Luana De Martins 27/07/2016A peça retoma o mito de Édipo, rei de Tebas que casou com sua própria mãe sem saber e foi expulso da cidade. Seus dois filhos, Etéocles e Polinices, se viraram contra ele diante da expulsão e receberam a maldição de seu pai. Diante disso, o mito diz que os dois teriam acordado de revezar o trono a cada ano, mas ao chegar ao fim do primeiro ano do reinado de Etéocles, ele se recusara a ceder o trono, despertando a raiva e o desejo de vingança no irmão. Na peça, Etéocles se vê forçado a enfrentar o irmão e cumprir o destino da maldição que acabou por recair em toda Tebas, quando na verdade, ele é o grande responsável pelos acontecimentos se guiarem para tal.
Além dessa questão implícita na peça, vale ressaltar a posição social/política em que as mulheres eram colocadas naquela época, valor que perpetuou pelos séculos seguintes e ainda hoje não foi completamente erradicado. A Grécia antiga é considerada o “marco zero” da democracia, modelo político padrão em vários países no presente que, por definição, propõe implantar o poder nas mãos de todos a fim de obter uma sociedade mais justa. Entretanto, apesar de incluir os homens independente de fortuna, o modelo criado para combater a tirania não contemplava os estrangeiros ou as mulheres, mesmo que nascidas no território da cidade-estado. O primeiro país a incluir participação das mulheres na política pelo sufrágio foi a Nova Zelândia em 1893, mais de dois mil anos após o início do desenvolvimento da democracia.
A forma como Etéocles se refere ao sexo feminino é apenas um reflexo de todo um quadro a ser levado em consideração. É importante perceber como a literatura retrata a sociedade da época em que as obras são escritas (ou se referem), mesmo as obras de ficção são capazes de trazer aspectos não tão fictícios a serem percebidos pelo leitor.