita vontade de de fato conhecê-lo.
O livro, porém, é um relato cheio de terminologias militares que podem ser confusas, e entender como funciona a dinâmica de um exército naquela época certamente tornaria o livro bem mais apreciável. Isso não impede, porém, que a obra nos passe sua mensagem: a da brutalidade da guerra e a burrice da burocracia, que acaba por ser a principal antagonista de Svejk durante toda a história, fazendo-o rodar meio mundo por conta de mal-entendidos. Não surpreende, também, que o livro tenha sido proibido tantas vezes, dada sua crítica mordaz aos regimes anti-democráticos e sua zombaria constante das autoridades. Não surpreende que Jaroslav tenha sido um anarquista,mesmo tendo fundado um partido, cujo nome era ‘Partido do Progresso Moderado Dentro dos Limites da Lei’. (É sério).
Assim, Svejk é uma obra pouco lembrada hoje em dia, mas com uma mensagem extremamente importante, bom humor e bons ‘descendentes’: Joseph Heller, autor de ‘Ardil-22’, diz que não teria conseguido escrever sua obra-prima sem ter lido Svejk, e Bertolt Brecht, ídolo de muitas camisetas por aí, colocou o livro como uma das três principais obras da literatura do século XX. É dele também a famosa adaptação teatral, que ainda não li para evitar misturar as duas coisas. O pior de tudo é que Jaroslav foi tão sacana que sequer terminou o livro, tendo morrido antes. Ele simplesmente acaba, sem mais nem menos, no meio da Guerra, sem nem terminar o capítulo propriamente. Extremamente digno do bom soldado. ‘Humildemente, meu senhor…’

site: https://medium.com/@tamireinhornsalem/o-troll-original-ef830e671249#.73tcqiafz
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jota 02/03/2017

Oh, que delícia de guerra...
Em O Prazer de Ler os Clássicos, Michael Dirda classifica o livro de Jaroslav Hasek (1883-1923) como uma fantasia jocosa, que podemos entender como um texto de ficção cômica, uma sátira enfim.

De fato, há muitos momentos engraçados neste livro, episódios vividos pelo soldado tcheco Svejk ou por algum conhecido dele, contados para encher linguiça (ou salsicha) enquanto se deslocava de um lugar para outro durante a Primeira Guerra Mundial.

O bom soldado Svejk, um dos personagens mais importantes e queridos da literatura tcheca, é um misto de tolo e safado, um anti-herói trapalhão, sempre metido em alguma confusão, comilança ou bebedeira. Mas a seu modo ele é também um crítico feroz do militarismo e dos regimes antidemocráticos.

Michael Dirda recomenda o livro com entusiasmo, obra que igualmente mereceu elogios calorosos de Bertold Brecht. O problema, para o leitor comum (e eu sou um) é que o livro é extenso demais, algumas situações apresentadas parecem repetidas e também é uma obra inacabada: Hasek morreu antes de terminá-la.

Embora não seja tão importante assim saber o que aconteceu com o bom soldado Svejk. Este, no inferno ou no céu, certamente continuaria contando (ou inventando) suas inacreditáveis histórias para quem estivesse disposto a ouvi-las. Ou não (como ocorria algumas vezes com seus superiores militares).

Lido entre 20/02 e 01/03/2017. Minha avaliação: 4,5.
Marta Skoober 12/11/2017minha estante
Leitor comum você? Pois, pois!


jota 14/11/2017minha estante
Veja você que não consegui passar da página 30 de Ulisses, do Joyce. Um bom leitor iria até o fim.




Rodiney 17/11/2016

Quem é afinal Svejk?
Para mim é essa a grande pergunta do livro: Quem é afinal Svejk? Algumas vezes parece sábio, outras um perfeito idiota. Na minha opinião, Svejk é um cínico. Não no sentido popular brasileiro, mas no sentido filosófico da antiguidade. Svejk é um tipo de Diógenes que zomba de toda preocupação humana. Nada pode abalar Svejk: nem a guerra, nem a forca, nem as ameaças do subtenente Dub, etc. Infelizmente a obra ficou inacabada com a morte de Hasek e cabe a cada leitor "completar" as aventuras e desventuras de Svejk e seus companheiros no front. É certo que Svejk sobreviveu ao front, pois o narrador deixa isso explícito, pois em alguns momentos narra a história no passado e evidenciando a existência de Svejk em paralelo. Enfim, eis aí Svejk, uma metáfora do ser humano que para o subtenente Dub, "ele se faz passar por idiota para encobrir suas canalhices." e para um coronel que encontrara "um soldadinho simpático!"
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