A arte de escrever

A arte de escrever Arthur Schopenhauer




Resenhas - A arte de escrever


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TheBorba 26/04/2013

Gostei da forma como o autor expõe as ideias, desconstruindo conceitos e explorando diversos aspectos e ângulos de um pensamento. Quando exagera no tom em que critica, a leitura se alterna entre engraçada e entediante. São críticas que pertencem a outro tempo e nação, e os longos ensaios sobre como o latim é rico e o alemão, pobre e frívolo, são, na minha leiga opinião, dispensáveis por serem quase que totalmente direcionados a quem estuda essas línguas, e não a quem procura sobre a arte de escrever em si. De qualquer forma, a maioria dos textos são realmente válidos para os dias de hoje e aposto que se Schopenhauer presenciasse a situação da educação e erudição atuais seu tom seria bem mais pesado.


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larissa dowdney 14/03/2013

O livro é extremamente redundante, mas isso não tira o seu louvor. Schopenhauer é magnânimo nos seus pensamentos e na incitação dos nossos próprios!
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Israel145 11/10/2012

Essa obra de Schopenhauer traz um conjunto de críticas ácidas disparadas de uma metralhadora direcionada para um único alvo: os detratores do pensamento. Segundo o autor, na época da concepção da obra, os pensadores, os críticos, os escritores e os editores estavam vivendo uma decadência do pensamento e da escrita em si, principalmente na Alemanha, pátria do autor (que de fato podemos constatar no mundo de hoje).
Focado nos grandes filósofos, cientistas e escritores, Schopenhauer critica de forma inclemente todo e qualquer comportamento obtuso do pensar científico. Critica os eruditos e demonstra um ódio ferrenho à obra e aos seguidores de Hegel e outros; Critica o ato de pensar (mais focado nos filósofos); A leitura e escrita de livros, que talvez seja o capítulo mais interessante pela visão ortodoxa do autor; e por fim a linguagem, mais focada na língua alemã.
Mesmo com um estilo furioso, o livro traz passagens memoráveis na sua agradável leitura. Como o autor criticou na época o fim do latim como língua oficial dos eruditos e a tradução de grandes obras para línguas bárbaras (segundo ele), dentre algumas verdades inesquecíveis desse grande conjunto de ensinamentos, podemos elencar alguns:
- Uma obra traduzida é como uma obra morta;
- Ler demais e esperar que aprenda algo é a mesma coisa de comer e esperar que toda a comida que se comeu até hoje tenha ficado na barriga;
- Ler é como usar o pensamento de outra pessoa.
Dentre várias outras ideias jogadas com na cara dos pensadores e eruditos da época com a delicadeza de um coice de cavalo.
Ótimo livro para se iniciar nas obras do autor.
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AlbertodeCastro 21/09/2012

A Arte de Escrever
Embora Schopenhauer seja extremamente crítico, principalmente aos autores alemães de sua época e o autor abuse de uma linguagem erudita, acredito que este livro seja recomendado a leitura, principalmente para quem deseja conquistar a arte de escrever. A mensagem que o autor deixa é que a leitura é imprescindível, para formarmos o nosso próprio pensamento.
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Tita 29/08/2012

À frente de seu tempo.
Se engana quem acha que "A arte de escrever" se trata apenas de um livro sobre métrica ou regras de escrita. Muito além disso. O livro traz visões filosóficas do mundo e críticas do modo de pensar (ou de não pensar) das pessoas. A princípio Schopenhauer parece apenas um cara amargurado e revoltado com a situação do seu tempo, mas ele era também um visionário. "A arte de escrever" poderia muito bem ter sido escrito ontem que se encaixaria perfeitamente na situação literária atual.
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Flora 21/07/2012

"A arte de escrever" é um livro que, na minha opinião, é indicado tanto para acadêmicos quanto para profissionais que lidam com a linguagem constantemente. Referindo-se à prolixidade dos escritores de sua época, Schopenhauer explica o quanto leitura e escrita organizadas dependem do pensamento do leitor/escritor. Não basta apenas ter o conteúdo e jogá-lo de qualquer modo, "como quem joga dominó", enquanto, por outro lado, se não se sabe o conteúdo, dificilmente o autor conseguirá passá-lo em uma linguagem simples e direta. Os desafios da tradução são outro aspecto abordado pelo livro.
Obs: em alguns momentos, Schopenhauer me pareceu conservador, defendendo ao máximo a imutabilidade da língua alemã, o que, teoricamente é impossível.
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McFly 18/01/2009

romântico
Não conheço outras edições do livro; posso dizer que gostei dessa? Bem, gostei.
Schopenhauer é duro, mas não tanto quanto Nietzsche. Este livro é dividido em sessões e não trata somente do escrever, mas também do ler e do pensar - e tem como separar tudo?
Não gosto de uma série de passagens por ele escritas; outras, são altamente inspiradoras e provocadoras.
Altamente recomendável. Não concordo com muitas idéias do autor, mas dou 5 estrelas ao livro: vale pelas provocações.
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Thiago Souza. 29/01/2012

A arte de escrever.
Muito bom!! não li ele todo ainda.. mais sempre o estou foleando.
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Thiago 27/12/2011

Um livro clássico e inspirador.
O livro é altamente recomendável à todas pessoas que amam literatura e que trabalham na área de educação. Talvez devesse ser uma obrigação para quem é da área de Letras.

As duras críticas que Schopenhauer aqui faz ainda são atuais. É um livro clássico que deve ser lido e relido em qualquer época e sempre manterá seu caráter comtemporâneo.

Outra característica dessa obra e do próprio Schopenhauer é a sua escrita. Ele consegue com clareza explicar assuntos diversos por meio de uma linguagem erudita simples, direta e rica em analogias. Ao ler, senti como se estivesse conversando com um velho sábio. A leitura flui facilmente, não por ser simplista, mas por saber prender o leitor com as ideias.

O Capítulo "Pensar por si mesmo" é genial. O último capítulo intitulado "sobre a linguagem e as palavras" é um pouco mais teórico. Mesmo assim, nenhuma parte do livro apresenta impedimentos à leitura.

Enfim, seu livro pode ser considerado como um modelo de escrita que qualquer pessoa poderia se inspirar. Deste modo, Schopenhauer nos ensina com propriedade "a arte de escrever".
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Vitoria 02/05/2024

Não sei pq eu ainda tento ler autores que não me agradam. Provavelmente esse foi o livro no qual mais escrevi interjeições e discordâncias. Pelo menos foi cômico.
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Marlo R. R. López 21/11/2009

Excelente "manual" para quem gosta de escrever. Schopenhauer possui uma linguagem clara, eficiente, concisa e inteligente.
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Mari 09/01/2010

A arte de escrever – Schopenhauer
Arthur Schopenhauer (1788 – 1860) foi um importante filósofo alemão do século XIX, cuja principal obra é “O mundo como vontade e representação”. Entretanto, sua obra mais conhecida talvez seja “Parerga e Paralipomena”, de 1851, da qual provém os cinco ensaios reunidos em “A arte de escrever”. Nestes ensaios, há um tom preconceituoso (preconceito lingüístico, sexismo), mordaz e rude recorrentemente, porém há também lições que devem ser levadas em conta sobre escrita, leitura, literatura e crítica.


Em “Sobre a erudição e os eruditos”, há dura crítica à “falsa erudição”, nas palavras do próprio autor. Schopenhauer afirma que os professores ensinam pelo dinheiro e os alunos aprendem para obter “ares de importância” (e não pela sabedoria), tendo ambos em mira apenas a informação, e não a instrução, sem perceber que a informação é apenas um meio para a instrução, com pouco ou nenhum valor em si mesma. Para a maioria dos eruditos, a ciência é um meio, e não um fim; estes jamais chegarão a fazer nada de grandioso, pois para isso teriam de ter o saber como meta – tudo que é feito em função de oura coisa é feito de maneira parcial. O autor faz uma analogia (aliás, este é um recurso muito usado nestes ensaios) interessante entre a erudição e uma peruca: a erudição seria uma rica massa de pensamentos alheios como adorno, já que aquele que a usa carece de seus próprios pensamentos. A maior parte de todo o saber humano existe apenas no papel; somente uma pequena parte está realmente viva, a cada momento, em algumas cabeças. Com base nesse argumento, Schopenhauer afirma que as bibliotecas são a única memória permanente e segura da espécie humana.


Conforme o autor, as ciências adquiriram uma tal amplitude que, para realizar um empreendimento científico, é preciso dedicar-se a apenas um campo muito específico. Um estudioso, assim, encontrar-se-á acima do vulgo em sua área; no entanto, será como qualquer um em todas as outras. Não obstante, a verdadeira formação humana exige universalidade e visão geral. Schopenhauer defende que o descuido com as línguas antigas contribui para a decadência geral da cultura humana; e, mais especificamente, que a abolição do latim como língua geral da erudição e a introdução do espírito pequeno-burguês nas literaturas nacionais foram infortúnios para as ciências na Europa, por 4 motivos principais, a saber: 1º Só por meio da língua latina havia um público geral de eruditos europeus; 2º A atuação dos eruditos se enfraquece com barreiras lingüísticas; 3º Versões são péssimos substitutos para as línguas eruditas; 4º Dá-se o fim do aprendizado das línguas antigas. É possível entrever nessas reflexões o forte preconceito lingüístico que permeia a produção intelectual do filósofo.


Schopenhauer defende ainda a impossibilidade de conciliar patriotismo e ciência, já que quando se trata de questões puras e gerais da humanidade, seria impertinente pôr na balança a preferência pela nação à qual certa pessoa pertence. Por fim, o autor propõe neste ensaio 4 atitudes para melhorar a qualidade dos estudantes, sendo: 1ª Não freqüentar a universidade antes dos 20 anos; 2ª Passar por um examen rigorosum nas duas línguas antigas antes da matrícula; 3ª Ser liberado do serviço militar, pois seria inconcebível estragar anos de vida com o manuseio de armas, e, além disso, esta atividade o respeito que todo iletrado deve ao erudito; 4ª No primeiro ano, cursar apenas a faculdade de filosofia. Este último trecho evidencia o pensamento preconceituoso e mordaz e Schopenhauer de forma particularmente clara.


No ensaio “Pensar por si mesmo”, o autor continua a defender a superioridade das idéias próprias, afirmando que uma grande quantidade de conhecimento, quando não foi elaborada por pensamento próprio, tem menos valor do que uma quantidade menor, mas bem assimilada, que traria um aumento progressivo da diversidade original do cérebro. Entretanto, Schopenhauer faz uma ressalva ao afirmar que só é possível pensar sobre o que se sabe, por isso se deve aprender; mas também só se sabe aquilo sobre o que se pensa com profundidade, de forma que o ciclo de aprendizagem é infinito. Pode-se aprender de forma aleatória, mas não pensar; para que isso não aconteça, é necessário que o pensamento seja estimulado, seja por interesses objetivos (nas “cabeças que pensam por natureza”) ou subjetivos (pessoais). Segundo o autor, a leitura impõe ao espírito pensamentos que lhe são estranhos, ao passo que quando se pensa por si mesmo, segue-se seu próprio impulso (neste caso, as circunstâncias não seriam imposições, mas sim fatores que dão matéria e oportunidade para pensar o que está de acordo com sua natureza e disposição presentes). Quando em excesso, a leitura tira e elasticidade do espírito; apenas os pensamentos próprios são verdadeiros e têm vida, pois são entendidos de modo autêntico e completo. É possível desvendar uma verdade, que poderia ser encontrada em livros, pelo próprio pensamento; nesse caso, ela é 100 vezes mais valiosa, pois chega ao tempo certo, quando necessária, e por isso é fixada com segurança e não pode mais desaparecer. O pensamento próprio aspira desenvolver um conjunto coeso, um sistema, mesmo que não rigorosamente fechado. A leitura contínua é prejudicial, pois esses pensamentos, originados de espíritos diferentes, pertencem a sistemas diferentes e, portanto, não formam um conjunto coeso. Neste momento, o autor faz uma ressalva, afirmando que o pensador científico é uma exceção, por precisar de conhecimento prévio; seu espírito deve ser suficientemente forte para dominar tudo incorporando ao sistema de seus pensamentos, subordinando o que lê ao conjunto coeso de sua compreensão abrangente. Outra ressalva é que mesmo uma grande inteligência não é capaz de pensar por si mesma a todo momento; é, portanto, conveniente dedicar o tempo restante para leitura (alimentando, assim, o espírito).


Schopenhauer afirma que no reino dos pensamentos, somos espíritos incorpóreos, sem gravidade e sem necessidades, de forma que se pode encontrar a felicidade. O autor termina o ensaio distinguindo dois tipos de pensadores: os que pensam primeiramente para si mesmos (autênticos) e os que pensam de imediato para os outros. O primeiro tipo tem no pensamento o prazer e a felicidade de sua existência; o segundo tipo inclui os sofistas, que procuram o conhecimento por ostentação e reconhecimento.


No ensaio seguinte, “Sobre a escrita e o estilo”, Schopenhauer distingue 2 tipos de escritores: os que escrevem em função do assunto (tiveram pensamentos) e os que escrevem por escrever (pelo dinheiro). Segundo o autor, os honorários e a proibição da impressão são a perdição da literatura; sendo ainda conseqüência secundária a deploração da língua. Em seguida é proposta uma segunda classificação dos escritores, esta em 3 tipos, a saber: os que escreve sem pensar (memórias, livros alheios), os que pensam enquanto escrevem (pensam para escrever), e os que pensam antes de escrever (escrevem porque pensaram – são raros; menos ainda são os que pensam por si mesmos antes de escrever). Schopenhauer afirma que não há nada mais errado do que crer que toda mudança é um progresso, que algo escrito recentemente é necessariamente um aprimoramento dos escritos anteriores; seguindo esta linha de pensamento, o autor critica os tradutores, taxando-lhes impertinentes por pretenderem corrigir e reelaborar os autores originais, de forma que seria sempre preferível ler os “verdadeiros autores”, fundadores e descobridores ou ao menos mestres em uma área – e na língua original. Schopenhauer afirma que o valor de um livro encontra-se na matéria (assunto; nesse caso não importa tanto o autor) ou na forma (estilo; nesse caso não importa só o assunto, o autor faz este ser interessante). Pessoas comuns podem oferecer livros importantes graças à matéria (descrições de países distantes, experimentos, histórias das quais foram testemunhas), mas somente mentes célebres são capazes de oferecer algo digno pela forma. O público, em geral, prefere a meteria à forma, e essa seria a causa do contínuo atraso em sua formação, segundo o autor. A busca pela repercussão pela matéria é censurável nas áreas em que o mérito deve advir da forma, como nas obras poéticas.


O filósofo defende que a vida autêntica de um pensamento dura até que vire palavras: aí ele se petrifica e está morto, mas torna-se indestrutível, como fósseis da pré-história. A pena é para pensar como a bengala é para andar: da mesma forma que se caminha com mais leveza sem a bengala, o pensamento mais pleno se dá sem a pena. Segundo o autor, em todas as épocas surge alguma noção fundamentalmente falsa, uma moda qualquer; o homem inteligente reconheceria e desprezaria essas coisas, mas o público só reconhece a farsa após alguns anos. Revistas literárias deveriam ser o dique contra a crescente enxurrada de livros ruins e inúteis. Porém, os escritores são professores ou literatos que escrevem por necessidade financeira; como possuem objetivos comuns, ajudam-se mutuamente, fazendo resenhas elogiosas de livros que não merecem. Schopenhauer defende a eliminação do anonimato, que teria sido introduzido, supostamente, para proteger o crítico, mas que serviria para tirar a responsabilidade de quem não pode defender o que diz. O autor afirma, a partir da construção anterior de pensamentos, que é sempre um erro transferir para a literatura a tolerância que, na sociedade, é preciso ter com as pessoas “estúpidas e descerebradas”. Este é outro trecho em que o tom preconceituoso do filósofo fica particularmente claro.


Schopenhauer afirma que o estilo é a fisionomia do espírito, de forma que limitar-se ao estilo alheio é como usar uma máscara: por mais bela que seja, não tem vida, e o rosto vivo mais feio é melhor do que ela. Seguindo a mesma analogia, a afetação de estilo seria como às caretas que deformam o rosto. A língua em que se escreve seria a fisionomia nacional, e seria indispensável descobrir os erros lingüísticos dos outros para evita-los nos próprios escritos. O estilo não passa da silhueta do pensamento: escrever mal, ou de modo obscuro, significa pensar de modo confuso e indistinto; quem tem algo a dizer não precisa de preciosismos e frases difíceis. Todos os estilos de escrita devem conservar vestígios do estilo lapidar que é seu precursor. Querer escrever como se fala é tão condenável quanto querer falar como se escreve, o que resulta em um modo de falar pedante e difícil de entender. Excessos atrapalham qualquer trabalho: palavras servem para tornar pensamentos compreensíveis, mas só até certo ponto; depois dele, tornam os pensamentos obscuros. A verdade fica mais bonita nua, e a impressão que causa é mais profunda quanto mais simples for sua expressão, pois assim ocupa toda a alma do leitor/ouvinte. O autor afirma, preconceituosamente, que a língua alemã é a única que pode se comparar ao grego e ao latim, sendo as outras línguas européias “somente” dialetos.


Conforme o autor, um erro recorrente de estilo é a subjetividade: escreve-se como um monólogo, sem preocupar-se com o entendimento do leitor, e sem considerar que os pensamentos também estão sujeitos à lei da gravidade – o caminho da cabeça para o papel é bem mais fácil do que o caminho do papel para a cabeça. Quem escreve de maneira displicente estaria confessando que não atribui grande valor aos seus pensamentos. Poucos escrevem como um arquiteto constrói: primeiro esboçando o projeto e considerando-o detalhadamente. O princípio condutor da estilística deveria ser o fato de uma pessoa só poder pensar um pensamento de cada vez; não é isso que exige quem introduz orações intermediárias em lacunas de períodos principais (confundindo, assim, o leitor). Schopenhauer afirma que comparações são de grande valor, assim como suas evoluções: parábolas e alegorias, uma vez que remetem de uma situação desconhecida a uma conhecida. O autor termina o ensaio defendendo que as línguas foram inventadas em determinado momento (e, portanto, deveriam ser estáticas).


Em “Sobre a leitura e os livros”, Schopenhauer afirma que a ignorância degrada os homens somente quando associada à riqueza (pois, neste caso, ocupa-se a mente somente com prazeres); o pobre é sujeitado por sua pobreza e necessidade, e o trabalho substitui o saber ocupando o pensamento. Além disso, o autor volta a denunciar os malefícios do excesso de leitura, fazendo analogia com o excesso de alimento: assim como este faz mal ao corpo, aquele faz mal ao espírito; quanto mais se lê, maior a quantidade de marcas deixadas no espírito pelo que foi lido. Mais uma vez, é feita uma ressalva ao apontar um benefício da leitura: nenhuma qualidade literária pode ser adquirida pelo simples fato de ler escritores que possuem tal qualidade, porém, se já se possui essa qualidade potencialmente, a leitura pode evoca-la. Schopenhauer afirma, com pesar, que as pessoas lêem a última novidade e os escritores permanecem no círculo estreito das idéias que circulam, de forma que uma época afunda cada vez mais em sua própria lama. Para ler o que é bom uma condição é não ler o que é ruim, pois a vida é curta, o tempo e a energia são limitados.


O autor defende que exigir que se carregue tudo que se leu é o mesmo que exigir que se carregue tudo que se comeu: a pessoa vive do alimento corporalmente, e do que leu, espiritualmente, e foi assim que se tornou o que é. Porém, assim como o corpo assimila o que lhe é homogêneo, o espírito guarda o que lhe interessa. Schopenhauer também defende que as obras são a quintessência do espírito: em conseqüência disso, por maior que seja o espírito, elas terão sempre uma riqueza maior que o contato com o autor.


Conforme o autor, há duas histórias: a da política (da vontade; angustiante) e a da literatura e da arte (do intelecto; jovial e agradável). O ramo principal desta última é a História da Filosofia, que constitui sua base fundamental e ressoa até mesmo na outra história, conduzindo a opinião através de seus fundamentos. Pode-se perceber, através dessa reflexão, o idealismo ao qual o filósofo era adepto. Finalizando este ensaio, Schopenhauer faz uma analogia entre os avanços do conhecimento humano e a imagem de uma órbita planetária: a cada 30 anos, o espírito científico, literário e artístico da época declara falência. Aponta, ainda, que esse estudo deveria ser o conteúdo pragmático da História Literária.


No último ensaio desta coletânea, “Sobre a linguagem e as palavras”, Schopenhauer reflete sobre a linguagem, a começar por diferir a linguagem animal da humana: enquanto a primeira serve unicamente para expressar a vontade, a segunda também serve para expressar conhecimento. A palavra dos homens é o material mais duradouro. O autor acredita que quanto mais antiga uma língua, mais gramaticalmente perfeita ela é, levantando a hipótese de que a vida da língua seria igual à de uma planta que, a partir de uma semente simples, desenvolve-se pouco a pouco, alcança seu ponto culminante e então decai lentamente a medida que envelhece. Schopenhauer também supõe que o homem inventou a linguagem instintivamente, pois há desde sua origem um instinto por meio do qual, sem reflexão/intenção, produz os instrumentos e órgãos necessários para o uso de sua razão. As obras produzidas pelo instinto possuem perfeição peculiar, por atenderem precisamente às exigências de seus objetivos (esse seria o caso da primeira língua; buscar os vestígios dessa perfeição para traze-la à luz da reflexão é a obra da gramática). O aprendizado de línguas seria um meio de formação espiritual não somente indireto, mas também direto. Não se encontra em cada palavra de uma língua um equivalente exato em todas as outras línguas, nem todos os conceitos designados pelas palavras de uma língua são exatamente os mesmos que as palavras das outras expressam (“Quantas línguas alguém fala, tantas vezes ele é um homem” – Carlos V). A partir dessa reflexão, o autor defende que todas as traduções são necessariamente imperfeitas, obras mortas, de estilo forçado, rígido e sem naturalidade; quase nunca seria possível que uma tradução cause o mesmo efeito que a obra original (poemas, por exemplo, não poderiam ser traduzidos, mas apenas recriados poeticamente). Quando se aprende uma nova língua, é preciso delimitar novas esferas de conceitos no espírito. Não se aprende somente palavras, se adquire conceitos, sobretudo nas línguas antigas, pois o modo de expressão difere muito do atual, diferença essa muito maior do que a encontrada entre as línguas modernas entre si. A língua é para o espírito de uma nação o que o estilo é para o espírito de um indivíduo. O poliglotismo é um meio direto de formação espiritual porque aperfeiçoa e corrige as apreciações com a introdução da pluralidade e das sutilezas de conceitos, aumentando também a flexibilidade do pensamento à medida que o conceito torna-se cada vez mais livre da palavra com o aprendizado de várias línguas. O autor defende que as consoantes são o esqueleto, e as vogais a carne das palavras. O esqueleto é, no indivíduo, inalterável, e a carne, muito mutável, em termos de cor, qualidade e quantidade.


Schopenhauer afirma que os germanistas dividem a língua alemã em ramos: 1. ramo gótico; 2. ramo nórdico (islandês, do qual provém o sueco e o dinamarquês); 3. ramo do baixo-alemão (dialeto Plattdeutsch e holandês); 4. frisão; 5. anglo-saxão; 6. alto-alemão (séc. XVII). O autor defende que nesse sistema há muito mais patriotismo do que verdade, e por isso prefere filiar-se ao sistema de Rask, que postula que o gótico, proveniente do sânscrito, dividiu-se em 3 dialetos: sueco, dinamarquês e alemão. Segundo essa teoria, da língua dos antigos germanos os alemães não conhecem nada; ao menos segundo a língua, são godos. Além disso, os mitos dito germânicos, na verdade góticos (como a saga dos Nibelungos), são encontrados de modo muito mais elaborado na Islândia e na Escandinávia do que entre os alemães. As antiguidades nórdicas (achados feitos em escavações, runas, etc.) demonstram, em comparação com os achados alemães, que a cultura era muito mais elevada na Escandinávia, em todos os campos.


Leitura fluente e interessante, mesmo com as tiradas preconceituosas recorrentes. Particularmente indicado àqueles que trabalham com Letras.
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aleshinohara 09/08/2010

Schopen Soft
Estes pedaços do Parerga e Paraliponema mostram a parte pop do mestre. Como excelente escritor, aplica à risca aquilo que prega: escrita simples, direta, sem contornos. Rodeios são para aqueles que não tem o que falar.

Livro absolutamente confortável de ler. Temas ordinários, comuns, diferentemente de em "O mundo como vontade e representação", que tenta resumir sua visão(metafísica) de forma sistemática.

Recomendo!
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Lima Júnior 01/08/2011

As críticas aos escritores que Schopenhauer faz nesse livro são ótimas e servem até hoje, tendo em vista que a literatura nos dias de hoje virou tão comercial quanto na época do autor. Destaco também o fato dele defender o aprendizado de novas línguas, que essencialmente importante e os argumentos dados por Schopenhauer são bem válidos.

O ponto fraco do livro são os pensamentos de superioridade que Schopenhauer tem; fato muito comum em outros escritores alemães, como Nietzsche, por exemplo. Isso desgasta o livro, mas não posso culpá-lo, era algo normal naquela época e talvez até hoje, mas menos explorado depois dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Aqui neste livro, Schopenhauer ataca ferozmente Hegel e seus seguidores, tornando uma leitura muito parcial e pessoal, deixando o leitor meio entediado com toda essa fúria. Se o leitor for um fã de Hegel, irá odiar este livro (o que, no meu caso, ainda bem que não ocorreu, já que não sou nenhum seguidor de Hegel).
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