Julia G 14/07/2016Pasta Senza Vino Admito que nunca havia ouvido falar sobre Pasta Senza Vino ou sobre o autor Eduardo Krause antes do contato da Oasys Cultural para resenha do livro. Não por isso deixaria passar a oportunidade de conhecer mais um autor nacional que tinha em seu livro uma ótima proposta de enredo e, muito embora tenha demorado um pouco a iniciar a leitura por conta da necessidade de me organizar neste período do ano, encontrei nas suas páginas uma escrita envolvente e uma história deliciosa.
Pasta Senza Vino narra, em primeira pessoa, a vida de Antonello, um italiano de Firenze assumidamente marpione, palavra italiana que designa os homens "especialistas em cortejar mulheres em qualquer lugar, a qualquer hora". Até mesmo seu emprego é usado como um meio para isso, e o italiano só muda após conhecer uma brasileira que mexe profundamente com ele.
A escrita de Eduardo Krause mistura, na narrativa em português, termos italianos, o que dá maior credibilidade à trama, pois o contato com a língua pátria de Antonello auxilia na caracterização do próprio personagem. Essa composição até é um pouco complicada para quem não está habituada à língua, como é o meu caso, mas nada que atrapalhe a leitura, especialmente porque, depois de imerso na história, essa diferenciação da linguagem deixa de se destacar, dando espaço devido ao romance, tão somente.
"- Pasta senza vino è come un bacio senza amore.
'Massa sem vinho é como um beijo sem amor'"
Particularmente, Antonello está longe de ser um personagem para com o qual guardo algum tipo de admiração ou respeito. Ele representa muito do que eu desprezo em uma pessoa: falta de compromisso, infidelidade, malandragem. É automático imaginar que, se não houve identificação com o protagonista, o envolvimento com o romance estaria comprometido. Para minha surpresa, neste caso, não foi isso o que aconteceu. Apesar de não gostar de Antonello e discordar das atitudes dele, eu torcia, mesmo assim, para que as coisas dessem certo, principalmente porque a história de Pasta Senza Vino foi além de um romance entre homem e mulher.
A paixão, aliás, foi o que menos me envolveu na leitura, mas eu adorei acompanhar as peripécias de Toni com Nicola, conhecer a história do velho Gennaro, ver o resgate da relação entre familiares, e sofrer com as trapalhadas com o chefe Duccio e o colega Giuseppe.
"- Toni, olhe para mim.
Em um reflexo, obedeço. Então ela me beija. Enquanto sinto sua língua na minha, coloco uma mão em sua cintura e outra em sua nuca, envolvendo seus cabelos entre meus dedos. Aline tem um perfume frutado. Duas frutas misturadas. Mas não sei dizer quais são.
- Calma, Toni... precisamos de ar.
- Mais que isso: precisamos de vinho. Aceita?
- Vino sempre!"
Se, por um lado, Aline, la donna que mudou Antonello, pouco importava para mim, Karolina realmente fez a diferença na trama. Quando percebi, era por ela que eu torcia, era com ela que eu queria que o final feliz chegasse. Nesse ponto, fui surpreendida novamente, já que Eduardo Krause conduziu o enredo a descobertas inesperadas e a uma reviravolta entre Antonello e Aline que modificou todo o resto, sem deixar o marpione perder sua principal característica em momento algum.
Pasta Senza Vino me conquistou com uma trama inovadora e tradicional ao mesmo tempo, que por suas tantas características inesperadas me surpreendeu positivamente, arrancou alguns sorrisos e, mesmo com um protagonista que está longe de estar entre meus favoritos, conseguiu um lugar cativo entre os livros nacionais que me encantaram.
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