Leonardo1436 29/01/2023
Vale tudo pela honra?
Gabriel García Márquez foi um dos maiores ícones literários de todos os tempos. Figura importantíssima da América Latina, foi vencedor de vários prêmios, dentre eles o Nobel de literatura em 1982. García faleceu em 2014, porém imortalizou várias vezes sua querida Colômbia em seus mais de 30 livros publicados e premiados. Agora, caso ainda não conheça, é chegado o momento de se aprofundar um pouco mais em uma de suas maiores obras, Crônicas de Uma Morte Anunciada, publicada originalmente em 1981.
Nesse belo Romance, toda trama gira em torno de uma morte literalmente anunciada. O narrador da história não é revelado, mas apresenta muitos fatos sobre como se deu o crime. De inicio como ocorre em muitos países latinos, uma festa de casamento é um evento memorável, muita bebida, comida, música e lá se vai a madrugada de comemorações. Após uma grande noite de festas, a manhã é marcada pela morte de Santiago Nasar, um homem jovem com fama de sedutor, ríspido e conhecido por suas aventuras amorosas na cidade. O que marca essa morte é que muitos tinham conhecimento dos motivos, muitos sabiam que aviam prometido mata-lo e mesmo assim não fizeram nada para tentar evitar. Como se o funesto desfecho fosse inevitável.
O casamento fantástico se apresenta um casal improvável. Bayardo San Roman (novo na cidade, de família rica e tradicional) ao ver a apagada e nada promissora Ângela Vicário, promete a si mesmo que casaria com a jovem. Naquele tempo, era de suma importância apresentar-se aos pais da noiva e anunciar suas intenções, mesmo conhecendo muito pouco a candidata. Ângela sabe que não merece aquele homem, é muito mais do que ela esperava, e mesmo não conhecendo/amando o pretendente, embarca na oportunidade instigada por seus pais. Um casamento como esse é como um cometa, que acontece uma vez na vida e outra na morte. Começando errado, cheio de segredos, o casamento estava fadado ao caos e numa cidade tão pequena, impossível as fofocas e buchichos não ganharem força.
O livro é relativamente curto, possui 157 páginas e falar muito mais sobre o enredo pode estragar sua experiência durante a leitura. Algumas questões chamam a atenção e é possível traçar um paralelo com o mundo real. Questão ética e moral sobre honra, sobre proteção, sobre as mentiras bem intencionadas e um terrível desfecho. O autor consegue de forma genial relativizar crimes de uma forma a convencer o próprio leitor, de que não teria outro jeito. Dilemas morais que nos dias de hoje seriam facilmente resolvidos com uma boa e franca conversa, mostra que antigamente, numa cidade de costumes tão tradicionais e arraigados , é inconcebível certos acontecimentos.
Muito próximo do que realmente acontece na vida real, o livro tem um desfecho simples, direto, implacável. Uma narrativa única, atemporal, conta a história de forma não linear indo e vindo no tempo, apresentando provas, e conversas antes do terrível dia. García Márquez assim como uma boa ficção policial, aposta num olhar investigativo que permite ao leitor montar um quadrante de provas e fatos que levaram a tudo acontecer como aconteceu. Um crime arquitetado pelo destino, que uma simples mudança na ordem dos fatos, teria um desfecho totalmente diferente.
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