Miguel.Moreira 27/12/2023
O Imortal
Certamente um dos mais difíceis e complexos que li até agora, já na fase realista, mas que eu não captei tantas características do realismo machadiano, porém também não é de todo romântico, talvez uma junção ou uma transição. Certo, vamos por partes. Pelo que pesquisei na hemeroteca, o conto foi publicado em capítulos, entre os dias 15/07 até o dia 15/09 do ano de 1882 pelo jornal "A Estação" (RJ).
O conto reúne características filosóficas, sobre a imortalidade do corpo físico e suas consequências, até o desejo pela imortalidade, e se houvesse uma "pedra filosofal" que concedesse o prolongamento da vida, etc. A narrativa é dada por um médico chamado Dr. Leão, que aparentemente está alucinando, e conta sobre a vida de seu pai, que afirma ter sido um homem dotado da imortalidade, porém que já morreu (exatamente isso, imortal que morre no final das contas). Algo que me chamou a atenção neste começo foi a grafia arcaica da palavra "homeopatia" (hom?pathia).
No decorrer da narrativa, vamos descobrindo muitas coisas sobre o motivo da imortalidade da personagem, e suas diversas sinas ao passar de sua vida. Machado nos situa entre 1600 a meados de 1880, aproximadamente até a data de publicação do conto. Conforme o tempo vai passando, são citados diversos fatos históricos, desde a ocupação holandesa em Pernambuco, até a república dos Palmares.
Numa cena em que o homem imortal corre um certo perigo, ele presenteia sua amada com uma mecha de cabelo, isto é algo curioso, pois é uma referência à alguma cultura, eu não sei ao certo se isso é um costume judeu ou não, mas já este tipo de referência em outros romances e em algumas biografias (como no caso de Beethoven, que foi enterrado praticamente careca, pois quase todas as pessoas em seu funeral cortaram uma mecha de seu cabelo para guardar de recordação).
Apesar de sua riquíssima escrita, cheia de referências, e de uma dificuldade acima do normal para os contos que li até o momento, eu recomendo para leitura com certeza, mas li que este conto foi baseado em um outro publicado há dez anos antes chamado "Ruy de Leão", se eu soubesse disso antes, teria lido o mais antigo primeiro, porém estou fazendo uma leitura dos contos bem descompromissada, dado que estamos no final do ano, e estou de férias, estou gostando de pegar os contos que tenho achado mais facilmente de Machado, e que aparentemente são pouco conhecidos. O próximo a ser lido será, certamente, "Ruy de Leão".
Minhas pesquisas são feitas após a leitura dos contos, o que me faz encontrar coisas interessantíssimas, como trabalhos acadêmicos e críticas mais sérias (gostaria de encontrar na hemeroteca algumas críticas da própria época, porém está sendo um trabalho dificílimo, então me limito ao documento digitalizado referente à publicação, em outras palavras um jornal da época digitalizado). Outra coisa que estou quase fazendo, em detrimento dos erros destas edições gratuitas da Amazon, é ler o conto diretamente no documento de publicação pela hemeroteca (se eu encontrar todas as partes, pois alguns foram publicados por capítulos em períodos diferentes, e nem sempre se tem o documento disponível).
site: https://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=709824&pasta=ano%20188&pesq=%22o%20imortal%22&pagfis=213