Madalena: o último tabu do cristianismo

Madalena: o último tabu do cristianismo Juan Arias




Resenhas - Madalena - O último tabú do Cristianismo


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Tatiane 02/06/2019

Se Madalena não tivesse sido calada...
Há muito venho me perguntando como seria o mundo se a história fosse contada por mulheres... O escritor e jornalista que sempre acompanho no El País, Juan Arias, em seu livro Madalena: o último tabu do cristianismo, traz algumas reflexões sobre isso.

Citando inúmeros estudiosos, filósofos, teólogos e os quatro evangelistas canônicos, é possível sentir na pele que toda a hierarquia masculina da Igreja Católica provém de uma misoginia perpetuada desde o início pela tradição judaica. Como diz Arias, "para começar, as mulheres judias eram proibidas de estudar. (Houve exceções porém são escassíssimas e pouco significativas em geral.) Seu lugar era o lar, e sempre deviam manter a cabeça coberta com o manto. Para o historiador judeu Flávio Josefo, a mulher judia 'é inferior ao homem em todos os sentidos'. No Templo não podia passar do vestíbulo; e na sinagoga nunca podia tomar a palavra. Não podia ler em público as Escrituras. A mulher adúltera era condenada à morte por apedrejamento. Sua palavra não tinha nenhum valor e seu testemunho não era válido nos julgamentos. (Jesus, que conhecia muito bem as leis judaicas, escolheu uma mulher como testemunha do fato excepcional da ressurreição e forçou que o testemunho de uma mulher fosse acreditado. Cabe maior transgressão da lei?)" (ARIAS: 2006, p. 90)

Infelizmente, porém, apesar do poder que Jesus deu às mulheres por meio de Maria Madalena, os homens, ao longo dos anos seguintes, foram tirando delas - de nós - o respeito e a dignidade. É o próprio Arias quem ratifica isso citando autores que dão base ao pensamento da Igreja Ocidental. Ele diz: "Em algumas passagens da Bíblia, a mulher está catalogada como um bem material do qual o marido pode dispor para seu prazer. Tampouco na cultura grega a mulher era mais valorizada. O filósofo Aristóteles afirma que a mulher 'possui uma natureza defeituosa e inferior'. A misoginia também foi própria dos intelectuais romanos: Ciceron escreveu que 'se não existissem as mulheres, os homens poderiam falar com Deus'. E Santo Agostinho, que na juventude havia gozado generosamente dos prazeres do sexo, escreve que a mulher é "um animal que se compraz só em olhar-se no espelho'. São Tomás, que seguiu Aristóteles para redigir a Suma Teológica, da qual procederia toda a teologia católica posterior, chegou a afirmar que era duvidoso que a mulher tivesse alma.
(...)
Um dos princípios da desvalorização feminina consistia em uma comparação negativa a respeito do homem. Explica-se assim que todo judeu desse graças a Deus, cada dia, 'por não havê-lo feito mulher'. (...)" (ARIAS: 2006, p. 91)

E assim a história, escrita e contada por homens, se constroi de acordo com as suas vontades em prol de seus desejos e interesses, guerras e poderes...

E a mulher?!

Subordinada e materializada como objeto a ser possuído e usado ao bel prazer masculino vai seguindo o seu curso em lutas diárias, sofridas, com gritos tantas vezes abafados, domesticados. E a igreja não só calou a mulher, como nos doutrinou durante séculos a acreditar que Madalena era uma prostituta (olha a Fake News aí!) a quem Jesus perdoou com a sua misericórdia e amor. Então, Maria, a mãe - virgem, pura e santa -, se torna o ideal feminino, em defesa de uma virgindade e de uma castidade tão interessantes para os moldes conservadores de uma sociedade machista, domesticadora da mulher. Entretanto, para que o ser humano comum se enxergue na possibilidade de atingir tal santidade, cria-se a outra Maria, a Madalena, pecadora - do pior dos pecados para uma mulher (na visão deles!) - arrependida e perdoada. E assim vivem as mulheres aprisionadas em estereótipos. Desde Eva, passando por Maria e chegando a Madalena, fomos rotuladas de putas (queimem-nas!) e santas ("belas, recatadas e do lar"), sempre culpadas pelas tentações e pecados dos homens, os varões, machos, feitos à imagem e semelhança de Deus.

tatiandoavida.com
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Jocélia 25/10/2016

''...Jesus a escolheu como sacrário de suas confidências mais íntimas''.

Com rigor histórico e com o apoio de especialistas católicos, ortodoxos e protestantes o autor tenta detalhar o que se sabe e descobrir o que não se sabe sobre a história de Maria Madalena. Fazendo um estudo comparativo entre os evangelhos canônicos e gnósticos, separando o real e o documentado pelas fantasias e convicções romanescas,o autor afirma que o fato de Madalena ter sido escolhida por Jesus para o grande anúncio da ressurreição tornou impossível despojar essa mulher do merecido título de “apóstolo preferido” do mestre.
Sem dúvida, a ideia de convertê-la em prostituta e endemoniada pode ter sido uma manobra posterior para desvalorizar a mulher preferida no coração do mestre. Porém, não conseguiram eliminar o significado essencial de Madalena na vida de Jesus e de Jesus na vida de Madalena. Se tivessem podido, os evangelistas talvez teriam modificado muitas coisas... Pois Durante os últimos dois milênios a Igreja se sentiu fundamentalmente masculina, chegando a afirmar que a mulher não pode ser sacerdote, porque Jesus não havia escolhido nenhuma mulher para exercer o apostolado. Como se pode hoje defender tal afirmação, depois de conhecer a liderança de Maria Madalena na Igreja primitiva?
Até quando as igrejas patriarcais continuarão ignorando uma verdade histórica que está totalmente fundamentada nos textos evangélicos que elas mesmas consideram inspiradas por Deus?
Enfim, a história dessa mulher é uma grande história de amor testemunhada pelos Evangelhos oficiais que a Igreja considera inspirados por Deus e confirmada pelos Evangelhos Apócrifos que durante séculos, antes de condená-los, também a igreja considerou dignos de respeito.
É uma história de amor humano, provavelmente não desprovida de caráter sexual, e não só religioso. Nem sequer o final do amado pregado no madeiro, conseguiu romper aquele amor, já que ela seguiu amando Jesus não só como um morto, mas sim como ressuscitado.
Acolher esses textos é se colocar em dialogo com as preciosidades que originaram a nossa fé, esses outros modos de pensar, revela a riqueza e a liberdade de expressão do movimento de Jesus.
Vale Leitura! Vale reflexão!



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Leostuepp 29/03/2010

Sempre haverá tabús
Este é mais um livro que usa daquela velha estratégia de se estar guardando um grande segredo e o mesmo vêm para o elucidar.
Os leitores, principalmente aqueles que não tem o conhecimento histórico e não foram preparados para o conhecimento da Bíblia, podem ficar chocados e ao ler uma obra assim, e mais ainda ao saber que existem vários livros apócrifos (ocultos) que podem comprar nas livrarias, devem estar atentos de que sempre haverá tabús, seja no cristianismo, seja no judaísmo, seja no islamismo assim como em toda a história da humanidade.
A obra em si é interessante, pois apresenta dados que podem esclarecer um pouco uma época bem diferente da nossa, mas o autor acaba sendo redundante em muitos momentos, demonstrando assim um pouco de insegurança em sua tese, ou se alongando quem sabe para que a obra tivesse um pouco mais de corpo, entendam mais volume, mas não mais conteúdo real.
Para quem é um estudioso, nem que seja bem básico de história sagrada, é um livro que não atrapalha.
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