Submissão

Submissão Michel Houellebecq




Resenhas - Submissão


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Talita 08/06/2016

Submissão
Na semana passada eu li um texto em que Luiz Schwarcz dizia: “o livro não reage bem a procedimentos absolutamente padronizados, a estratégias cheias de generalidades e sem espaço para surpresas. Dessa forma, muitos valores têm se perdido num ambiente que caminha para a bestselerização absoluta das estantes das livrarias”. O texto é uma reflexão de muito valor. É bem triste, ao mesmo tempo, porque se Schwarcz - que é fundador de uma das editoras de maior prestígio no Brasil - está naquele nível de desencanto, a situação não pode estar boa. Eu defendo best-sellers. Conheço gente que defende best-sellers sem lê-los, mas não é o meu caso. Aqui no blog eu já comentei uma dezena de livros que fariam Wilson Martins se revirar no túmulo.

O que eu não achava (e agora estou um pouco incerta pois quem o fala é um cara com muita experiência) era que esses livros feitos aos montes tirassem necessariamente o lugar de outros, daqueles que têm ritmo diferente, outro tempo etc. Eu gosto de pensar que circulo bem entre esses mundos, e achava, meio na intuição, que o público para aquilo que a gente entende por literatura séria sempre foi meio mirrado. Já vi (segura agora uma evidência anedótica!) gente fazer aquela famosa transição da maconha para as outras drogas, ou melhor: já vi uma pessoa que começou em Crepúsculo e foi parar em Anna Karenina num período de dois anos. Daí eu tirei a ideia de que toda leitura é capaz de levar uma pessoa de um ponto a outro. Mas isso não é necessariamente verdade. Quando a gente só lê um tipo de livro, o problema é da gente. Agora, quando só se produz um tipo de livro, que é o motivo da lamentação de Schwarcz, a coisa complica. Eu dou total razão ao editor da Companhia das Letras porque acabei de terminar Submissão, de Michel Houellebecq, na tradução brasileira de Rosa Freire d’Aguiar.

Para dificultar o meu argumento, Submissão foi um best-seller. Mas não vale. O livro trata de uma França, no futuro, em que um partido muçulmano chega ao poder e começa, bem distopicamente, a alterar as estruturas políticas e sociais do país. Mulheres perdem seus empregos, homens podem ter múltiplas esposas, a intelectualidade se rende ao dinheiro de bilionários sauditas. O romance já seria naturalmente polêmico e ainda para mais ajuda calhou de ser lançado no dia (no dia!) do atentado ao Charlie Hebdo. Não é desse tipo de best-seller que Luiz Schwarcz falava.

Submissão é um livro ambicioso. É fácil perceber que não foi feito do dia para a noite. Dá para ver que Houellebecq fez pesquisa e que ele vinha acompanhando de perto a situação política na França e na Europa. É um daqueles romances que pretendem refletir ou discutir, a partir de um personagem ínfimo, muitos aspectos da cultura de um lugar no tempo. A França fez vários deles, talvez tenha sido lá que se inventou a figura moderna do intelectual público, aquele escritor (na filosofia, na ficção) que surge para ser a voz de um grupo, ou de um momento ou de uma geração. Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre ocuparam essa posição, Albert Camus era adorado no final dos anos 1940, na internet circulam várias fotos de Michel Foucault com megafone na mão, político, público, célebre.

Michel Houellebecq não tem esse status, pelo jeito não tem uma obra da importância daquelas, mas o livro trata de uma questão complexa que interessa ao povo francês, ao continente europeu e, por vício nosso ou naturalmente mesmo, ao mundo inteiro. Vieram daí a celeuma e o lugar nas listas de mais vendidos. Polêmica vende muito e a gente sabe que a mídia grande geralmente trata as questões complexas de uma maneira bem simplista. Por causa disso, Houellebcq “foi acusado por uns de xenófobo, por outros de dar suporte à forte presença do Islã na França”, como diz a matéria com ele que o programa Milênio, da Globo News, fez no ano passado.

Eu acho que essas duas afirmações são muito histéricas. Uma é mais. Eu não sei o que o jornalismo da Globo consultou para citá-las, mas não preciso de muito para acreditar que foram feitas. Houellebecq é xenófobo porque ele trata de muçulmanos franceses com origens fora da França e porque a inclinação política dele é à direita. Eu compreendo esta crítica, embora nesses termos ela não signifique nada. Agora, apoiador do Islã é um pouco mais difícil. E é aí que entra a parte do Luiz Schwarcz.

François, o narrador-personagem de Houellebecq, é um professor universitário de relativo sucesso. Ele é um intelectual pouco politizado, solteiro, emocionalmente distante das pessoas com quem se envolve. O detalhe mais gostoso é que ele é muito escroto. Ele é capaz de racionalizar qualquer coisa contanto que possa tirar proveito dela. Desconfia, por exemplo, que talvez não seja mesmo desejável que mulheres trabalhem. Quando lhe é conveniente, chega a pensar que a estrutura familiar da versão do Islã apresentada no livro é melhor e mais capaz de gerar bem estar do que essa versão moderna de família a que nos acostumamos no Ocidente e nos entornos dele. Reflete sobre a comodidade de ter várias esposas: uma mais velha para o serviço doméstico, outra adolescente para o sexo, e por aí vai. François se converte à nova religião oficial só porque a virada ideológica que vem com ela lhe garante uma vida de vantagens que ele não teria de outra maneira. Em Submissão Houellebecq sentou para escrever a história de um homem deslocado.

E a gente sabe que tem acontecido uma coisa estranha com o homem deslocado. Ele é, ao mesmo tempo, o cara que sai da periferia de uma cidade europeia para se juntar ao Estado Islâmico; o comentarista de portal; o cara que faz campanha por Donald Trump naquelas de “make America great again”; o cara que persegue feministas nas redes sociais; o cara que entra atirando numa escola; a lista é longa e talvez infinita. Uns são piores, outros são relativamente inofensivos.

A diferença fundamental é que esses homens surtam quando percebem que o mundo não vai marchar de acordo com suas convicções. Para François, essa fase já passou. Ele não tem tendência à violência nem é jovem. Sabe que é privilegiado, com rendimentos que a maioria da população não tem. Ele não se converte apaixonadamente, nem vai virar homem bomba. Ele vai com a maré porque é cínico, sujo e não consegue se colocar no lugar dos outros. Por habilidade de Houellebecq, porém, esse narrador não coloca as coisas nessas palavras superficiais que a gente usa para provar um argumento. Em Submissão narrador e autor dizem coisas bem diferentes. Houellebecq monta esse narrador-personagem como que pelas omissões e ausências no que ele diz. Quando François defende o indefensável, Houellebecq quer expor a desonestidade de uma classe inteira. Eu tive a impressão, por exemplo, de que ele tem verdadeiro nojo da esquerda contemporânea. Enquanto isso, François é apático e desapaixonado. Só se empolga quando trata de bundinhas e ppks (nessas horas dá para ver que Houellebecq se empolga junto) - o livro tem, aliás, uma das cenas de sexo mais horrorosas e constrangedoras que eu já li.

Só que, voltando à parte do Luiz Schwarcz, livros não reagem bem a procedimentos absolutamente padronizados. Submissão não é um best-seller que se escreve consultando manuais de storytelling. O romance aponta em várias direções até contraditórias, tem coisas que não ganham explicação suficiente, outras que não se encaixam bem ao quadro geral. Naquela mesma entrevista para a Globo News, Houellebecq disse ter escrito um livro para expressar o pior medo de muita gente, à moda de 1984 ou Admirável Mundo Novo. Acontece que, para a felicidade do leitor que gosta de coisas esquisitas, a criação desse futuro próximo em que a França é dominada pelo Islã é bastante irregular. Tudo se dá num registro realista demais para que seja possível comprar a ideia da distopia à 1984, e isso acaba jogando esse futuro para o território estrito da sátira política, desses livros que querem ser mais comentário social do que literatura de ficção. Mas Submissão não é exatamente isso: o personagem principal não é quadrado o suficiente para representar só uma metáfora. Quando você compra a ideia de um futuro distópico, surge um elemento mundano para fazer lembrar que não é bem por aí; quando você acha que está apenas lendo uma análise política verossímil do cenário eleitoral francês, acontece algo absurdo o suficiente para ser inimaginável na vida real. Seria exagero dizer que o núcleo do romance é indefinível, mas é muito bom lembrar que faz mal demais simplificá-lo ao nível da polarização, tipo: ou ele é xenófobo ou é apoiador do Islã.

Submissão foi um best-seller graças a um banho de sangue e a um imbróglio cultural e político muito difícil de resolver. O livro não trouxe solução para nada, mas levantou questões profundas o bastante para que qualquer resposta rápida fique difícil. De repente, uma absoluta padronização dos livros que produzimos pode acabar criando uma incapacidade de reflexão sobre as coisas que não são exatamente padronizadas. Por enquanto, ainda tem muito livro por aí.

site: https://ninguemdeixababydelado.wordpress.com/2016/06/08/submissao/
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Filino 24/05/2016

Ficção?
O livro traz uma história num futuro não tão distante e, pode-se arriscar dizer, não tão implausível assim. O modo como o autor expõe a ascensão do Islã num país ocidental e as consequências desse processo a longo prazo são expostas com maestria. Junto a essa história, o cotidiano de um professor universitário, sua carreira, sua vida e seus desencantos também são narrados de uma maneira bastante cativante. Vale a pena!
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Aline T.K.M. | @aline_tkm 24/04/2016

Cutucador!
Vendido como o livro mais polêmico do ano em 2015, Submissão não só causou burburinho pelo tema e pelas declarações polêmicas que o autor vez ou outra faz, mas também por ter chegado às livrarias francesas no dia do atentado à sede do jornal Charlie Hebdo, massacre que resultou em doze mortes em janeiro do ano passado.

Mas não parou por aí. Entre os leitores, o burburinho também teve a ver com aquela velha questão de expectativa vs. realidade. A (nem tão feliz) comparação com distopias como 1984, de George Orwell, faz a gente esperar uma crítica implacável ao Islã, algo como o retrato de uma espécie de ditadura imposta ao Ocidente que castiga duramente os que se rebelam contra ela. Só que Submissão não segue esse caminho. A pegada é outra, não menos genial e conduzida com inteligência.

O ano é 2022. Mohammed Ben Abbes, líder da Fraternidade Muçulmana, é eleito presidente da França. Moderado e carismático, o político não lança mão de violência nem de atitudes de general, mas apenas de grande astúcia. Notadamente estrategista, a presidência islâmica não demora a se movimentar para a anexação de países árabes à Europa um caminho rumo à construção de uma espécie de Império Romano, pensando em dominação, mas desprovido de massacres.

Enquanto os franceses testemunham as mudanças trazidas pela nova presidência, François o protagonista dessa história enxerga tudo a partir de um olhar cético, desconfiado e tomado por incertezas e medo. Professor universitário, ele leva uma vida entediante e pontuada por amores efêmeros e fracassados; tem no clássico escritor Joris-Karl Huysmans seu objeto de estudo vários de seus passos encontram um paralelo na história do escritor, como a tentativa de buscar a fé após uma vida pautada pelo prazer carnal.

Com a Fraternidade Muçulmana à frente do país, as mudanças são inevitáveis: as universidades são privatizadas, as escolas convertem-se à educação islâmica, as mulheres são desencorajadas a estudar e devem vestir-se de maneira velada, o foco sai da educação para mirar na família e no crescimento demográfico, e por aí vai.

Os professores que optam pela não conversão ao islamismo são convidados à aposentadoria precoce com um gordo salário, que fica mais robusto caso a pessoa opte por se converter e continuar lecionando. Há também outros benefícios na conversão, como a poligamia, que acaba brilhando aos olhos de muitos. O mais curioso é perceber como a maioria da população acaba não se incomodando e até mostrando satisfação diante desse cenário; nem sequer se sabe de grandes movimentos contra o novo governo.

Contudo, é importante saber que o foco da trama não reside no islamismo. É certo que todo esse movimento das eleições é um baita pano de fundo, mas o que aparece em primeiro plano, na realidade, são duas coisas: a decadência da sociedade ocidental e o anti-herói niilista e misógino que pode ser um tanto intragável para muitos leitores. Além disso, é mais interessante ver as consequências desse background a nível individual.

A controvérsia tampouco se encontra exatamente na figura do presidente muçulmano. Mas na ideia de um país ou, para ser mais abrangente, um continente que se vê prestes a ser aniquilado. Uma Europa que já não será mais a mesma, tanto em termos políticos como culturais, e em tudo o que toca sua população por exemplo, as imigrações, o crescimento da xenofobia, o antissemitismo. Dado o fracasso do Cristianismo perante a degradação da sociedade moderna, o Islã é colocado como um movimento natural, o próximo passo a partir de hoje, devendo dominar o Ocidente e por que não? o mundo.

Provocadora também é a ideia de que, para consertar a degradada sociedade ocidental, mostra-se necessário o regresso à fé e à religião no caso, à religião muçulmana. E, em algum lugar desse pensamento encontra-se a questão mais inquietante do livro: estaria a realização do ser humano na total submissão?

Assolador e delicioso, Submissão satiriza uma sociedade deteriorada e que parece já não ter cura, tudo isso por meio de um protagonista que é, de certa maneira, o retrato dessa deterioração. As referências a Nietzsche e às obras de Huysmans reforçam as oportunidades para pirar nas reflexões e olha que não são poucas: impossível não concluir a leitura com a mente a todo vapor.

Se Submissão foi o livro mais polêmico do ano passado, isso eu não sei dizer com precisão. Mesmo assim é especulador, suficientemente ousado e cutuca o leitor de inúmeras formas. As cabecinhas mais inquietas certamente não conseguirão passar longe!

LEIA PORQUE...
É polêmico, o tema é muito atual vide, por exemplo, as recentes manifestações organizadas pelo movimento islamofóbico Pegida na Alemanha e a narrativa traz um tom filosófico interessante. Além disso, é de leitura acessível. Houellebecq provoca; apesar de reacionário, islamofóbico e misógino, o autor manda bem nos escritos, não se pode negar.

DA EXPERIÊNCIA...
Tinha apenas uma vaga ideia do que encontrar em Submissão e expectativas homéricas devido ao barulho em torno do livro. Expectativas superadas; gostei da abordagem do tema através da visão e do impacto na vida de um único indivíduo. Mesmo que não concorde nem de longe com as opiniões e o posicionamento do autor, sem dúvidas pretendo ler mais livros dele.

FEZ PENSAR EM...
Por abordar questões da vida na sociedade, mexer com medos e especulações, e também pelo lado político da coisa, a leitura me lembrou alguns livros do José Saramago, como Ensaio sobre a Lucidez e As Intermitências da Morte.

site: http://livrolab.blogspot.com
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criscat 18/03/2016

Ter sido propagandeando como "o livro mais polêmico do ano" certamente é responsável pela expectativa excessiva com que a maioria dos leitores começa a ler o livro - e, consequentemente, pela decepção em maior ou menor grau ao finalizar a leitura. Embalado pelo "barulho" ao redor do livro - tanto pelas declarações polêmicas do autor quanto pelo fato de a data prevista para o lançamento ter coincidido com o ataque aos jornalistas do Charlie Hebdo - o leitor acaba indo com muita sede ao pote, na maioria dos casos achando que a obra se trata de uma crítica dura ao regime e à cultura islâmica.
Ledo engano. A subida dos muçulmanos ao poder não é o fulcro da história, mas apenas o pano de fundo. Apesar das longas conversas do protagonista com outros personagens a respeito dessa ascenção, há poucos eventos que realmente afetam a trama de forma inequívoca.



site: http://www.cafeinaliteraria.com.br/2016/03/15/submissao-de-michel-houellebecq/
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Nanda Lisbôa 08/03/2016

RESENHA: Submissão
Resenha no Blog da Nanda Lisbôa: http://nandalisboablog.blogspot.com.br/2016/02/resenha-submissao.html

Título: Submissão
Autor: Michel Houellebecq
Editora: Alfaguara
Gênero: Ficção francesa
Páginas: 253
Ano: 2015
Faixa de preço: R$24,00 - R$32,00
Avaliação: 1/5

Sei que você deve estar aí se perguntando o porquê desta resenha, já que a minha nota para esse livro foi tão ruim. Bom, eu acho que é válido falar também das leituras ruins, assim acaba-se alertando mais pessoas a não perderem o seu (precioso) tempo. Isso se faz ainda mais importante quando se tratam de livros muito cobiçados, como best-sellers ou aqueles que estão em evidência em diversas livrarias. A respeito do Submissão, eu vi muita gente dizendo que quer ler este livro, eu mesma quando tomei conhecimento do título fiquei doida para ler assim que li sinopse. Acabei então ganhando ele de Natal, mas tristemente, o livro foi uma grande decepção pra mim! E os motivos você vai ler aqui.

Logo na capa, lemos a frase de efeito “O livro mais polêmico do ano”, o que já serve para aguçar a nossa curiosidade: “Uau, quero ver o que esse livro tem de especial!”
Na quarta capa, tem mais uma frase de efeito, que diz: “Autor vencedor do prêmio Goncourt. Uma sátira incisiva na tradição de Orwell e Huxley.” E mais uma vez: “Uau, o cara é comparado a Orwell e Huxley!”
Abaixo há ainda uma avaliação positiva do autor feita por um jornalista do prestigiado jornal francês Le Monde.
Ou seja, o marketing desse livro é dos bons! E a sinopse vem dizendo o seguinte:

“França, 2022. Depois de um segundo turno acirrado, as eleições presidenciais são vencidas por Mohammed Ben Abbes, o candidato da chamada Fraternidade Muçulmana. Carismático e conciliador, Bem Abbes agrupa uma frente democrática ampla. Mas as mudanças sociais, no início imperceptíveis, aos poucos se tornam dramáticas.
François é um acadêmico solitário e desiludido, que espera da vida apenas um pouco de uniformidade. Tomado de surpresa pelo novo regime islâmico, ele se vê obrigado a lidar com essa nova realidade, cujas consequências – ao contrário do que ele poderia esperar – não serão necessariamente desastrosas. Comparado a ‘1984’, de George Orwell, e a ‘Admirável mundo novo’, de Aldous Huxley, ‘Submissão’ é uma sátira precisa e devastadora, sobre os valores da nossa sociedade. É um dos livros mais impactantes da literatura atual.”

Nessa minha onda de buscar livros que falem sobre o Oriente, acabei esbarrando com o Submissão através de uma sugestão na Amazon (apesar do livro não falar especificamente do Oriente, prometia ter um enredo que envolvesse muitos dos costumes e tradições orientais). Apesar de ter lido algumas críticas negativas feitas ao autor, resolvi colocá-lo na minha lista de desejados, por estar sendo tão comentado e dito como “polêmico” por aí (na sinopse já se percebe uma certa xenofobia, e eu queria ver até onde iria essa história).

E no fim das contas, essa leitura foi só decepção! Eu esperava um enredo centrado na situação em si (como promete a sinopse), que falasse sobre a eleição do partido da Fraternidade Muçulmana, sua tomada do poder e consequências. Mas, em vez disso, me deparei com um protagonista problemático e misógino, e um enredo centrado nas reações desse cara com um ego maior que o mundo diante da ascensão da Fraternidade Muçumana ao poder (ah, coitado! *ironia detected*). O tal protagonista me pareceu ser um alterego do próprio escritor (andei lendo coisas não muito boas a seu respeito) e, tive a sensação de estar lendo um livro escrito com raiva, tamanha a xenofobia, o racismo, machismo e misoginia destilados nas páginas.

Em suma, a história é bem ruim, e faz o uso desnecessário de muitas palavras de baixo calão. Mas apesar disso, a leitura acabou me prendendo, porque eu fiquei na ânsia da narrativa melhorar e ficar mais centrada no assunto (que prometia ser o) principal. Só que isso não aconteceu. O autor não aprofunda em nenhum momento a temática política, apenas narra superficialmente, e ela acaba servindo como um pano de fundo para a deprimente vida do professor François – um professor universitário de meia-idade frustrado na e com a vida, sem família e amigos e, no fim das contas, também sem emprego devido às novas leis impostas no país pela Fraternidade Muçulmana. E mais não posso falar pra não dar spoiler!

Por volta da página 100, comecei a ver um lampejo da história central surgindo e me empolguei um pouco mais para prosseguir a leitura, mas pouco depois ela empaca. Volta-se a falar sobre a temática política lá pra página 150, e aí a história empaca de novo. Logo você se dá conta de que não, a temática dita como “principal” não vai ser levada tanto em conta assim...

Para finalizar e resumir, eu achei o livro fraco, decadente e com uma narrativa de baixíssimo nível. Nas últimas páginas eu já estava com tanto nojo do que lia, que inúmeras vezes quase deixei o livro de lado. Só terminei mesmo pra poder fazer essa resenha aqui pra vocês! =P

Sobre o autor:

Michel Houellebecq é um escritor francês e, pasmem, um dos mais traduzidos da contemporaneidade. Apesar dos diversos livros já publicados, o autor é envolvido em diversas polêmicas, desde cópias ilegais de textos (sem a atribuição dos devidos créditos) até acusações de islamofobia. Enfim, não sei como esse cara pode ser tão elogiado!

P.S.: Não busquem ver a cara do Michel no Google! Que medo da cara deleee! Kkk.

Se apesar de tudo você continua querendo ler Submissão (só por curiosidade, vai que), nessas lojas aqui irá encontrar por um preço mais amigo: LivrariaCultura, Saraiva, Fnac e Amazon.

site: http://nandalisboablog.blogspot.com.br/
Matheus 27/02/2017minha estante
Quanto ad hominem neste lixo que você chama de resenha, hein, querida? Criticou o autor - até a aparência física do mesmo! - e criticou a narrativa com o mesmo clichê feminista de sempre: machista, misógino, xenófobo, islamofóbico... Hum, sobre este último ponto, eu adoraria ver como mulheres como você se sairiam sob o jugo de um governo muçulmano. Será que sequer serão permitidas a usar a Internet?




Renato 07/02/2016

O insubmisso Houellebecq
Michel Houellebecq é um autor fabuloso. Tosco, grosseiro, direto e franco, polêmico mais do que controverso, sem qualquer papa na língua ou desperdício de tempo em técnica literária, uso da língua ou sonoridade das expressões. Absolutamente inadequado. Talvez por isto mesmo essencial. O mundo pós-comunismo foi invadido pelo repertório politicamente correto, que em uma certa dimensão se aproxima da propaganda nazista. Mudar as palavras, amenizar as expressões, para não desvelar a intenção. Assim vemos uma hipervalorização do deficiente, transformado em vítima. Ele merece o melhor de nós, afinal não compete pelo mesmo espaço. Vemos o abandono das diferenças, como se todo julgamento crítico fosse sinônimo de racismo. Lemos palavras suaves e melodias do mundo, publicadas pelas mesmas grandes corporações. Agressões transmitidas com carinho: disponibilizar profissionais para o mercado, não demitir. Rituais de inclusão que visam mais a mídia. Não estou dizendo que algumas destas alidade e intervenções não sejam importantes, mas há um quê de ideologia imposta e manipulação em parte disto tudo. O politicamente correto nos trouxe um mundo insosso. Um mundo onde a culpa é sempre nossa. Se existe injustiça, temos que ter flexibilidade, resiliência. E não apontar mudanças. Na verdade, politicamente conveniente. Submissão. Por isto é importante um Houellebecq.

Ser crítico e fora do esquadro pode ser uma postura relevante, quando não é somente uma jogada para se garantir um lugar ao sol. Houellebecq já bombardeou o turismo, o turismo sexual, a autoajuda, o politicamente correto, a pedofilia, o orientalismo, os hippies, a arte contemporânea e ele mesmo.Sem perdão. Foi cruel matando a si mesmo de forma sangrenta em um de seus livros. Sem perdão.

Seu último livro não podia ser mais oportuno e melhor colocado. 'Submissão' aborda as relações do ocidente com os países muçulmanos, a islamofobia. Conta a história do processo de eleição de um governo islâmico na França, num futuro assustadoramente próximo. A transformação de uma Europa que se matou, derrotada, que não tem força nem mesmo para tentar descobrir quem ela é. Um França submissa, que se entrega por preferir um modelo incômodo que modelo nenhum. Não há no livro uma impressão agressiva de ódio à cultura islâmica, Houellebecq nos choca com os costumes que não aceitamos, apesar de dizermos que somos relativistas e que toleramos as diferenças. Balela. Ele nos deixa a sensação de estranhamento, de diferença, de medo de uma cultura que não temos como nos conformar.

Então onde se situa o problema? No outro, aparentemente rechaçado, ou em nós mesmos? Esta é a grande discussão que vislumbro em 'Submissão'. Não vejo discriminação xenofobia como afirmam aqueles que leram mais rapidamente este ou qualquer outro livro do petulante francezinho. Se levarmos por este lado, a primeira impressão sobre seus livros será a de um escritor moralista, que defende valores racistas e hierárquicos, se não a disciplina imutável de um mundo que não passou pelo renascimento. Numa primeira camada esta parece ser a verdade, mas é preciso ler com mais cuidado para se perceber que Houellebecq é exatamente o oposto disto. Entendo que a discussão deve ser feita dentro do contexto Houellebecq. Uma vontade de provocar o indivíduo e sua cultura, muito mais do que tentar implodir a política em seu aspecto macro.

Somente como aperitivo, que reforça inicialmente esta compreensão: um de seus alvos em 'Submissão' é Marine Le Pen e a direita francesa. Bem verdade, a primeira leitura nos parece levar às ideias de Le Pen. Engano. Ele não atribui a falência da Europa aos videogames, ao heavy metal e às drogas. Fala da família, mas recorre à falta de estrutura, não ao modelo único cristão. Não bate no sintoma, vai ao cerne, à causa, que não tem lado direito nem esquerdo. E mais, se Houellebecq fosse tão radicalmente direitista, teria um posicionamento lateralizado mais claro. Ele não poupa a direita francesa de sua serra elétrica, no mais sangrento estilo Tarantino. Por isto, não é o caso. Sarcástico e direto, ele não se resume a atacar um lado da questão, ao mesmo tempo que discorda de uma facção, ele implode explicitamente Hollande, Sarkozy, o lado oposto. Houellebecq nos diz que no essencial, são muito iguais.

Quando Houellebecq polemiza com suas ideias muitas vezes chocantes, aparentemente defendendo pontos de vistas moralizantes e radicais, no fundo ele não está. Acredito que seja o maior defensor da arte e da liberdade que desfrutamos, e de uma sociedade livre para desenvolvimento individual e coletivo, com amplos direitos civis. Não o vejo num mundo diferente deste. Ele jamais seria tolerado num regime totalitário e repleto de censuras. Seria queimado em público, à luz do dia, suas cinzas jogadas no meio do oceano para jamais serem identificadas ou recompostas em um memorial. O que ele aponta é nu e cru: não existem ações, por melhores que sejam, que não tragam reações, oposições ou mesmo desenvolvimentos que não sejam a semente de seu fim.

Vejamos como exemplo a discussão que ele faz sobre o patriarcado. Seu personagem principal defende a estrutura patriarcal da família. Admite excessos, violências e injustiças. Na verdade não defende verdadeiramente o patriarcado. Diz que é a única estrutura familiar e de sociedade que o ocidente conseguiu fazer com sucesso (apesar dos efeitos colaterais).Sua pergunta é: sem patriarcado, o que somos? Houellebecq tenta nos dizer é que trocamos uma estrutura injusta por estrutura nenhuma. Ideias dispersas, individualismo, falta de identidade. O que ele quer questionar é a nossa ausência de modelo, de ideal, de identidade. Uma civilização, uma cultura que se dispersa em fraqueza, falta de ideal comum, de cimento, embriagada por pequenos discursos de ego e lideranças que traem seus ideais por pequenos brindes. Certo ou errado, ele está mirando no nosso individualismo, no reinado do hedonismo que tanto prezamos e da nossa falta de disponibilidade para tratar das questões universais (quando muito, das minorias, daquelas que nos interessam ou não nos ameaçam).

Ele não deixa de admitir que faz parte e se orgulha de ser individualista e hedonista. Em geral seus personagens, em livros anteriores, são viciados em arte, em sexo, suicidam-se com extrema facilidade. Não toleram o desprazer, a decepção. Em 'Submissão', seu personagem principal é quase um amoral, viciado em sexo como quase todos os seus personagens, então como dizer que ele defende um moralismo conservador? Ele nos esfrega na cara é o fato de que como sociedade perdemos força, em nome do nosso conforto e da nossa comodidade. Perdemos sentido. Neste aspecto, Weber, Camus. Até mesmo Freud. Bauman. Qualquer um desacreditado neste modelo individualista, falando numa linguagem que nos conforta (Bauman) ou que nos agride (Houellebecq), estará chegando ao mesmo ponto, que é o central do livro: No confronto entre uma sociedade organizada e capaz de sacrificar seus filhos através de suicídios programados com uma outra sociedade que não é capaz de abdicar de seus prazeres em nome da convivência com o outro, que resultado esperamos?

Este é o ponto que mais me toca. Trocamos o ruim pelo nada, ou quase nada. Disperso. Primitivo, cada um por si. Coração das trevas, eu diria. Ainda mais: hedonismo filtrado. Transformamos nosso mundo em uma sociedade que adiciona indivíduos transformá-los num resultado. Cada um em sua célula. Trocamos ideias por sensações. Nossas cidades ganham restaurantes e perdem livrarias. Pensamentos por sabores. Não somos cidades que debatem suas ideias. Nossas revistas publicam imagens e escondem ideias. Somos escravos da fotografia. Até onde eu compreendo, este é o universo de Houellebecq, de 'Submissão', o da fraqueza do individualismo pós-moderno. Sociedade que é pacificamente dominada pela unificação quase medieval de uma cultura de outro. Assusta. Incomoda. Parece pregação xenofóbica, mas é autocrítica num ponto que não desejamos nenhum questionamento. A unicidade dos nossos prazeres, e o nosso direito de escolher a sensação que mas nos seduz. Questionar nosso hedonismo não está à direita nem à esquerda. Muito menos no centro. Esta na convergência, no núcleo da nossa existência, no âmago da questão. Nada é tão simples, e muito menos indolor.

No final das contas, Houellebecq está nos falando de nosso egocentrismo e imobilismo, do individualismo e submissão pelo desinteresse pela coisa pública, do narcisismo e passividade, da falta de força moral e da hipocrisia dos nossos valores mais benevolentes: a aceitação incondicional e a resiliência, ou aceitação da dominação através da flexibilidade e da falta de resistência. Houellebecq incomoda porque acerta em cheio os pilares das nossas verdades. Aquilo que temos como inquestionável, como nossa vontade moral. Fala do nosso medo de derrota, porque já não somos uma sociedade plena, e sozinhos não temos coragem. Muito menos desprendimento. A leitura de Houellebecq é uma viagem obrigatória para aqueles que não pensam em resiliência ou submissão, mas sim em espírito aberto para transformação.

site: https://www.facebook.com/leitorinsuportavel/
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Claudia Cordeiro 04/02/2016

Não gostei
A história que nas mãos de outro autor (como de um outro que estou lendo, Ildefonso Falcones, não consegui não comparar) poderia ser bem aproveitada e render muito, nas mãos deste, tomou outro rumo.
Dá a impressão que o autor falava de si mesmo qdo. falava do personagem ou melhor, qdo. o personagem falava de si mesmo. Ô sujeito sem graça, entediado e entediante, metido a intelectual como certas pessoas (arghhhh) que conheço... claro que tinha que gostar do islamismo tomar conta, pois essa é a idéia que passa. SPOILER ..............................................................................................................................................................................Que blz, ter 2 esposas, uma de 40 para cima trabalhando na casa e uma novinha para outros assuntos, como o amigo passou a ter.... que blz ganhar muito para não fazer nada, e ganhar o triplo para trabalhar tendo-se convertido ao Islã.... que blz o desemprego ser mínimo, já que as mulheres saíram do mercado de trabalho.... ou seja, para homem, o Islã pode ser aceitável e até "bom"!, que FDP, chato, machista, fracassado!
E ainda tem que falar das suas relações sexuais num livro nada a ver!...... ninguém merece! AFFFFFFF tomara que as doenças mencionadas, disi-se-lá-o-que e hemorróidas sejam autobiográficas, kkkkkkkkkkkkkk
Simone de Cássia 05/02/2016minha estante
kkkkk Cláudia, esses livros quase nos deixam malucas, né não? rs rs




Aa 26/01/2016

Apatia
Se eu pudesse resumir o livro em poucas palavras, eu falaria da ausência de significado na sociedade ocidental moderna e sua derrota pelo Islã, repleto de significado, mas bárbaro. Não consigo ter certeza se Houellebecq é apenas cínico em sua análise, ou se ele realmente lamenta o que ele parece crer inevitável. O sentimento mais presente no livro é a angústia, quando François se depara com os limites do secularismo, e apatia, quando uma nova ordem se estabelece.
Houellebecq claramente acredita que o Cristianismo morreu; se a Europa quer seguir em frente, será com o Islã. Se nós analisarmos o que está acontecendo na Europa nesse momento, não é difícil concordar que a civilização ocidental não vai durar muito (talvez os EUA aguentem um pouco mais), e que haverá alguma resistência, pouca, que será eventualmente absorvida. O que parece claro é que a vasta maioria receberá bem a mudança, ou, pelo menos, não vai se importar muito. Novamente, apatia, palavra que já usaram para acusar Houellebecq, mas que, possivelmente, é justamente aquilo que ele denuncia.
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Fabio Martins 21/01/2016

Submissão
Constantemente somos lembrados dos benefícios da globalização. O fácil acesso a outras culturas, civilizações, pessoas e idiomas é realmente fascinante. Basta um clique ou um toque na tela de seu smartphone para encontrar milhares de informações sobre qualquer assunto. Em contrapartida, essa miscigenação de ideias pode proporcionar conflitos de diversos tipos de intensidade.

A situação que mais chama a atenção nos dias atuais é a expansão do grupo extremista Estado Islâmico – criado na Síria e no Iraque – para os países ocidentais. Em 2015, a França foi alvo de dois ataques que chocaram o mundo: os ataques aos cartunistas do jornal Charlie Hebdo, em janeiro, e a carnificina ocorrida em Paris em novembro, que deixou 130 vítimas.

Curiosamente, no mesmo dia dos ataques ao jornal, a capa dele estampou uma sátira do escritor Michel Houellebecq, que lançava seu novo livro, Submissão. A obra chegou recheada de polêmicas e o tema é bem apropriado ao momento que o mundo vive. No futurístico, mas não tão distante, ano de 2022, a França vive um momento decisivo. As eleições se aproximam e as duas gestões do presidente François Hollande deixaram o país em uma grave crise.

O protagonista da obra, também chamado François, é um professor universitário, amargurado com a vida enfadonha que vive. Desiludido com seus dotes intelectuais cada vez menos destacados e com uma vida amorosa esporádica, seus dias passam sem grandes emoções.

A única pequena emoção em sua vida é acompanhar o desenrolar das eleições presidenciais. Com o enfraquecimento dos partidos tradicionais de esquerda e de direita, um novo cenário encaminha um segundo turno jamais imaginado. A Frente Nacional, partido de extrema direita, liderado por Marine Le Pen, chega para disputar contra a Fraternidade Muçulmana, do candidato Mohammed Ben Abbes. Este último tem a seu favor um perfil considerado moderado, aberto ao diálogo e usa pouco a religião como tema.

Após muitas suposições e confrontos nas ruas – que dá um clima tenso ao ambiente –, uma aliança com o Partido Socialista faz a Fraternidade Muçulmana conseguir a inimaginável façanha de governar a França. A partir de então, o ponto que permeia o restante do livro é justamente como um governo muçulmano impactaria na vida de uma população ocidental e de extrema importância no cenário mundial.

Esta nova situação é exposta pelo ponto de vista do protagonista, que também tem a sua vida influenciada pelo novo governo. Porém, tive certa frustração ao concluir a obra. O autor preocupou-se muito em fazer referências literárias e intelectuais, deixando a leitura um pouco cansativa e pesada. É até justificável fazer este tipo de referência, pois François é um professor universitário da Sorbonne, cuja fama é baseada em seus estudos de Huysmans, um famoso escritor francês do século XIX. Porém, ficou em demasia para o meu gosto.

O livro, de forma geral, é bom e tem uma narrativa agradável – exceto nos devaneios intelectuais do protagonista. É interessante também como ferramenta para refletirmos as mudanças atuais no mundo em que vivemos e como um dia algo diferente do que imaginamos pode acontecer. Entretanto, não creio que a obra possa ser comparada como um novo 1984 ou Admirável mundo novo, como é descrito em sua sinopse.

site: lisobreisso.wordpress.com
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Claudio 19/01/2016

Falência moral
Submissão mostra a transformação da sociedade francesa após a chegada ao poder de um líder islâmico carismático no ano de 2022.
Diferentemente de outros romances distópicos, Submissão pretende apresentar o processo pelo qual as mudanças sociais foram implantadas - em tempo real por assim dizer. Além disso, apresenta uma realidade bem possível, talvez não na velocidade proposta ou com nível de reação social apresentado, mas possível.
O livro também discute como a falência dos valores morais atuais torna a sociedade suscetível a uma colonização por meio do islã - é aqui é onde há exagero, pois é absolutamente improvável que mudanças de tal magnitude ocorram sem nenhuma reação significativa de parcelas da sociedade, em especial, no caso deste livro, dos movimentos feministas. - de uma maneira geral, achei o conteúdo machista.
A personagem principal, um professor universitário, solitário, sofrendo uma crise de meia idade e sem nenhuma perspectiva de futuro profissional relevante, focado única e exclusivamente em seus desejos sexuais é a representação máxima da falência moral da sociedade atual, que aos poucos se dobra, se adapta e se submete a esta nova forma de organização de governo. Quando não há nada a se perder é mais vantajoso estar do lado de quem domina, mesmo que de forma submissa.
A comparação ao livro "1984" de Orwell é exagerada, pois o texto não tem a mesma fluidez - há partes com tantas citações de pensadores que parece uma dissertação - e é muito difícil se cativar com a personagem principal. Além disso, em muitas partes há uma apresentação caricata do islã.
Há uma passagem bem marcante que descreve ação de um grupo armado nas ruas de Paris e, considerando que o livro foi lançado no dia do ataque Charlie Hebdo, é no mínimo instigante a semelhança das ações reais dos últimos atentados em Paris e o descrito no livro.
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Alberto 15/01/2016

Leitor submisso?
- Começando pelo fim: é clara a inabilidade do autor sobre quando e como deve terminar este livro.

- As partes relevantes da história tratam do islã, porém o escritor perde muito tempo retratando a vida medíocre do protagonista. Com certeza sua vida sexual (a do protagonista, que fique claro), poderia ser descrita em um número bem menor de páginas, dando mais espaço para discutir a religião islâmica.

- Se faz referência à vários autores que eu não tenho a menor ideia se são reais ou não, e pelas descrições no livro, não sei e não tenho a menor vontade de descobrir. É simplesmente tediosa toda essa parte de literatura pretensiosa!

- Fiquei em duvida se a "Submissão" do titulo é sobre a ascensão do islã no Ocidente, e a necessária submissão dos ocidentais para que isso ocorra; ou sobre a submissão que um leitor precisa ter para chegar ao fim do livro.

site: https://www.youtube.com/channel/UCeXBsdbdKU53SFdc5-ZYeVA
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Antonio 13/01/2016

Submissão é o livro mais importante de 2015
Atenção: Submissão é o livro mais importante de 2015, não ‘o melhor’. Vamos entender a diferença.
Submissão retoma a forma do ‘romance de ideias’, tipicamente francês. E para quem gosta de ideias, é um prato cheio: as ideias são tantas que caem pelas beiradas. Além disso, Submissão confere a seu autor, Michel Houellebecq, a rara genialidade de estar absolutamente sintonizado com seu tempo: no dia do lançamento, ocorreram os ataques ‘islâmicos’ ao jornal Charlie Hebdo, obrigando o autor a se retirar de Paris (já que seu livro trata do tema). No fim do ano, mais ataques ‘islâmicos’ fizeram com que o livro se tornasse ainda mais atual – se é que isso é possível. O sucesso absoluto de vendas na França e outros países europeus mostra que o a sintonia do autor com as questões mais prementes na Europa não é um mero elogio entre outros: Houellebecq escreve algo que os leitores têm necessidade de ler.
As ideias já começam no título: Submissão é a tradução de ‘Islã’, e indica que a conversão a uma religião pode ser, sim, uma forma de submissão na qual o fiel abre mão de algumas liberdades em benefício de algumas ‘vantagens’. E que vantagens seriam essas? Nesse livro e em muitos casos, a vantagem de aderir à forma de pensamento majoritária e dominante, garantindo sua sobrevivência. Lembram-se dos ‘cristãos novos’?
O personagem narrador é um professor universitário, François. Ele escreve uma tese longa sobre J.K. Huysmans, escritor que viveu em Paris entre 1848 e 1907 e que no final da vida se converteu ao catolicismo — está aí a deixa para que o narrador também pense, ao final, em se converter, nesse caso ao Islã.
Os comentários cortantes sobre a vida universitária – e a absoluta inutilidade de certos estudos humanísticos — mostram que o autor não está para brincadeira. Quem já fez um mestrado ou doutorado sabe que ele acertou no principal ao descrever esse cenário acadêmico.
Mas o livro é sobre política. Nas eleições de 2022, os eleitores estão cansados da costumeira polarização esquerda/direita, que já não significa muita coisa. Nesse cenário anódino, o candidato da Fraternidade Muçulmana, Mohammed Ben Abbes, consegue se destacar, passa ao segundo turno, faz aliança com os socialistas e vence as eleições. Sim, há reações contrárias, mas ele é um político hábil, e consegue acalmar o país com a promessa de dias prósperos.
No caso da Sorbonne, ela passa a ser financiada por milionários sauditas, que vêem nela uma ‘porta de entrada’ na Europa para o Islã. E a universidade campeã dos estudos laicos passa a dar preferência ao pensamento religioso, e aos professores convertidos. François, então, é desligado da instituição, com um ‘cala-boca’: ótimo salário até o fim da vida. Mas ele, que já não tinha muitos vínculos sociais e afetivos, entra em crise.
A sociedade se transforma rapidamente: homens podem ter várias esposas, e a implantação da Charia garante que as leis seguirão a escritura sagrada do Alcorão. E isso seria possível? Não, claro que não em um curto espaço de tempo, mas estamos lendo um romance, que tem a prerrogativa da liberdade criativa.
As ideias abordadas são muitas, e todas se conectam de alguma forma: o narrador é adepto do machismo convicto e hoje – em que isso é até pecado — é interessante, sim, muito interessante ver esse pensamento desnudado. Há também análises sobre a situação econômica e social da Europa, vítima da diminuição populacional, já que as mulheres hoje têm menos filhos. Nesse sentido, uma sociedade patriarcal, geradora de muitos filhos, teria, sim, a capacidade de suplantar a sociedade igualitária, por uma mera questão matemática. E são muitas as indicações que o modelo de vida europeu e ocidental está com os dias contados — mais um debate a ser travado, e um debate nada vazio, diga-se de passagem.
Então, surgem várias questões: como continuará a viver o personagem François, diante de tantas mudanças? Se tornará um convertido ao Islã? Lembremos que o seu machismo atávico combina bastante com esse modo de vida. Além disso, pensamos, seria possível que os muçulmanos se tornassem maioria na Europa? Com a atual imigração dos sírios para muitos países europeus, temos apenas mais um indício de que o autor tem uma pontaria inigualável para essas questões.
Mais impressionados ficamos ao descobrir que o presidente Mohammed Ben Abbes tem ambições maiores: ele imagina que pode unificar a Europa em torno do Islã, e o modelo que ele pretende seguir para atingir esse objetivo é…. o Império Romano. Não tão absurdo se pensarmos que os romanos também se valeram da religião (o Cristianismo) para fazer o mesmo. Sim, os tempos são outros, mas o que está em jogo aqui são as ideias, as muitas ideias que o autor joga na nossa cabeça, chacoalhando-a.
E do ponto de vista artístico? Aí as coisas não são tão simples. Em dado momento, tudo o que parece sobrar do Islamismo é uma caricatura: um sistema no qual os homens mais abastados ou influentes podem ter várias esposas. E as mulheres, o que acham disso? No livro, não há feminismo; as mulheres que poderiam reagir a essas mudanças não têm voz. Começamos a desconfiar que existem lacunas nesse futuro imaginado pelo autor, por mais que ele nos envolva e nos encante com seu jogo de ideias.
Vamos insistir: as ideias que ele se propõe a discutir são interessantíssimas porque atuais. Algumas delas estão fervilhando nas mentes europeias, conscientes de que toda sociedade passa por mudanças, sem contar que a ameaça do Islã é real. Em dado momento, percebemos que não adianta reclamar que o romance não é ‘plausível’, já que o autor parece ter o objetivo maior de colocar ideias em discussão, não o de fazer uma previsão do futuro.
Essa não é a primeira obra que coloca a Europa — os valores europeus, a democracia, a separação entre Igreja e Estado — sob o jugo do Islã. Em ‘Um Filme Falado’, Manoel de Oliveira discute essa questão com pinceladas dramáticas. Mas Submissão foi mais longe. Como o título indica, a Submissão a uma dada forma de poder e um tipo de sociedade em detrimento das atuais é que poderia acabar com os valores hoje vigentes, o que dá ao livro seu caráter distópico, justamente porque é difícil aceitar que esses valores duramente conquistados seriam perdidos. — e você, diante de tantas mudanças irreversíveis, se submeteria?
Antes de responder ‘não’, leia o livro. Deixe-se envolver pelas ideias — e pela beleza da capa.



site: www.blogselivros.com.br
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Érica 05/01/2016

Em momentos sombrios, uma reflexão.
Submissão (Alfaguara, 2015, 256p.) se passa na França, em um futuro próximo (2022), e conta a história de François, um professor universitário de meia idade solitário e sem perspectiva de vida, suas frustrações com o rumo que sua carreira acadêmica tomou, sem uma parceira fixa, em uma existência vazia e sem significado. Paralelamente, narra a vitória nas eleições presidenciais do candidato da Fraternidade Muçulmana, Mohammed Ben Abbe, um carismático líder. Aos poucos, a nova política vai se fortalecendo e as transformações sociais vão sendo impostas: os homens podem se casar com mais de uma esposa, as mulheres não podem mais sair nas ruas de bermudas e saias, todos se convertem ao islamismo.

Com a eleição da Fraternidade Muçulmana, aos professores universitários é dada duas alternativas: a conversão ao islamismo para continuar lecionando ou uma aposentadoria compulsória, mediante o pagamento de uma boa remuneração, para mantê-los calados. François se aposenta e parte em uma peregrinação pelo interior da França, onde viveu Huysman, o escritor sobre o qual ele fez uma tese e baseou toda a vida acadêmica. Mas conseguirá François permanecer aposentado ou sucumbirá às tentações do islamismo?

Eu particularmente não gostei do livro. Ele foi muito comentado desde o lançamento esse ano. Talvez sua sensação seja justamente por se passar amanhã, afinal, 2022 é amanhã! E por trazer os muçulmanos, cada vez mais presentes na Europa, ao poder, comandando uma União Européia na qual os países muçulmanos sejam inseridos, na qual a nova ordem política esteja vinculada a uma religião que o ocidente teme e odeia. Mas o livro não explora tão bem esse "novo mundo", então o rótulo de distopia muçulmana e todas as comparações feitas com 1984, de Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Huxley, são um exagero.

O livro, em suma, é um romance de formação, contando a história de François, que busca um sentido para sua própria existência enquanto o panorama político vai mudando ao seu redor, mas sem fazer nenhum julgamento de valor sobre a cultura islâmica, ele não critica de forma alguma o rumo que a sociedade e a política tomaram, ele apenas vai vivendo e se adaptando à forma como as coisas agora são e, aos poucos, sucumbe às tentações de voltar a ser professor, ao salário generoso, e à ideia de ter um bom casamento arranjado (ou mais de um, na medida em que a poligamia masculina é a regra).

Não gostei nem um pouco de François, ele não causa nenhuma empatia, é um homem horroroso, com pensamentos machistas e egoístas, e não tem como conseguir gostar de um personagem desses.

Eu também não gostei muito do livro, mas gostei da reflexão que ele traz: e se a hegemonia cristã e judaica não mais existisse, seria tão terrível assim um governo islâmico, quais as implicações práticas, realmente vale todo esse preconceito e temor, ou basta que deixemos eles em paz, vivendo suas vidas, fazendo sua política?

Eu particularmente não gostaria de ver o Saulo casado com mais três mulheres e não gostaria de viver escondendo meu rosto, usando somente saias, não podendo trabalhar, gosto de ser independente, gosto de ser quem eu sou. Mas a mensagem que deixo é a de que precisamos ser tolerantes e respeitar as diferenças, não querer impor nosso modo ocidental de vida. Pressupor que todo muçulmano é terrorista e radical só faz gerar mais preconceito e mais intolerância. Acho que a ideia do autor foi justamente trazer esse debate: o ser humano, o Islã, o futuro das nações europeias, política, religião, costumes.

site: www.serleitora.com.br
Antonio 13/01/2016minha estante
Eu gostei da sua resenha. Mas discordo que seja um romance de formação. Ele serve, como vc disse, para fomentar uma discussão sobre as mudanças que estão ocorrendo na Europa... o machismo é apenas uma parte dessa discussão, já que o Islã inegavelmente é machista... quero dizer, o machismo do personagem é bastante intencional.




Pedro 14/12/2015

O Ocidente passado a limpo
Alardeado pela editora como “o livro mais polêmico do ano”, "Submissão" narra, pela perspectiva do professor universitário François, a vitória da Fraternidade Muçulmana à Presidência da França em 2022. Contrário aos valores que fundam o Ocidente, o Islã provoca drásticas mudanças, com a implementação do ensino religioso e o fim da igualdade de gêneros. Cético, cínico e sem nenhum laço social, François é levado a aceitar a aposentadoria compulsória. Meses depois, recebe o convite para voltar, desde que se submeta à nova ordem. Controverso e instigante, o livro de Houellebecq, acusado de islamofóbico, volta suas armas, na verdade, contra a decadência do Ocidente: afinal, há mesmo algo pelo que lamentar na desintegração iminente do mundo tal como o conhecemos?
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prof.vinic 03/12/2015

Oportuno ...
Peguei o livro para ler um dia antes dos atentados de Paris, 13/11/2015, claro que isso mudará um pouco as previsões do enredo ... mas acho que só um pouco mesmo. A história traz uma situação no mínimo inusitada, porém perfeitamente possível. Um representante do islã se torna presidente da França, seguido de outros países europeus, assim como as profundas mudanças que isso acarreta. Pessoalmente não acredito que seriam tantas (tipo mulheres serem proibidas de trabalhar!), existe uma ordem social estabelecida que não pode sr alterada por força de lei. Existe um status quo que exige um longo período de adaptações pra tantas mudanças. Porém, que elas seriam necessariamente pretendidas numa situação dessa, isso seria. Claro que a história não trata de previsões nem de avaliações sociopolíticas da situação, no fundo segue a vida de um professor universitário cansado de sua vida normal e suas reflexões sobre o que fazer para jantar e com quem dormir. Em suma, segue a linha de um bom drama do cinema francês, a vida de um cara comum, mas com grandes acontecimentos no fundo ... fortemente recomendado!
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