z..... 28/11/2018
A obra nasceu da admiração de Virginia Woolf por Elizabeth Barret que, em minhas limitações, nem conhecia. Algo que começou a ser desvendado na apresentação, com informações de poetisa inglesa do século XIX, textos aclamadíssimos de muita virtuosidade (dei uma conferida em um famoso soneto e que linda declaração de amor, emocionou), e também histórico de troca de cartas amorosas com o esposo, também escritor, que a inspiraram no que pareceu-me sua obra-prima e, obviamente, a senhora Woolf também. Isso porque nas cartas há citação de um cocker spaniel, que foi boa companhia à Elizabeth em sua vida de emoções impactantes e saúde frágil.
Então é assim que este livro, apesar do protagonismo do Flush (e eu nunca vi um cachorro desses de perto) é também uma espécie de biografia da poetisa, na fração de tempo que gozou da boa companhia desta simpática e inusitada testemunha ocular.
Realidade e fantasia se misturam, em um resultado carismático para uns (que na prática transformaram este em um dos mais conhecidos livros da autora) e também com potencial histórico para outros (principalmente na observação da sociedade de época).
Literatura com protagonismo animal já li várias e entre as característica dessa: a descrição de Flush em terceira pessoa, ausência de "humanização do bicho" (se é que me faço entender) e valorização do contexto de época (o que pareceu-me mais interessante, pois não é um livro centrado nas ações do cão, mas na observação do ambiente de interação). Estou no segundo grupo que mencionei no interesse pelo livro...
Uma das coisas que instigou-me foi o paralelo em Londres entre riqueza e pobreza, onde praticamente havia grande desconhecimento de um para outro. Sabiam da existência, mas nada mais interessava saber (o que pareceu-me). O próprio Flush tem essa empáfia em certo momento, quando considera-se um ser superior como aristocrata entre outros cães. Esse conceito expressou-se em Elizabeth nas suas construções também (ilustrando a percepção que instigou-me), em texto que diz que o poeta vive como em extremos de odor de rosas ou de esterco. Flush, que, às vezes, podemos perceber como os olhos de Virginia naquele meio, teria a percepção de gradientes entre os extremos. Que sociedade era esta? Contrastes? Enfim, vontade de entendimento, o que de certa forma acontece (quando sequestrado, muda de país, na percepção de gostar e quando constata diferenciações no meio, por aí...).
Não tem muita ação e, se não fora a curiosidade que despertou-me pela descoberta de uma poetisa que quero ler também, ou uma olhadela naquele mundo glamoroso de entusiasmo a devaneios no contexto vitoriano, desconfio que teria abandonado.
Foi o que entendi, o que pareceu-me. Ainda quero ver um cachorro desses de perto...
Resta o silêncio.