Álbum de Família

Álbum de Família Nelson Rodrigues




Resenhas - Álbum de Família


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Carol Pita 13/01/2021

Bem Nelson mesmo
Conhecedores da obra de Nelson Rodrigues sabem do que eu to falando. Com direito a muitos personagens que a primeira vista parecem absurdos, mas se formos analisar, existem mais perto do que imaginamos. Incesto, traição e hipocrisia são os principais temas levantados, ninguém se salva. Eu particularmente amo, mesmo sabendo que é uma tragédia, nao consigo prender o riso em certas situações, um riso nervoso, fingindo que só acontecem coisas assim na ficção. Uma grande crítica a tudo e todos. Viva Nelson.
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Marco 08/11/2020

Nelson ao extremo
Nelson leva sua proposta de expor a hipocrisia humana ao extremo nessa obra. Por meio da sexualidade e da violência , de forma tão radical que beira (ou ultrapassa) o caricato
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Giu 25/10/2020

Nelson não é para qualquer um
Nelson choca os leitores com a crueldade humana. Escreve sobre tabus, assuntos proibidos diante da mesa de refeições, se alguém fizer menção aos pais, este levará uma surra por falar sobre algo tão ultrajoso. É por isso que eu gosto do Nelson. Ele está aqui para desconstruir a família tradicional brasileira, nos mostrando que todas elas guardam um escândalo sujo e grotesco. Ele nos mostra isso sem nenhum pudor.
Este livro aborda assuntos como pedofilia e incesto. É forte e escrachado. Se você não consegue lidar com estes assuntos, não leia Álbum de Família. Mas eu indico muito a leitura.
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a.lida 16/05/2020

Leia sem saber da sinopse
Eu me surpreendi com essa obra. Eu já tinha lido "vestido de noiva" do mesmo autor, mas dessa vez foi diferente. Foi banal! Você capta a tenso, o amor e ódio em uma mesma sala vinda de diversos personagens, além de seu caráter errado com pedofilia e incesto.
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Dessa 07/05/2020

Muito bom!
O livro é bem maluco. É a história de uma família que um realmente tem sentimentos pelo outro. São relações estranhas, uma história pesada, razão pela qual o livro foi banido na época. É uma ótima leitura, rápida e importante para a literatura brasileira. Vale a experiência!!
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Sara Muniz 20/04/2020

RESENHA - ÁLBUM DE FAMÍLIA
Álbum de Família é a principal peça do teatro desagradável de Nelson Rodrigues. Publicada em 1946, a peça foi censurada e não pode ir aos palcos por quase vinte anos. Depois da censura, a peça despertou os mais variados tipos de reação no público, que acharam a peça mórbida, nojenta e extremamente... desagradável.

Em Álbum de Família, temos uma família que aparenta ser tradicional, mas que possui a essência mais fétida e podre possível. Jonas é casado com Dona Senhorinha, mas deseja a filha Glória. Para saciar seu desejo pela própria filha, ele tem relações sexuais com meninas de 13 a 15 anos, trazidas por Dona Senhorinha e por Rute, sua cunhada.

Dona Senhorinha é apaixonada pelos filhos homens: Edmundo, Guilherme e Nonô, mas acaba tendo relações sexuais somente com Nonô. Edmundo se casou para esquecer a paixão que tinha por D. Senhorinha (a própria mãe), mas acaba se matando quando descobre de sua relação com Nonô. Guilherme era seminarista, mas também desejava Glória, sua própria irmã. Quando percebe que não pode ficar com ela, ele se castra, mata ela e depois se mata. Glória está no internato no começo da peça, tendo relações com uma garota, mas sem conseguir evitar o amor que sente pelo próprio pai (Jonas), a quem ela compara à figura de Jesus Cristo. Por fim, temos Nonô, o filho louco do casal que vive pelado nas florestas, uivando e que se envolve com a própria mãe. Ao final, D. Senhorinha mata Jonas aos tiros por ele tentar estuprá-la em cima de um caixão.

Essa é a ação da peça, recheada de incesto, homicídio, mutilação, adultério, assassinato, estupro, sexualidade e... Religião. A família é extremamente religiosa, os próprios personagens tem nomes religiosos, mas com representações contrárias.

A ideia de Nelson Rodrigues era justamente criticar a hipocrisia humana, o falso moralismo e a sujeira moral. Essa peça é um das peças do ciclo mítico de Nelson, no qual ele trata como instinto natural a tendência ao incesto, estupro, adultério, etc...

De fato, a peça é desagradável. Quando você pensa que não tem como mais alguém estar envolvido na confusão, mas alguém surge. Causa estranheza, repulsa, dá vontade de largar o livro ou de continuar firme para ver a que ponto vai chegar. Recomendo a leitura se você procura algo totalmente diferente de tudo o que já se viu na literatura brasileira.

PARA A RESENHA COMPLETA COM TRECHOS, LINKS E IMAGENS DO LIVRO, VISITE O MEU BLOG:

site: https://interesses-sutis.blogspot.com/2019/01/resenha-album-de-familia.html
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Lipe 11/04/2018

Uma obra despida de todos os pudores e conceitos morais.
Uma família onde todo o amor carnal e todo o ódio são restrito entre eles mesmo. Temos a filha que é apaixonada pelo pai e odeia a mãe. O irmão que é apaixonado pela irmã e odeia o pai. A mãe que deseja sexualmente todos os três filhos e odeia a filha. Etc... Vemos nessa família praticamente todas as formas de incesto possíveis. E isso vai se desencadeando em uma série de tragédias. Outros temas abordados na trama são estupro e pedofilia, ao ponto de uma cena em que uma menina de 14 anos que está em trabalho de parto é violentada sexualmente pelo pai de seu filho. Não posso deixar de mencionar o humor negro presente em várias cenas que de tão absurdamente perversas chegam a ser cômicas.
Indico fortemente, mas é preciso ter estômago pra encarar.
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Maitan 18/02/2018

Uma outra genealogia da moral
Se você já ouviu acusarem Nelson Rodrigues de imoral, essa peça pode se configurar como sua motivação exemplar. Certamente é uma das obras mais incômodas do autor, pois mexe com o principal tabu, talvez o interdito primordial, na vida familiar: o incesto. Não é difícil imaginar o seu público se escandalizar ao ver a peça e nem por que ela permaneceu 20 anos censurada pela ditadura.

Se o leitor pretende conhecer a obra dramatúrgica de Nelson Rodrigues, sugiro não começar por esta, para não se assustar. Vá com calma, leia “Vestido de Noiva”, que é sua obra maior dada a importância na fundação do teatro moderno no Brasil, leia também “O beijo no asfalto” e, entre suas peças míticas, sugiro começar por “Senhora dos Afogados”.

O susto de “Álbum de família”, entretanto, pode esconder a maestria com que Nelson articula elementos míticos e psicológicos em uma roupagem de incrível verossimilhança em ambiente familiar tanto do início do século XX, período em que o enredo se desenrola, quanto de meados e fins do mesmo século. Até mesmo nas gerações que atravessaram o milênio, sua atualidade não é amenizada, ainda que o exagero possa se destacar ou que os limites da possibilidade pareçam ser forçados.

A referência a Nietzsche no título desta resenha é acidental, mas me arrisquei a mantê-la. Mesmo sem a profundidade do pensamento do filósofo alemão – e nem deveria ser esse o papel da arte dramática –, e sem tocar em tudo o que Nietzsche alcança, Nelson Rodrigues realiza uma leitura da sociedade que somente a arte poderia realizar. E, para não deixar de lembrar outro pensador que possibilitou o surgimento de peças como essa, Freud, também a seu modo, explica.

Arrisco-me, portanto, a afirmar a peça “Álbum de família” como um farol a iluminar os inalcançáveis e obscuros laços ancestrais. Porque o leitor atento verá que a sexualidade entre esses sujeitos é apenas uma das faces dessas construções existenciais, e mais, que a culpa e o peso devastador dos sentimentos que se enredam nessas relações é seu sintoma irremediável. Mas se há uma doença que governa o incesto e seus sintomas, que levam à autoamputação, ao fratricídio ou ao suicídio, o vírus mais apressadamente encontrado é a imoralidade. Se o leitor insistir mais um pouco, não escapará à questão de que a negação da moralidade, por consequência lógica, só pode ser produto dessa mesma moralidade.

Imagino os apocalipses que enfrentaram os ancestrais até que conseguissem sistematizar suas interdições sociais, moldando a duras penas modelos de conduta em busca de sua autopreservação e progresso, e como essa necessidade teve importância fundante nas religiões e culturas espalhadas pelo globo. Mais do que jogar luz sobre aquilo que ninguém quer perguntar, não dar as repostas é um ato de cautela, pois se estamos sujeitos a tamanho governo psicológico, que nos ultrapassa infinitamente, de que modo podemos enxergar a realidade mais imediata senão pelo delicado alerta de que “é preciso ter calma, pois, veja, o buraco é mais embaixo”?

Há algo por detrás dos escândalos de amor e ódio no seio da família. Não se trata, então, apenas do amor sexual, que suja as relações de pai e filha, mãe e filho, irmão e irmã, marido e cunhada. O escândalo é também a reação automática daquele que não se desarmou o suficiente para encarar a experiência que tensiona sua própria existência.

Nelson Rodrigues tem extrema frieza para neutralizar sua moralidade própria ou sua crítica à hipocrisia, enquanto autor, para conseguir alcançar aquilo que há de mais arcaico nos laços familiares e sociais, aquilo que parece ser justamente o disparador dessa necessária moral que teve de surgir e sustentar as famílias para que elas avançassem até a condição civilizatória. E é esse seu principal êxito, não o de esclarecer qualquer fato gerador de nada, mas questionar, com a mão pesada de uma alma sensível, a ordem das coisas no mundo e das relações na vida. É esse o fator que faz de Nelson Rodrigues não só o maior dramaturgo brasileiro da história, mas um dos maiores do mundo de sempre.
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juliana lois 28/03/2016minha estante
muito boa resenha! ótimos apontamentos.


Ana 02/09/2018minha estante
só uma observação: a obra foi censurada por 20 anos, mas isso antes da ditadura militar, ela é de 1946. Em 1967 (durante a ditadura) ela foi liberada e encenada, já que não era um teatro de luta, de crítica ao governo, ao autoritarismo, etc. como o do Boal. Nelson inclusive apoiou a ditadura...




Rodrigo Lessa 18/07/2013

Sem censura.
Por indicação do meu curso de arte, comecei a ler o livro ''Albúm de Família'' em pdf e em menos de 24hs eu terminei-o. Foi o primeiro livro de Nelson Rodrigues que li - somente o texto ''O Macaco'' que eu sabia sobre ele - e acabei amando.

A história do livro é - em sua maioria - escrita predominantemente por diálogos entre os personagens e o narrador (speaker). É escrita em forma de ''atos'' - possui dois - e cada um mais surpreendente que o outro. Algo interessante a citar é que antes que os diálogos começassem, eram feitas fotografias no palco (o livro é escrito como peça de teatro) e isso nos dava a noção do futuro ambiente e seus personagens. O speaker era alguém que tinha uma visão ''boa'' sobre a família, só que lendo a cada página, sabíamos que a história se opunha a isso.

A história se desenrolou em alguns ambientes onde um se interligava com o outro (ou com a fala de alguém): Fazenda; Convento; Igreja... E em cada situação algo novo aparecia, mais um conflito era posto. Gostei disso, pois me surpreendi bastante com todos os personagens. Suas personalidades eram todas distintas e próprias. Nelson Rodrigues é realmente O CARA. Não sei nem como me expressar em palavras para classificar essa obra extraordinária que deveria ser conhecida mundialmente. Devia! Porém compreendo também o quão é poderoso o efeito da censura e até hoje em dia, essa obra não sendo mais censurada, acredito que várias pessoas a repugnariam. Mas isso, é uma verdadeira arte! Uma arte de escrever detalhadamente com um dicionário riquíssimo que me da inveja.

Não fiquei surpreso que eu tenha gostado tanto deste livro. Afinal, li ''Amor de Perdição'' de Camilo Castelo Branco e acabei me apaixonado por literatura, das antigas. E assim, então, ''Albúm de Família'' entra para a lista dos meus favoritos devido à todos os requisitos terem atingido a nota máxima por mim.
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Lucilene 12/07/2012

Resenha crítica sobre a obra "Álbum de família" UPF Letras.
ÁLBUM DE FAMÍLIA


*Angélica Moi
**Lucilene de Menezes Pavoni


Resumo: A partir da leitura da obra Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, este artigo apresenta a análise do desnudamento do universo interior e as ações de uma família, em que os extremos do mesmo sentimento se fazem presente. Encarando o incesto como o impulso mais recôndito da natureza humana, exercício de autenticidade absoluta.
Palavras-chave: Modernismo. Família. Religião. Incesto.

Abstract: From a reading of Nelson Rodrigues` Family Album, this article presents the analysis of stripping the inner and the actions of a family in which the extremes of the same sentiments to do this. Facing the incest as the innermost impulse of human nature, the exercise of absolute authenticity.
Keywords: Modernism. Family. Religion. Incest.















_________________
*Estudante do Curso de Letras da Universidade de Passo Fundo.
**Estudante do Curso de Letras da Universidade de Passo Fundo.

Introdução:


A obra Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, será abordada neste artigo com a função de estudo e pesquisa, analisando amor e ódio presentes na mesma família, religiosidade como ponto de fuga destes sentimentos e a dramaturgia dos três atos que compõem a obra. Na peça de Nelson uma das principais características é a ausência de metáforas, usando termos desprovidos de fantasia.
Em seu livro, Nelson aborda temas universais, que são ainda hoje, considerados tabus pela sociedade; além disso, expõe relatos de sua vida em forma de metáforas sociais.


1 Nelson Rodrigues o pioneiro do Modernismo Teatral


Nelson Rodrigues consagrou-se com a obra Vestido de Noiva, qual é considerada marco zero do modernismo teatral. Em 1945, o autor Nelson Rodrigues escreve a obra Álbum de Família, qual ele próprio aprofundando seu espírito crítico a denomina de “teatro desagradável”, Nelson denominou a peça desta maneira, por ter plena consciência de que a obra poderia leva-lô a qualquer caminho, menos ao êxito. O livro foi censurado pelo governo do general Eurico Gaspar Dutra, porém o dramaturgo não concordava com a censura de sua obra e isso era normalmente presenciado em barzinhos por amigos e críticos de Nelson que explicitava sua discórdia quanto à censura: “Mas como podem censurar? ‘Álbum de Família’ é uma peça bíblica. Então teriam que censurar também a Bíblia, que está varada de incesto.” (Nelson Rodrigues).
Nelson Rodrigues é considerado o dramaturgo que inovou e a linguagem cênica e instaurou a modernidade no teatro nacional, suas obras sempre sofreram comparações com as peças gregas por tratarem de assuntos como a explicação da natureza da alma humana. A obra foi escrita em um momento, no qual só haviam encenações de comédias e este é mais um motivo para a peça Álbum de Família ser considerada um símbolo de ruptura no teatro nacional, por este episódio o dramaturgo também foi comparado a Shakespeare.

[...] o autor inglês foi o responsável pela renovação do gênero dramático de seu tempo, aproximando sua literatura teatral da estética renascentista, ao propor a brutalidade humana como estopim das mazelas da sociedade e ao dar novo rumo a tragédia clássica. (Rodrigues, 2008, p. 23)


Nelson ainda aborda em sua obra temas universais (adultério, incesto, violência, homossexualidade, preconceito, prostituição e pedofilia) considerados tabus pela sociedade da época.
Muitas pessoas pegavam na prateleira a obra de Nelson por estarem procurando uma peça pronta, porém fracassavam na encenação por não praticarem uma leitura correta do drama, por isso é tido como um deus (ou um demônio) por muitos profissionais das artes cênicas. Em suas obras Nelson “agride” com a finalidade de expor questões que atormentam a sociedade.


2 Elementos da narrativa

Ao ler uma obra teatral, tem-se uma sequencia quase ininterrupta de diálogos, quase sem narrador e a cena é vista aos olhos do leitor, ele vive a cena. A cena o coloca a uma distância mínima de um discurso direto.


2.1 Tempo


Embora a obra tenha um tempo definido, de 1º de janeiro de 1900 a 1924 é considerada uma tragédia atemporal. O alvorecer do século representa simbolicamente o início da vida (Magaldi, 1981, p. 14-15). A obra escrita é ajustada ao público após quinze anos de getulismo, quando o general Eurico Gaspar Dutra assume o poder.
Além da censura do livro de Nelson, Dutra fecharia os cassinos; em 1947, o Partido Comunista; e pelos cinco anos seguintes, faria um governo de torcedor do Bonsucesso.


2.2 Espaço

O núcleo da história ocorre na fazenda de Jonas localizada “em S. Jonas, em S. José de Golgonhas, nome que parece fundir o Gólgota de Cristo e Congonhas, a cidade colonial que ostenta os profetas do Aleijadinho” (MAGALDI, 1981, p.15). Na fazenda a família de Jonas parece estar em um complexo egocêntrico, onde não há nenhum indivíduo capaz de parar com as ações brutais realizadas pela essência familiar. Também acontecem cenas em uma igrejinha, onde Glória vê a imagem do pai no lugar da imagem de Jesus e em um convento, no qual é abordada a questão do lesbianismo.


2.3 Enredo


A peça, Álbum de Família, é uma tragédia que conta a história do núcleo familiar do patriarca Jonas. Conforme Magaldi, há no enredo dois vetores dramáticos, definidos como o vetor próximo e o vetor distante.
O vetor próximo é a relação que Glória, filha mais nova de Jonas, mantêm com Tereza no internato que estudam. [...] Descoberta a relação, ambas são expulsas, e a volta de Glória para casa, como em tantas voltas de protagonistas em obras famosas (Agmenon e Hamlet, por exemplo), precipita os acontecimentos. (Magaldi, 1981, p.16)
O vetor distante baseia-se na relação incestuosa entre D. Senhorinha e Nonô. Este fato produz dois efeitos decisivos no desenrolar do drama, Nonô enlouquece e vai nu, rondar a casa da família e o segundo efeito é as atitudes de Jonas com sua esposa, desflorando meninas com idade entre 12 e 16 anos, as quais lembram sua filha Glória. Todas as atitudes de Jonas contra a esposa acontecem dentro da própria casa, tornando-se uma vingança permanente a D. Senhorinha.
Uma das meninas que Jonas teve relação sexual é percebida pelos leitores/ espectadores, por ficar gemendo durante as cenas, em um dos quartos da casa da fazenda. Seus gemidos são o resultado por estar grávida e não conseguir realizar o parto por ser ainda uma menina e não ter o corpo formado para isso. Jonas mesmo percebendo que a menina irá morrer, ainda é capaz de naquelas condições abusá-la pela última vez.


(Edmundo levanta-se. A porta do quarto abre-se e vem saindo Jonas, ao mesmo tempo que se houve a voz da mulher grávida, em maldições. DETALHE IMPORTANTE: Jonas vem apertando o cinto e só termina esta operação quando chega junto da esposa.)
MULHER GRÁVIDA (na voz grossa de sempre) – Miserável...
Tu me paga... (Rodrigues, 2004, p. 70-71)


Nelson propõe dois planos em sua obra, um deles é o que acontece na fazenda com a família de Jonas e Senhorinha, e o outro plano é o que o fotógrafo e o speaker estão. Eles, para o leitor/espectador, estão fora das ações escrupulosas da família, o fotógrafo os apresenta como se fossem uma família convencional “[...] O fotógrafo está em cena, tomando as providências técnico-artísticas que a pose requer. Esmera-se nessas providências, pinta o sete; ajeita o queixo de Senhorinha; implora um sorriso fotogênico. [...] (Rodrigues, 2004, p. 9) e o speaker assume nesta trama o papel de narrador, muitas vezes passando informações erradas ao público. “[...] NOTA IMPORTANTE: o mencionado speaker, além do mau gosto hediondo dos comentários, prima por oferecer informações erradas sobre a família”. (Rodrigues, 2004, p.9).
Percebe-se com isso que ambos estão alheios as atitudes da família, como se estivessem vendo um filme passar, e comentando sem o conhecimento que o leitor/espectador possui sobre os incestos que a família comete e tem vontade de cometer.


2.4 Personagens


Os componentes do grupo familiar, também convivem com Tia Rute, esta é a irmã solteirona de Senhorinha. A convivência entre todos é baseada entre amor e ódio, o que causa a concentração de vários tipos de incestos. Tia Rute é responsável por conseguir meninas entre 12 e 16 anos, para que Jonas possa satisfazer seu apetite sexual, (as ações de Jonas transformam o sexo em uma metáfora social, o estupro das classes pobres do Brasil), pois Jonas é apaixonado por sua filha Glória, que vive em um convento onde mantêm uma relação amorosa com Tereza, sua colega de quarto.

Teresa (sempre apaixonada) – Me beija?
(Glória beija na face, com certa frivolidade)
Teresa – Na boca!
(Beijam-se na boca; Teresa de uma forma absoluta.)
Teresa (agradecida) – Nunca nos beijamos na boca – é a primeira vez!
(RODRIGUES, 2004, p. 12)

Dona Senhorinha odeia sua filha, porém tem o amor incontestável de seus dois filhos, Edmundo e Nonô. Nonô o filho mais novo fica louco após ter relação sexual com a mãe e começa a viver como um animal nos arredores da fazenda. Edmundo marido de Heloísa, não consegue manter relações sexuais com a esposa por ser apaixonado pela mãe e acreditar que um filho nunca deveria sair do útero materno, em função desse amor o filho suicida-se. Guilherme que também é apaixonado por Glória vai para o seminário onde se mutila, volta para casa ao ficar sabendo que a irmã foi expulsa do convento, por lá manter relação amorosa, no encontro entre os dois eles acabam mortos pelo próprio Guilherme que após ter a recusa de Glória para que fugissem juntos, não consegue imaginar a irmã nos braços de seu pai.
Em função de todas essas ações, R. Magalhães Jr., alinhou os personagens como brutos, eróticos, anormais, tarados, digamos mesmo monstruosos, chafurdando na degradação e todos eles dominados por um pensamento único: o de continuarem se degradando.


3 Antecedentes


Na “luta” contra a proibição de sua peça, Nelson Rodrigues enfrentou muitos críticos, mas também teve a ajuda de nomes já consagrados como, Sérgio Milliet, Agripino Grieco, Rachel de Queiroz, Emil Faraht, Nelson Werneck Sodré, Waldemar Cavalcanti entre outros.
O escritor Álvaro Lins declarou em uma nota do jornal “Correio da Manhã”, considerar a obra vulgar, chula, primária, grosseira, um equívoco como tragédia e que preferia que a obra tivesse apenas uma cena de incesto, como em Édipo Rei, de Sófocles.

Em julho, quando viu que o veto seria mantido, Nelson publicou a peça em livro, em nome de uma misteriosa “Edições do povo” [...] Álbum de Família, que podia ser vista por platéias adultas, pagando ingressos, estava agora ao alcance de qualquer pessoa que soubesse ler. (Castro, 2004, p.197).



Por outro lado Manoel Bandeira não fez apenas elogios à obra, mas também ao próprio autor. “Nelson Rodrigues é poeta [...] o que mais me dana é não ter como ele esse dom divino de dar vida às criaturas da minha imaginação. (Castro, 2004, p. 160)
O poeta Ledo Ivo afirmou sua defesa ao amigo Nelson, dizendo que imoral não é a peça, mas a sua censura.
Para Sábato Magaldi, Álbum distingue-se como uma das obras mais ousadas e ambiciosas de Nelson e era natural que a peça despertasse grande celeuma a não fosse aceita por uma crítica inspirada nos modelos do bom gosto.


[...] A falta de cerimônia com a qual o incesto é tratado deve provocar a rejeição das sensibilidades menos afeitas ao exercício de autoconhecimento sincero. O horror de admitir o incesto estimula o horror pela própria peça.
Só pelas questões que levanta, Álbum de Família tem um lugar privilegiado em nossa dramaturgia. Que leitores e o público precisam reconhecer. (Magaldi, 2004, p.22)


Ruy Castro foi a fundo e pesquisou a história de vida de Nelson, construindo a bibliografia do dramaturgo, O Anjo Pornográfico. Para conseguir escrever a obra, Castro realizou centenas de entrevistas com 125 pessoas que conheceram intimamente Nelson Rodrigues e sua família. Elas o ajudaram a reconstituir essa assombrosa história, capaz de arrancar sorrisos e lágrimas. (Castro, 2004)
Com a vitória dos moralistas a peça Álbum de Família, escrita no final de 1945 e censurada em fevereiro de 1946, só foi liberada em dezembro de 1965, ocorrendo sua encenação apenas dois anos depois em 1967 no Teatro Jovem, no Rio de Janeiro.


4 Análise


Ao estudar a obra de Nelson Rodrigues, Álbum de Família, pode-se perceber o retrato de uma família que aborda em seu cotidiano o tema do adultério. Alguns dos fatos descritos por Nelson na peça são episódios que fizeram parte de sua vida, como por exemplo, a traição de seu avô que era aceita pela avó e o assassinato de seu irmão Roberto com um tiro na barriga.
Em seu primeiro ano de escola, Nelson ganhou um concurso de redação, onde o marido vê a esposa em seu quarto sobre a cama e um vulto pulando a janela. Em 1945, Nelson expõe esta cena ao público leitor e espectador da peça, Álbum de Família, onde é representada por D. Senhorinha e seu filho mais novo Nonô.
Na peça, as fotos da família têm um papel fundamental, pois além de representar uma família convencional, ajudam também no desenrolar dos fatos.
Com assuntos que sempre causaram espantos na sociedade, o dramaturgo sabia que a peça nunca o faria chegar ao sucesso, por isso se autodenominou como um escritor maldito, abordado já neste artigo, mas mais do que saber a maneira que escrevia, Nelson sabia o que escrevia, então além de se denominar autor maldito e fazer criticas à Bíblia, o dramaturgo também se denominou um Anjo Pornográfico. ”Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.” (Nelson Rodrigues)
Nelson sempre sofreu muitas criticas, mas por outro lado conquistou admiradores tendo seu nome elevado por isso. Suas peças sempre causaram desconfiança, debates e muita curiosidade. Essa curiosidade era intrigante, contudo muitos estudiosos se detiveram em analisar suas obras e sua história de vida que também pode ser vista como uma verdadeira guerra.
A peça, Álbum de Família, aqui estudada é um marco de ruptura, pois ainda hoje causa discussões sobre os temas abordados em uma linguagem sem metáforas.


Conclusão


Este artigo procurou analisar a obra que é considerada o marco de ruptura do modernismo teatral. A obra abordada estuda a maneira de convívio de uma família, que parece ser a única existente no mundo, mostrando-se totalmente anti-convencional, pelos membros do núcleo familiar se relacionarem sexualmente.
Outro aspecto muito abordado na peça é a religião, onde se mostrou ligada aos patriarcas da família, tanto no nome, como em sua forma. Jonas relacionando-se com Jesus e D. Senhorinha sendo mostrada inferiormente a Nossa Senhora, pois não serve de modelo para ninguém.
A partir dessa obra, nota-se que o dramaturgo Nelson Rodrigues, consegue ainda hoje chocar sua platéia, por usar em sua obra assuntos capazes de modificar e representar uma sociedade em qualquer época e contexto social.







Referências:


CASTRO, Ruy. O Anjo Pornográfico. São Paulo: Companhia das Letras, 2ed
-2004.

MAGALDI, Sábato. Teatro completo de Nelson Rodrigues: Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981.

RODRIGUES, Nelson. Álbum de Família. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.



RODRIGUES, Sérgio Manoel. Carnavalização e paródia em Álbum de Família, de Nelson Rodrigues. [artigo cientifico]. Disponível em Acesso em: 05 de outubro de 2010.
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Fabio Shiva 30/08/2010

Escrita em 1946, “Álbum de Família” ficou quase vinte anos proibida pela censura
Foi encenada pela primeira vez em 1967.

Lendo a peça, o que causou surpresa não foi a proibição em 46, mas a liberação em 67!

Por essa primeira, pude entender um pouco o que seriam as tais de “peças míticas”...

As ações e acontecimentos parecem mais comprometidas com o “onírico” que com a “realidade”. A história parece aflorar dos porões do inconsciente. Vendo por essa ótica muito peculiar, pela perspectiva do sonho, começa a fazer mais sentido o bizarro mundo concebido por Nelson Rodrigues. Um mundo onde toda felicidade é ilusão passageira e onde só pode haver amor onde houver também incesto. O resto é ódio, desprezo ou indiferença.

Que família, essa do Nelson!
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Elliene 25/08/2010

Bizarro esse livro! Todo mundo da família se pega, não gostei do enredo.
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Danielle 28/01/2010

A obsessão de Nelson Rodrigues pelo tema incesto, que aparece em grande parte de suas obras de forma mais ou menos sutil, aqui aparece totalmente escancarada. Apesar de acostumada à obra rodrigueana, senti um certo desconforto,e creio que o objetivo dele tenha sido esse mesmo.
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