Vanessa Rodrigues @letrasdavanessa
22/12/2017Escrito por Jeannette Walls, em 2007, Castelo de Vidro ganhou às telonas em 2017, com a personagem principal sendo interpretada pela brilhante Brie Larson.
“Filha, a gente não tem dinheiro para o presente, mas escolhe uma estrela no céu, e fica com ela pra toda a vida.” Todo mundo pode dar uma segunda chance à vida. Em suas memórias, a jornalista Jeannette Walls nos mostra, sem pieguices e respostas fáceis, que tudo na vida é mesmo relativo, que as adversidades podem ser vividas com leveza, somando aprendizado e grandeza às nossas biografias.
Castelo de vidro conta a história da família Walls e seu excêntrico modo de encarar a vida. O pai de Jeannette, Rex, possui uma filosofia de vida muito peculiar e, junto com a esposa artista plástica, conduz os 4 filhos por uma infância com muitas aventuras, mas também muitas situações desumanas. É até difícil não lembrar dessas situações sem ficar com um nó na garganta.
Esse é um livro biográfico, no qual Jeannete conta em retrospectiva a história de sua família, após ver a mãe mexendo em latas de lixo na cidade de Nova York. O livro é dividido em partes separadas mais ou menos pelas cidades onde a família morou. Jeannette narra cronologicamente desde seus 3 anos, começando com a cena em que colocou fogo no próprio corpo ao cozinhar salsichas para comer. Aos 3 anos! 3 anos! Esse fato, seguido da fuga dela, conduzida pelo pai, do hospital, só se deu pois sua mãe acreditava que ela já era madura o suficiente para preparar seu próprio alimento. Aos 3 anos!
A história é tão absurda que algumas cenas poderiam muito bem ter saído da cabeça do mais criativo e perverso autor de ficção e dói saber que a negligência com a qual esses pais tratam os filhos foi real, é real. Jeannette é jornalista e narra muito bem a história, em primeira pessoa e com uma certa inocência ao descrever as cenas da infância, que parece até mesmo que foi uma criança quem escreveu. A narrativa é bem descritiva, mas tem diálogos na medida certa, tornando o ritmo da leitura bem fácil e tranquilo. A história é atual e os lugares são reais. Acho que um mapa marcando as cidades pelas quais a família passou seria bem interessante para a diagramação do livro que conta também com apenas uma foto do casal. Acredito que livros biográficos funcionam ainda melhor com fotos das pessoas, pois aproximam ainda mais o leitor da história. Mas enfim…
A autora preocupa-se em narrar os fatos e o que ela estava sentindo no momento. Não conseguimos ver muito sobre a personalidade dos irmãos dela, a não ser no final, quando já estão adultos e suas ações, narradas pela escritora, traduzem um pouco de seus sentimentos durante toda a narrativa.
Esse livro mexeu tanto comigo que fiquei por várias vezes fora do ar pensando nos absurdos da história, comentei com minha família diversas situações do livro e pesquisei fotos, fatos e informações. Parece que minha mente se recusa a acreditar que alguns dos absurdos narrados sejam reais. Meu coração de mãe sentiu vontade de pegar cada uma daquelas crianças no colo e ninar, pois é impossível não sentir empatia por elas. E, por mais que pareça impossível no começo, também dá para entender um pouco de como a mente dos pais funcionava, e encontrar algumas explicações (Mas não justificativas!) para o que eles faziam.
Estou super ansiosa para ver o filme, mas ainda não tive a oportunidade. Esse livro é recomendação de olhos fechados para quem gosta de biografias, dramas familiares, histórias de superação e de amor familiar. O livro termina com um gosto amargo, e uma vontade gigante de correr para casa e pegar minhas filhas no colo.
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https://senaosou.wordpress.com/2017/12/17/resenha-castelo-de-vidro/