As Portas da Percepção / Céu e Inferno

As Portas da Percepção / Céu e Inferno Aldous Huxley
Aldous Huxley




Resenhas - As Portas da Percepção / Céu e Inferno


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Caetano.Bezerra 28/06/2021

O livro é composto de dois ensaios, sendo o primeiro sobre a própria experiência do autor com a mecânica e o segundo sobre a relação dos alucinógenos, naturais, artificiais ou prováveis, na história e na arte.

É, porém, umas leitura truncada. Recomendo se você estiver muito na vibe, mesmo sendo curtinho.
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Di Morais 20/06/2021

As portas da percepção Céu e inferno
As Portas da Percepção é um livro de 1954, escrito por Aldous Huxley, onde o autor pormenoriza as suas experiências alucinatórias quando tomou mescalina. O título provém de uma citação de William Blake: ? If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite. ?
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Matheus.Andrade 02/06/2021

Essas obras me abriram portas para um outro mundo. Em As portas da percepção, Huxley introduz a passagem para essa dimensão encantada por meio dos alucinógenos. Já em Céu & Inferno, o escritor finalmente admite o quanto a arte e alguns elementos naturais também são passaportes para outros belos e assustadores estados de consciência.
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Zé vendeiro 19/04/2021

Estudo empírico conduzido por Huxley sobre alteração de consciência a partir da substância mescalina extraído do cacto mexicano peiote usado desde a ancestralidade em rituais xamanicos...

Entre o céu e o inferno demonstra como "Estados de espíritos" podem influenciar de maneira diferente a mente humana quando doses em quantidades controlados podem levar o mesmo indivíduo em dias alternados, a um estado que vai do êxtase supremo á uma bab trip violenta.
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Cassiano.Monegate 15/04/2021

Um livro que fala sobre mentalidade humana e natureza
Huxley subiu de patamar nas minhas considerações...
Gostei muito deste livro. Ele é interessante de ler, o autor traz a experiência dele com a mescalina, detalha suas miragens que teve quando usou a substância, e depois reflete sobre elas.
Ele apresenta, juntamente com as experiências diferenciadas dele, várias reflexões acerca dos modos que vemos e usamos determinadas coisas para atingirmos as "experiências visionárias do Outro Mundo" (algo como "alcançar um outro nível de consciência") com elas, como as cores, as obras de arte, os rituais religiosos, etc.
É um livro que recomendo para quem tem curiosidade em aprender sobre a magia dos enteógenos e explorar outras perspectivas de entendimento sobre a vida e a relação do ser humano com o Planeta Terra.
Dá para aprender bastante sobre obras de arte com este livro também, ele cita muitos pintores e expõe observações sobre determinadas pinturas.
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Diego Rodrigues 28/03/2021

"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito." - William Blake
Em 1953, Aldous Huxley, escritor já renomado com obras como "Contraponto" (1928) e "Admirável Mundo Novo" (1932) em seu currículo, se submeteu a uma experiência com mescalina, um alucinógeno natural extraído do cacto peiote. O objetivo? Abrir as portas de sua mente. Huxley defendia a tese de que o nosso cérebro, com o intuito de nos preservar e garantir a nossa sobrevivência, age como uma espécie de válvula limitadora, um filtro, e que, por conta disso, nós não percebemos o mundo ao redor como ele realmente é. Assistido pelo psiquiatra Humphry Osmond, Huxley fez seus experimentos e os resultados podem ser conferidos em duas obras: "As Portas da Percepção" (1954), livro que se tornou um dos símbolos do movimento hippie; e "Céu e Inferno" (1956), um ensaio complementar. Ambos reunidos em um único volume lançado pela editora Biblioteca Azul, em 2015.
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"I. Alucinógenos e experiência religiosa. II. Efeitos psicotrópicos. III. Xamanismo." Essa é a classificação da ficha catalográfica do livro. Doido, né? Mas se você está pensando que o que temos aqui é uma espécie de diário de um drogado, se enganou. Huxley fez bem mais do que apenas descrever os efeitos causados pela mescalina. O que temos aqui é uma análise séria e aprofundada da mente humana. Temas como a arte e a religião também são debatidos. E, é claro, sendo Huxley, críticas sociais não faltam. Além do nosso próprio cérebro, Huxley acreditava que alguns elementos externos também podem agir como agentes limitadores, sendo o principal deles a própria sociedade. Vítimas de um sistema, nós acabamos por enxergar sob a lente dos conceitos impostos pela mesma. É preciso remover esse véu para ver a verdade.
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Essa foi uma leitura bem diferente, nunca tinha lido nada do tipo e gostei bastante da experiência. Apesar do tema central do livro ser o experimento do autor com a mescalina, ele vai bem além disso e gera um rio de reflexões sobre os mais variados assuntos. Aquilo que mais gosto na escrita de Huxley, que é o seu poder de nos fazer questionar o mundo ao redor e duvidar do que está bem debaixo do nosso nariz, se faz muito presente aqui. Nada pior do que a estagnação de uma cultura ou de uma sociedade, esse é o primeiro passo em direção a qualquer abismo mais obscuro que possa surgir adiante. Precisamos manter os olhos abertos, ou melhor, as portas, e para isso nada melhor do que ter um guru como Aldous Huxley, esse incansável despertador de mentes humanas.

site: https://discolivro.blogspot.com/
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Dhalila 26/03/2021

Huxley era Raveiro
Excelente livro ensaístico sobre a utilização de drogas como ferramenta para o conhecimento interior. Huxley desenvolve sua narrativa através da conversação entre religião, arte, história humana e psicologia, costumes, sendo que cada tema dialoga entre si.
Eu achei interessantíssimo como Huxley discorre atrás de experiências próprias e estudos científico sobre o uso terapêutico da mescalina. É extremamente fascinante.
O divino vem a ser o homem mas também continua sendo o divino. Como a sociedade se construiu através de crenças e ferramentas de fuga da realidade, como isso beneficia ou prejudica a sociedade. Foi um deleite.
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Luiz 20/03/2021

Excelente leitura com narrativa envolvente. O Huxley te pega pela mão e te leva junto na viagem dele durante uma seção de uso do peyote. O livro é cheio de referências artísticas e literárias, vale a pena acompanhar com um bloco de notas ao lado.
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biancafdos 19/03/2021

Achei o livro interessante em suas poucas partes descritivas: sobre os efeitos visuais do uso da mescalina e algumas descrições de mundo, utilizando, por exemplo, de referências artísticas; além de críticas à nossa sociedade. Entretanto, tudo isso seria facilmente resumido em poucas páginas, de resto, no meu ponto de vista, não passa de especulações pseudocientíficas como abordagens sobre subconsciente e hipnose, o que particularmente não me agrada.
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lucasamtaylor01 28/02/2021

Sobre "As portas da percepção"
Comprei esse livro pra ler "As portas da percepção", portanto, minha resenha descarta "Céu e interno" e os apêndices presentes no livro.

Dito isso, o livro discute de uma maneira orgânica sobre drogas alucinógenas, sociedade ocidental e religião, criando pontos de intercecção entre eles. Além disso, o jeito que o autor descreve a brisa é bom demais.

Recomendo. Leitura rápida, fácil e te faz pensar sobre os temas.
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Rafa.Dulce 27/02/2021

O autor dos hippies na década de 1970
É um livro bastante pessoal e teórico, em que o autor escreve suas percepções ao ingerir mescalina.
Para quem quer descobrir coisas novas, vale a pena ler...
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Darkpookie 25/02/2021

Comentários e trechos
Essa edição da Biblioteca Azul possui o ensaio "As Portas da Percepção", que vai falar sobre a experiência de usar mescalina, as sensações experimentadas e outras conclusões, e o ensaio "Céu e Inferno", onde ele desenvolve a teoria de plano superior conectando os seres vivos por "gatilhos" que podem ser a arte ou as próprias drogas. Além de também possuir diversos apêndices.
Sinceramente, o livro foi muito cansativo apesar de ser curto. Gostei mais do primeiro artigo, pois estava interessada mais na biologia, química e psicologia da coisa, e o Huxley traz reflexões bem interessantes sobre, inclusive sobre a política de drogas. Entretanto, os outros textos foram intermináveis. Acredito que se temas espirituais, arte, simbologia, semiótica e coisas do tipo te interessam, será uma leitura mais proveitosa. Talvez eu releia algum dia.
A seguir alguns trechos que achei interessantes:

As portas da percepção

[...]
"Vivemos juntos, atuamos uns sobre os outros e reagimos uns aos outros; mas sempre, e em todas as circunstâncias, estamos sós." [...] Todo espírito encarnado está, por sua própria natureza, condenado a sofrer e gozar na solidão. Sensações, sentimentos, ideias, fantasias, todos eles são particulares e — exceto indiretamente, por meio de símbolos — incomunicáveis. Podemos juntar informações sobre nossas experiências, mas não podemos juntar as experiências em si. Da família à nação, todo agrupamento humano é uma sociedade de universos insulares. A maioria desses universos é suficientemente semelhante entre si para permitir a compreensão por inferência ou mesmo a mútua empatia, a identificação com os sentimentos alheios. [...] As palavras são pronunciadas, mas nada esclarecem. As coisas e eventos aos quais os símbolos se referem pertencem a esferas de experiência mutuamente excludentes."
"Ver-nos como os outros nos veem é um dom muitíssimo salutar. Não menos importante é a capacidade de ver os outros como eles se veem. Mas e quando esses outros pertencem a uma espécie diferente e habitam um universo radicalmente estranho? Por exemplo, como os sãos podem saber, na prática, o que é ser louco?"
[...]
"Refletindo sobre a minha experiência, vejo-me concordando com o dr. C. D. Broad, eminente filósofo de Cambridge, em que “deveríamos levar muito mais a sério do que temos feito até agora o tipo de teoria que Bergson apresentou a respeito da memória e da percepção sensorial. Sua tese é a de que a função do cérebro, do sistema nervoso e dos
órgãos sensoriais é muito mais eliminativa que produtiva. A cada momento, cada pessoa é capaz de lembrar-se de tudo quanto já lhe aconteceu e de perceber tudo quanto está acontecendo em toda parte no universo. O cérebro e o sistema nervoso têm a função de impedir que sejamos sobrecarregados e confundidos por essa massa de conhecimento que,
em sua maior parte, é inútil ou irrelevante. Assim, eles excluem a maioria das coisas que poderíamos perceber ou lembrar a cada momento e deixam passar somente uma seleção muito pequena e especial que provavelmente terá utilidade prática”. Segundo tal teoria, cada um de nós é potencialmente a Mente Integrada. Mas, na medida em que somos animais, nosso objetivo é sobreviver a todo custo. A fim de tornar possível a sobrevivência biológica, a Mente Integrada tem de passar pela válvula redutora do cérebro e do sistema nervoso. O que sai do outro lado é um mero fio de água do tipo de consciência que nos ajuda a permanecer vivos na superfície deste planeta em particular. A fim de formular e expressar os conteúdos dessa consciência reduzida, o homem inventou e submeteu a uma elaboração infinita aqueles sistemas de símbolos e filosofias implícitas que chamamos de línguas. Cada indivíduo é a um só tempo o beneficiário e a vítima da tradição linguística no seio da qual nasceu — é seu beneficiário na medida em que a língua lhe dá acesso aos registros acumulados das experiências de outras pessoas, e é sua vítima na medida em que a mesma língua confirma, no indivíduo, a crença de que a consciência reduzida é a única consciência, assombrando o seu senso de realidade e criando nele a tendência quase inevitável de substituir os dados pelos conceitos, as coisas reais pelas palavras. Aquilo a que a linguagem da religião dá o nome de “este mundo” é o universo da consciência reduzida, expresso e, por assim dizer, petrificado pela língua. Os vários “outros mundos” com que os seres humanos vez por outra fazem contato são os tantos outros elementos da totalidade de consciência que pertence à Mente Integrada. A maior parte das pessoas, a maior parte do tempo, só conhece aquilo que passa pela válvula redutora e é consagrado como genuinamente real pela língua local. Certos indivíduos, no entanto, parecem nascer com uma espécie de tubulação alternativa que contorna a válvula redutora. Outros adquirem tal tubulação temporariamente, de modo espontâneo, ou como resultado de “exercícios espirituais” deliberados, ou pela hipnose, ou ainda por meio de drogas. O que flui por essas tubulações alternativas permanentes ou temporárias não é, com efeito, a percepção de “tudo quanto está acontecendo em toda parte no universo” (pois a tubulação alternativa não abole a válvula redutora, que ainda exclui o conteúdo total da MenteIntegrada), mas algo diferente, além e acima do material utilitário cuidadosamente selecionado que nossa estreita mente individual encara como uma imagem completa, ou pelo menos suficiente, da realidade."
[...]
"A memória e a capacidade de “pensar direito” pouco ou nada se reduzem. (Ouvindo as gravações das minhas conversas sob a influência da droga, não constato que eu estivesse então mais obtuso do que sou normalmente.)
As impressões visuais se intensificam e o olhar recupera parte da inocência perceptiva da infância, quando as sensações não se subordinavam imediata e automaticamente aos conceitos. O interesse pelo espaço diminui e o interesse pelo tempo quase se anula.
Embora o intelecto não sofra prejuízo algum, e conquanto a percepção melhore imensamente, a vontade sofre uma profunda mudança para pior. O consumidor de mescalina não vê razão alguma para fazer qualquer coisa em particular e considera profundamente desinteressante a maioria das causas pelas quais, em momentos normais, estaria preparado para agir e sofrer. Não se importa nem um pouco com elas, e por um bom motivo: tem coisas melhores em que pensar."
[...] "Quando o cérebro sente falta de açúcar, o ego subnutrido se debilita, não se importa mais em cumprir as tarefas necessárias e perde todo o interesse por aquelas relações espaciais e temporais que tanto significam para um organismo dedicado a sobreviver no mundo." [...] "Em alguns casos, ocorrem percepções extrassensoriais. Outras pessoas descobrem um mundo de visionária beleza. A outras ainda revelam-se a glória, o significado e o valor infinito da existência nua, do evento dado e não conceitualizado."
[...]
" Por mais expressivos que sejam, os símbolos não podem ser jamais as coisas que representam."
[...]
"A razão da experiência é menos importante que a experiência em si."
[...]
"Instado pelo pesquisador a analisar e relatar o que eu estava fazendo (e como eu queria ser deixado em paz na companhia da Eternidade numa flor, da Infinitude em quatro pernas de cadeira e do Absoluto nas dobras de um par de calças de flanela!), percebi que estava evitando deliberadamente os olhares daqueles que estavam comigo no escritório, abstendo-me propositalmente de tomar demasiada consciência deles. Um deles era minha esposa; o outro, um homem que eu respeitava e de quem muito gostava; mas ambos pertenciam ao mundo do qual, por um instante, a mescalina havia me libertado — o mundo dos eus, do tempo, dos juízos morais e das considerações utilitárias, o mundo (e era este aspecto da vida humana que eu queria, acima de tudo, esquecer) da autoafirmação, da presunção, da sobrevalorização das palavras e da idolatria das noções."
[...] "Pelo menos metade da moral é negativa e consiste em não fazer o mal. O “pai-nosso” tem pouco mais de cinquenta palavras, e seis delas são dedicadas a pedir a Deus que não nos deixe cair em tentação." [...] "Pascal observou que o somatório do mal diminuiria bastante se os homens apenas aprendessem a sentar-se quietos em seus quartos. O contemplativo cuja percepção foi purificada não tem de ficar em seu quarto. Pode cuidar de seus assuntos práticos, pois está tão satisfeito em ver e ser uma parte da divina Ordem das Coisas que jamais será sequer tentado a entregarse ao que Traherne chamou de “expedientes sórdidos do mundo”. Quando nos sentimos como se fôssemos os únicos herdeiros do universo, quando “o mar corre em nossas veias […] e os astros são nossos ornamentos”, quando todas as coisas são percebidas como infinitas e santas, que motivo nos resta para a cobiça ou a autoafirmação, para a busca do
poder ou das formas mais sombrias de prazer? Não é provável que o contemplativo se torne um frequentador de mesas de jogo, um cafetão ou um bêbado; em regra, ele não prega a intolerância nem faz a guerra; não considera necessário roubar, trapacear ou explorar os pobres."
[…] "Os registros das religiões e os monumentos da poesia e das artes plásticas quechegaram a nós deixam claríssimo que, na maior parte dos tempos e lugares, os homens atribuíram mais importância à paisagem interior que aos entes objetivos, sentiram que o que viam de olhos fechados possuía um significado espiritual mais elevado que o que viam de olhos abertos. A razão? A familiaridade gera desprezo, e a questão da sobrevivência é um problema cuja urgência oscila entre o cronicamente tedioso e o torturante. O mundo exterior é aquele com que nos deparamos quando acordamos a cada manhã, é o lugar onde, queiramos ou não, devemos tentar ganhar a vida. No mundo interior não há nem trabalho nem monotonia. Visitamo-lo somente nos sonhos e devaneios, e sua estranheza é tal que nunca o encontramos idêntico em duas ocasiões sucessivas. Não é de se admirar, portanto, que os seres humanos em busca do divino tenham preferido, em geral, olhar para dentro!"
[…] "Quando ela terminou, o pesquisador sugeriu um passeio no jardim. Eu estava disposto; e, embora meu corpo parecesse estar quase completamente dissociado da mente — ou melhor, embora minha consciência do mundo exterior transfigurado já não estivesse atrelada a uma consciência do meu organismo físico —, vi-me capaz de levantar, abrir a porta-balcão e sair sem um mínimo de hesitação. É claro que era estranho sentir que “eu” não era a mesma coisa que esses braços e pernas, esse tronco, esse pescoço e até essa cabeça completamente objetivos. Era estranho; mas a gente logo se acostuma. E, de qualquer modo, o corpo parecia perfeitamente capaz de cuidar de si próprio. Na realidade, ele cuida de si próprio o tempo inteiro. Tudo o que o ego consciente pode fazer é formular desejos, que são então executados por forças que ele controla muito pouco e não compreende em absoluto. Quando faz qualquer coisa a mais — quando se esforça demais, por exemplo, quando se preocupa, quando fica apreensivo quanto ao futuro —, ele
diminui a eficácia dessas forças e pode até causar doenças no corpo desvitalizado. No estado em que me encontrava, a consciência não era chamada de ego; estava, por assim dizer, independente. Com isso, a inteligência fisiológica que controla o corpo também estava independente. Por alguns breves momentos, o neurótico invasivo que faz questão de comandar o espetáculo durante as horas de vigília havia felizmente saído de cena."
[…] "Confrontado com uma cadeira que parecia o Juízo Final — ou melhor, com um Juízo Final em que, muito tempo depois e com considerável dificuldade, reconheci uma cadeira—, vi-me de súbito à beira do pânico. Senti de repente que aquilo, embora rumasse para uma beleza sempre mais intensa, um significado sempre mais profundo, estava indo longe demais. O medo, numa análise retrospectiva, era o de ser esmagado, de desintegrar-me sob a pressão de uma realidade maior do que a mente, acostumada a viver a maior parte do tempo no confortável mundo dos símbolos, poderia suportar. A literatura da experiência religiosa abunda em relatos das dores e terrores que assoberbam aqueles que se viram, de modo demasiado repentino, face a face com alguma manifestação do mysterium tremendum. Em linguagem teológica, esse medo é devido à incompatibilidade entre o egoísmo do homem e a pureza divina, entre a separatividade em que o ser humano se enclausura e a infinitude de Deus."
[...] "O esquizofrênico é comparável a um homem sob a influência permanente da mescalina, sendo portanto incapaz de isolar-se da experiência de uma realidade com a qual ele não é santo o suficiente para conviver e cuja existência, sendo ela o mais obstinado de todos os fatos primários, ele não é capaz de negar; uma realidade que, pelo fato de nunca lhe permitir ver o mundo com olhos meramente humanos, leva-o, pelo medo, a interpretar a sua insistente estranheza e a intensidade abrasadora de seu significado como manifestações de uma malevolência humana ou mesmo cósmica, malevolência essa que suscita reações desesperadas, desde a violência homicida, num extremo do espectro, até a catatonia, ou o suicídio psicológico, no outro. E, uma vez encetado esse caminho descendente, infernal, a pessoa é incapaz de parar. Naquele momento, isso era mais que evidente."
[...] "estávamos de volta em casa e eu havia retornado àquele estado seguro mas profundamente insatisfatório chamado de “perfeito juízo”. Parece muito improvável que a humanidade em geral seja capaz de dispensar um dia os Paraísos Artificiais. A vida da maioria dos homens e mulheres é, na pior das hipóteses, tão dolorosa, e, na melhor, tão monótona, pobre e limitada, que a vontade de escapar, o anseio de transcender a si mesmo, por poucos momentos que seja, é e sempre foi um dos principais apetites da alma."
[...]
"Hoje, gastamos bem mais com bebida e fumo do que gastamos com educação. É claro que isso não surpreende. O anseio de escapar da individualidade e do ambiente está presente de modo quase permanente em praticamente todas as pessoas. O anseio de fazer algo pelos jovens é forte somente nos pais, e apenas naqueles poucos anos em que seus filhos vão à escola. Tampouco surpreende a atitude atual com relação à bebida e ao fumo. Apesar do número cada vez maior de alcoólatras incuráveis, apesar das centenas de milhares de pessoas anualmente mortas ou feridas por motoristas bêbados, comediantes ainda fazem piadas sobre o álcool e seus dependentes. E, apesar dos dados que associam o cigarro ao câncer de pulmão, praticamente todo o mundo vê o consumo de tabaco como algo quase tão normal e natural quanto a alimentação. Do ponto de vista do racionalista utilitarista, isso talvez pareça estranho. Para o historiador, é exatamente o que se havia de esperar. A firme convicção da realidade material do inferno nunca impediu os cristãos medievais de fazerem o que sua ambição, luxúria ou cobiça lhes sugeriam. O câncer de pulmão, os acidentes de trânsito e os milhões de alcoólatras que vivem na infelicidade e tornam os outros infelizes são fatos ainda mais indiscutíveis do que o inferno na época de Dante. Mas esses elementos são todos remotos e etéreos diante do fato próximo e sensíveldo anseio de liberdade ou sedação, de uma bebida ou um cigarro, aqui e agora.
Esta é a era do automóvel e da explosão populacional, entre outras coisas. O álcool é incompatível com a segurança nas estradas, e sua produção, como a do tabaco, condena à virtual esterilidade milhões de hectares de solo fértil. Desnecessário dizer que os problemas suscitados pelo álcool e pelo tabaco não podem ser resolvidos pela proibição. O anseio universal e permanente de autotranscendência não será abolido caso sejam fechadas à força as populares “portas na muralha”. A única política razoável consiste em abrir outras portas, portas melhores, na esperança de induzir os homens e mulheres a trocarem
seus velhos maus hábitos por hábitos novos e menos prejudiciais. Algumas dessas portas novas e melhores serão de natureza social e tecnológica; outras serão religiosas ou psicológicas; outras ainda, dietéticas, educacionais, atléticas. Mas não há dúvida de que continuará existindo a necessidade de frequentes férias químicas que nos afastem da individualidade intolerável e de um ambiente repulsivo. O que precisamos é de uma nova droga que alivie e console nossa espécie sofredora sem causar mais dano em longo prazo do que causa benefício de imediato. Essa droga deve ser sintetizável e potente em pequenas doses. Se não tiver essas qualidades, sua produção, como a do vinho, da cerveja, das bebidas destiladas e do tabaco, prejudicará o plantio de indispensáveis alimentos e fibras. Ela deve ser menos tóxica que o ópio ou a cocaína, deve produzir menos consequências sociais indesejáveis que o álcool e os barbitúricos, deve ser menos hostil ao coração e aos pulmões que o alcatrão e a nicotina do cigarro. Pelo lado positivo, as mudanças de consciência por ela induzidas devem ser mais interessantes, mais intrinsecamente significativas que a mera sedação ou devaneio, que os delírios de onipotência ou a perda da inibição. Para a maioria das pessoas, a mescalina é quase completamente inócua. Ao contrário do álcool, ela não induz em seu consumidor aquele tipo de ação descontrolada que resulta em brigas, crimes violentos e acidentes de trânsito. O homem sob a influência da mescalina cuida, tranquilo, somente daquilo que lhe diz respeito. Ademais, aquilo de que ele cuida é uma experiência das mais esclarecedoras, que não cobra o preço (e isto é muito importante) de uma ressaca compensatória. É muito pouco o que sabemos sobre as consequências em longo prazo do consumo regular de mescalina. Os índios que consomem botões de peiote não parecem ser física ou moralmente degradados por esse hábito. Entretanto, os dados disponíveis ainda são escassos e nada conclusivos. Embora seja evidentemente superior à cocaína, ao ópio, ao álcool e ao tabaco, a mescalina ainda não é a droga ideal. Ao lado da feliz maioria de consumidores transfigurados, há uma minoria que só encontra na mescalina o inferno ou o purgatório. Além disso, para uma droga que, como o álcool, deve ser apta ao consumo geral, seus efeitos se prolongam por tempo demais. A química e a fisiologia atuais, no entanto, são capazes de praticamente qualquer coisa. Se os psicólogos e sociólogos definirem o ideal, poderemos confiar aos neurologistas e farmacologistas a tarefa de descobrir os meios para atingi-lo ou, no mínimo (pois é possível que esse ideal, pela própria natureza das coisas, não possa jamais se realizar plenamente), para nosaproximarmos dele muito mais do que foi possível em nosso passado afogado em vinho e em nosso presente mergulhado em uísque, maconha e barbitúricos."
[...]
"Não poderemos jamais dispensar a linguagem e os outros sistemas de símbolos, pois foi por meio deles, e deles somente, que nos elevamos acima dos animais, ao nível de seres humanos. Mas é fácil nos tornarmos não somente beneficiários como também vítimas desses sistemas. Temos de saber lidar de maneira eficaz com as palavras, mas ao mesmo tempo temos de preservar e, se necessário, intensificar nossa capacidade de ver o mundo diretamente e não através da lente semiopaca dos conceitos, que distorce cada fato dado e lhe empresta a aparência demasiado familiar de um rótulo genérico ou de uma abstração explicativa" [...]


Céu e inferno
[...]
"Já sobre os efeitos fisiológicos da mescalina, sabemos um pouco. Provavelmente (uma vez que ainda não estamos tão certos) ela interfere no sistema de enzimas que regula o funcionamento cerebral. Ao fazer isso, reduz a eficiência do cérebro como instrumento de foco nos problemas da vida sob a superfície de nosso planeta. Essa redução do que podemos chamar de eficiência biológica do cérebro parece permitir o acesso à consciência de certas classes de eventos mentais que normalmente são excluídos porque não possuem nenhum valor para a sobrevivência. Intrusões similares de material inútil porém estética e às vezes espiritualmente valioso podem ocorrer como resultado de doença ou fadiga, ou podem ser induzidas por jejum ou por um período de confinamento em um local escuro e silencioso."
[...]
"As imagens do mundo arquetípico são simbólicas; entretanto, uma vez que nós, como indivíduos, não as fabricamos, mas as encontramos “lá fora” no inconsciente coletivo, elas são responsáveis por pelo menos algumas das características da realidade dada, e são coloridas. Os habitantes não simbólicos dos antípodas da mente existem sob seus próprios direitos, e, tais quais os fatos dados do mundo externo, são coloridos. De fato, eles são até muito mais intensamente coloridos do que qualquer outro dado objetivo, o que pode ser explicado, em parte, pelo fato de que nossas percepções do mundo externo são geralmente obscurecidas pelas noções verbais sobre as quais arquitetamos nosso pensamento. Estamos sempre tentando converter coisas em sinais para as abstrações mais inteligíveis de nossas próprias invenções. Porém, ao fazermos isso, retiramos dessas coisas boa parte de sua essência natural."
[...]
"A humanidade gastou muito tempo, energia e dinheiro para encontrar, minerar e lapidar seus seixos coloridos. Por quê? O utilitarista pode não achar nenhuma explicação para tal comportamento fantástico. Mas, assim que levamos em conta os fatores da experiência visionária, tudo se torna mais claro. [...] Essas coisas são autoluminosas, exibem um brilho preternatural de cor, além de possuir um significado também preternatural. Os objetos materiais que praticamente mais lembram essas fontes de iluminação visionária são as pedras preciosas. Adquirir tais pedras é adquirir algo cuja preciosidade é garantida pelo fato de que elas existem no Outro Mundo."


Apêndice I
[...] "Longas suspensões de respiração levam a uma alta concentração de dióxido de carbono nos pulmões e no sangue, e esse aumento na concentração de CO2 diminui a eficiência do cérebro, como uma válvula redutora, permitindo a entrada, na consciência, de experiências visionárias ou místicas, de “fora”."
[...] "Daí as intermináveis “vãs repetições” da magia e da religião. O canto do curandeiro, do feiticeiro, do xamã; a entoação dos intermináveis salmos e dos sutras budistas e cristãos; o grito e o uivo, hora após hora, dos revivalistas — sob todas as diversidades de crença teológica e convenção estética, a intenção psicoquímica e fisiológica permanece constante. Aumentar a concentração de CO2 nos pulmões e no sangue e então diminuir a eficiência da válvula redutora cerebral até que se permita a entrada do material biologicamente inútil da Mente Integrada — esse, ainda que quem grite, cante e resmungue não saiba, sempre foi o real propósito e o ponto dos feitiços mágicos, dos mantras, das litanias, dos salmos e dos sutras."


Apêndice II
"Deus, eles insistirão, é um espírito e deve ser idolatrado como tal. Desse modo, uma experiência que é quimicamente condicionada não pode ser uma experiência do divino. Porém, de um jeito ou de outro, todas as nossas experiências são quimicamente condicionadas, e se imaginamos que algumas delas são puramente “espirituais”, puramente “intelectuais”, puramente “estéticas”, é simplesmente porque nunca nos preocupamos em investigar o meio químico interno no momento de suas ocorrências. Mais ainda, trata-se de uma questão de registro histórico que muitos contemplativos se esforçaram sistematicamente para modificar a química de seu corpo, buscando criar condições internas favoráveis a uma introspecção espiritual. Quando não estavam passando fome com pouca taxa de açúcar no sangue e com deficiência de vitaminas, ou golpeando-se até chegar a uma intoxicação por histamina, adrenalina e proteína em decomposição, estavam cultivando a insônia e rezando por longos períodos em posições desconfortáveis, a fim de criar os sintomas psicofísicos do estresse. Nos intervalos eles entoavam seus salmos intermináveis, aumentando assim a taxa de dióxido de carbono nos pulmões e na corrente sanguínea, ou, no caso dos orientais, faziam exercícios de respiração para atingir o mesmo propósito. Hoje sabemos como diminuir a eficiência da válvula redutora cerebral por ação química direta e sem o risco de causar dano grave ao organismo psicofísico."


Apêndice III
[...] "O passado não é algo fixo e inalterável. Seus fatos são redescobertos por cada geração que se sucede, seus valores são reavaliados, seus sentidos redefinidos no contexto dos gostos e preocupações atuais." [...]


Apêndice V
[...] "não há nada no Ocidente comparado às representações chinesas e japonesas da natureza de um ponto próximo. Um borrifar de ameixas em flor, quase meio metro de caule de bambu com suas folhas, chapins e tentilhões vistos a não mais que à distância do comprimento de um braço estendido através da folhagem, todos os tipos de flores e folhas, de aves, peixes e pequenos mamíferos. Cada uma dessas pequenas vidas está representada como o centro de seu próprio universo, como propósito, em sua própria apreciação, pelo qual este mundo e tudo o que há nele foi criado; cada elemento emite sua própria e específica declaração individual de independência do imperialismo humano; cada elemento, por uma implicação irônica, escarnece de nossas pretensões absurdas de formular regras meramente humanas para a condução do jogo cósmico; cada elemento repete a tautologia divina: eu sou o que sou." [...]


(Posfácio) Novo, mas nem tão admirável - Sidarta Ribeiro
[...] "não haverá paz enquanto não houver piso e teto para a riqueza. Por que alguém quer ser bilionário? A ganância é uma doença, persistência perversa do instinto da acumulação quando ele já se tornou obsoleto e deletério. A atitude antes prudente mas agora patológica do “quanto mais melhor”, levando à pulsão de acumulação infinita, pode destruir a espécie ou criar espécies diferentes de humanos: os ricos e os pobres."
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carol 07/02/2021

chato e arrastado.
Me decepcionei muito com esse livro. O autor não tem uma organização de temas. Alem disso, puxa assunto parelos que duram duas paginas do nada.
enfim, nao recomendo
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eliza.dias 01/02/2021

Interessante
Huxley descreve na primeira parte do livro sua própria experiência com a mescalina, suas alucinações, sensações e percepções... Bem interessante.

Na segunda parte, ele relaciona o papel da arte como essa passagem da mente para uma experiência mística. Difícil pra quem não tem conhecimento em arte, fica um pouco exaustivo. Mas pesquisando as obras, é possível interpretar os argumentos do autor.
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