Marina 30/08/2021
"Querido Deus,
Sei que o Senhor vê tudo, mas há tantas coisas que às vezes alguns detalhes podem passar
despercebidos, sobretudo agora, com o bombardeio do Afeganistão. Mas acho que o Senhor não ficaria feliz se
visse a maneira como algumas crianças da minha rua estão vivendo, num lixão. Deus, me dê força e coragem
e me aperfeiçoe, pois quero transformar este mundo num mundo perfeito.
Malala"
Decidi ler sobre Malala para saber mais sobre o Talibã e seu impacto na vida das mulheres (e das sociedades) muçulmanas.
O livro é muito envolvente, pois em meio a relatos de guerra civil, lutas e tragédias, aprendemos mais sobre a história do Paquistão e entendemos melhor a cultura dos pachtuns. Malala mistura política com anedotas da sua vida. É bastante inspirador.
Malala ganhou um prêmio Nobel por lutar pelo direito das meninas à educação. Sofreu uma tentativa de assassinato pelo mesmo motivo. Sempre foi excepcional. Mas achei lindo que em seu livro quer provar que tudo o que ela é e conquistou foi graças aos seus pais (principalmente ao seu pai) e que se conseguiu falar (e ser ouvida) foi porque ele próprio nunca se calou e a incentivou a fazer o mesmo (ao contrário das famílias de muitas de suas colegas).
Esse livro é um testemunho importante, mas é tão triste saber que Malala ainda não voltou à sua terra e que agora as mulheres afegãs estão passando novamente por esse horror... Meu Deus, quanta impotência...
"Alguns dos discursos mais famosos de Jinnah estavam em exposição, como aquele sobre liberdade de religião para todos, no novo Paquistão. E outro no qual
ele falava da importância das mulheres. [...]
Era difícil visitar o palácio e ler os discursos sem pensar que Jinnah se sentiria muito desapontado com o Paquistão. Provavelmente diria que não era o país com o
qual sonhara. Queria que fôssemos independentes, tolerantes, bondosos. Queria
que todos fossem livres, não importava a religião que professassem.
?Teria sido melhor não ser independente e continuar como parte da Índia??,
perguntei a meu pai. Minha impressão era a de que, antes do Paquistão, só havia
lutas intermináveis entre hindus e muçulmanos. Então, mesmo depois de termos
nosso próprio país, as lutas continuaram ? mas agora entre mohajirs e pachtuns e
entre sunitas e xiitas. Em vez de celebrar umas às outras, nossas quatro províncias
se empenham em manter acesas as disputas. Os sindhis falam frequentemente em
separação e há, no Baluquistão, uma guerra que é pouco comentada porque o local
é muito distante. Essas lutas indicariam que precisávamos dividir mais uma vez o
país?
[...]
Pareciam tantas, as coisas pelas quais as pessoas lutavam! Se cristãos, hindus
ou judeus são mesmo nossos inimigos, como muitos dizem, por que nós,
muçulmanos, brigamos uns com os outros? Nosso povo ficou desorientado. Pensa
que o mais importante é defender o Islã e é malconduzido por aqueles que, como o
Talibã, interpretam deliberadamente o Corão de maneira errada. Devíamos nos
concentrar em problemas práticos. Há tantos analfabetos em nosso país! As
mulheres, sobretudo, não têm nenhuma instrução. Vivemos numa nação onde
pessoas explodem escolas".