Ensinando a transgredir

Ensinando a transgredir bell hooks




Resenhas - Ensinando a transgredir


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Toni 20/12/2018

O Escola Sem Partido foi suspenso até o ano que vem graças à luta de deputadas como Érika Kokay (PT-DF). Na caça às bruxas que leva o desvairado nome desse projeto, bell hooks (assim mesmo, em minúsculas) seria um alvo fácil: mulher, negra, paulofreiriana, defensora de uma pedagogia libertadora e contra-hegemônica. Os 14 ensaios que compõem este livro falam, sobretudo, de tudo aquilo que os defensores da moral-e-dos-bons-costumes odeiam: uma pedagogia não-bancária, não-maniqueísta, ciente das questões de gênero, raça e classe que determinam as relações de poder dentro e fora da sala de aula. E não acaba aí: uma pedagogia que leva em conta a experiência de discentes e docentes, a corporeidade desses sujeitos e a responsabilidade de todos no funcionamento da aula. Negra e feminista, ainda por cima.
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A pedagogia engajada de bell hooks nos convida a estar sempre no momento presente, a criar comunidades pedagógicas nas quais os alunos aprendam a escutar uns aos outros. Educar para a liberdade, segundo hooks, significa definir e mudar os modos como todos pensam a educação, e encontrar epistemologias alternativas que se distanciem cada vez mais dos modelos educacionais que apenas reforçam a dominação de estruturas neoliberais de supremacia branca. Não basta, para a autora, que o professor universitário inclua escritoras e pensadores negros em seu currículo no curso de Letras se as questões de raça e gênero, por exemplo, são preteridas durante a discussão.
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Ainda que em sua maioria os textos presentes nesse volume tenham sido escritos antes de 1994, é triste pensar o quanto a situação das salas de aula em universidades estadunidenses se assemelha a de nossas salas presentes e futuras (tendo em vista o processo de desmonte das universidades públicas iniciado com o Golpe de 2016). Não obstante, o texto de hooks é cheio de um entusiamo intelectual insurgente inspirador: verdadeiro alento para aqueles que acreditam em um ensino que permita a transgressão, e no qual a presença de todos seja reconhecida e celebrada.
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NahVarella 10/11/2022

A autonomia do pensamento crítico não são tarefas simples
O livro Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade foi escrito em 1994 por bell hooks. Foi traduzido para o português em 2013, o livro contém 14 capítulos e uma introdução, totalizando 288 páginas. Apesar de sua tradução tardia para o português, quase 20 anos após a sua publicação. bell hooks é uma das mais importantes intelectuais da atualidade. Desde a década de 1980 até os dias atuais, ela já publicou mais de 30 livros. A obra traz brilhantes ensaios que são muito comuns ainda hoje dentro de sala de aula, como os ataques a escolas públicas e a herança de Paulo Freire.

Ao longo dos 14 capítulos, hook revela estratégias, dificuldades e os principais autores que influenciaram os seus anseios ao longo de sua jornada como aluna e professora dentro de sala de aula. Apesar de terem sido escritos em momentos distintos, os capítulos dialogam entre si e se aprofundam em temáticas defendidas pela autora. Que apresenta o seu ponto de vista tanto como aluna, quanto como professora em diferentes contextos e sobre como a aplicação de uma pedagogia engajada pode influenciar os alunos e os professores negros ou brancos a transgredir. O livro traz uma nova ótica sobre a educação, onde professores conseguem ensinar alunos a transgredir barreiras raciais, sexuais, de classe e atingirem a liberdade.

No primeiro capítulo do livro, hooks inicia o ensaio sobre a pedagogia que apoia e aplica em suas aulas como professora e ativista ? a pedagogia engajada. Uma pedagogia que propõe ?um jeito de ensinar que qualquer um pode aprender?, (p.25) hooks inicia assim as suas reflexões sobre a construção engajada do processo de ensinar e aprender. Além disso, ela fala do aspecto sagrado da docência, que não tem nada haver com religiosidade, mas sim, com a missão docente de transmitir uma aprendizagem que promovesse a libertação. Esses professores deveriam ter o desejo e a vontade de olhar a singularidade de cada aluno e trazer respostas a suas questões profundas com profundo compromisso.

Ao ir contra a perspectiva da educação bancária desde sua graduação, hooks estabelece um diálogo com a pedagogia como prática de liberdade de Paulo Freire. A obra de Freire afirma que para a educação se torna libertadora quantos todos tomam posse do conhecimento, ou seja, uma construção coletiva. Essa noção de trabalho coletivo faz o diálogo Thich Nhat Hanh, que apresenta uma prática de agir, refletir e por fim modificar.

A autora nos apresenta a problemática dos professores que não querem ensinar e dos alunos que não querem aprender. Gerando uma crise na educação. Reflexões da falta de compromisso e da ausência do aspecto sagrado da prática docente, que acabam por compactuar com as estruturas de repressão e exclusão. Por isso, nos apresenta a pedagogia engajada como uma solução capaz de resolver os problemas da educação. Entretanto, a mesma é exaustiva, visto que requer o real compromisso do professor como mediador e dos alunos como participantes ativos dentro de sala de aula.


[? A academia não é o paraíso, mas o aprendizado, é um lugar onde o paraíso pode ser criado. A sala de aula com todas suas limitações continua sendo um ambiente de possibilidades. Nesse campo de possibilidades, temos a oportunidade de trabalhar pela liberdade, exigir de nós e de nossos camaradas uma abertura da mente e do coração que nos permite encarar a realidade ao mesmo tempo em que, coletivamente, imaginemos esquemas para cruzar fronteiras, para transgredir. Isso é a educação como prática da liberdade?] HOOKS, 2013. pág. 273.

Bell hooks nos faz um convite a (re) pensar a essência da educação, principalmente a capacidade da educação de causar mudanças na vida e na trajetória das pessoas que a ela têm acesso. Mais do que promover mudanças na vida das pessoas, a educação mexe com as estruturas dominantes. Não é atoa que a educação, o currículo e as práticas revolucionárias tenham tanta dificuldade de serem implementadas e fake news vem sendo espalhadas sobre a educação nos últimos anos, principalmente no Brasil. A verdade é que mexer nas estruturas desagrada o sistema capitalista neoliberal, os políticos e os grandes empresários, não querem uma sociedade pensante, crítica e sem medo de transgredir. Tais fatos se tornam óbvios, ao pensar no contexto brasileiro de 2016 até o presente. Por isso, os professores negros e brancos precisam se esforçar para construírem em seus alunos a consciência critica, a educação precisa ser libertaria. E para isso, todos devem tomar posse do conhecimento como se fosse este uma plantação em que todos têm de trabalhar. ( pág. 26.)

A autora comenta sobre o racismo e o elitismo dentro de espaços acadêmicos em experiências como professora e aluna nessas instituições. Deixando bem claro que ?As vozes dos alunos nem sempre são ouvidas?, esse silenciamento contribui para um abafamento da voz dos alunos, principalmente em questões étnicas e raciais, contribuindo para a manutenção do conversador ismo, estigmas e racismo dentro das escolas e universidades. Outro instrumento de opressão apontado por bell hooks é a língua, que destaca como que a linguagem padrão eleita pela elite, exclui os alunos que apresentam marcas de linguagem periféricas.

A escola não pode continuar sendo um ambiente de opressão, por isso ao longo de todos os capítulos, hooks questiona as praticas tradicionais e propõe uma pedagogia engajada, coletiva com ênfase na pedagogia feminista. Visto que, o movimento feminista é importantíssimo na luta contra a opressão. O movimento impactou positivamente a educação, na busca de igualdade de direitos e liberdade, as feministas negras romperam com as ferramentas que as silenciavam, trazendo para dentro do sistema educacional o combate ao racismo, preconceito de raça e gênero e outras desigualdades. Por isso, é fácil identificar o porquê era tão importante para Bell incutir a pedagogia libertadora e transgressora dentro dos espaços acadêmicos e da nossa sociedade.

Esse livro me fez refletir sobre o sistema educacional como um todo, e como muitos professores ainda são omissos de suas
responsabilidades como docentes. A pedagogia crítica, promover uma educação para a liberdade e a autonomia de pensamento crítica não são tarefas simples, exigem muito esforço do professor, mas são de extrema importância no contexto social e histórico em que vivemos hoje. Ensinar a transgredir deveria ser o novo método tradicional, educar para a liberdade não pode ser um diferencial apenas de escolas construtivistas. ?Esse livro é um convite à profunda reflexão da educação como prática de humanismo, é importante refletir na nossa prática pedagógica e atentar-nos ao dito por Freire? A educação não muda o mundo. Educação muda as pessoas e as pessoas transformam o mundo.?
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Alexya 14/08/2021

Inspirador
Como uma professora que iniciou a carreira recentemente no ensino superior, me identifiquei muito com os relatos de bell, especialmente sobre como lecionar é um exercício dialógico e a gente precisa da turma também pra poder fazer funcionar. Além disso, ler ela contar sobre o encontro com Paulo Freire é de muito orgulho pra uma docente brasileira. Renova esperanças?
Vitória Gomes 14/08/2021minha estante
bell aponta caminhos possíveis de transformação. Maravilhosa demais ?




Danielle Bambace 13/01/2022

As belezas da educação libertadora
bell hooks é precisa: essa obra é um descortinar necessário a todos que de alguma forma se relacionam com a educação. A autora não somente traz um panorama interseccional sobre a prática docente, como compartilha sua trajetória como mulher negra na academia. Enfrenta tabus como nunca vi. Um livro de coragem.
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Carol 24/04/2023

Demorei pra ler por culpa minha mesma rs mas é muito bom esse livro, adoro a forma como ela escreve de uma maneira bem acessível, não é uma escrita difícil sabe, fora os assuntos importantíssimos.
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Jota.Carmo 06/01/2022

uma sensação estranha continuar a leitura de Bell depois do seu falecimento e ainda assim a sentindo pulsando em cada linha. me sinto sentada conversando e rindo com Bell cada vez que leio algo seu enquanto aprendo e me descubro bem do jeitinho da prática de liberdade que ela traz. eterna Bellzinha
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V_______ 15/04/2022

Ensinando a Transgredir
Ensinando a transgredir é um livro formado por 14 ensaios de bell hooks, pseudônimo de Gloria Jean Watkins, ativista estadunidense reconhecida mundialmente por sua luta feminista e antirracista, falecida em dezembro de 2021, nos deixou uma vasta obra que é referência e certamente será fonte de estudos por muitos anos ainda.
Nesses ensaios bell hooks foca em suas próprias experiências no ensino e métodos de tornar a experiência mais satisfatória e igualitária, uma grande admiradora do trabalho de Paulo Freire (inclusive um dos ensaios é sobre o educador brasileiro) que prega o fim da "educação bancária", o que se encaixa perfeitamente no método de hooks, que aqui foca na introdução efetiva dos negros e em especial da mulher negra no ambiente universitário, e em como o feminismo negro deve se portar diante a sociedade. Mulher negra, vinda de família pobre e do sul estadunidense, região conhecida pela segregação racial, bell hooks pode falar disso com muita propriedade, pois sabe das dificuldades e preconceito que o movimento enfrenta, inclusive dentro do próprio feminismo.
A experiência de leitura foi muito satisfatória, pude entender melhor sobre o movimento e a direção que se deve tomar para combater nessa luta. Uma leitura que pode fazer total diferencia para todos educadores.
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Herly 28/08/2020

Literalmente transgressor
Neste livro Bell Hooks nos convida a pensar uma nova forma de aprender e ensinar que perpassa diversas variáveis sociais e históricas. Ela é muito cirúrgica em apontar problemas no funcionamento da nossa educação atual e, embora esteja narrando uma experiência estadunidense, consegue tocar pessoalmente a experiência dos alunos universitários brasileiros. Vale demais a leitura, este livro mudou pra sempre o modo como enxergo a sala de aula daqui pra frente.
Anna1371 22/09/2020minha estante
bom dia!!! gostaria de saber se você acha que esse livro tem a ver com a temática de desigualdade social e seus impactos na educação, pois vou fazer um trabalho da faculdade e preciso ler um livro que tenha a ver com essa temática :))




ClaudiaMF 28/11/2020

O prazer de educar
Leitura que me apresentou a obra de bell hooks. Fiquei tão absorvida que li, reli, anotei e debati com colegas que também estavam e permanecen mergulhadas no debate sobre o poder transgressor da educação. Estou agora com uma fila de outros livros da bell hooks na estante e retomando Paulo Freire. Para educadoras, leitura necessária para reacender a chama da esperança na educação. Educar transforma sim!
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Delano Delfino 03/12/2021

A escola tem que ser muito mais do que inclusiva, ela precisa ensinar os alunos a terem pensamento crítico, a questionar a realidade.
Alunos não devem se sentar por seis, oito horas em uma sala de aula e aprender a decorar a matéria. Quem tiver melhor memória, se dará melhor na vida?
A escola serve para ensinar o aluno a pensar, ter pensamento crítico, questionar , questionar o próprio professor.
Professores que não questionam a sua pedagogia de ensino e buscam melhora-las estão presos no mesmo sistema de ensino no qual foram educados. Ou seja, repetem a mesma filosofia de outra época. Esse livro de Bell Hooks é um sopro de esperança de pra quem deseja ver mudanças efetivas na realidade.
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Carol @solemgemeos15 08/03/2020

“Ensinando a Transgredir”: a visão de bell hooks sobre pedagogia
Informações sobre o livro

Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade foi escrito em 1994 por bell hooks, somente sendo traduzido para o português em 2013 por Marcelo Brandão Cipolla. Contém 288 páginas, divididas em 14 capítulos e uma introdução.

Apesar de ser uma obra da década de 90, é notável que este ensaio ainda têm relevância — especialmente quando se observa o ataque a educação pública (e aqui) e a herança de Paulo Freire (e aqui).

Neste livro, hooks fala sobre a pedagogia que apoia e aplica em suas aulas como professora e ativista — uma pedagogia engajada. Uma pedagogia engajada que propõe “um jeito de ensinar que qualquer um pode aprender”, como a mesma fala.

O livro defende uma abordagem transformadora da educação em que professores conseguem ensinar alunos a transgredir barreiras raciais, sexuais, de classe, dentre outras e atingirem a liberdade.

Com uma linguagem acessível, hooks argumenta através de anedotas de sua experiência enquanto professora e aluna sobre a aplicação de uma pedagogia engajada.
Temas abordados

bell hooks observa que há um problema na educação dos Estados Unidos [país onde a mesma mora e leciona]: os alunos não querem aprender e os professores não querem ensinar. Isto é, há uma crise na educação.

A mesma acredita que o modelo de Educação Bancária, em qual há uma autoridade, o professor, que detêm conhecimento e o repassa unilateralmente aos alunos, que são passivos nesse processo não funciona bem.

A solução para resolver a crise na educação é a pedagogia engajada. No entanto, a mesma é deveras exaustiva, pois exige que os professores tenham um compromisso com a autoatualização e promovam o bem-estar, assim como exige que os alunos sejam participativos na sala de aula.

Outro tema que é abordado é a própria pessoa de Paulo Freire. hooks fala de como as obras de Freire foram um sopro de ar fresco para a mesma pensar na forma que poderia aplicar uma pedagogia engajada. E que, embora, possua críticas à primeiras obras de Freire, o mesmo aceitou-as e afirmou que estava trabalhando em cima das críticas feitas a ele.

Pensando no espaço da academia, hooks comenta sobre o racismo e o elitismo, da qual existe. Assim como, comenta sobre sua experiência enquanto aluna na disciplina de Estudos Feministas e sobre sua experiência enquanto professora ao pôr em voga um viés feminista.

Ainda pensando no espaço acadêmico, hooks fala como ser uma das poucas professoras focadas em promover uma pedagogia libertadora é difícil. Além da dificuldade por si só de promover um espaço democrático, tal espaço ruir devido a falta de uma comunidade pedagógica que a promova e a sustente.

Ademais, ela percebe a forma como a linguagem molda suas aulas e o mundo e como é percebido os corpos [tanto dos alunos quanto do professor] no processo pedagógico.

E, por fim, sobre o êxtase de ensinar e aprender.
Considerações finais

O livro é impressionante, trazendo à tona uma discussão imperiosa sobre como vermos e usamos a educação em uma sociedade que procura manter o ciclo de dominação vigente.

Como não sou da área da pedagogia, considero um livro particularmente denso para minha compreensão. Com toda a certeza, este livro me possibilitou a discussões que eu nem tinha sequer cogitado. Válido para os que buscam uma alternativa para defender de educação libertadora.

site: https://medium.com/revista-subjetiva/ensinando-a-transgredir-a-vis%C3%A3o-de-bell-hooks-sobre-pedagogia-f8b555094165
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gabriel 03/01/2022

Excelente coletânea de ensaios

Gostei bastante desse livro, é inegável a habilidade literária da escritora americana bell hooks (pseudônimo de Gloria Watkins, que ela propositalmente grafa em minúsculas), inclusive este foi um dos aspectos que mais me surpreendeu, pois os textos dessa área do conhecimento (sociologia, teoria crítica, estudos culturais) possuem um ranço bem desagradável, com aqueles vícios de linguagem típicos da área. Aqui a autora foge bem dessas armadilhas e entrega um texto limpo, agradável e sedutor. É uma leitura incrível e ela sabe conduzir as ideias de maneira envolvente, quando você notar, já está perdido no meio das letras dela (e não quer sair mais).

Como o título já sugere, o foco dos seus ensaios é a educação, sempre tomada de maneira crítica e com bastante influência do educador brasileiro Paulo Freire. Este último aparece em vários momentos, seja de maneira explícita (como, por exemplo, em um dos ensaios, em que ela relata um encontro com ele), seja de maneira indireta, principalmente através da sua ideia de "educação bancária". Outro foco é o tema da raça, importante para a autora (negra e militante, tendo crescido no Sul racista norte-americano), assim como o feminismo e, de maneira muito menor, a questão de classe.

Só achei que algumas questões foram tratadas de maneira muito superficial, em nenhum momento há uma crítica politizada, que aborda questões "macro" da política. Não há, por exemplo, geopolítica, economia, nem questões sobre os governos. Ela fala de imperialismo em um dado momento, mas é somente isso, o assunto não é aprofundado ou relacionado com os temas discutidos, é apenas mencionado de passagem. Há um ensaio interessante sobre questões de classe, mas parece que ela o fez apenas para "equilibrar o jogo", em pouquíssimos outros momentos da seleção estas questões aparecem. É uma pensadora, portanto, quase que totalmente comprometida com a questão racial somente, e com o feminismo de maneira ambígua (na medida em que ele é branco e classista, ela assume o seu posicionamento crítico). De toda forma são questões importantes e que merecem ser trabalhadas.

O ensaio é um gênero que esta autora domina de maneira bastante rara, difícil ver um autor tão à vontade nesse tipo de texto. Utilizei uma estratégia errada de leitura no entanto, que foi ler tudo na sequência, de maneira relativamente rápida: creio que, através de uma leitura mais espaçada (e pausada), o texto seja melhor aproveitado. Os ensaios são independentes entre si e podem ser lidos em qualquer ordem, a qualquer momento.

Um dos últimos ensaios surpreende ao falar sobre o erotismo, expandindo o conceito para uma espécie de "passionalidade" tomada de uma maneira geral, benéfica. A separação mente e corpo, colocada na conta de uma certa "tradição ocidental", é uma gambiarra filosófica jamais aprofundada, mas como estamos no campo do ensaio cultural e não da filosofia, é uma ideia que pode se sustentar e que leva à reflexão. O afeto é um subtema que permeia todo o livro e que torna o seu pensamento bastante atraente.

A grande moral da história é que hooks é uma pensadora habilidosa, com uma escrita chamativa, não é exuberante mas seduz. É uma escrita envolvente e agradável, e até mesmo por isso, é preciso um certo cuidado para manter um mínimo distanciamento crítico. Não porque se deva implicar gratuitamente com a autora, mas para não se deixar levar no "bico", ou até para entender de maneira mais precisa os pontos levantados pela autora. Muitos autores com essa característica de agradabilidade merecem a mesma ressalva. É muito fácil se deixar encantar pelo texto.

Outro tema muito presente, e que está em praticamente todos os ensaios, é um profundo anti-academicismo. A autora é fortemente crítica ao universo acadêmico, e eu pessoalmente consegui concordar com a maioria das suas críticas. Espécie de mundo intelectual próprio e com ares de confraria (leia-se, um clubinho fechado elitista), é um mundo que se reúne em volta de jargões e hábitos que visa a construir (e manter) hierarquias. Achei as críticas na medida e bastante necessárias, provocando importantes reflexões.

Em nenhum momento ela fala em superação das desigualdades e das diversas opressões (racismo, machismo e outras, mas principalmente as duas primeiras neste livro dela) por via da transformação social. O foco é cultural e comportamental, tomado de maneira individual. Isso foi um pouco desanimador, pois me pareceu um foco despolitizado. De toda forma, ainda assim são pensamentos muito valiosos.

Este livro faz parte da nova coleção "Os Pensadores", agora na mão da Folha de S. Paulo. Não quero entrar em detalhes sobre as opções dos editores, mas está muito clara a forte mão política na seleção dos livros. Muitos dos textos e autores das coleções anteriores (que circulam largamente aí pelo país e que são facilmente encontrado em sebos a preços baratos) foram diluídos ou retirados. Parece que, para compensar tal opção, eles adicionaram uns autores "da moda" (como a própria bell hooks), como um meio de disfarçar isso. De quebra, temos que aguentar economistas de segunda linha, como o irrelevante Mises (que nomeia um importante think tank no país) e Hayek, que faz parte da famigerada "Escola Austríaca". São pensadores que valem ser conhecidos, mas que revelam opções políticas do Grupo Folha; o que é natural, para quem conhece o histórico deste grupo.

Os livros anteriores da série eram mais bem trabalhados, continham notas dos tradutores que justificavam certas escolhas e tinham textos mais aprofundados. Isso, além de prefácios que, em muitos casos, se tornaram clássicos por si só, redigidos por especialistas com longo histórico de pesquisas no autor. Você era conduzido por mãos seguras. Aqui, nem uma apresentaçãozinha mequetrefe teve. Não sei se isso se repetirá nos demais textos da série, no entanto.

De qualquer forma, o texto em si da hooks é ótimo, e para quem tem interesse na área de pedagogia ou licenciatura, é um material imperdível, vai ser muito rico em reflexões. Foi uma ótima companhia aí para o meu fim/começo de ano, o texto é de um estilo agradável e com ideias surpreendentes, e que provoca e amplia debates.

O texto de hooks é bastante hábil, de repente você está ouvindo uma história pessoal da autora, para aí no segundo momento cair num conceito complicado e acadêmico; e isso, sem nem sentir o baque, o que é prova da excelente escritora que ela é. Para além dos educadores, o texto pode ser interessante para quem está entrando no mundo acadêmico, para entender que este mundo pode ser mais espinhoso e exclusivista do que se imagina. Importante, então, para manter um tom crítico, além da sanidade mental.
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Fer 29/10/2020

Simplesmente virou meu "livro-guia". Eu já tinha lido o prefácio há algum tempo, mas agora li completo. PERFEITO! Essa mulher é incrível, traz umas reflexões essenciais. O livro é recheado de ensinamentos, por forma de histórias pessoais, entrevistas, narrativas, enfim... minha cópia está cheia de post-it e anotações. Perfeito perfeito perfeito.
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sabren 27/04/2023

Uma leitura pra faculdade que me impactou bem mais do que eu imaginei que poderia ser possível. bell hooks tem um modo de escrever muito singular, ela parte de uma experiência pessoal e vai desenvolvendo seu pensamento e embasando sua teoria com uma linguagem acessível e que nos permite olhar ao nosso redor e notar coisas que antes passavam despercebidas, algo que também achei interessante é como ela sustenta seu argumento envolvendo classe, raça, feminismo, amor e até mais.
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