Lucas Fagundes 26/09/2022
#3
E eu decidi, um por um, ler os mais de 35 livros de Jorge Amado, meu baiano e autor preferido, em ordem de publicação. Muitos deles serão relidos; outros, como esse, foram e serão lidos pela primeira vez.
Suor, publicado em 1934, é o terceiro livro de Jorge e possui uma crítica social muito parecida com seu antecessor, Cacau (já resenhado aqui, 6 posts anteriores), e com alguns de seus sucessores, como Jubiabá e Capitães da Areia.
O cenário desse livro volta a ser Salvador, mais especificamente, o Pelourinho. O livro se passa em um cortiço, localizado na Ladeira do Pelourinho, número 68. Para os que moram ou visitam Salvador, tal localidade é real e se encontra entre o Largo Terreiro de Jesus e Largo do Pelourinho (fotos em sequência). O sobrado localiza-se na mesma ladeira onde se encontra a lateral do prédio histórico da Faculdade de Medicina da Bahia e a sua biblioteca (fotos, também em sequência). Hoje, o local que já foi morada de Jorge, em 1928, foi todo requalificado e abriga uma loja de obras de arte no seu térreo e ainda funciona como moradia nos seus andares superiores.
No livro, desde seu início, somos apresentados a uma multidão de personagens. Dentre os personagens, a maioria de moradores do 68, sejam operários, soldados, ladrões, mascates, prostitutas, costureiras, carregadores, nenhum tem uma história bem desenvolvida isoladamente. O autor utiliza do artifício de pequenas narrativas para se criar uma multidão, ligadas entre si pela classe e pela miséria a que estão inseridas.
No livro (e no cortiço) somos apresentados a doentes sem possibilidade de assistência médica, a crianças que crescem desnutridas, a homens e mulheres que vendem seus corpos, pois ele é tudo que possuem, a trabalhadores em condições análogas à escravidão e a mendigos que, literalmente, dividem seus cobertores (molhados de urina) com ratos. Daí, a história se desenvolve até ficarmos atônitos, mas não surpresos, com tamanha pobreza.
Algo bem importante de se ressaltar aqui é que, como dito na resenha de Cacau, Jorge Amado tinha se filiado ao Partido Comunista do Brasil em 1932.
Assim, tanto Cacau, quanto Suor vão servir como romances políticos e doutrinários. Em Suor, já no fim do livro, acontece uma greve dos trabalhadores dos bondes, que pleiteavam aumento dos salários.
A greve acabou cursando com um fim trágico e a prisão dos grevistas. Alguns deles que moravam no 68 e vários outros em outros cortiços da Ladeira do Pelourinho.
Então é para essa cena que eu acredito que
Jorge Amado escreveu esse livro. O que acontece é que a maioria dos moradores do 68, e da Ladeira do Pelourinho unem-se para protestar contra essas prisões, unem-se como uma classe proletária. Assim, deixam de lado suas diferenças e singularidades, que se emaranhavam pelas paredes do cortiço, e se tornam uma força única. Uma força proletária.
Tal livro é tão influenciado pelos ideais comunistas que, uma de suas últimas frases, gritadas em meio ao protesto, é integralmente retirada do Manifesto Comunista, de Marx e Engels: "Proletários de todas as nações" uni-
vos.