Amanda 16/06/2017Nunca houve quedaDaniel Farias, um escritor de livros de terror, fascinado pela história de sete jovens que se suicidaram em 1993, investiga o contexto das mortes e se depara com segredos e mais segredos sobre uma irmandade secreta relacionada ao satanismo sendo revelados. Até o Fim da Queda é o romance de estréia do escritor brasileiro Ivan Mizanzuk e traz discussões sobre a Igreja, sobre fé, demônios, pactos e salvação. Sobre poder e sobre crenças, sobre moralidade, verdades e mentiras.
"[...] sobre ver sentido no que fazia, devemos nos lembrar que todo psicopata acha que faz algo em prol de alguma coisa, mas seus atos saem do registro social aceitável."
Creio que a palavra mais apropriada para descrever Até o Fim da Queda seja "diferente". O formato da narrativa é, no mínimo, ousado, especialmente para um autor iniciante. Dividido em pedaços de sonhos do personagem Daniel, uma entrevista, uma gravação, cartas e ilustrações, o autor conta sua história aos fragmentos, ora de um jeito, ora de outro. Apesar de isso dar bastante fluidez à história, também é um pouco confuso para o leitor acompanhar tantas cenas paralelas se desenvolvendo.
O tema é polêmico, e o protagonista da história é cínico e, ao meu ver, bastante hipócrita em seu posicionamento durante a entrevista, que permeia a maior parte do livro. Através das cartas deixadas por um inquisidor, acompanhamos o raciocínio de Daniel Farias e suas descobertas sobre a criação e a suposta verdade sobre Eva e a serpente, bem como sobre a vinda do Dragão descrito no livro do Apocalipse. Esse formato inusitado de contar a história é instigante e, uma vez que se comece a ler, só se quer ir até o fim.
No entanto, apesar do ritmo acelerado pelo qual o autor nos conduz e da temática densa e atrevida de demônios e sacrifícios, o livro passa longe, mas muito longe de ser terror. Isso pode ser decepcionante para uns e um alívio para outros, mas o fato é que o livro mais se parece um registro documental sobre satanismo e conspirações religiosas. Creio que muito em parte por causa da formação do autor, que foi um estudioso de religiões e ocultismo, o livro tem contornos muito didáticos e históricos, retirando completamente o clima de tensão que a premissa dá a entender, deixando uma sensação de "aula".
Não que isso seja um ponto negativo. Alguns dados trazidos são, inclusive, confirmados pelo autor como verídicos e fatos históricos ao final do livro, em um adendo onde ele explica alguns pontos. Exemplo disso são as várias ilustrações que o livro possui, algumas verdadeiros documentos existentes em museus, outras fictícias criadas especialmente para o livro. Esse tipo de informação recheia a obra de curiosidades realmente interessantes.
O problema aqui é a expectativa gerada pela proposta do autor. Ele vende a ideia de seu livro como um misto de terror e investigação que, a princípio, deixa a impressão de ser algo eletrizante. Mas o clima é morno, o clímax é praticamente inexistente e o autor é muito repetitivo em certos pontos. Dei três estrelinhas pela ousadia narrativa, pela curiosidade que a história instiga e pela boa intenção, mas eu esperava muito mais. Leia de forma descontraída e sem expectativas e talvez você se agrade muito mais.
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