Félix Liu 01/02/2021
A pesquisa acadêmica é feita por pessoas e sua humanidade
Comprei o livro esperando encontrar um matemático falando de como encontramos a matemática em lugares curiosos da sociedade e em outros aspectos da realidade. Algo parecido com Freakonomics. Mas ao longo da leitura você descobre que a proposta do autor é outra.
No prefácio, Edward fala de como o mundo da matemática é um que as pessoas não costumam descobrir de fato. Tenho alguma formação em Matemática Pura, então entendo o que ele quer dizer. Ele diz então que um de seus objetivos é tentar aproximar o leitor desse mundo. Senti que ele falhou nisso. Contudo, acho que ele conseguiu atingir um outro objetivo: o de mostrar que a pesquisa matemática (e a acadêmica como um todo, por sinal) é feita por pessoas: suas vontades, peculiaridades, aspirações, diversões, valores, relações. Suas vidas e vivências.
Para atingir esses objetivos, ele conta a sua história pessoal como matemático: como ele começou, cada entrave e cada passo na sua carreira, cada pessoa que ele conheceu e o papel delas em sua caminhada. Ele fala de como seus mentores e colegas foram importantes para lhe apresentar áreas de pesquisa e também para desbravar perguntas que ainda estavam em aberto dentro da Matemática Pura. De como a pesquisa requer a cooperação das pessoas, de como eles se envolvem emocionalmente com o seu trabalho, de como questões pessoais dão tom e personalidade ao mundo acadêmico e sua produção. Ao longo do caminho ele acaba apresentando muitos dos pesquisadores importantes em sua área, além de colocar em evidência vários dos pesquisadores russos e judeus que lhe foram importantes.
Em alguns momentos, ele faz uma pausa de seu relato para explicar por algumas páginas alguns conceitos matemáticos dos quais ele está falando no momento. Assim, a dificuldade dos conceitos segue a progressão de seu amadurecimento como matemático ao longo do livro e caminham na direção que ele tomou, rumo ao Programa de Langlands. Os primeiros conceitos são mais elementares e fazem parte do currículo padrão dos cursos de Matemática. Os últimos estão bastante próximos da pesquisa mais atual, com as suas muitas perguntas em aberto. Enquanto as primeiras explicações foram bastante tranquilas de se entender, as dos últimos capítulos foram particularmente dolorosas de acompanhar. O próprio autor admite, contudo, que a sua vontade é mais a de que tenhamos algum contato com esses assuntos do que dar-nos um bom entendimento acerca deles (e oferece leituras adicionais para alguém que se interesse em entender propriamente essas questões).
Tenho considerado presentear um amigo que é pesquisador interessado em Física Quântica, uma vez que o livro acaba sendo um bom relato sobre o que ele pode vir a viver, além de um compêndio com um pequeno caminho de pedras a seguir, com autores e tópicos de pesquisa, caso ele assim queira.