Luccubus 04/02/2024
Eu acho que esse vai ser o melhor da série. O primeiro é um tédio que não tem fim no meio até chegar na cena emocionante final e qualquer diálogo que poderia ser interessante e aprofundar mais a nossa visão da Bella como protagonista e heroína trágica é desperdiçada pra não ter que desenvolver conversas truncadas que a Stephenie não sabia conduzir ainda. Os personagens são interessantes, mas é sempre um mal aproveitamento. Aqui a história tem um teor mais profundo. A dor lancinante do rompimento parece ter corpo e voz grave, e a forma como as relações se constroem depois disso parece muito natural e orgânica. Bella sabe o que quer e até onde pode ir. Ela sabe quais são os seus limites, menos quando se trata de Edward, e isso pode soar romântico pra um adolescente, mas é uma puta de uma red flag pra qualquer uma que já tenha estado em um relacionamento abusivo. Tentar viver apesar do trauma, apesar da morte, de si mesmo, de sua vontade, apesar da dor. Essa é a história de lua nova. E todos os Deus ex Machinas depois disso eu não consigo perdoar.
Embora eu ache que Jacob é muito melhor pra Bella, porque ele é vivo, porque sua história é parecida com a dela, são dois adolescentes forçados a cuidar de seus pais com cargas pesadas de segredos e uma vontade excessiva pelo incomum, ainda assim eu queria muito que ele nunca tivesse mais que olhar pra ela e que não fosse forçado por motivos de deixar a plot fechadinha de ter um imprinting com a filha da Bella.
Mas voltando a lua nova, Bella desenvolve, apesar da sua falta de vontade de viver, e muito mais motivada pela ânsia de ter visões com a imagem e a voz de Edward a alertando de não fazer nada imprudente, uma relação muito profunda de parceria e amizade com Jacob, muito além do que ela intendia, mas que de forma alguma parece a trair. Ela GOSTA de estar com ele, de ter o seu calor, a sua alegria, os seus problemas, suas habilidades próximas a ela pra ela nutrir, se admirar, dialogar, potencializar, e até brigar com ele. Parece muito mais real. Porque é real. Marcada agora por um trauma, ela tenta ir com calma, ela acha que não pode amar ele tanto quanto ele deseja, e ele dá todo o espaço a ela, tem atenção com suas dores e suas manias por conta da dor, não ultrapassa seus limites. Quando a toca, ela quer ser tocada, e se ela não quer, ele se afasta.
Eles se dão bem e têm química. Se aceitam como são, se amam como amigos primeiramente, e depois vêm as atrações. Edward é um sonho febril, um cavalheiro que não existe, um príncipe numa armadura cintilante. Um homem que passa a amar uma menina logo depois de conhecê-la, sendo que pouco tempo antes queria matá-la.
E ela sempre só tá nisso porque quer ser vampira, quer se ver jovem pra sempre, bonita como eles. A paixonite por Edward não faz dele um personagem mas uma saída ridícula pra uma neurose narcísica obsessiva com aparência e fragilidade. A decadência humana, uma coisa que Bella não pode aceitar, mesmo que seja ela por si só medíocre.
Mas digo que o livro é o melhor da série porque concede a Bella a oportunidade de se desenvolver em sua personalidade, mesmo que seja pela dor e pela solidão e dá a ela a oportunidade de salvar o Edward e não só ser salva por ele. Ela também aqui tem escolhas, mesmo que sejam as escolhas imprudentes, como começar a pilotar motos ou se jogar no mar ou falar com estranhos. Ela tem a escolha de amar outras pessoas, de se envolver com outras coisas, de romper promessas e segredos. Eu sinto um alívio por ela. Mas tudo isso é quebrado porque ela em nenhum momento sente ódio por Edward, por seu abandono, seu descaso. Não acho que ele estava errado em partir, mas não faz sentido ela não resistir a sua volta. Ela em sua pequenez e mediocridade acredita que é tudo culpa dela por não ser bonita como Edward ou qualquer merda assim, e ela não sente raiva por ele dar esperanças pra ela, por estar na sua vida e quase matá-la e depois fugir. Tudo bem ela não querer que ele se mate, mas querê-lo de volta? Não. No momento em que ele está envolvido ela já não tem mais escolha. E isso poderia ser levado literalmente e crepúsculo ser uma saga real de terror, em que ela lutasse o tempo todo com seus sentimentos, como que foi construído no sol da meia noite, a visão do Edward da história, mas Bella encara tudo isso com tanto entusiasmo, mal pensa nas consequências de não ter mais contato com a sua família humana, enfrentar o luto de milênio após milênio. Não existe dor pra ela junto de Edward. É ridículo.