Thaylan 21/07/2015
As seis lições - Mises
Ludwig Von Mises, proferiu em 1959 uma série de palestras na Argentina, dividas em seis partes: 1- capitalismo; 2- socialismo; 3- intervencionismo; 4- inflação; 5-investimento externo; 6- politica e ideias. Pretendo nesta resenha resumir o que o autor destrincha em sua palestra, que postumamente se materializou neste livro:
Para que haja um crescimento na economia se faz necessário poupar. Quando um trabalhador poupa e loca seu capital em uma instituição financeira, e esta por sua vez cede o capital a um empresário, ele irá empreender para expandir seus lucros. Automaticamente as primeiras ações dele serão: compra de matéria prima e/ou compra de máquinas e, contratação de funcionários, ou seja, ele estará gerando emprego, distribuindo riqueza e a nação toda cresce.
Isso ocorre independentemente se o empresário for bem sucedido, pois, no curto prazo o empregado contratado e os vendedores de máquinas ou matérias primas já lucraram e o que determina se esse empresário continuará gerando riqueza são as condições futuras do mercado, isto é, caso o governo não atrapalhe e o empresário for habilidoso ele aumentará seu capital e de todos indiretamente.
Segundo a tese de Marx, o capitalismo é um sistema dedicado a deixar o rico cada vez mais rico e os pobres cada vez mais pobres, aumentando a diferença de classes. Na tese socialista eles previam que chegaria um momento em que poucos homens ou até um só homem teria todo o capital de um país e então ocorreria a revolução do proletariado, porque este não sairia jamais de sua classe. Essa premissa já foi refutada empiricamente, basta notar que a lista da Forbes é muito versátil, assim como o mercado, dinâmico, quando livre. Sempre surgem novos bilionários e ao mesmo tempo muitos saem da lista.
Só o capitalismo dá a oportunidade de sair de uma classe para outra superior, diferente do feudalismo ou do socialismo/comunismo. No capitalismo o consumidor é soberano, é comum reparar em lojas as seguintes frases: "volte sempre", "obrigado pela preferência", já nos países socialista diriam algo como: "agradeça ao planejador central". Notem o sentido de “divindade” presente.
A terceira via, que seria uma economia com características dos dois sistemas: capitalista e socialista – também não funciona. Há um certo teor mítico que diz ser a melhor solução, pois só capta as coisas positivas de cada sistema, isso é mentira. O intervencionismo é tão prejudicial quanto o socialismo, pois ele beneficia determinados setores e pune a meritocracia. O intervencionismo escolhe setores considerados "estratégicos" para serem os campeões nacionais, e com sua ajuda, ele cria empresas ineficientes que se tornam dependentes -- postergando sua falência e aumentando o gasto para toda população.
Vamos supor que o governo intervenha no setor de leite. Daí, ele estipula um preço que acha "justo" e acessível à população. O que ocorre, é que o laticínio no caso apresentado estará perdendo lucro e terá que fazer ajustes, pois a oferta de leite não é estática. Sendo assim, ele invariavelmente diminui ainda mais a quantidade de produto (no caso, o leite) no mercado, pois essa produção não é mais viável pra ele. Então, ele passa a diminuir e eventualmente até dispensar funcionários aumentando o desemprego, passa a comprar menos máquinas e matéria primas (no caso, seriam as vacas que produzem o leite).
Vemos por exemplo: a Venezuela, onde falta até papel higiênico – pelo simples fato do governo determinar preços. Isso vai se estendendo e a conclusão é muito simples; o governo não deve se meter no mercado, pois o mercado é dinâmico e imprevisível. Os agentes atuantes é que sabem de modo individual e local o quê fazer na sua área, não um estado onisciente (coisa que não existe).
O protecionismo, medida adotada pelo estado para "proteger" empresas nacionais da concorrência global, leva inexoravelmente a formação de cartéis (monopólios) nacionais, o que prejudica as pequenas empresas. Paradoxalmente a isso, o governo cria leis anti-truste (leis anti-monopólio) para defender as pequenas empresas. É um escárnio ao bom-senso. Ora, isso é controverso e incoerente, bastava o governo não intervir que não haveria monopólios.
Quando se pergunta a alguém, quê é inflação? A resposta geralmente é: aumento gerais de preços de serviços e produtos. Errado. Isso é a consequência da inflação, o aumento nos preços generalizados é o sintoma. Inflação “em seu contexto histórico, significa um aumento na quantidade de certificados de ouro não lastreados em ouro; significa um aumento no número de certificados que se fazem passar por genuínos representantes do dinheiro padrão, o ouro, mas que na realidade não possuem uma idêntica quantia de ouro os resguardando.”
Para explicar melhor esse fenômeno basta pensarmos que se bastasse imprimir dinheiro (papel) para que houvesse riqueza deveríamos colocar todos brasileiros na mesma atividade e assim seriamos todos ricos. Só que não. Para que seja impresso/criado dinheiro, deve-se antes criar riqueza. Quando o governo imprime papel moeda sem lastro, sem alicerce, sem uma base que fundamenta a causa dessa criação de riqueza, ele está indo contra a natureza econômica. E essa é a origem da inflação, que gera aumento dos preços em geral. Quando se tem uma moeda para troca, e essa moeda foi criada do nada, portanto, não tem valor, e ainda assim é trocada por algo de valor, o que ocorre na prática é que a quantidade de papel moeda cresceu e a quantidade de riqueza não, daí os preços se elevam pois os bens ficam mais escassos.
“O que temos é uma situação em que os emissores dos certificados não lastreados desviam bens reais da economia para si próprios sem no entanto terem dado nenhuma contribuição à produção de bens.”
É bem simples, o sistema de preços funciona assim: quando se tem grande demanda o preço aumenta, quando se tem menor demanda o preço diminui. Por uma lógica óbvia, quando se tem muito um determinado produto, ele é menos valioso, porque ele tem abundância. Já quando o determinado produto tem baixa quantidade o preço é mais alto, por ele ser mais escasso. Assim também funciona com o dinheiro, quando se tem muita moeda no mercado os preços aumentam, pois os consumidores tem maior poder de compra e tendem a consumir mais, o que necessita de mais produtos e serviços. Inflação é o aumento na oferta monetária.
Aumentos na oferta monetária desencadeiam uma troca de nada por alguma coisa. Tais aumentos retiram recursos dos reais geradores de riqueza e os desviam para os portadores do dinheiro recém-criado. Este processo gera alocações errôneas e insustentáveis dos recursos, e não somente aumentos de preços.
Ainda é importante salientar que a inflação prejudica, sobretudo os mais pobres. Pensamos o seguinte: imagine que o governo imprimiu dinheiro para investir em um hospital, daí essa nova moeda não irá dar o impacto de imediato aos donos do hospital e aos seus funcionários (médicos e enfermeiras), mas a medida que o dinheiro vai passando de mão em mão, os últimos detentores desse dinheiro sentirão mais forte a inflação. No momento em que a Dn. Maria empregada do Dr. James, recebe esse dinheiro que foi criado do nada, ele já foi usado para pagar outros produtos e a inflação está mais presente, agora, para Dn Maria, do que para Dr. James – por haver menos produtos e mais oferta monetária.
Os produtos que mais sobem de preço são os essenciais, já os supérfluos tendem a subir com menor voracidade. Por não serem essenciais as pessoas deixam de compra-los e por isto eles sobem menos. Assim o pobre é mais prejudicado. Já que o mais rico leva vantagem, sua inflação percebida é menor, porque os produtos essenciais representam uma fatia menor de sua renda e sobra mais dinheiro para o consumo de supérfluo e luxo.
Muitos aceitam a inflação, pois acreditam que somente com inflação se tem pleno emprego, consideram a inflação melhor – falsa premissa. Não há ligação entre emprego e inflação, o que se deve fazer é o de sempre... Livre mercado. Essa falácia também já foi refutada empiricamente quando vemos casos de estagflação (estagnação econômica e inflação) com aumento do desemprego e aumento nos preços de produtos e serviços simultaneamente.
As condições de um país é que determina sua prosperidade, muitos comparam países em desenvolvimento e países subdesenvolvidos e concluem erroneamente que as disparidades se dão por conta dos trabalhadores. Bastaria supor a troca de um americano por um brasileiro, ambos desempenhando as mesmas funções; o americano iria ganhar menos no Brasil e o brasileiro mais nos EUA, justamente pela diferença de quantidade de capital. Quanto mais rico é um país de modo geral, mais ricos são seus cidadãos.
Os EUA são muito mais ricos, podem e poupam mais -- é como podem investir mais em tecnologia e gerar mais e mais prosperidade, riqueza para o país. A diferença do sucesso dos EUA, por exemplo, não é porque os empresários de lá são mais inteligentes que os nossos, e sim pelas condições políticas favoráveis ao desenvolvimento.
Por isso os liberais sempre repetem que o que importa não é a desigualdade, mas sim o nível de pobreza geral, a condição de miséria absoluta. A inveja usada pela esquerda alimentando a revolta nos mais pobres pelas desigualdades de renda, com um discurso demagogo de bondosa e altruísta, acaba por prejudicar ainda mais os mais pobres. Porque ela parte do pressuposto que a riqueza está dada e basta somente dividi-la. Ela joga uns contra os outros e quem perde são os pobres, que dependem da capacidade de empreendimento dos ricos e da alocação de seus recursos para viverem melhor.
Uma sociedade livre não combina com igualdade porque as preferências e necessidades das pessoas são desiguais. Mesmo se todo o dinheiro do mundo for dividido igualmente, as pessoas optarão por dar mais dinheiro e audiência a algumas empresas e indivíduos em detrimento de outros, gerando desigualdade.
Não importa se a miséria está mais aparente ou mais próxima; o principal é que para os miseráveis ela tenha diminuído.
Edward Glaeser, professor de economia em Harvard diz: “A pobreza urbana não deveria envergonhar as cidades. As cidades não criam pobres. Elas atraem pobres. Elas atraem pobres justamente porque fornecem o que eles mais precisam – oportunidade econômica.”
Esse raciocínio vale não só para cidades, mas para países. Mesmo se enriquecer, o Brasil jamais será um país sem pobreza. E é bom para os pobres que seja assim. País bom é país onde existe riqueza, riqueza atraí pobres, disso decorre que; um país rico e livre jamais terá classes econômicas iguais.
No século 19, segundo Mises, ocorreu o mais importante fato na história do mundo, o investimento externo. Até aí, os países se limitavam a investir só no próprio território e primavam pela balança comercial, acreditavam que era ruim comprar de outro país, que somente vender era bom. Ele relata que sem tal investimento, não haveria inúmeras estradas de ferro, vários portos, fábricas e minas. E os países mais pobres precisavam de renda externa, pois a renda interna era muito escassa, com o capital externo podiam investir em melhorias e se desenvolverem, pagando em seguida o empréstimo com juros ou com participações em empresas. O investimento externo era bom também para quem investia, pois ele poderia usar seu capital e construir uma empresa em um país mais pobre, pagando pela mão de obra valores mais baixos, aumentando seu lucro, ajudando a gerar emprego e renda nesse país.
Por fim, conclui o economista austríaco que, “o mundo age de acordo com pensamentos e ideias. Se vivemos períodos ruins, a culpa é dessa ideologia intervencionista. Podemos reverter este quadro, haja vista que podemos disseminar essas práticas nas escolas, em palestras, em vídeos, áudios, na mídia, enfim podemos e devemos defender aquilo que até hoje não tivemos sucesso politicamente na retórica, mas que obtivemos sucesso na prática econômica.”
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OBS: Tento um Blog intitulado "Ceticismo, Conservadorismo e Capitalismo" aonde eu posto várias resenhas e muito mais: artigos informativos, textos filosóficos. Deixarei o link na descrição!
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