Carla Brandão 04/04/2020Todo o sofrimento causado por qualquer conflito de grande porte ganhou na Segunda Guerra tons ainda mais dramáticos devido ao nazismo e ao Holocausto. Relatos de sobreviventes dos campos de concentração não são novidade. Em “O órfão de Hitler”, porém, o premiado autor Paul Dowswell apresenta ao leitor uma abordagem diferente desse triste capítulo da História.
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Piotr Bruck vivia com os pais em uma fazenda na Polônia quando a guerra começou. Após o país ser invadido pela Alemanha, uma nova vida começou para ele: seus pais foram mortos e Poitr foi levado para um orfanato. Por ter ascendência alemã e aparência nórdica, era um perfeito exemplar da “raça ariana”. Graças a tais características, foi entregue a uma família alemã, passando a viver em Berlim.
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A nova família de Piotr - agora Peter - era obediente a todos os mandamentos de Hitler. O menino, inclusive, precisa participar da Juventude Hitlerista, instituição nazista que tinha como objetivo treinar os jovens de acordo com o que defendiam. Não demora para que ele se sinta incomodado com comentários maldosos a respeito de judeus e atitudes agressivas contra povos considerados de menor valor. Mas era preciso disfarçar o tempo inteiro seu descontentamento, pois traidores deveriam ser denunciados à Gestapo, mesmo por membros da família.
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Diante de todo o absurdo presenciado, vivido e ouvido, fica difícil para Peter se manter neutro. É nesse momento que descobre que existem pessoas que pensam diferente da ideia hegemônica. O problema é que tal descoberta pode colocar em risco a sua vida.
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Paul pesquisou bastante para escrever o livro. Apesar de se tratar de ficção, uma casa de bonecas cheia de elementos nazistas, uma canção natalina homenageando Hitler e as pesquisas absurdas com seres humanos são alguns dos elementos baseados em fatos. A leitura já causaria incômodo se os elementos fossem ficcionais, sabendo que são reais, a sensação ruim aumenta.
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Ao colocar como núcleo principal uma família tradicional e defensora dos ideais nazistas, o autor nos convida a conhecer um lado menos explorado em livros sobre o tema.
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Foi um tanto perturbador ler frases tão cruéis partindo de uma criança, justificativas preconceituosas dadas por um perfeito pai de família para atos absurdos e a fé cega de uma mãe zelosa em discursos tão carregados de ódio.
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Mesmo sendo uma leitura difícil devido ao tema, ela flui muito bem. Fiquei envolvida desde o início. Tive raiva, tive asco, tive medo e tive esperança. Os capítulos finais são cheios de tensão e é impossível largar o livro até que saibamos o seu desfecho.
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