Leila de Carvalho e Gonçalves 11/07/2018
Dom ou Maldição?
Você conhece Mary Anne Evans? Sob o pseudônimo de George Eliot, ela é uma das mais aclamadas escritoras inglesas do século XIX, porém, sua obra está praticamente restrita a sebos em nosso país. Isso é uma pena, pois marcadas pela análise psicológica das personagens, suas histórias primam pela atualidade quando comparadas com a moderna ficção.
"The Lifted Veil" ou ?O Véu Erguido?, lançado pela Editora Grua em 2014, é uma bem-vinda escolha. Trata-se de uma novela gótica que não fica a dever aos grandes clássicos do gênero. Por sinal, publicada originalmente em 1859, trata-se do único texto de Eliot que sonda o sobrenatural.
Seu narrador e protagonista é Latimer, filho mais novo de uma família muito rica, que é dono de uma frágil constituição e uma mente sensível. Após uma estranha enfermidade, ele adquire a capacidade de prever o futuro e ler o pensamento das pessoas, "erguendo o véu" que cobre o decoro e a hipocrisia social, daí, o título do livro.
A narrativa exibe personagens com qualidades e defeitos, quebrando o padrão comumente adotado para o gênero de pessoas boas ou más. Exibindo uma perspectiva fatalista, também aborda as paixões da juventude, a rotina do casamento e a solidão da velhice.
Quem rouba a cena é Bertha, uma linda órfã destinada a se casar com Alfred, irmão mais velho de Latimer, mas a morte precoce do noivo muda o rumo Dos acontecimentos. Ela acaba desposando o caçula e a diferença de temperamento entre eles não demora a tornar-se um empecilho para a felicidade. Enquanto ele é reservado e avesso aos compromissos sociais, ela é extrovertida, alegre e gosta de festas.
Para finalizar, Eliot opta por abrir a novela com seu desfecho. Na velhice, o narrador conta como será sua morte para depois voltar ao passado, revelar sua sina e a perturbadora espera por um futuro conhecido.
Recomendo a leitura, por sinal, superou minhas expectativas.