Kammy Krysthin 26/07/2016
[ RESENHA ] EU VEJO KATE - O DESPERTAR DE UM SERIAL KILLER
Considero Eu vejo Kate um dos melhores livros que li na vida, a partir do momento que a indicação de Ilana Casoy sobre a obra me fez desejar cegamente ter em mãos este livro, sem expectativas nenhuma e com aquele tédio para começar uma leitura de um livro que praticamente comprei às cegas, já que nem ler a sinopse o fiz, trouxe um prazer imensurável a leitura do começo ao fim, confesso que a espera de um milagre levou tanto tempo, sou criteriosa em relação a avaliações de livros, nunca conseguem a tão sonhada 5ª estrela, mas Kate conquistou meus olhos e coração até a ultima palavra, não Kate e si, mas Bardel.
Não é surpresa para ninguém a minha fixação em psicopatas, sociopatas e serial killers, o que há por trás dessas mentes que cometem crimes horríveis e que mesmo assim ainda são humanos. Ter a mente de Nathan Bardel de bandeja em um livro me fez ter mais conhecimento do assunto que vou abordar em meu TCC na faculdade de psicologia criminal, saber e sentir tudo que um serial killer é foi realmente um prato cheio para a minha curiosidade.
Vamos ao conteúdo, Claudia Lemes não poupou esforços, pesquisas e criticas no livro, com o teor real de mutilação, estupro e assassinatos, a realidade estampada foi o que ganhamos ao folearmos as paginas de sua obra, pesquisas feitas e uma escrita viciante deixou com que eu me sentisse parte de Bardel, de Kate e de Ryan, saber e ver por seus olhos o que acontecia.
“Kate está fazendo uma pesquisa neste exato momento. Ontem à noite, ela decidiu escrever minha biografia. A história da minha vida, dos meus crimes e consequentemente, minha morte. O que Kate não sabe é que ao decidir escrever o livro, ela me atraiu. – Nathan.”
O enredo mostra uma autora procurando um novo tema para uma obra, eis que um serial killer e sua biografia a fazem escrever, isso atrai o já morto assassino, um arrogante e charmoso; ao meu ver, Nathan Bardel, a mistura de sobrenatural envolvendo espíritos ou o que quer que Bardel seja não interfere de nenhuma forma na leitura, pelo contrário, sabemos o que ele fez e o porque fez.
“Eu Vejo Kate. Ela não me vê. – Nathan.”
Navegando na mente de um assassino Kate se vê presa nessa teia de crimes e mortes, com o mesmo pensamento de compreender Nathan e contar a sua história pelos olhos do próprio, Bardel se sente atraído para o mundo de Kate, pois acha que ela pode compreende-lo, ver o que há por trás do assassinos de damas ao qual foi denominado, entenda, ele quer que ela sabia o que ele era, não procura redenção por seus pecados, ele se tivesse vivo iria mata-la e apreciar cada detalhe da obra prima que considera seus atos.
“Fiquei feliz por ainda não ter começado a me xingar. Feliz pelo seu interesse. Sim, sinto coisas. Tenho emoções. E confiem em mim, sempre tive. Na verdade, assassinar sempre foi algo emocional. – Nathan.”
Uma parede de corpos mostra o que todos conhecem do homem que agora a acompanha silenciosamente pela casa, Bardel era um assassino que com o tempo se tornou organizado, tinha o prazer em matar suas vitimas, sentia ódio por mulheres por ter sido rejeitado pela mãe e que isso o levou a matar jovens quando adulto, percebem que toda reação tem uma ação? Na vida real também acontece da mesma forma diversas vezes com assassinos no mundo todo, um “porém” que ninguém deseja ver, apenas crucificar o homem que matava, não o ser humano que sofreu e se tornou o que é, aqui isso é apresentado de forma gradual, a cada pesquisa de Kate na vida do seu novo personagem, só que desta vez real. Nathan matava suas vitimas, retalhava seus corpos e abusada da necrofilia às vezes, sua marca era um X nos seios das vitimas, aquelas que eram especiais ao seu ver, escolhidas ao acaso, mas que eram dignas de musicas que o faziam relembrar cada detalhe.
“Lembro-me da reação física às facadas. Poder é difícil descrever. Foi mais do que isso. Mais do que controle, mas do que vingança. Quando ela estava morta, entendi que me precipitara. Agressão sexual post morten soa como algo tão diferente do que foi. Seu corpo ainda estava quente, eu tinha a sensação dela estar viva. Mas, embora o meu desejo sexual nunca tenha sido mais forte, eu estava nervoso demais para atingir o clímax. Depois de cerca de… quanto tempo tinha se passado? Quinze minutos? Larguei-a lá, já com saudades, perguntando-me se deveria voltar para ela. Ela era minha, afinal. – Nathan.”
Mas como todo serial, um dia ele perde o controle e isso o leva a prisão, eis que conhecemos Ryan, o profiler que está encarregado que criar o perfil do preso, na minha apresentação no blog, comentei sobre isso, exatamente a profissão que desejo me especializar, aqui Ryan é um exemplo do que desejo ser. Entre as conversas de ambos vemos o nível de frieza que Nathan tem, também a inteligência que o torna igual ao profiler, veja bem, frieza não significa que ele não tenha sentimentos, no geral o ato de matar que trás um frenesi e o clímax que eles desejam. Ryan se tornou um fracassado profissional, demitido e abandonado pela esposa e filho, foi procurado por Kate para ajuda-lo a compreender Bardel, afinal enquanto estava vivo ambos tiveram uma conexão.
“Muito se tem especulado sobre o que constrói um assassino em série. O que posso dizer, sendo um deles, é que nós temos sentimentos, mesmo se eles são na sua maioria raiva, ressentimento e ódio. Nós não somos inteiramente maus, mas fazemos coisas más, porque nos fazem sentir importantes, excitados e poderosos. Sabemos que o mundo nos fez o que somos, e é por isso que trabalhamos tanto para nos vingarmos dele. […] Mas… Mas Ted Bundy salvou um menino uma vez. Ele trabalhava em uma linha direta para impedir as pessoas de cometerem suicídio. Porque como eu, Bundy não queria matar todo o mundo. – Nathan.”
A visão das três partes principais se intercalam, mas é com Nathan que mais estamos, as reações ao perceber que Kate é como ele, que ela pode simplesmente olhar por horas as fotos das mulheres mutiladas e não correr pro banheiro chorar e vomitar, ela é forte e isso o faz desejar matá-la caso ainda estivesse vivo, aqui percebo que mesmo não se dando conta ele começa a se apaixonar de uma forma um tanto quanto irracional pela autora de sua obra, ver nela uma igual o atrai e seduz, assim como Kate se sente uma parte dele também. Ao contrário de outras pessoas Kate tem um passado que os ligam, os dramas e a auto-mutilação nos fazem perceber que por trás daquilo tudo tem uma história que a tornou assim, a borda do precipício entre compreender o que Bardel fez, e se tornar o que Bardel é.
Um limiar entre o salto para a escuridão gira em torno dela e de Ryan, ambos são chamados para esse lado que os leva ao limite de um assassino, em um trecho do livro me peguei pensando nisso, gostar e ser são duas faces de uma espada, uma fina teia que muda caso vá mais fundo naquele estudo, por isso o relacionamento de ambos acaba acontecendo, apesar de precipitado o romance fica em segundo planos, a ligação entre eles com Bardel é o ponto de ligação, dois seres que estudam o mal, com medo de se tornarem também.
Em meio a toda essa pesquisa um imitador aparece, um risco aquela que escreve a história do verdadeiro assassino, Kate corre perigo e o novo serial tem o prazer de fazer isso com ela, o palco do horror esta armado e a peça central será Kate em sua morte, sua ultima vítima, aquela que ele deseja ver agonizar e implorar por sua vida. Desconfiei do assassino assim que li algo no livro, o perfil se encaixava, era como se tudo apontasse para ele, na minha cabeça a desconfiança já estava armada, mas para quem não percebeu esse detalhe só iria se surpreender no final e realmente mesmo sabendo quem era eu acabei surpresa com ele. Todas as pistas estavam ali, mesmo modus operandi que Bardel usava, mas onde estava à sutileza, a elegância nas mortes que o próprio tinha? Nathan não gostou desse requinte falso de carnificina, mesmo a cada facada não era ele, ninguém poderia ser Nathan Bardel, onde já se viu, um inteligente serial killer ser substituído por um ignorante com apenas o desejo de matar? Nathan fazia arte, criava os casos no requinte com notas de clássicos, este era uma afronta.
“Havia apenas um Nathan Bardel. E estou morto. – Nathan.”
Por que ninguém nunca vê o que esta de baixo de seus olhos? Porque aquilo esta camuflado de algo que você sabe, mas não quer acreditar. Lembrem-se dessa frase quando lerem o livro.
Passando longe do real assassino a equipe especializada para pegar o imitador tentam juntar as peças, trabalhando em conjunto com Kate, Ryan agora tem uma razão a mais para pegar o assassino, não poderia ter em mãos o sangue de mais uma vitima, o sangue de Kate. Na corrida contra o tempo tudo aponta para a escritora, não era ela que se parecia com Bardel o suficiente para se tornar uma versão feminina deles? Foi isso que a policia pensou, a semelhança foi notada por eles, mas de forma errada, compreender o assassino não o torna um, ao menos não ainda, não agora, não passe da linha, não se renda ao lado obscuro do seu próprio ser. Kate decide que parar o livro não era uma opção, isso a trazia mais perto de desvendar esse mistério, quem seria capaz de saber tão bem sobre Bardel que não seja ele mesmo?
“Eu quero chorar gritar com eles e reúno todas as minhas forças para não apunhalar todos com a minha faca. Mais uma vez penso em Nathan. E eu acho que talvez Owen esteja errado. Talvez seja possível compreendê-los. – Kate.”
Não ouso negar que desejei que Kate sucumbisse e se tornasse ele, ter passado do limite e deixasse que Bardel a guiasse entre um mar de sangue e corpos, sim desejei, seria um final e tanto, mas Claudia não decepcionou de forma alguma com o livro, muito menos o seu final. Intrigas, manipulações e segredos guardados quando Bardel ainda era vivo são revelados e mostram que uma nova teia se liga a todos esses crimes, e se fossem dois casos separados? Mas que se ligassem por uma única causa? Que fossem ligados a Bardel, mas que agora Kate estava perto de descobrir e isso a colocou em risco?
“Sorrio quando penso, cansado, na imagem que os filmes e os livros tentam pintar de nós, agentes e profilers. Indivíduos frios, reservados, intelectuais e éticos que são capazes de fazer este trabalho e ainda serem tão corretos, e bons pais e maridos. Queria que o mundo soubesse que não é nada assim. Que pegamos esses caras por causa de horas batendo de porta em porta, horas de trabalho de policia, ajuda do laboratório, ajuda do banco de dados. Nós os pegamos quando é tarde de mias para tantas vitimas, os pegamos na maioria das vezes porque eles cometem erros, não porque “deciframos” sua psicologia através dos nossos “métodos”. Na maioria das vezes estamos cegos. O perfil só serve para restringir as opções de suspeitas, para nos dizer que tipo de pessoa procurar. Nós somos humanos, ficamos abalados com o que vemos, e choramos em nossas camas, enquanto ao mesmo tempo, somos viciados no sangue e terror do trabalho. Somos parte serial killers de nós mesmos, quando se trata do que está acontecendo em nossas mentes. – Ryan.”
Sim, tem um clímax na metade do livro que te faz perder a cor e entrar em choque, Ryan em sua inteligência torna tudo claro aos nossos olhos, não sei como descrever o personagem sem dizer o quão bom ele é, que seu limite o faz ser excelente, a superfície rasa de um ser que se divide entre entender e ser o seu estudo, não ele não se torna um assassino de fato, ele navega naquilo, entra na pele do verdadeiro serial, se já assistiram Hannibal sabem do que estou falando, Will tem a capacidade de ver pelos olhos do assassino e aqui Ryan o faz com maestria sem se deixar perder.
“É por isso que eu era bom. Eu passava horas nas cenas de crime, ouvia o tipo de musica que o suspeito escutava, seguia todos os seus passos, montava paredes como a sua. E ajudava. Quando mais próximo deles, mais fácil era pensar como eles… – Ryan.”
Quando Kate desvenda o principal enredo, o verdadeiro imitador sua vida é posta em risco, não existe príncipe encantado que a salva no ultimo momento, Ryan esta lutando pela sua própria vida na mesma hora em que ela é pega pelo assassino, o choque enorme ao me dar conta do que tinha acontecido, de quem era que fazia aquilo foi realmente impactante, parar e olhar o livro por diversas vezes sem proferir nenhuma palavra ao absorver a surpresa foi algo que aconteceu comigo, como pode ser isso? Sim era algo completamente improvável, algo mais sutil do que o assassino estar de baixo dos nossos olhos, o por trás do serial foi o que chocou, o que não irei contar aqui, só nos spoilers lá em baixo, mas lá vocês vão escolher se vão ler ou não já que ele está oculto em um botão.
“Não há maneira de escapar. Sou um objeto projetado para uma finalidade, pela sua fantasia e não há absolutamente nada que eu possa fazer. Vou sentir uma dor inimaginável e eu vou sofrer antes de morrer. – Kate.”
Não aconteceu nenhum milagre, nem nada que salvasse Kate das garras do assassino, essa parte não foi mascarada, suavizada e muito menos mostrada de forma elegante, Kate foi estuprada fisicamente e psicologicamente, os detalhes, a reação, a emoção foi um gelar nos ossos, a agonia da personagem cravou fundo na alma a cada segundo que passou ali, não foi apenas uma, mas várias agressões imensuráveis a uma mente já danificada, ter esse lado psicológico e traumático foi real a cada linha, cada palavra e admiro a autora por isso, por mostrar o que realmente acontece, serial killers não são fofinhos, sedutores, eles são cruéis, fatais. Vivendo na pele isso Kate em sua reta final não tinha mais forças para lutar, e quando finalmente Ryan consegue salvá-la isso não a trás para a superfície novamente.
“Eu vejo Kate. Ela me vê. Ela finalmente me vê. – Nathan.”
“Vejo Nathan Bardel. Tenho certeza de que deve ser ele, mas há algo nele que não me assusta. – Kate.”
Ryan em busca de vingança persegue por conta própria o assassino que fugiu, fora da jogada Kate não é mais relevante na história, ela esta em segundo plano, estamos eu, Ryan e Bardel, sim, me sinto parte da equipe, caçar aquele que causou tanto mal e fez com que a cadeira seja chutada no enforcamento de Ryan é eletrizante, aqui não estou me referindo a morte em si, mas a consciência do certo e errado que chegou ao limite, que fez o profilers surtar e pensar apenas naquilo, na morte do assassino. Seria ele capaz de matar e se tornar sua vitima? A caçada continuava e Bardel acompanhava, já considerando Ryan como um amigo, este apenas podia estar ali, mas não interferir.
“Tenho medo, porque o meu atual estado de não ser, embora ainda sinta e veja, está me deixando mais e mais confuso. Eu tenho medo porque eu não posso alterar nada. Eu me tornei passivo e estou apenas começando a perceber que não tenho controle sobre nada. Porque estou morto. – Nathan.”
Será que no final isso valeu a pena? Que Ryan além de juiz se tornou o algoz? Não posso contar para vocês, precisam ler e tirar as suas conclusões, garanto que não irão se decepcionar.
“Eu ainda estou aqui. Estou por perto, até que eu entenda porque ainda estou aqui, até entender quem eu sou. Devo admitir que está me mudando, ver o mundo e ver as pessoas da maneira que agora posso. Talvez essa seja a finalidade, talvez não haja nenhuma. Peço que me mantenha vivo, sabe? Pense em mim às vezes. Pense em mim quando puder. Talvez eu possa ver você, também. - Nathan”
Considerações finais, vejo a obra como um todo não teve pontos fracos apenas positivos, desejo ler a obra que a Kate escreveu do Bardel a sua biografia, e mesmo lendo apenas um livro da Cláudia Lemes esta já entrou na minha lista de autoras favoritas ao lado da Ilana Casoy.
site: http://kammyriquelme.blogspot.com.br/2016/07/Rsenha-EuVejoKate.html