Fernanda631 23/01/2023
Nós
Nós foi escrito por David Nicholls e foi publicado em 12 de novembro de 2014.
"-Eu estava ansioso para envelhecermos juntos. Eu e você, envelhecermos e morrermos juntos.
-Douglas, por que alguém em sã consciência ficaria ansioso por isso?"
Com esse pequeno diálogo ainda na capa do livro podemos ver que temos nas mãos: um romance não tão convencional, que começa pela parte que ninguém quer que chegue: a separação. Um cara que deseja um futuro ao lado da mulher que ele amou nos últimos 25 anos e uma mulher que não corresponde mais aos mesmos sentimentos.
Apesar dos estilos de vida completamente distintos, Connie e Douglas conseguiram encontrar uma dinâmica de relacionamento eficiente, capaz de equilibrar o espírito livre dela e a personalidade metódica dele. No entanto, a chegada de Albie muda a relação deles ao longo dos anos, abalando aos poucos a até então bem-sucedida dinâmica.
Por isso, quando chega a hora de Albie ir para a faculdade, Douglas acredita que aquele será o momento para que ele e Connie se redescubram como um casal – mas ela tem planos diferentes e também pretende sair de casa.
Douglas Petersen tem 54 anos. É casado, tem um filho e leva uma vida tranquila feliz. Isso até a noite em que sua mulher, Connie, lhe diz que quer o divórcio. Mas eles não eram felizes?
Pego de surpresa, Douglas decide dar a última tacada: uma viagem em família pela Europa, que irá reaproximar os três, assim como fazer a esposa se apaixonar por ele novamente. Será?
A partir da noite que a esposa lhe contou sobre o divórcio, Doug passa a repensar sua vida e decide, para tentar salvar o casamento, fazer um tour pela Europa com a família. As férias perfeitas de despedida do filho Albie, que está indo para faculdade. A relação de Doug com Albie não é das melhores, e talvez essa viagem possa unir os dois. Porém, a viagem não saiu como o planejado.
Temos reviravoltas e acontecimentos inesperados na história. E tudo o que ele conquistou durante a vida parece ir por água abaixo. Será que Doug vai conseguir reacender o amor da esposa? Será que Doug enfim conseguirá se entender com seu filho?
O livro é narrado em primeira pessoa por Douglas, o que faz com que tenhamos o lado dele da história, mas eu acho ele um personagem bem crítico, que consegue passar seus defeitos falando de si próprio. Douglas é um homem tradicional, antiquado. Ele é um bioquímico que preza muito o valor de um emprego "sério" e não gosta muito de coisas alternativas, enfim um cara sério e racional. Até conhecer Connie ele era um solteirão solitário, que se apaixonou justamente pelo seu extremo oposto.
Doug é metódico, cientista, pesquisador. Sua personalidade é mais tímida, reservada. Ele sempre planeja tudo nos mínimos detalhes, chega nos aeroportos com 2h de antecedência e sabe muita coisa sobre tudo. Exceto sobre arte. Connie é a artista. Sabe tudo sobre arte, e um pouco menos sobre outras coisas. Completamente o oposto de Doug. Extrovertida, solta e meio louca.
Connie era uma pintora, artista de espírito livre, que adorava um álcool (e outras substâncias também) e uma boa festa, ou seja, totalmente o oposto de Douglas. Ela é muito bonita e tinha um histórico de relacionamentos ruins. Como eles deram certo? Não sei, e acho que os personagens também não sabem. Não temos acesso aos pensamentos dela, só aos dele e ele, às vezes se sente meio incrédulo de ter conquistado uma mulher tão atraente e incrível.
O personagem acha que ela queria abandonar a vida que levava e que ele foi uma boa oportunidade, um porto seguro pra ampará-la na nova vida "careta", que ele sempre teve, e que por isso eles deram certo. Connie adora aventuras e é extremamente ligada ao filho Albie.
Albie, carinhosamente chamado de Ovo pelos pais, é o filho artista rebelde. Ele herdou muitas características da mãe, e quase nenhuma do pai. E infelizmente sua relação com o Douglas não é boa. Tudo o que ele faz parece errado aos olhos de Doug. Ovo é mulherengo e solto, ama arte e experiências novas, ele passa uma sensação de não estar nem aí com a vida.
Com certeza na família Petersen temos pessoas bem distintas.
O livro conta duas histórias ao mesmo tempo: a história de como eles se conheceram, se apaixonaram e casaram, e tudo que isso envolve, e a história dos dias atuais enquanto eles estão na viagem. Ele, disposto a não deixar o casamento acabar e ela aparentemente deixando que as coisas apenas aconteçam. O problema é que o filho deles, Albie, tem o mesmo espírito livre da mãe, vai cursar fotografia na faculdade, o que faz Douglas tremer na base, porque o menino não quer um "emprego normal".
Em Nós, Douglas disseca o relacionamento com Connie, intercalando o passado, desde quando se conheceram até os dias anteriores à viagem, e o presente, durante o passeio pela Europa. O senso de humor apurado da história não surpreende, já que é uma das marcas registradas de Nicholls, e é o tempero ideal para que a trama seja leve e ao mesmo tempo extremamente relevante e pertinente.
O único ponto negativo de Nós, na minha opinião, é que em alguns trechos a história não fluíram tão bem quanto eu esperava.
Com um clima levemente épico, Nós leva o leitor por uma viagem pela Europa, com direito a aulas de arte e um mergulho profundo nas relações a dois e em família. Quem já leu outras obras de David Nicholls sabe que o autor sempre foge do óbvio, então o desfecho da história não surpreende sob esse ponto de vista.
E é incrível como ele é capaz de criar personagens certinhos e metódicos, como Emma Morley, de Um Dia, e o próprio Douglas, com a mesma coerência e realismo daqueles livres e bon vivants, como Dexter Mayhew, também de Um Dia, e Connie. E é exatamente essa combinação que cria conflitos reais e torna possível não só a dissecação da relação de Connie e Douglas, mas também um diagnóstico que não coloca um ou outro como mocinho ou vilão e, sim, como personagens, com falhas e qualidades, de uma história que realmente poderia acontecer.
Nós é um livro sobre amor, família, casamento e, principalmente, sobre os rumos que a vida toma e nem sempre conseguimos entender logo de cara.