Rafael 07/06/2022
O Talismã, de Stephen King e Peter Straub
É possível fazer com que um texto permaneça coeso, mesmo sendo escrito em quatro mãos? De Stephen King e Peter Straub, o primeiro livro dessa parceria acerta e derrapa ao mesmo tempo ao tentar abraçar uma jornada árdua através de lentes diferentes sobre se o que é mais importante: o objetivo final, ou a jornada até ele.
Esta duvida está impregnada em várias das histórias de fantasia, onde por muitas vezes, o objetivo final da história, passa a ser colocado em segundo plano em detrimento ao ?valor? obtido pela jornada, pelo sofrimento dos personagens principais para chegar até ali, que resultam em um grande amadurecimento, ou em um ganho ainda maior do que o objetivo final representava no começo da história.
Na grande maioria das vezes, no entanto, é possível se identificar na história que estamos lendo, por qual caminho o autor da história decidiu seguir. Isso, no entanto, fica mais difícil em uma coautoria, onde visões diferentes, podem, por vezes, se atrapalhar ao longo do processo de evolução da narrativa. Aqui, o texto a quatro mãos por vezes parece duas histórias completamente diferentes, onde a missão principal é deixada de lado várias vezes por histórias secundárias, que mesmo sendo boas, comprovam as visões diferentes dos dois autores sobre qual caminho narrativo seus personagens devem passar para chegar ao final, fazendo com que alguns subplots fiquem cada vez mais questionáveis com o avanço do texto.
O Talismã, ao final mostra-se, mesmo com suas divergências, uma história profunda sobre o que é uma jornada. E que jornada! Mais um ?coming of age? escrito com maestria de autores que sabem muito bem desenvolver seus personagens. Ao mesmo tempo, trata-se de uma história de fantasia que parece as vezes que foi misturada de qualquer forma para se chegar ao produto final, sem coerência entre as partes.
A história é boa ao final, mas a confusão ao longo da leitura te acompanha como um companheiro de jornada, do começo ao fim.