Vivian Pitança 23/07/2015
Para voltar à infância
Leio desde antes de aprender a ler. Livros infantis ficavam nas minhas mãos e eu olhava as figuras encantada, tentando gravar as palavras que ali estavam de acordo com o que minha mãe lia. E quando aprendi, a biblioteca da escola era um dos meus lugares favoritos. Um dia a "Tia" contava história. E no outro eu já lia por conta própria. Toda semana renovando livros lá. Os de que mais gostava eram como este, da resenha, os que acariciavam o coração e faziam pensar. Até hoje são os que mais me cativam.
Quando somos crianças, cada experiência é encarada com um olhar cru, inocente, aberto. Estamos dispostos a aprender de tudo. E uma simples experiência muitas vezes ignorada ou julgada por conceitos já formados quando somos adultos, soa como um manual rico aos olhos de uma criança. O para sempre de Pedrina e Tunico fala disso. Como a presença de alguém que cuidava dele e de sua casa e a de um amigo fizeram a diferença em sua vida.
O livro é narrado em primeira pessoa pelo menino que aparece nessas primeiras imagens, ele conta como foi a chegada de Pedrina em sua vida. Pedrina ficou em sua casa, cuidando das tarefas domésticas e dele. Através do olhar infantil conhecemos a troca rica de informações, carinho e experiências entre ele e a mulher mais velha. Uma mensagem linda na qual o livro toca é a escravidão e o racismo como coisas tão toscas, que aos olhos de uma criança, pensando por uma lógica normal, ficam incompreensíveis. O normal é a aceitação e o amor.
Um dia Tunico, neto de Pedrina, chega à casa do narrador por obra do destino. É fofo ver o desenrolar da amizade deles. Uma criança interagindo com a outra de modo tão simples. Apenas aceitar e se deixar falar para poder brincar. Livre de complicações, desconfiança, preconceitos... Gostaria de poder fazer amizade com outras pessoas assim tão facilmente. Mas no mundo adulto parece que sempre temos que desconfiar de tudo e todos para manter alguma segurança. Não se pode mais simplesmente abrir o coração e se permitir brincar como uma criança.
Acompanhamos o desenrolar dessa amizade. Os momentos maravilhosos de riso inocente de coisas bobas, por nada. As trocas simples. A cumplicidade e o apoio que um amigo dá ao outro. O proteger e o cuidar fiel. Até os momentos tristes. Os momentos de preocupação e solidariedade. E isso é puro amor. Como eu disse antes, pela perspectiva amável de uma criança. A história se desenrola até o eternizar, quando nos mostra que o carinho que algumas pessoas geram em nós permanecem, por mais que elas vão embora, por qualquer motivo da vida. E toda essa mensagem é linda. Com certeza a guardarei para os meus filhos daqui a muitos anos, quando os tiver.
Vale destacar também as ilustrações. Estão belíssimas. Com equilíbrio visual. Agradáveis para completar a leitura e ilustrar bem as cenas. Limpas e bem demonstrativas. Fora o ótimo conceito que o ilustrador, Cárcamo, possui.
Super recomendado para presentar as crianças que conhecemos e incentivar a leitura ou para relembrar a criança dentro de nós.
Visite o blog: http://vivianpitanca.blogspot.com.br/2015/03/resenha-o-para-sempre-de-pedrina-e.html
site: http://vivianpitanca.blogspot.com.br/2015/03/resenha-o-para-sempre-de-pedrina-e.html