Ângelo Von Clemente 24/05/2020A cada página um novo coiceA lucidez deste homem é tão extraordinariamente perversa que provoca angústia. Até mesmo a idéia de se voltar contra ele é tentadora, e no decorrer da leitura eu me questionava o porquê.
Talvez pela sinceridade singular de Schopenhauer ser caracterizada por uma "sutileza bruta", e muitas de suas colocações soarem como facadas em feridas mal cicatrizadas expostas em nosso próprio espírito. Mais que críticas amargas limitadas a ortografia alemã e a literatura de sua época, Schopenhauer transcende essas banalidades supérfluas se estivermos dispostos a compreende-lo, em detrimento do culto de nosso próprio orgulho tolo que, por qualquer contrariedade, deseja rotular e reduzir aquilo que não é capaz de compreender. (de sequer tentar)
Eu o classificaria como: exército de um homem só, e um exemplo fantástico da metáfora "A pena é mais poderosa que a espada."
Não é necessário concordar com absolutamente todos os seus pontos de vista para reconhecer o que é sensato do que não o é. E isso é óbvio.
Schopenhauer é letal e inclemente com toda forma de pedantismo, falsa erudição e pseudo intelectualidade (algo extremamente comum em nossos dias.) Incorreto, no entanto, seria julga-lo de forma anacrônica. Coloca-lo como sendo somente um "elitista", e APENAS isso, é a mais pura demonstração de inoperância intelectual, e/ou de um senso crítico ideologicamente adoecido e estruturado em falsos alicerces, PENSO EU.
Utilizando um trecho que muito me escandalizou, mas que se trata de uma trágica realidade (e de um verdadeiro fatallity):
"É sempre um erro querer transferir para a literatura a tolerância que, na sociedade, é preciso ter com as pessoas estúpidas e descerebradas que se encontram por todo lado. Pois, na literatura, eles não passam de invasores desavergonhados, e desmerecer o que é ruim constitui uma obrigação em face do que é bom. Se nada parece ruim a alguém, também nada lhe parece bom."
Mil vezes grande homem!
(Obs: Vale a pena ressaltar que esse livro, na verdade, é somente a compilação de escritos avulsos do autor; escritos esses que não foram selecionados por ele em pessoa, e que originalmente pertencem a uma obra; consideravelmente maior, inclusive)