Tamires
28/11/2016Aquela que é poesia até no nome!É difícil conceber uma resenha literária de um livro de poesias quando não há a intenção de fazer uma análise aprofundada, destrinchando cada verso, cada rima. Entretanto, ainda assim, chamarei esse texto de resenha e tentarei fazer algumas considerações sobre o livro em questão, desde já recomendando, obviamente, que ele seja lido.
Florbela Espanca (1894/1930) é uma figura que despertou a minha atenção e admiração desde o primeiro momento em que tive conhecimento de sua existência. Ela deve ser reconhecida e venerada pelo talento que tinha em colocar no papel da forma mais intensa os seus sentimentos.
A Editora Martin Claret lançou em edição especial, capa dura, esta antologia da autora, contendo toda a sua obra poética antes publicada separadamente nos volumes "Livro de Mágoas"; "Livro Sóror Saudade"; "Charneca em Flor", "Reliquiae"; "Trocando Olhares" e "O Livro D’ele". A edição conta, ainda, com uma introdução de Renata Soares Junqueira, que fala rapidamente sobre a vida e a obra de Florbela Espanca, a autora que é poesia até no nome.
“Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o unguento
Com que sarei a minha própria dor.
Os meus gestos são ondas de sorrento…
Trago no nome as letras de uma flor…
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento…
Dou-te o que tenho; o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.
Dou-te comigo, o mundo que Deus fez!
– Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa do conto: ‘Era uma vez…’”
(Conto de Fadas, do livro Charneca em Flor, p. 97)
Uma curiosidade para nós, brasileiros, é que o cantor Fagner transformou vários sonetos da poetisa portuguesa em música! Deixo abaixo um vídeo em que ele canta com Zeca Baleiro o soneto Fanatismo, presente no Livro Sóror Saudade, página 56 da Antologia publicada pela Martin Claret. A edição é lindíssima e deixo aqui o convite para que vocês conheçam a obra de Florbela Espanca.
“Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida!
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
‘Tudo no mundo é frágil, tudo passa…’
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
‘Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!…’”
(Fanatismo, do Livro Sóror Saudade, p. 56)
site:
http://www.tamiresdecarvalho.com/resenha-florbela-espanca-antologia-poetica/