Conchego das Letras 22/09/2015
Resenha completa
Dessa vez faremos um "dois em um". Teremos uma Resenha com Momento Cultura ao final. Mas cuidado porque o Momento Cultura é, na verdade, um spoiler danado!
O que falar sobre Sniper Americano? É um livro? Sim. Virou filme? Também. O livro foi um sucesso estrondoso, entrando na lista de mais vendidos quase que imediatamente após o lançamento. E, assim como o filme, causou controvérsias.
Sniper Americano é mais do que uma simples história para distrair, ele é baseado em uma história real.
Clint nunca foi um ator excepcional. É um bom e grande ator, capaz de carregar qualquer papel que se proponha. Mas quando passou para trás das câmeras o cara se transformou. Talvez por ter sido dirigido por ícones do cinema ou porque ele sabe as dificuldades de se construir um papel, Clint é um diretor de atores e de cenas. Sim, são coisas diferentes. Montar uma cena, posicionar objetos e pessoas é uma coisa, mas conseguir tirar atuações apaixonantes de um ator é completamente diferente. E o autor do livro American Sniper, Chris Kyle, afirmou que se alguém fosse dirigir um filme sobre sua vida, esse alguém seria Clint Eastwood e ninguém mais.
O filme é muito bem feito e fiel ao livro. Ambos, obviamente, contam a história de vida de Chis Kyle, um americano que, abalado com os atentados do 11 de setembro de 2001, decide alistar-se na marinha americana. Ele acaba se tornando um sniper (um tipo específico de atirador de elite), devido às suas habilidades de caça desenvolvidas na infância, quando ia caçar por esporte com seu pai. Chis se torna uma lenda nas forças especiais por exibir tamanha capacidade, comprometimento e precisão, acumulando mais de 160 mortes e salvando incontáveis vidas de seus companheiros de batalha.
As obras não nos enganam, mostrando toda a tensão, o desespero, a feiura e a dor que uma guerra é capaz de causar. Temos as vidas perdidas, as missões que deram certo e as que não deram, a dificuldade de adaptação do personagem após voltar da guerra (e não, isso não é um spoiler, já que ele vai para a guerra mais de uma vez e isso é dito na contra-capa do livro), o sofrimento e a solidão dos familiares.
Como ainda não havia lido o livro quando fui ver o filme, não tinha ideia de como ele iria morrer. Se seria em guerra ou não, de fogo amigo ou inimigo, etc. Então, a cada ida para a guerra e a cada vez que ele ia para a rua, quando em casa, eu ficava esperando um tiro, uma explosão, um atropelamento. Dizer que o filme é tenso, é pouco. Mas o livro em si é ainda mais desesperador por apresentar mais detalhes.
Durante todo o tempo tive vários pensamentos repetitivos, todos eles relativamente desesperadores: "ainda bem que não temos guerra no Brasil", "ainda bem que meu marido não é policial e não vive a guerra urbana que nós temos e eles vivem, principalmente nos morros cariocas", "ainda bem que nunca precisei ver um parente ir para a guerra", "por favor, Senhor, que eu nunca tenha que ver uma pessoa que eu amo ir para a guerra".
Bem, mas chega de momento nostalgia. Falemos agora sobre as críticas ao filme. Não sou especialista na área, mas a maioria das críticas que li são risíveis e todas voltadas para a questão política porque elenco, atuação, enredo e produção são, de forma unânime, nota 10.
Crítica 01 - "patriota excessivo e quase cego do ponto de vista da política internacional". Motivo para tal crítica ser risível: tudo é contado do ponto de vista de um homem que se alistou na marinha pós 11 de setembro por achar que era seu dever "proteger o país dos terroristas", logo, é óbvio que vai ser um filme sobre extremo patriotismo. E, 'ponto de vista da política internacional'? Fala sério, não é um documentário, é a vida do cara e ele via daquele jeito e não como um jornal 'politicamente correto'.
Crítica 02 - "o filme poderia colocar uma visão geopolítica menos superficial e não tratar todos os iranianos como terroristas selvagens. Motivo para tal crítica ser risível: o homem estava em um país onde até as crianças eram uma ameaça à vida dele, lançando bombas e atirando contra ele e seus companheiros e os críticos querem que ele fique analisando a questão geopolítica da situação!? Sério!? Ok... Então vamos lá... ele não atira a esmo, não matou todo mundo que apareceu na frente e tem cena que ele fala que só atirou em quem estava armado. Existem, também, as cenas das crianças em que, antes de atirar, ele sempre torce para elas largarem as armas e ele não precisar matá-las para salvar o pelotão inteiro. Será que isso não basta em um ambiente de guerra?
Existem outras críticas, que não irei ficar falando aqui porque as explicações para elas são as mesmas que forneci nas duas acima. Pode-se ainda incluir nas "defesas" o fato de que ele era apenas um ser humano e, como todos, errava; isso é até evidenciado tanto no livro quanto no filme.
CURIOSIDADES:
01 - O filme foi indicado para melhor filme no Oscar 2015 e rendeu mais de 300 milhões de dólares só nos EUA.
02 - Quando o filme começou a ser gravado, Chris Kyle ainda estava vivo (não, isso não é um spoiler, tem na sinopse da contra capa do livro a informação de que ele morre). Sua morte ocorreu após a gravação da última cena, enquanto o filme estava sendo editado e, com isso, houve um acréscimo da "cena final" ao longa.
MOMENTO CULTURA: CUIDADO! SPOILER - ABAIXO FALAREMOS SOBRE A MORTE DELE E A REPERCUSSÃO DA MESMA. LEIAM APENAS SE QUISEREM SABER COMO ELE MORREU ANTES DE LER O LIVRO OU VER O FILME:
Chris Kyle é assassinado por Eddie Routh, um fuzileiro com Transtorno de Estresse Pós-Traumático (PST), que era ajudado por Chris e por Chad Littlefield, também assassinado.
O cara foi para uma das piores guerras que já se teve notícia, passou anos no inferno sendo emboscado por mulheres, crianças e homens e morre depois de dar baixa e voltar para casa. Pior? Tentando ajudar soldados que ficaram doentes com o que viveram.
A defesa de Eddie alegou que ele é esquizofrênico e matou os dois ex-soldados em meio a uma crise. Tentou ainda culpar o exército por não ter dado assistência correta para o homem, que descobriu a doença enquanto servia.
A rede de televisão NBC, e várias outras, fez uma cobertura excelente do julgamento. Quando a defesa apresentou o caso como insanidade, alegando que Eddie matou achando que estava de volta ao Iraque ou ao Haiti, dois dos lugares em que serviu e que Chris e Chad eram “inimigos a serem abatidos”, um psiquiatra, em entrevista a uma rede que não lembro qual, garantiu que se isso fosse verdade, todos no tribunal corriam perigo, porque um julgamento causa extremo estresse e o réu poderia “surtar” novamente vendo todos como inimigos e tentar matar as pessoas dentro do prédio.
O resultado do julgamento foi a condenação de Eddie Routh pelos assassinatos, sem direito a condicional. A alegação de insanidade não foi aceita. Não porque ele matou a Lenda – apelido de Chris -, mas porque sua defesa era fraca.
Quer conhecer um pouco mais sobre o homem que “era um assassino frio e levou à morte mais de 150 pessoas” e “um herói que ajudava homens e mulheres com problemas de adaptação na volta para casa”? Visite o site de Fundação Chris Kyle e fique tão chocado quanto eu, ao ver como ele e Bradley Cooper se parecem: http://www.chriskyleamericansniper.info/
Gostou dessa resenha, feita por Mariana Ramos e Bebel Goes? Quer ver as imagens ou ler outras resenhas? Então entre em nosso Blog!
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