lou 18/04/2022
É inovador e revolucionário? Não!
Queria registrar que não vou falar sobre todos os assuntos que ele escreve. Vou fazer citações e minhas próprias interpretações a respeito delas.
"O gênio da espécie afasta e aniquila sem esforços todas as diferenças de categoria, todos os obstáculos, todas as barreiras sociais. Dissipa como uma leve palha todas as instituições humanas, tendo apenas em consideração as gerações futuras. É sob o império de um interesse de amor que desaparece todo o perigo e que até o ente mais pusilânime encontra coragem." Schopenhauer acredita no amor, mas que ele seja forte a ponto de terminar em suicídio. Porque, se não for tão "forte" e avassalador, não é real, apenas uma ilusão. Amor é exigente, diferente do bem-estar. Ou isso, ou ele se acaba quando uma criança nasce. Ele interpreta o amor como uma vontade da espécie, uma "armadilha". Ou seja, importante para a geração futura, mas péssimo para o presente, com interesses materiais. Schopenhauer se baseia, não só com o amor, mas outros assuntos também, em ditados e conclusões alheias. Acha que o amor acaba depois do casamento porque, depois que passam a morar juntos, o homem e a mulher convivem com suas diferenças de sexo e objetivos.
Sobre o capítulo das mulheres, só consigo dizer que o pensamento dele sobre a "função" da mulher é extremamente retrógrado, mais do que precisava. A época em que ele vivia não era uma desculpa pra ter tais pensamentos. Justifica a falta de respeito de uma mulher com outra pela diferença de idade e "jeito" que nasce com ela, e não pela sistematização de classes e o tratamento social que lhes é ensinado de acordo com suas situações financeiras, ensino esse criado pelos homens. Demoniza o sexo feminino e se vitimiza pelo sexo masculino, como se "espécie" justificasse tudo de ruim que ele quisesse, e ter ainda a razão.
Sobre a música, faz reflexões pertinentes e interessantes envolvendo teoria musical, relacionando técnicas sonoras conhecidas como melodiosas e atribuindo elas à entrega dos sentimentos mais frequentemente escondidos, como uma libertação do ser humano, todos os seus segredos e sentimentos mais íntimos finalmente expostos em construções musicais específicas. "Ouvir longas e belas harmonias, é como um banho de espírito: purifica de toda a mancha, de tudo o que é mau, mesquinho; eleva o homem e sugere-lhe os pensamentos mais nobres que lhe seja dado ter, e ele então sente claramente tudo o que vale, ou antes quanto poderia valer". Aqui, é como se a música fosse a grande salvação das pessoas, a cura de todas as dores, a "purificação do espírito".
No tópico de suicídio, Schopenhauer faz uma declaração direta e sincera sobre a inveja e a piedade, mas mais curta do que poderia ser. Afirma que, para se sentir vivo, precisa ter liberdade. Quanto mais liberdade, maior a vontade de viver. Apesar disso, escreve que, logo após o intenso desejo de viver, somos sucumbidos a um abismo tedioso causado pela sensação de relaxamento e conformismo. Com esse tédio e angústia por tudo o que já foi vivido e o que não há/não se tem mais vontade de aproveitar, Schopenhauer desfaz o mistério do suicídio com sabedoria e agilidade, e gostei disso, nunca tinha pensado sobre o assunto dessa maneira.
A grande ironia é que, segundo ele, com a tristeza, a humildade extrema e a inicial negação da felicidade, ao longo da vida adquirimos uma generosidade ainda maior, e, com isso, partimos da vida felizes, com a paz tão desejada e finalmente alcançada. O que isso quer dizer é que, basicamente, precisamos ter agora um pensamento relativamente negativo a respeito de quem somos e o que fazemos, para que finalmente sejamos merecedores da felicidade ao fim da nossa vida. Apenas ganhamos o amor, a alegria e o alívio de viver quando estamos perto da morte, e ainda assim só quando se preserva a humildade no momento certo. O parágrafo anterior, no caso, serviria de referência caso o ser humano não escolhesse viver dessa maneira. São duas situações opostas a respeito de como ele acha que se vive.
Fala sobre o orgulho e ego de um jeito que me surpreendeu e me fez pensar em várias situações comuns, tanto em que já fiz/pensei coisas horríveis, como também que já vi e vejo acontecendo com MUITA gente e ainda num tom de aprovação alheia, como se fossem coisas boas, mas na verdade simples de serem decifradas, e horríveis quando são.
Por fim, o que todo mundo já sabia, ou já pensou alguma vez: os animais são, sem dúvida, melhores que qualquer ser humano existente, simplesmente por serem honestos e genuínos. É um livro até MUITO inteligente pra quem nunca tinha pensado sobre esses assuntos, gostei principalmente dos tópicos sobre o ego e o amor, que são coisas em que penso bastante e gostei de saber que já tinha ideias em comum com um filósofo tão importante como ele, só achei que não se aprofundou muito sobre a morte e o ego, que são tópicos que, pra mim, seriam muito interessantes de se ler sobre. Não dei 5 estrelas porque não gostei tanto de alguns assuntos como religião e mulheres, além de que, apesar dele ter sido de uma época em que obviamente não se tinha as mesmas ferramentas amplas de ensino que temos hoje, ele poderia, digamos, não ter o pensamento tão retrógrado em certos assuntos, considerando que foi tão aberto e profundo sobre outros.