Laís Helena 12/12/2016
Resenha do blog Sonhos, Imaginação & Fantasia
Nas primeiras páginas, Vivian contra o Apocalipse não se mostra uma distopia muito diferente das demais. Entretanto, conforme as páginas avançavam mais e mais, o livro foi me prendendo e me surpreendendo por abordar alguns clichês de forma diferente.
A história começa na noite do Arrebatamento, quando supostamente todos os Crentes (religião que surgiu há três anos e ganhou enorme popularidade nos EUA) serão salvos, e os Descrentes permanecerão na Terra para sofrer com o fim do mundo. Vivian é uma Descrente, e assim como seus amigos, não acredita no Arrebatamento. Porém, quando chega em sua casa de uma festa, pela manhã, seus pais desapareceram, e há dois buracos no teto do quarto deles.
Vivian é levada pelos avós descrentes para viver em Nova York, no entanto, não consegue suportar viver como se nada tivesse acontecido e foge, voltando para sua cidade para reencontrar Harp, sua amiga que também é descrente e teve os pais arrebatados. Juntas, as duas atravessam o país atrás de respostas, tendo em parte do caminho a ajuda de Peter, que tem seus segredos e sabe algumas coisas sobre a Igreja Americana, e Eddie, uma Crente que não foi arrebatada.
Com essa premissa, Vivian contra o Apocalipse acaba tendo um tom bem diferente dos demais livros YA distópicos. Catástrofes naturais e climáticas e doenças são mencionadas, mas o principal perigo vem das pessoas, principalmente dos Crentes que não foram arrebatados. Além disso, a trama envolve segredos e mistérios, não só a respeito do Arrebatamento como também da família de Vivian, a qual ela procura desesperadamente depois de suspeitar que estão vivos.
Os personagens são interessantes e bem caracterizados, muitas vezes agindo de acordo com sua idade, sem parecerem incoerentemente maduros. Gostei especialmente de como foi desenvolvida a amizade entre Vivian e Harp ao longo do livro. Embora já se considerassem amigas desde o início, é interessante observar que se aproximaram por falta de opção, porque as amigas quietas e estudiosas de Vivian se tornaram Crentes e de repente só sobrou a “turma da bagunça” (e que adolescente quieto e estudioso já não teve preconceito com a “turma da bagunça”?). Entretanto, ao longo do livro, a amizade das duas vai se tornando mais verdadeira, entre decepções e desentendimentos.
O romance existe, é claro (e você já deve ter adivinhado quem é o par romântico de Vivian, mesmo se não leu o livro). Achei que faltou um pouco de desenvolvimento (as coisas surgiram rápido demais), e em alguns momentos os personagens fazem coisas românticas quando era de se esperar que estivessem preocupados demais com outros assuntos para pensar nisso. No entanto, o romance não toma mais espaço do que deveria, e Vivian em nenhum momento esquece de Harp, de seus pais ou de seus objetivos para namorar, e nem se torna extremamente dependente de Peter.
Ainda em relação aos personagens, achei interessante a forma como a autora desconstruiu a figura dos pais, que diferente do que acontece nos outros livros, não são as figuras maduras e responsáveis na vida de Vivian, e ao longo do livro ela descobre muitas coisas sobre seus pais que eles esconderam (o que emprestou uma camada de profundidade a eles e à própria Vivian).
A narrativa é em terceira pessoa, no tempo verbal passado, e embora seja bem simples (adequada ao público alvo), cumpriu seu papel de me manter imersa na história (tanto que acabei lendo o livro em apenas uma noite).
Gostei da forma como a religião (algo que acaba esquecido em outras distopias) foi abordada. Criar uma nova religião para discutir certos temas foi uma sacada interessante, já que a crítica não é feita à religião em si, mas sim à instituição e a como seus donos se aproveitam das crenças das pessoas.
O final, como era de se esperar, traz a grande revelação sobre o que é o Arrebatamento. Não é algo totalmente inesperado, mas não foi isso que me decepcionou. Achei que o vilão foi muito enfraquecido, o que tirou um pouco da tensão e da sensação de perigo, de “tudo está perdido”. No entanto, pontas soltas foram deixadas para o próximo volume, e mais algumas surpresas são reveladas nas últimas páginas. Apesar da pequena decepção com o clímax da história, no geral gostei bastante do livro e acabei ficando curiosa para conferir o segundo volume.
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