Israel145 06/07/2014O livro Pequenas Criaturas é mais uma obra inigualável do mestre Rubem Fonseca. Lançado em 2002, lembra de longe e superficialmente o Fonseca dos anos 60/70 com seus personagens marginais e a crueza da rotina das cidades pulsantes com suas ruas encharcadas de sangue, fezes e pus. O universo que o Fonseca nos apresenta aqui é outro. É o microcosmo perdido num diálogo, é o fragmento de tempo contido entre um beijo, é a brevidade de um coito rápido, enfim, um flash da vida. Nesses 30 contos ele disseca o relacionamento entre os seres humanos normais em histórias repletas de dor, amor, paixão, angústia, felicidade e todos esses sentimentos banais e corriqueiros, mas com a maestria de sempre de quem domina a sua arte.
A princípio, para o leitor veterano e conhecedor da obra do autor, pode causar estranheza essa mudança de foco, onde muitos podem pensar numa queda brusca na qualidade dos contos. Mas se colocando na posição do leitor iniciante e desconhecedor de sua produção bibliográfica, essa leva de contos apresenta bem o estilo e a pungência de sua obra, fazendo-o clamar por mais.
O próprio título do livro remete a interpretações curiosas. Uma delas é que as “pequenas criaturas” são os próprios contos, onde o autor pôde aperfeiçoar ainda mais a arte do conto curto. A arte de representar pequenos momentos e transformá-los em momentos mágicos e inesquecíveis. A outra interpretação é que as pequenas criaturas são as personagens dos contos. Os desvalidos, os ultrajados, os vencidos, os odiados, os apaixonados. Toda a gama de seres banais que povoam o nosso dia a dia e que habitam nossos espelhos.
Enfim, é um bom livro, com contos medianos e alguns geniais que podem figurar tranquilamente em diversas antologias do autor e nas melhores seleções do gênero.