Resenhas - Crônica de uma morte anunciada

Fabrício Franco 07/05/2024

Jornalismo Literário? Literatura jornalística?
Uma narrativa não linear, contada por um narrador anônimo através de memórias, desafiando a estrutura tradicional das histórias de detetive ao revelar desde o início aspectos centrais do crime. No entanto, o verdadeiro foco da obra reside no motivo pelo qual toda uma cidade permitiu que o crime ocorresse, sem fazer esforços sérios para impedir ou alertar a vítima, apesar de saberem que o assassinato estava prestes a acontecer. Os habitantes da cidade, incluindo o narrador, tornam-se cúmplices deste assassinato, ao tolerá-lo indiretamente através da inação. Eles permitem que o crime aconteça devido a uma percepção hipócrita de moralidade e honra, enraizada nas normas comunitárias. O autor explora, assim, temas como a defesa da honra, xenofobia e abuso de poder entre diferentes classes sociais.

Desde o título "Crônica de uma Morte Anunciada", mesclam-se realidade e ficção, pois a crônica, historicamente, narrava eventos verídicos de forma cronológica. O narrador procura reconstruir o dia fatídico com a maior precisão possível, apesar das imprecisões nos relatos das testemunhas, utilizando elementos que aumentem a credibilidade, como a inclusão de horários específicos dos eventos. Contudo, seu espelho retrovisor trabalha com fragmentos dispersos de memórias de uma aldeia esquecida no tempo, e o tempo embaça as lembranças, dificultando a reordenação e a reprodução precisa da experiência. Alguns elementos e passagens da obra sugerem que o assassinato de Santiago Nasar realmente ocorreu, e o narrador parece ser o próprio Gabriel García Márquez, relembrando eventos de sua juventude. Sua escrita fluida e linguagem simples permitem uma leitura envolvente e contínua, incorporando elementos jornalísticos, ironia e mostrando como é possível reconstruir a realidade através da escrita literária.

Andrea Janaina 06/05/2024

Muitas camadas em um só livro
Ao me deparar com meu primeiro livro deste escritor renomado, fiquei refletindo se a obra tratava apenas da tão óbvia morte de Santiago Nasar ou se também abordava a morte em vida de Ângela Vicário. Seriam essas duas mortes tão evidentes que permitiam uma terceira leitura: seria uma reflexão sobre a desgraça ou um olhar para o entretenimento resultante das mortes de Ângela e Santiago?
Neste enredo, percebo diversas interpretações, ou como alguns afirmam, várias camadas que revelam a tragédia da existência humana. Seja a morte de um homem abastado ou a de uma mulher que se vê obrigada a casar por pressão familiar em função do dinheiro.
Será que Ângela buscou vingança contra todos de uma só vez: Santiago, por roubar-lhe a virgindade; o marido, que a devolveria; os irmãos, que seriam incriminados; o pai, que sofreria um infarto com a difamação?
Embora a maioria das análises se concentre em Santiago, foi Ângela quem mais chamou minha atenção.
Demorei um pouco para escrever estas reflexões porque ainda estava ponderando e talvez, ainda não tenha chegado a uma conclusão definitiva.
Gostei bastante da forma como o autor desenvolveu todo o enredo.

Lucas1429 05/05/2024

Nunca houve morte mais anunciada
Que livro espetacular! Foi o primeiro de Gabriel García Márquez que li, por isso não sabia exatamente o que esperar. Fiquei muito surpreso com essa história e com a narrativa que prende bastante a nossa atenção, fazendo-nos querer continuar lendo, mesmo que já saibamos o desfecho desde a primeira página.

A história é contada de uma maneira excelente. Trata-se da tentativa de um amigo de Santiago Nasar de esclarecer os fatos da ocasião da morte deste; para isso, ele procura revisitar o passado ao entrevistar os moradores do povoado que presenciaram e/ou estiveram envolvidos com a tragédia de alguma forma, incluindo aqueles que assassinaram Santiago. Com isso, o narrador (o tal amigo de Santiago Nasar) vai nos contando a história daquela desgraçada segunda-feira e o que a antecedeu com base no que ele próprio se lembra do caso e no que os entrevistados contaram. Desse modo, a narrativa ganha um teor levemente jornalístico e factual, mas isso não faz com que os acontecimentos e as falas dos entrevistados sejam simplesmente cuspidos na nossa cara de um modo completamente seco.

As diferentes perspectivas e opiniões das testemunhas sobre a tragédia e seus protagonistas, principalmente sobre Santiago Nasar, vão, de certa forma, se complementando a fim de termos uma visão mais ampla do ocorrido. Isso somado a uma narrativa não linear ajuda a manter um clima de tensão diante da inevitabilidade da tragédia "anunciada", contribuindo para que a experiência seja muito dinâmica e prazerosa.

E falando em tragédia "anunciada"… Que final foi esse, meus amigos? Acho que vai para sempre ficar marcado na minha memória. O que "pega" é que esse já é um final esperado; porém, ele é tão brutal e tão inacreditável que nos surpreende de uma maneira sem igual. É inacreditável porque TODOS sabiam que Santiago estava jurado de morte, mas escolheram não fazer nada além de passar a outrem a responsabilidade de precaver Santiago Nasar. Por isso, eu digo que os irmãos Vicário não foram os responsáveis pela morte de Santiago Nassar, ao menos não totalmente; e sim o povoado omisso que, em favor de seus preconceitos, "obrigou" os irmãos a fazerem o que fizeram. Irmãos estes que fizeram um grande alarde, na esperança de que alguém os impedisse de matar Santiago Nasar, para que, assim, não ficassem em vergonha. No fim, nunca houve morte mais anunciada.

RaquelSales17 03/05/2024

Sensacional
Que história
Curta e incrível
Nunca tinha logo o Gabriel Garcia Marquez e agora quero ler tudo o que ele escrever.
A história da morte anunciada de Santiago em decorrência de uma ?falácia?, narrada de forma agonizante e emocionante.
Ameiiiii

Renata.Mendonza 01/05/2024

Bem estilo Gabriel G. M, vários personagens entrando durante a história, conversas paralelas p acompanhar. Um livro curto, fácil e rápido de ler, só precisa de bastante atenção pra não se perder pelo caminho.

Natasha.Louredo 30/04/2024

Um romance curto e muito bem contado. Agradável, inteligente e cheio de detalhes redondos. Com personagens bem construídos e nos quais o autor se aprofunda apenas o suficiente para torná-los interessantes, com nuances, com manchas, enfim: humanos.

É uma recriação das últimas horas de Santiago Nasar. Todos sabiam que iriam matá-lo, mas ninguém se atreveu a fazer nada para impedir isso. Entre um estilo jornalístico e cotidiano, a narrativa nos conduz através de cada um dos personagens importantes deste romance para tentar compreender o acontecimento que mudou uma cidade e o futuro de seus habitantes.

Ryanhappy 28/04/2024

LITERATURA LATINA VAI DOMINAR O MUNDO
Genio genio genio genio genio genio
O que dizer de marquez apenas que ele é o tolstoi latino que faz livros dignos de novela das 8 pois a maneira como ele consegue trabalhar com situações externas e transcender barreiras que fariam qualquer escritor ter um bloqueio criativo na metade desse livro é incompreensível.
Tem magia,miticismo,comedor de grelho,homem misterioso,a virgem que nao é virgem,trambiqueiras,matadores de porcos,irmã freira,destino,morte,amor,ignorância
Sério do que mais vocês precisam para se aventurar nessa maravilha da literatura???????

Laize 24/04/2024

Triste!
Um rapaz jovem, bonito e rico morto covardemente por algo que é quase certo que não fez.
Um livro bem escrito, que me causou vários sentimentos e reações.

Recomendo

Rayssa.Hodi 24/04/2024

"Ninguém merece tuas lágrimas, e quem as merece não te fará chorar."
~Gabriel García Márquez


?

Juliana3279 24/04/2024

Crônica de uma morte anunciada
Que livro, gente? até agora impactada com a narração dessa história e com esse final que, diga-se de passagem, se necessita de um fôlego a mais pra lê-lo. É muito fácil emergir na história, a crônica prende do início ao fim e nos deixa com uma pulga atrás da orelha, tentando nos fazer desvendar se a dúvida central era verdadeira ou não. E confesso que senti um misto de coisas, principalmente agonia, ao me deparar com tamanha inércia das pessoas a não tentarem impedir o assassinato. Pq, sim, já se sabe (e nós leitores também) desde o início o que acontecerá no final. E esse é um dos aspectos que torna o livro tão curioso e fora do comum. Valeu muito a pena!

Guilherme1770 23/04/2024

Me mataram, querida
Quem morreu? Quem matou? Como morreu? E o motivo de o matarem?
Bem, logo de cara o autor joga todas as respostas na sua cara.
A história se desenvolve como uma ?biografia do crime?, evidenciando as causas, motivos e circunstâncias.
Crônicas de uma morte anunciada, apesar de te jogar tudo logo no primeiro capítulo, te deixa com certas pulgas atrás da orelha - ?será que a vítima realmente fez o que imputaram-lhe?.
E a principal, qual o peso da nossa inação na vida - ou morte - de alguém.

Davi 18/04/2024

Crônica de Uma Morte Anunciada, do escritor colombiano Gabriel García Márquez, publicado em 1981, narra a história do assassinato de Santiago Nasar, em uma pequena cidade costeira, contado através da investigação jornalística de um amigo de infância da vítima.

O romance abre com a fatídica cena do assassinato de Santiago Nasar, logo nas primeiras horas da manhã. A partir daí, a narrativa se desenrola em uma estrutura não linear, revisitando os eventos que precederam o crime através de múltiplas perspectivas dos personagens envolvidos.

Através de entrevistas com os habitantes da cidade, o narrador constrói um mosaico de relatos que revelam a teia de relações, segredos e ressentimentos que culminaram na tragédia. Cada testemunho oferece uma peça do quebra-cabeça, expondo a complexa dinâmica social e os fatores que contribuíram para o desfecho fatal.

Ao longo da narrativa, fica claro que a morte de Santiago Nasar era, de certa forma, inevitável. Diversos sinais e avisos, ignorados ou interpretados de maneira equivocada, permeiam a história, criando uma atmosfera de suspense e inevitabilidade.

Mais do que um relato de um crime, Crônica de Uma Morte Anunciada é uma profunda análise da sociedade colombiana, expondo seus vícios, hipocrisias e a cultura da vingança. Márquez critica a passividade e o conformismo dos personagens, que, mesmo cientes do perigo iminente, não tomam medidas para evitar a tragédia.

Mary 16/04/2024

Gabo sabe escrever sabe escrever uma grande história!
Uma crônica que te deixa curioso, tentando desvendar se a dúvida central era verdadeira ou não. E o final com um gostinho de quero mais!
É fácil imergir na história, nas personagens e na ambientação da cidade.

skuser02844 14/04/2024

Spoiler atrapalha?
O inicio do livro, aliás um dos melhores inícios de livro, bem ao estilo Gabo, já traz o grande spoiler. Já sabemos quem vai morrer. Ao longo da narrativa rapidamente somos apresentados aos assassinos e a motivação do crime. Mas ninguém larga esse livro por causa desses spoilers. Porque o autor vai nos envolvendo na história, nos deixando a cada momento mais perplexos com as atitudes das pessoas da cidade, com as omissões, a hipocrisia. Todos sabiam o que ia acontecer?
Seria Santiago inocente?
E nesse caso, quem seria o verdadeiro culpado?
E porque Angela teria mentido?
No decorrer da narrativa essas perguntas vão perdendo a força, e a grande pergunta que fica é: porque ninguém efetivamente impediu o assassinato?
Um livro que fala sobre culpas, hipocrisia, terceirização de responsabilidades e nos deixa com um enorme vazio? porque ninguém impediu?
?Me mataram, querida Wene?
Imperdível essa leitura. Não faça como as pessoas daquela pequena cidade colombiana? não deixe passar a oportunidade de ler este livro.

Erich 13/04/2024

Este é o primeiro livro que li do Gabriel García Márquez, no passado quando tentei pegar alguns dos mais famosos dele acabei não conseguindo tempo para ler até o fim.

Nesta história, como diz o próprio título, sabemos desde o princípio o desfecho. Porém, mesmo com este 'spoiler', a trama vem numa crescente constante de tensão. Afinal, sabemos o que ocorrerá ao fim. Mas não sabemos como vai acontecer, nem quando vai acontecer e nem temos uma clareza se aquilo é de fato justificado.

O autor é colombiano e vemos nesta obra - como é comum ao ler escritores latino-americanos - que existe um universo comum à América latina. Os eventos poderiam se passar com facilidade em qualquer canto do Brasil. Os preconceito enraizados são bem similares.

Ainda sobre o autor, gostei da maneira como a narrativa foi posta. A leitura é extremamente fluida. Vamos acompanhando os eventos a partir de um narrador que se encontra no futuro. Os eventos são informações que ele foi extraindo ao conversar com as pessoas do vilarejo. Temos uma reconstrução dos eventos.

A história inteira está embebida dos preconceitos de um período não tão distante. A visão da mulher como submissa e da necessidade de "pureza" no casamento está bem presente. E colocado de tal modo que as personagens femininas nem vêem isto como um problema. Existe uma resignação à condição, como se estivessem vestidas com culpa. Uma frase caracteriza muito bem isso:

Qualquer homem será feliz com elas, porque foram criadas para sofrer.




Ainda relacionado a esse mesmo machismo, mas agora do lado masculino, vemos a exposição do chamado crime de honra. E é mostrado com naturalidade o conceito de "defender a honra", podendo até atentar contra a vida de alguém se a justificativa for essa.