Carla Verçoza 16/06/2022
Gostei demais do Juan Rulfo contista
Havia lido somente Pedro Páramo e adorei os contos do Juan Rulfo.
Fala da alma e da vida do povo latino, especialmente os mexicanos, das violências, acertos de contas, pobreza e mistérios.
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[SPOILER À PARTIR DAQUI] Pequeno resumo dos contos:
Conto 1
E nos deram a terra
Quatro homens caminham pelo chapada (planície) quente e seca, sofrendo sob o sol. Receberam do governo a posse dessas terras, porém as terras são áridas, não serve pra plantar, não há água. Queriam as terras perto do riacho, reclamaram com o delegado, mas este não lhes deu ouvido, eles deveriam se sentir gratos e não reclamar. Caminham por suas terras, ouvem latidos trazidos pelo vendo, de um povoado distante. Caminham até lá e lá se separam. O conto mostra a desolação desses homens e todo o escárnio do governo. A desesperança, o desespero pelo calor. Bem interessante. 5/5
Conto 2
A colina das comadres
Se passa na zona mais rural, com toda violência característica. O narrador conta a morte de dois irmãos, que eram seus amigos, e viviam na Colina das Comadres e tinham posses na vila vizinha, porém não eram bem quistos por lá. Reviravolta interessante. Fala sobre as dificuldades de viver da terra, da força da natureza, da necessidade do êxodo em busca de melhores condições, violência, pobreza. 4,5/5
Conto 3
É que somos muito pobres
Narrada pelo filho, a história de uma família que enfrentou uma enchente no vilarejo, que acabou com a colheita e levou na correnteza a.vaca.que havia sido dada pelo pai à filha, de aniversário. A vaca era a esperança da filha de doze anos conseguir se casar e não acabar se tornando puta igual as irmãs, pois eram muito pobres. O conto mostra a imolacabilidade da natureza frente à falta de recursos. A condição feminina sempre tratada como objeto, mercadoria, q deve se manter casta até um casamento lhe ser arranjado. "E Tacha chora ao sentir que sua vaca não volta mais porque o rio a matou. Ela está aqui, ao meu lado, com seu vestido cor-de-rosa, olhando o rio do barranco e sem parar de chorar. Pela sua cara correm fiozinhos de água suja como se o rio tivesse entrado dentro dela.
Ela chora cada vez mais. Da sua boca sai um ruído semelhante ao que se arrasta pelas beiras do río, faz ela tremer e se sacudir inteirinha, e enquanto isso a enchente continua subindo. O sabor de podre que vem de lá salpi ca a cara molhada de Tacha e os dois peitinhos dela se movem para cima e para baixo, sem parar, como se de repente começassem a inchar para começar a trabalhar pela sua perdição.". Que beleza de escrita! 5/5
Conto 4
O homem
Conto mais difícil até agora, com diversos narradores diferentes, a mudança entre eles é sutil. Achei muito inteligente.
São vários narradores. Há um perseguido e um perseguidor.
O homem é irmão de José Alcancía, assassinado pelo patriarca dos Urquidi. Desde então buscava vingança. O homem lamenta ter matado todos, mas o pai não estava em casa, havia ido ao enterro do seu recém nascido. O homem matou três dos habitantes da casa. O patriarca Urquidi era quem o seguia e é um dos narradores.
Finalmente o homem aparece no rio, cravejado de balas na cabeça e, um pastor, que tbm narra a história o encontra. Antes da morte do homem, ele havia compartilhado com ele sua comida, sem saber que ele era o assassino dos Urquidi. 5/5
Conto 5
Na madrugada
Velho boiadeiro retorna com suas vacas de madrugada, amanhecendo. Ao chegar no curral, vê o patrão saindo com a sobrinha dormindo em seus braços. O boiadeiro se esconde e vai ordenhar as vacas. Qdo chuta o bezerro q estava mamando demais, chega o patrão e começa a espanca-lo. Depois ele só se lembra de acordar em casa todo dolorido. O patrão é encontrado morto no outro dia e a acusação cai sobre o velho, q não se lembra. Quem encontrou o corpo foi a sobrinha, depois de ouvir sermão da mãe q descobriu o caso.
Mais uma história rural, a luta diária do homem do campo, pobre, quase sempre tão faminto quanto o gado, a exploração do patrão. 4/5
Conto 6
Talpa
Irmão e cunhada saem em peregrinação levando o irmão doente para a cidade de Talpa para ver a virgem santa, na esperança de que ela curasse suas chagas. Durante o trajeto, ficamos sabendo q o doente queria desistir mas a insistência da esposa e do irmão o fizeram seguir, mesmo já quase sem forças. Tbm o caso entre cunhado e cunhada é revelado. Conto sobre fé e culpa. 4/5
Conto 7
Macario
Sensacional. O menino órfão vive com sua madrinha e a empregada Felipa. Temos a visão da história da criança, seu fluxo de consciência. Ele até gosta da casa da madrinha, pois tem comida e ele está sempre com fome. E tem Felipa que ele gosta mais, que cuida dele, até o amamenta a noite e reza por sua alma não ir para o inferno, que é um dos grandes medos do garoto, que tem alguns rompantes, bate cabeça no solo por gostar de ouvir o som parecido com tambor. Tbm sofre muito com a população, que o apedreja, então prefere ficar em casa. Um conto muito bem construído, fala da solidão da criança que se sente deslocada, diferente, que sofre com o medo imposto pela religião, do castigo por seus pecados infantis e uma eternidade no inferno. Fiquei encantada com Juan Rulfo contista. 5/5
Conto 8
O chão em chamas
Retata a vida de bandidos, q se unem por uma causa seguindo um herói. Violência, morte, estupros, queima de lavouras. No fim uma mulher que apesar de ter sido pêga à força ainda se sente protegida e espera por ele. O conto que menos gostei até agora. 3/5
Conto 9
Diga que não me matem
Muito presente a violência do campo, o acerto de contas. Homem comete um crime e passa mais de 30 anos vivendo com medo de ser pêgo. Quando consegue relaxar e viver tranquilo, a história volta para cobrar justiça. 3,5/5
Conto 10
Luvina
Homem conversa sobre Lívia com outro homem que está indo para la. Conta como foi qdo chegou lá com a esposa e filhos há alguns anos. O conto tem um clima sobrenatural, os ventos da cidade, o igreja abandonada, as mulheres vestidas de negro. Também passa uma desolação, a vida dura dos moradores, vivendo em um lugar seco, com muito vento, fome e seus fantasmas e abandonados pelo governo. 4/5
Conto 11
A noite em que deixaram ele sozinho
Três homens fogem, tentam chegar até um outro ponto para escapar da polícia. Andam dia e noite e o sono começa a se abater sobre o mais novo. O conto mostra o cansaço extremo, o sono tomando conta ate ser rendido por ele. 4/5
Conto 12
Passo do norte
Filho conversa com o pai, diz a vai para EUA tentar ganhar dinheiro pois lá ele e a família está passando fome. A conversa acaba se tornando uma discussão de relação entre pai e filho. Ao final filho pede q pai cuide da esposa e dos filhos, pai se recusa mas no fim acaba cedendo. Ao tentar passar a fronteira, filho e os outros são alvejados. Filho retorna, pai conta q sua mulher fugiu com outro e a ele vendeu a casa dele para arcar com gastos com os netos. Filho manda pai segurar as pontas pois vai sair em busca da mulher. 5/5
Conto 13
Lembre-se
Como em uma contação de um "causo", Lembre-se conta sobre um rapaz q, após ser humilhado, sai da cidade e retorna como guarda. Bem escrito mas não foi dos meus preferidos. 3/5
Conto 14
Você não escuta os cães latirem
Pai leva filho ferido para outra cidade em busca de cuidados. Ele vai carregando o filho nas costas, enquanto acerta assuntos com ele. Lembra que só o está ajudando em repeito à mãe falecida. Que o filho foi um ingrato e só os envergonhava. No trajeto sempre pergunta se o filho já ouve os cães da cidade latirem. Filho diz q não. Acho chegar na cidade, ele vê os cães latirem e diz que nem isso o filho foi capaz de fazer por ele, da esperança de estarem perto, dizendo q ouvia os cães. Achei um conto bem melancólico. 4,5/5
Conto 15
O dia do desmoronamento
Conta sobre a visita do governador à cidade atingida por um terremoto. Trata de como os políticos agem nessas situações, da demagogia e pouca importância dada ao sofrimento do povo. 3,5/5
Conto 16
A herança de Matilde Arcángel
Filho passou toda vida sendo culpado pelo pai pela morte da mãe, q morreu logo a ele nasceu, atropelada por um cavalo. Triste acompanhar a dor de um menino que carrega a culpa q não é dele. 3/5
Conto 17
Anacleto Morones
Dez senhoras procuram um homem para que testemunhe para conseguir a canonização do Niño Anacleto. Ao longo da história algumas vão desistindo e indo embora, frente ao ateu que só blasfema contra o "Santo". Conto bem divertido e com um final muito bom. 5/5