Espere a primavera, Bandini

Espere a primavera, Bandini John Fante




Resenhas - Espere a Primavera, Bandini


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Isabel 01/12/2012

Ah, os Bandini...
“Não escreva poemas de amor, evite a princípio aquelas formas que são muito usuais e muito comuns: são elas as mais difíceis, pois é necessária uma força grande e amadurecida para manifestar algo de próprio onde há uma profusão de tradições boas, algumas brilhantes. Por isso, resguarde-se dos temas gerais para acolher aqueles que se próprio cotidiano lhe oferece; descreva suas tristezas e desejos, os pensamentos passageiros e a crença em alguma beleza – descreva isso com sinceridade íntima, serena, paciente, e utilize, para se expressar, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de sua lembrança”.

Se eu fosse colocar aqui todos os trechos que considero brilhantes nessa pequena obra – uma coletânea de cartas escritas por Rainer Maria Rilke a um jovem poeta chamado Frank Kappus, que lhe pede conselhos sobre arte e vida em geral – eu a transcreveria inteira. Os conselhos dados por Rilke são geniais, são preciosos. Já abri um documento do Word milhares de vezes para tentar falar deste livro, mas minhas palavras nunca parecem honrá-lo.

Mas não estamos em outra tentativa de resenhar Cartas a um jovem poeta, e Espere a primavera, Bandini. Cronologicamente, esse é o primeiro livro de quatro da Saga de Arturo Bandini – como os livros do autor com seu mais conhecido e auto biográfico personagem ficaram conhecidos após a sua morte – relatando parte de sua infância no Colorado e o início dos conflitos de identidade que me fizeram detestá-lo em Pergunte ao pó.

Arturo Bandini é o mais velho de uma família pobre de imigrantes italianos, composta pelo pai bruto, Svevo; a mãe fanática pelo catolicismo, Maria e os dois irmãos, Federico e August. Os Bandini têm dívidas que sabem que nunca vão conseguir honrar. Svevo detesta o inverno – nessa época, é difícil conseguir trabalhos (ele é pedreiro). Maria encontra em rezar seu rosário sua única diversão e consolo. Federico alimenta a esperança de ganhar um barquinho no natal, mas sabe que esta é vã. August quer ser padre – não só pela batina em si, mas pelo conforto e pela comida. Arturo só quer roupas novas para impressionar Rosa, sua colega.

Antes que você possa dizer “mas eu já vi isso!” lhe respondo “não, não viu”. O domínio que Fante tem sob a linguagem é único. As ditas “emoções universais” são colocadas de um jeito tão próximo, tão claro, tão cru que é impossível não se envolver. Jonh Fante escreveu, em geral, romances auto-biográficos, relatando suas frustrações, desejos e paixões. Seus temas preferidos (a construção da identidade de imigrantes, a pobreza e a vida como escritor) eram todos tão profundamente pessoais que é difícil saber quem era Bandini e quem era Fante.

Ainda que inconscientemente, o autor seguiu o conselho de Rilke. E não poderia ter dado mais certo.
Publicada originalmente em http://distopicamente.blogspot.com.br
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Talula 30/01/2012

Imperdível
Diferente da grande maioria das pessoas que julga "Pergunte ao Pó" o melhor livro do Fante, eu sou encantada por "Espere a primabera, Bandini".
A personagem Maria, que praticamente enlouquece de tanto amor, Arturo, o menino que queria se chamar John e Svevo, o pai beberrão, tornam este livro irresistível.
Eu não sou uma grande fã do Fante, mas posso garantir que conhecer Arturo Bandini ainda de calças curtas é um imenso prazer!
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Alessandro 24/11/2011

Os dias de espera de Bandini
A José Olympio Editora relança os clássicos "Pergunte ao Pó" e "Espere a Primavera, Bandini", obras que ainda surpreendem pelo lirismo e atualidade da narrativa de John Fante.

Arturo Bandini tem pressa. Mas na sua pressa, ele espera, somente. Espera que os dias profundos, os dias tristes evaporem junto com a neve, derretida pelo sol que virá, que ele sabe que virá. Bandini espera que a primavera chegue logo. E o liberte dos dias enregelados, da estufa a ser ligada todos os dias, e dos casacos puídos que o envergonham no colégio. Quer principalmente que o sol derreta o campo de beisebol para que ele possa voltar a aspirar ao sonho de jogador. Bandini espera por mais do que um sorriso de escárnio de Rosa.

Mas Bandini espera mais. Espera também ir além do conto O Cachorrinho riu. Espera diariamente por uma carta de J. C. Hackmuth, que lhe traga a notícia de mais um texto seu publicado. Espera não ter que depender do dinheiro enviado por sua mãe. Espera se comportar de maneira diferente com Camilla Lopez, além do desprezo por seus odiosos huaraches. Bandini espera no quarto do Alta Loma Hotel. Com laranjas embaixo da cama.

Dois Bandinis se revelam e se completam ao cabo de Espere a Primavera, Bandini e Pergunte ao Pó, clássicos maiores e os dois primeiros livros de John Fante. Embora o primeiro retrate a vida de Bandini aos quatorze anos de idade - no inverno rigoroso do Colorado, ainda um garoto em meios aos seus dois irmãos menores, uma mãe extremamente religiosa e um pai pedreiro -, portanto, dando o prólogo ao que viria a ser o Arturo Bandini escritor e homem, morando sozinho em Los Angeles, perdido na agonia da literatura e na relação de amor e ódio com Camilla, descubro que a ordem em que se fizer suas leituras não importa muito.

Comecei por Pergunte ao Pó, encontrando este Bandini perdido pelas ruas de Bunker Hill, entre os tostões divididos no aluguel de quarto, comida e em suas perambulações constantes pelo Columbia Buffet. O Bandini de origem italiana, cheio de orgulho por sua condição, imodesto a se vangloriar pelo seu primeiro conto publicado em revista. “O Cachorrinho riu” é o cartão de visitas de Arturo. É o que faz ser escritor, é o que lhe dá certeza da sua condição, orgulho em sua superioridade de escritor. E o que lhe leva a esperar, até que brote novamente o inebriante momento em que as palavras parecem escorrer por seus dedos:

“Tentei e a coisa andou com facilidade. Mas eu não estava pensando, não havia cogitação. A coisa simplesmente se movia sozinha, esguichava como sangue. era isto. Finalmente eu conseguira. Lá vou eu, deixem eu me soltar, oh, como adoro isto, ó, Deus, eu o amo tanto, você e Camilla e você e você. Aqui vou eu e é tão bom, tão doce, quente e macio, delicioso e delirante. Subindo o rio e sobre o mar, isto é você e isto sou eu, grandes palavras gordas, pequenas palavras gordas, grandes palavras magras, uii uii uii.

Uma coisa ofegante, frenética, interminável, vai ser algo bem grande. Continuando e continuando, martelei durante horas até que gradualmente me pegou na carne, tomou conta de mim, assombrou meus ossos, escorreu de mim, enfraqueceu-me, cegou-me. Camilla! Eu tinha de possuir aquela Camilla! Levantei-me e saí do hotel e desci Bunker Hill até o Columbia Buffet.”

Na nova edição da José Olympio Editora, o trecho acima se encontra na página 132. Quando o li, tive a certeza, que era o momento que, para mim, de maneira mais sublime, resumia todo o sentido do incensado Pergunte ao Pó.

Idolatrado por Charles Bukowski e pelos beatniks, é em Pergunte ao Pó que a saga do então escritor Bandini se desenvolve na sua intensidade e, se lido antes de Espere a primavera, Bandini, traz à tona uma série de indagações sobre aquele perdido em Los Angeles. Por que Bandini é um perdido. Um solitário que cai de pára-quedas na cidade grande, e John Fante o oferece para nós como em um instantâneo: uma trajetória da sua vida, arrancada e contada. Arturo é um anti-herói em comiseração por achar que em seus poucos anos de vida, viveu pouco para ter o que contar. Arturo Bandini tem apenas vinte anos de idade, uma vontade intermitente de ser reconhecido como escritor e o submundo de Los Angeles à disposição como laboratório. É um amargo que humilha a mexicana Camilla Lopez desde o primeiro encontro (e se apaixona por ela!), caindo em doçura em outros momentos, querendo tê-la com a maior intensidade possível. Levanta muitas considerações sobre sua forma de agir, seu modus operandi para a vida. É um tanto complicado de se compreender Arturo. No entanto, apesar da não estampada simpatia, também é difícil de não se encantar com ele, em sua solidão pelas noites de Los Angeles.

A prosa de John Fante (1909-1983) tem uma leveza que seduz desde as primeiras linhas. Lidando com um personagem que teria tudo para dividir a mesma amargura de um Holden Caufield, Arturo Bandini vive em uma oscilação constante entre a graça e a dor. Este clássico de Fante finalmente ganhou nova e caprichada reedição. Lançado pela José Olympio Editora, Pergunte ao Pó [206 págs.] é uma boa chance aos não freqüentadores de sebos de adentrar no universo deste escritor tão aclamado. É um clássico cult da literatura underground norte-americana das décadas de 30 e 40 que volta, trazendo novamente frescor à obra de Fante.

Basicamente uma trama linear, o texto oculta ricas passagens digressivas e se amarra de maneira sutil ao seu predecessor, Espera a Primavera, Bandini, apresentando flashes da vida íntima do personagem (sua relação com a mãe, por exemplo). Toda a atordoante forma de ser de Arturo é magicamente explicada com a leitura deste. Relançado meses depois de Pergunte ao Pó, pela mesma José Olympio Editora, este foi o motivo para minha leitura fora da ordem em que foram escritos. A alteração, no entanto, se mostrou um delicioso exercício de correlações. O pequeno e amargo Arturo se revelará o escritor angustiado anos mais tarde. A linha narrativa, de extrema oralidade que permeia ambos os textos é o que dá margem ao já conhecido vocabulário “bukowskiano” característico deste tipo de literatura, chamada beatnik (movimento onde há uma busca pelo rompimento com a convencionalidade temática e estilística da literatura tida como cânone, acadêmica; produção literária emergente das ruas, dos becos, da decadência até então refutada pela “alta cultura”).

Espera a Primavera, Bandini, Pergunte ao pó e, além, Sonhos de Bunker Hill têm o mesmo protagonista: Arturo Bandini, Arturo, pode-se dizer, é John. Como seu personagem Bandini, John Fante trocou o friorento estado do Colorado pela ensolarada Califórnia. Como Bandini, Fante também se perdeu por Los Angeles.

Uma das passagens mais tocantes de Espere a Primavera, Bandini se dá no capítulo cinco, logo depois que Arturo [o alter ego de Fante] e seu irmão August, vêem seu pai, Svev, que tinha sumido de casa a alguns dias, acompanhado de Effie Hildgarde, uma das mulheres mais ricas e bonitas da cidade. Na tentativa de dissuadir seu irmão mais novo a não contar para a mãe o que viram, Arturo se debate em tentativas que vão desde a ameaça de castigo físico, que, uma vez consumada, não dissolve a resolução de August. Desesperado com a mágoa que tal revelação pode causar a sua mamma, Arturo implora solene e desesperadamente para que August não conte nada a ela. August, no entanto, resoluto - é um guri extremamente religioso e pretensamente reto, constantemente se inquirindo dos pecados que diferentes situações apresentam e se são veniais ou mortais -, se mostra inflexivo na sua decisão.

Com a pouca raiva que consegue trazer à tona, já que está mais triste pelo sentimento que August trará à mãe ao contar, Arturo, por fim, soqueia seu irmão, sem, no entanto, dissuadi-lo da idéia. Este, pelo contrário, cada vez mais resoluto em mostrar-se reto, ri, zombeteiro, dizendo ao outro que pode continuar a bater nele, que nada o impedirá de contar à mãe. A cena se estende por algumas boas páginas, e é de uma riqueza descritiva tal, que as imagens se desenham à sua frente conforme a leitura vai avançando. Ainda que no estado americano do Colorado, em um inverno rigoroso, em um embate que se dá em meio ao frio da neve, é como se estivéssemos em algum ponto daquele caminho, observando a luta que se dá entre os dois.

Mesmo depois de ter soqueado o irmão, em uma atitude que se dá por desespero, sugando uma raiva inexistente - ele mesmo confessa que, em alguns momentos, surrar seu irmão se mostra divertido, mas naquele momento não queria fazê-lo -, Arturo, vendo o sangue que se esvai de seu nariz pela pancada, nada mais consegue do que um sorriso desafiador de August.

Espere a Primavera, Bandini é muito rico e generoso em cada uma das cenas descritas. O autor narra com forte gosto por imagens que desde as primeiras linhas nos trazem claramente o universo dos Bandini. Tanto o exterior, com sua pobre casa e seus móveis e utensílios que também parecem dialogar com o leitor, ter vida própria, quanto a alma de cada personagem, que se desenha com uma perspicácia absoluta. Os dilemas do menino Arturo, sua relação dúbia com a mãe e o ódio e admiração pelo pai, todo o sofrimento da discriminação por sua condição ítalo-americana, católica, sua pobreza que grita e o envergonha por suas vestimentas puídas, os sonhos com a menina Rosa... - tudo é tão claro e de uma riqueza tal, que além de Pergunte ao Pó, que, dizem, virará filme em 2005, este livro daria uma linda e tocante obra cinematográfica.

Charles Bukowski é quem resume de maneira muito precisa o significado da prosa de Fante. Recordando-se de quando o livro caiu em suas mãos, numa biblioteca pública, ele escreveu: ‘‘Aqui, finalmente, estava um homem que não tinha medo da emoção. O humor e a dor entrelaçados a uma soberba simplicidade. O começo daquele livro foi um milagre arrebatador e enorme para mim.’’
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Ivan Picchi 03/12/2010

Ainda melhor que pergunte ao pó
Por mais incrível que pareça.

Não sou digno aqui de uma resenha do dito cujo, só deixo dito a emoção do livro, escrito com aquele jeitinho fanteano do olhar de uma criança. Uma criança contando a história, um Bandini, sim.

Se superou, mas foi o primeiro

Como chamo isso então?
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Victor 22/10/2009

Nenhum autor consegue injetar tamanha emoção em pequenos gestos, frases ou pensamentos como John Fante. Em "Espere a Primavera, Bandini" temos um cenário muito parecido com o de "1933 Foi Um Ano Ruim", escorado pela mesma doce compaixão que me venceu em todos os livros de Fante. Difícil explicar. Prefiram sentir.
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