Sagarana

Sagarana João Guimarães Rosa




Resenhas - Sagarana


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Rodolfo Vilar 27/10/2016

Sagarana (ou a experiência de um leitor que achou que encontraria algo que não achou) | João Guimarães Rosa. 
Será um pouco impossível encontrar informações relevantes sobre o livro que dá título a este post, uma vez que isto que você está lendo irá se tratar mais de um momento de experiência do que propriamente uma resenha válida. Desculpa se o tom desse texto permear para um lado tanto dramático ou meloso sobre alguns fatos que me decepcionaram, e não, não se trata de decepção relacionada ao livro, mas sim sobre os inúmeros boatos e críticas que me acompanharam antecipadamente à leitura de Sagarana do ilustríssimo João Guimarães Rosa.

Há muito tempo que esse pequeno (sim, ele é pequeno) livro de contos (ou novelas) está na minha lista de leituras, e nunca que havia criado coragem para lê-lo, por motivos de: Nossa, que livro difícil de ler! Impossível encarar um livro com uma linguagem tão rebuscada como o do Guimarães! Não consigo entender o que diabos esse autor quer passar nos seus textos! Não, definitivamente esse livro não faz meu estilo! Que droga, só consegui ler O caso do Burrinho Pedrês.
Balela, balela e balela!

Tudo bem que Guimarães é bem especifico em seu estilo narrativo, mas dizer que ele inventou uma nova linguagem para seus livros é fazer drama demais. O que acontece nas obras de Guimarães Rosa nada mais é que uma réplica narrativa dos inúmeros “causos” e histórias que ele tanto ouviu na sua própria infância como também nas experiências que passou para coletar panos de fundo para seus romances. A linguagem narrativa de Guimarães é uma réplica exata do modo de falar do povo nordestino, o que para muitos, principalmente para aqueles que não estão acostumados com nossos trejeitos (sim, porque me incluo no sangue nordestinês) é algo estranho de ser lido e compreendido de maneira tão rápida e veloz.

Ler Sagarana, que apenas se resume em nove novelas sobre algumas histórias, folclóricas ou não, sobre os “causos” de alguns moradores do interior baiano e mineiro, foi uma maneira de recuperar, em mim, vários momentos que tive com meus avós e minha gente mais velha. Ler Sagarana foi estar de volta ao sitio onde passei alguns momentos de minha infância nas férias, ouvindo minha gente contando seus momentos mais preciosos, seus casos cabeludos, suas histórias de vingança e fé. Ler Sagarana foi resgatar uma parte do meu espirito folclórico e cultural. Foi lembrar-se das minhas origens e do meu povo, do povo nordestino, das muitas vozes que dão importância ao que o Brasil, e principalmente o interior, é.

O que muitos podem achar complicado na leitura dos livros de Guimarães Rosa, assim também presentes em outros autores como José Saramago, é a imensidão da polifonia incontável de seus personagens, o que dá o volume da narrativa do mineiro. Além das virgulas, travessões e demais pontuações, Guimarães Rosa incorpora a voz do interior aos seus enredos, fazendo com que pessoas, lugares, animais em alguns casos, se tornem a própria história em si. Para aqueles que estão acostumados com muitas das narrativas já desgastadas de inúmeros best-sellers, ler os escritos desse autor é uma tarefa que foge da rotina, já que Guimarães tinha o grandiosíssimo trabalho de interpretar em seus manuscritos a forma vívida da qual ele enxergava as coisas pulsantes de vida.

​Por isso que lá no inicio desse texto comecei deixando transparecer a minha reclamação quanto a imensidão das críticas, sem lógicas, que fazem do pobre Guimarães. Não culpem a grandiosidade do autor com a imensidão da preguiça que possa existir dentro de cada um que achou seus textos enfadonhos e sem sentido. Ler Guimarães Rosa é entender um pedaço do próprio sertão que o autor carregava dentro si, perante seus olhos e diante de seus sentimentos. Acompanhar as leituras do ponto narrativo desenfreado, que é a forma como o nordestino conta os seus “causos”, é conhecer as mil faces do sertanejo que encara por dia a questão da seca de sua terra, a preocupação com a família, a fé exagerada que ultrapassa a razão, a moralidade dos costumes que fogem questões do certo ou errado, e até mesmo, a forma da felicidade com que o sertanejo enxergava a sua terra, seu povo, seu lar. Pegue em mãos qualquer livro do Guimarães com o sentido de que você estará lendo a forma de enxergar o sertão de nós todos de uma forma esperançosa, culturalmente rica e cheia dos caprichos que só a natureza (e Deus) podem oferecer.

site: http://bodegaliteraria.weebly.com/biblioteca/sagarana-ou-a-experiencia-de-um-leitor-que-achou-que-encontraria-algo-que-nao-achou-joao-guimaraes-rosa
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Carina 25/09/2016

Virei leitora de Rosa antes ainda da obrigatoriedade de Sagarana no vestibular (livro que continua na lista, dez anos depois de ter prestado a prova). E, ao contrário de tantas obras lidas na adolescência que se tornaram mais claras para mim com o passar do tempo, os textos roseanos ainda são pequenos mistérios, carregados de possibilidades que ainda não desvendei.

Lembro-me de, aos 16, 17 anos, ter gostado muito do conto "Conversa de bois", um dos últimos do livro. Ainda que pelo seu tom fabulesco e plot twist sensacional continue sendo uma das minhas narrativas preferidas, duas outras vieram somar-se à minha lista de idiossincrasias: "Sarapalha" e "A hora e a vez de Augusto Matraga".

"Sarapalha", conto de pouca ação, é extremamente delicado ao lidar com o tema da morte, da solidão e da necessidade de perdoarmos uns aos outros. Para mim, talvez seja o conto mais triste e comovente do conjunto.

"A hora e a vez..." é, como Guimarães próprio definiu, o ápice do livro: uma história bem elaborada, passível de diversas leituras, prenhe de significados. E, como última narrativa da obra, funciona como uma espécie de "final feliz": é uma bela história de perdão e amor ao próximo.
Dani 05/11/2016minha estante
Oi, Carina. Pedi um livro seu pelo Plus há mais de um mês. Mandei algumas mensagens para você, mas, como não sei se as está recebendo, resolvi escrever por aqui. Obrigada!




SILVIA 30/05/2016

Um dos meus escritores preferidos
Meus comentários estão no Blog Reflexões e Angústias:
http://reflexoeseangustias.com/2016/05/30/livro-sagarana-de-joao-guimaraes-rosa/

site: http://reflexoesdesilviasouza.com/livro-sagarana-de-joao-guimaraes-rosa/
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Hilton Neves 14/12/2015

Os Bãos São os Difíceis
Tive uma preocupante dificuldade enquanto lia. Embora tenha crescido perto(umas três horas de carro) de onde o autor nasceu e sucedeu a maior parte das ações nos contos.
Guimarães Rosa demonstra um baita conhecimento em diversas áreas; ao passo que sou péssimo em botânica, ictiologia, e toda a vida no campo. Mas fiz um esforço e, graças a Deus, consegui ler tudo.
Formidável a maneira como ele humaniza as personagens... cê não acha o pessoal lá tão vilão, nem tão herói.
... ;-) O Skoob podia aprender com ele, né? Cê quer dar 3½ estrelas, por exemplo... e não encontra! Ou quatro, ou três. Até quando?
Mica 18/12/2016minha estante
Eu li teu comentário no goodreads, traduzido pro inglês :).


Hilton Neves 02/03/2017minha estante
Que maneiro, Mica! Faço uns lá dveq assim, é divertido.




Laura 15/09/2015

Bem escrito, mas não é meu tipo..
Esse não é o tipo de livro que gosto. Tem uma linguagem muito difícil e é bem cansativo. É muito bem escrito, muito bem feito, mas não gosto desse tipo de linguagem, nem deste tipo de história.
Este livro deve ser lido para quem gosta desse tipo de leitura e é uma pena que de certa forma obriguem a sua leitura nas escolas. Faz com que quem não tem interesse em leitura, tenha ainda mais aversão por ela.
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TainA.Micaellen 04/09/2015

simplesmente dificil.
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Fernanda @condutaliteraria 31/08/2015

Maravilhoso
Sagarana, de Guimarães Rosa, é composto por nove contos. No livro é mostrado o regionalismo do autor, pois trata do sertão mineiro, o povo, a religião e o amor, que remete a cidade natal de Guimarães.

Achei a leitura um pouco complexa, por isso li aos poucos durante um mês, mas é muito rica, valendo a pena cada página. Os personagens são inesquecíveis.

O folclórico e o pitoresco dão lugar a uma maneira nova de apresentar as dimensões da cultura e articulação das palavras.

Guimarães Rosa foi um desafio mais que prazeroso!
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Deividy 07/11/2014

A hora e a vez de Augusto Matraga
A primeira vez que ouvi falar em Augusto Matraga foi em uma citação de um livro que eu estava lendo...
depois li um dos maiores clássicos da literatura universal, falo de Grande Sertões Veredas. após essa leitura foi inevitável a vontade de ler mais livros de Guimarães Rosa. e por coincidência achei na internet um filme com o Título: A Hora e a vez de Augusto Matraga, e vi que se tratava de uma adaptação de um dos contos que revolucionaram a literatura brasileira.
preferi então deixar o filme pra depois e buscar a leitura da obra original. é inegável que o estilo de Guimarães Rosa é diferente a ficção e a realidade ficam numa linha tênue com os diálogos e os causos narrados.
leitura indispensável para todo leitor, principalmente para os que procuram ler livros com o objetivo de estudar para o vestibular. esse tipo de leitura pode afastar de grandes obras como essas.
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Dimmi 30/03/2014

Até hoje é o livro que mais me impressionou e impressiona até hoje. Linguagem, enredos... cada palavra. Ninguém deve passar sem ler essa obra prima da literatura brasileira.
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Catharina 31/01/2014

Sagarana é composto por nove contos,a maioria narrado em terceira pessoa. É um livro que já mostra o regionalismo de Rosa, pois trata do sertão mineiro, o povo, a jagunçada,da religiosidade e o amor,que remete á cidade natal do autor, Cordisburgo, onde o autor sairá do regionalismo padrão da segunda geração modernista, para migrar á um regionalismo novo, com a fusão entre o neologismo e linguagem popular.

Neste livro, um conjunto de sagas - histórias épicas, folclóricas, de amor, mistério e aventura - universaliza o sertão, mistura o popular e o erudito, fecunda de vida o mundo primitivo e mágico dos Gerais.

Em tempo: SAGA quer dizer "canto heroico" e RANA vem da língua indígena e quer dizer "espécie de". Logo Sagarana significa "espécie de canto heroico".
Paty 11/04/2014minha estante
Boooommm D+ !!




Matheus 28/02/2013

Um Gênio chamado João Guimarães Rosa
Tomei a liberdade de começar esta resenha da mesma forma que comecei a de Primeiras Estórias afinal, o Gênio é o mesmo.

Muitos são da opinião que Machado de Assis é o deus da literatura portuguesa, ou até universal. Assim também eu achava; até ler Guimarães Rosa. Provavelmente, só não é unanime a opinião de lhe conceder o posto de primeiro lugar na literatura, porque poucos são os que leem seus livros. Paira um ar intimidador sobre as obras desse escritor e a maioria das pessoas não se sentem capazes de pega-las para ler. No entanto, nada justifica esse receio e a intimidação dos livros de Guimarães existe mais pela conversa fiada de professores de literatura do que por um estilo difícil de entender. De fato, logo na escola os professores falam que, de inicio, parece estar-se lendo em outra língua, e a quase totalidade dos alunos caem no equivoco de pressupor que essa outra língua e impossível.

Sim, com certeza Rosa não escreve na mesma língua que os outros escritores brasileiros. Estes usam a linguagem técnica, formal, pensada e repensada... enfim, linguagem de livro. Rosa não. A sua é a da fala, a da alma e por isso mesmo seria impossível que carregasse a incompreensibilidade que lhe é erroneamente atribuída . Consigo perfeitamente imaginar um noite de lua, onde em volta de uma fogueira, sertanejos contam causos na linguagem de Guimarães. O escritor dos sertões é o equivalente aos impressionistas na arte visual. Estes estudaram os efeitos óticos da luz e do olho humano de forma a que pintaram espelhos da natureza sem precedentes, como nem Da Vici ou Michelangelo jamais sonhavam em conseguir; Já Guimarães Rosa estudou a língua de todas as formas possíveis e imagináveis, e conseguiu dar uma vivacidade tão absoluta a suas estórias que nem mesmo Shakespeare conseguira.

O cenário de Rosa, assim como sues personagens, não conhecem limites entre o mundo real e o do romance. Parecem trasbordar do livro. O sertão descrito parece frequentemente muito mais real do que a sala ou quarto em que o leitor lê o livro, e parece termos convivido pessoalmente com as personagens criadas, mais até do que com nossos amigos e parentes mais íntimos. Em nenhum momento se duvida que a estória contada - e de fato, elas parecem mais contadas do que escritas - seja verídica. Esse é o Gênio maior e inigualável de Guimarães Rosa!

Contudo, me abstenho de tentar explicar suas obras, coisa essa que, a meu ver, seria um tento pecaminosa, independentemente do autor. Além do que, há inúmeros textos de especialistas que primam por isso, mesmo creio eu, sendo bastante reprováveis e duvidosos. Contento-me, pois, em convencer o maior número de pessoas possível a ler Guimarães Rosa!

Tendo exposto isso começo a falar de Sagarana. Foi um dos primeiros livros do autor. Contém nove novelas que se amalgamam surpreendentemente, apesar de nenhum vínculo claro entre elas. Separar a obras seria um pecado que vejo-me incapaz de evitar. Não tenho habilidade - nem entendo plenamente a obra - para esclarecer sua unidade. Fico assim com uma novela de cada vez. Talvez seja artificial, mas separar as coisas é o único caminho que encontro para louvá-las em cada detalhe.

1)
O burrinho pedrês

"As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão..."

É essa a poesia presente durante toda a narrativa. Esse parágrafo é sem duvida o meu exemplo preferido pre prosa poética. Leia-o atentando para as virgulas e descobrirá o ritmo e a melodia de um perfeito poema. Guimarães nos brinda com musica escrita, sem no entanto retirar a vivacidade característica de seu estilo, é a reaproximação - se não superação - de Shakespeare, Dante ou até mesmo Goethe. Mas, como se vê abaixo, não há nada de inatingível na linguagem de Rosa, muito pelo contrário, parecemos estar de fato ouvindo dois homens conversando, com direito a interrupções, distrações, digressões e comentários.

"- Foi nada. Conta a história, Raymundão.
- Pois então, quando fui espiar o que a minha cachorra Zeferina estava estranhando ...
- Oh gués! Isso é nome de cachorro?
- Foi por vingança que eu pus, quando minha mulher Zeferina me largou... Mas, a' pois, não imagina o que eu vi! Dei mesmo numa baixada de pasto, e afundei quase no meio das vacas. Já disse que estava lindeza de claridade de noite..."

Bem resumidamente, a estória trata de um grupo de sertanejos que tocam uma boiada para ser vendida. Durante a viagem, os boiadeiros conversam entre si, contando causos vividos por eles ou por outros. Dentro do enredo há vários desses causos contados em linguagem sertaneja tão perfeita que nos dá a impressão de estar andando a cavalo do lado desses personagens. (Quem tem sítio no interior, fica a dica de decorar alguns desses causos para contar mais tarde em volta de uma fogueira, em uma vendinha, ou para a família mesmo.) Na novela, também se desenvolvem amizades e conflitos entre os vaqueiros. Cria-se até a expectativa de que haverá entre eles um assassinato durante a viagem. Como em muitas outras, nesta novela o desfecho está de acordo com a habilidade de Rosa em criar expectativas que não se confirmam, e a acaba de maneira totalmente inesperada. A força do destino é impressionante no conto, que literalmente arrasta os personagens para um desfecho que lhes foge o controle, apesar de todas as tentativas de controlar o futuro.

A novela é uma fábula genialmente concebida, e portanto trás a sua cota de "moral", no entanto, não há nada de doutrinador na obra de Guimarães. Recheado de ditados popular, sabedoria inata, simbolismos que se desvendam a cada releitura e a magia do sertão, a novela torna-se altamente recomendável para servir de pórtico àqueles que iniciam a leitura de Guimarães Rosa. Começar por ele é um ótimo jeito de esquecer tudo o que já disseram sobre o estilo de Rosa ser quase inatingível!

2)
A volta do marido prodigo

"A menos "pensada" das novelas do "Sagarana" a única que foi pensada velozmente, na ponta do lápis. Também, quase não foi manipulada, em 1945."
Guimarães Rosa em carta a João Condé

Apesar do titulo bíblico, talvez esta seja a novela com menos misticismo. Exatamente como o autor comenta, ela é a mais fluida do livro, a mais rápida de ler. Não me demorarei com repetições que a resenha se alonga, apenas relembro que a vivacidade atua aqui também. Nesta novela, no entanto, o gênio soube agir mais em outra parte: a trama.

Já li compararem essa novela ao romance picaresco de Manuel Antônio de Almeida, Memória de um Sargento de Milícias. Comparação detestável essa que põe um gênio ao lado da obra superficial de um autor não menos fraco. O malandro de Almeida é um idiota, ao passo que o de Rosa é brilhante. A maioria dos pícaros brasileiros são apenas engraçadinhos; dificilmente despertam estima. Talvez só os de algumas canções de Chico Buarque fujam deste padrão. Mas Guimarães não é a maioria. Sua novela, A volta do marido prodigo, apresenta uma estória de malandro tão inteligente, que apesar dos atos condenáveis do personagem, somos forçados a acolhê-lo com apreço. A esperteza da mentiras de Lalino, o malandro da obra, é comparável as do personagem shakespeariano Iago, de Otelo.

"- Mulatinho levado! Entendo um assim, por ser divertido. E não é de adulador, mais sei que não é covarde. Agrada a gente, porque é alegre e quer ver todo-o-mundo alegre, perto de si. Isso, que remoça. Isso é reger o viver."

Lalino vai levando a vida sem hora marcada e acaba saindo da cidadezinha interiorana para conhecer a capital, deixa inclusive esposa para trás. Depois, saudoso volta, sem nada e a trama é justamente como ele fará para reconquistar o espaço na cidadezinha que perdeu durante a ida a capital. Ao longo da da novela vai nos divertido com planos para o futuro e anedotas que nunca somos capaz de saber se são verdade ou mentira, salvo quando o narrador mesmo explicita isso. Essa habilidade de mentir (ou dizer a verdade. não ha como saber) também torna-o capaz escapa de situações impossíveis com suas estórias. Muitas vezes é Lelino que nos narra o que está acontecendo, e por ser sempre suspeito de mentir, nunca sabemos que rumo tomará a o enredo. Efetivamente, nessa novela o gênio de Guimarães soube agir bem. Só que agora mais na criação do personagem e da trama.

3)
Sarapalha

"Desta, da história desta história, pouco me lembro. No livro, será ela, talvez, a de que menos gosto."
Guimarães Rosa em carta a João Condé

Está estória, de fato, não tem uma ação interessante. São dois primos, que pegos pela malária, conversam em uma varanda a respeito da vida e da morte. O que chama a atenção, no entanto é a dosagem de informação. Guimarães vai nos contanto de pouco em pouco de onde vieram e o que fizeram os personagens, de forma que a estória vai ficando assim bem interessante. Outro ponto de destaque é o cenário que parece ganhar vida, e denuncia a decadência do local da novela pela passagem da malária. O tom trágico dessa novela dá um forte contraste entre ela o A volta do marido prodigo, o que talvez nos dê algumas dicas sobre a unidade de Sagarana.

"Tirita a mamona, de folhas peludas, como o corselete de um cassununga, brilhando em verde-azul. A pitangueira se abala, do jarrete à grimpa. E o açoita-cavalos derruba frutinhas fendilhadas, entrando em convulsões.
- Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p'r'a gente deitar no chão e se
acabar! ...
É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão."

A beleza está no cenário que se torna o mais ativo dos personagens da novela. Não só os homens parecem ter sofrido com a malária, também a terra se treme de doença. Essa poética toda que recheia Sarapalha.

4)
O duelo

"Aqui, tudo aconteceu ao contrário do que ficou dito para a anterior: a história foi meditada e "vivida", durante um mês, para ser escrita em uma semana, aproximadamente. Contudo, também quase não sofreu retoques em 1945"
Guimarães Rosa em carta a João Condé

Talvez este seja o conto mais gostoso de ler. Aqui, novamente parecemos estar ouvindo a estória se contada e não escrita. Só que desta vez para um público mais erudito. A linguagem bem trabalhada, no entanto, não tira a vivacidade da novela. O tema tem caráter épico e ao mesmo tempo humorístico, há traição, perseguição, mortes... tudo contado de modo leve e engraçado.

"Viu-o à janela, dando as costas para a rua. Turíbio não era mau atirador: baleou o outro bem na nuca. E correu em casa, onde o cavalo o esperava na estaca, arreado, almoçado e descansadão."

Nessa novela, de novo a genialidade está na trama. Há uma série de eventos lineares que convergem inteligentemente para o fim penado de Guimarães, sem no entanto, termos a mínima ideia de como acabará a novela. Novamente se cria-se diversas expectativas de um fim que acabam por não se concretizar.

5)
Minha gente

"- Veja este que vai aqui à nossa frente: é um camarada analfabeto, mas, no seu campo e para o seu gasto, pensa esperto. Experimente-o."

Uma das minhas novelas preferidas. A identidade do narrador personagem é desconhecida, no entanto sou fortemente induzido a pensar que trata-se do próprio João Guimarães. Ficamos sabendo que ele é doutor apenas porque um companheiro assim o chama (e Guimarães Rosa foi médico). Também descobrimos que o "doutro" bastante entende de outros países ( e Guimarães foi diplomata). Não afirmo que essa estória aconteceu de fato com o autor. Mas tanto se aproxima o personagem do escritor e tão convincente e a narração que não duvido que Rosa tenha vivido intensamente, pelo menos em sua cabeça, esta estória.

Como mostra o trecho apresentado, a novela fala da sabedoria da gente típica do sertão mineiro. O narrador admira essa gente como verdadeiros filósofos e comenta: "Minha gente é boa" ou "Pororoca! Será que, ninguém aqui pensa como eu?! ...". Também estão apresentados os costumes locais: a ausência da lei institucional, a valorização da coragem e destreza, as fofocas, traições, intrigas e, o mais marcante, as características da mulher sertaneja.

"- Seu doutor, a gente não deve de ficar adiante de boi, nem atrás de burro, nem perto de mulher! Nunca que dá certo..."

De fato, a novela é romântica, conta as desilusões amorosas do narrador que tenta conquistar sua prima se êxito. Há uma dramatização bastante forte da situação, mas tudo a maneira de Rosa, que difere de qualquer estória romântica já escrita. Vale a pena ler só para conhecer essa nova abordagem do tema amor.

6)
São Marcos

"Demorada para escrever, pois exigia grandes esforços de memória, para a reconstituição de paisagens já muito afundadas. Foi a peça mais trabalhada do livro. "
Guimarães Rosa em carta a João Condé

A mais densa do livro, creio que a que eu menos goste. Há descrições de cenários riquíssimos mas chegam a ser cansativas e sufocantes. No mais, a novela é bem divertida porque fala da superstição do sertão. É contada à maneira dos causos, e como estes, tem o objetivo de impressionar o ouvinte ou leitor. Há contos de bruxaria, feitiços, reza brava e bruxos, o que torna tudo bem interessante.

7) Corpo Fechado

"Talvez seja a minha predileta. Manuel Fulô foi o personagem que mais conviveu
'Humanamente' comigo, e cheguei a desconfiar de que ele pudesse ter uma qualquer espécie de existência."
Guimarães Rosa em carta a João Condé

Talvez a estória mais viva do livro. Conta dos valentões do arraial, da lei do forte que impera por lá. Na prosa dos personagens, ficamos conhecendo a sucessão de valentões que mandaram no local e em meio a essas prosas, Manuel também conta como foi viver com ciganos e como os enganou. Tudo na novela é perfeito. Desde a trama e o suspense, passando pela linguagem até a caracterização dos personagens e descrição do cenário. É uma estória que se vive. Vibramos quando Manuel conta como enganou o cigano e damos rizada de seus comentário sobre casar. Depois de ler, me sinto amigo de Manuel do mesmo modo que tenho amizade com as pessoas com que efetivamente convivo.

"- É o jeito. Eu só queria treis coisas só: ter uma sela mexicana, p'ra arrear a Beija-Fulô ... E ser boticário ou
chefe de trem-de-ferro, fardado de boné! Mas isso mesmo é que ainda é mais impossível... A pois, estando vendo que não arranjo nem trem-de-ferro, nem farmácia, nem a sela, me caso... Me caso! seu doutor..."

Mas a estória começa efetivamente quando a atual valentão do arraial, Targino, avisa Manuel que gostou da sua esposa e ira ter com ela antes deles se casarem. Manuel fica então entre perder a honra e a vida. Como sempre, o final é surpreendente! Impossível não adorar essa novela!

8)
Conversa de Boi

"- O homem é um bicho esmochado, que não devia haver. Nem convém espiar muito para o homem. É o unico vulto que faz ficar zonzo, de se olhar muito. É comprido demais, para cima, e não cabe todo de uma vez, dentro dos olhos da gente."

Do livro, é a estória mais próxima de uma fábula. Um carro de bois levando um defunto vai pela estrada. Os bois conversam sobre a sabedoria enquanto no carro de boi, o menino-guia lamenta a morte de seu pai, que vai lá atrás em defunto. É a estória mais moralista de todas. Guimarães contrasteia o conhecimento intelectual com a sabedoria da experiência. Aqui também ocorrem causos entro de uma estória maior, só que desta vez contados pelos bois.

9)
A hora e vez de Augusto Matraga

"- Tem horas em que fico pensando que, ao menos por honrar o Quim, que morreu por minha causa, eu tinha ordem de fazer alguma vantagem... Mas eu tenho medo... Já sei aqui mesmo, no sozinho. Já fiz penitência estes anos todos, e não posso ter prejuízo deles! Se eu quisesse esperdiçar essa penitência feita, ficava sem uma coisa e sem outra... Sou um desgraçado, mãe Quitéria, mas o meu dia há-de chegar! ... A minha vez ... "

A chave de ouro do livro! A hora e vez de Augusto Matraga é a novela mais conhecida e apreciada de Sagarana. Ela combina todas as qualidades dos outros e nenhum defeito! Narrada em estilo épico, conta como Augusto perdeu tudo o que tinha e passa a viver como asceta, sempre tentado a buscar sua nova vida de valentão. Na sua epopeia ele encontra amigos que lhe acolhem, inimigos e um grupo de cangaceiros. A tensão e o desejo de saber o que vem em seguida é impressionante! Guimarães fecha o livro mostrando todo o poder de seu gênio! São por novelas como esta que eu fico aliviado por ter Guimarães Rosa representando nossa literatura brasileira, único, original, sem igual e só nosso. Por isso, em hipótese alguma, deixe que lhe passe a vida sem jamais ter lido pelo menos um conto desse grande autor, que isso é coisa que configura pecado grande.
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PC_ 10/01/2013

pc
difícil resenhar ou resumir o livro para quem nao conhece o estilo de guimarães rosa.
para quem conhece sabe que a resenha ou resumo é um tanto inútil, pois o prazer está mais na linguagem e no transcorrer da história do que propriamente na trama dos contos.
do primeiro conto ( burrinho pedrês) ao último conto ( a hora e a vez de augusto matraga) , cada palavra é imperdível.
para quem vai lê-lo pela primeira vez, paciência, leva-se um tempo para se acostumar ao estilo "original" de escrita do autor, e também não se assuste caso tenha que consultar o dicionário e o google várias vezes, pois abundam palavras pouco usuais e raras no uso habitual da língua ( o autor o faz propositadamente, isso inclusive é citado num do contos, na fala de um dos personagens, "o poder das palavras raras" ) e referências a elementos do meio rural e agreste, como animais, plantas, etc...
como disse, é um livro para ser lido com paciência, com calma, pois parte do prazer da leitura vem da observação da forma, não necessariamente do seu conteúdo, que também é excelente.
enfim, histórias criativas, narradas na forma original de guimarães rosa.
atentem para o último conto , que poderia ser transformado num livro, mas que por alguma razão, talvez singeleza, o autor manteve sob a forma de conto.
embora meu conto preferido seja o burrinho pedres, todos os outros contos sao excelentes, mas inegavelmente , o conto mais citado e considerado o melhor é "a hora e a vez de augusto matraga".
bom, como é impossível resumir todos os contos numa resenha de poucas linhas digo apenas que vale muito a pena ser lido.

ps: já li o livro 5 vezes e a cada leitura descubro algo novo no livro, um detalhe, uma preciosidade deixada pelo autor, para ser garimpada.
na última leitura descobri que fazia mençao a uma raça de gado já extinta na idade média, como se existisse no universo de seus vaqueiros, fora novas descobertas de "brincadeiras" vocabulares do autor.
Salomão N. 09/10/2017minha estante
Essa sua observação só é mais uma prova que o Rosa transcende o tempo e é um autor de calibre universal.




Nury 17/12/2012

"Sagarana" é um verdadeiro divisor de águas no âmbito da literatura lusófona, pois marca o início da profunda transformação verbal realizada na língua portuguesa pelo autor; Guimarães Rosa foi, além de escritor, notório poliglota ("Eu falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras."), homem inteligentíssimo, diplomata, médico. Acima de tudo, porém, foi um profundo amante da palavra, e essa paixão pelas letras é claramente a característica mais latente de sua literatura.

Confesso que, embora este não tenha sido meu pórtico à obra de Guimarães Rosa (meu primeiro contato com ela foi o excelente volume de contos "Primeiras Estórias"), o livro foi, de início, uma leitura um tanto quanto trabalhosa devido à escrita ímpar e inimitável do autor. No decorrer das páginas fui acostumando-me (ou melhor, reacostumando-me, dado que o mesmo embargo inicial marcou minha leitura de "Primeiras Estórias") à prosa roseana.

No entanto, acredito que a singularidade linguística de Guimarães Rosa não seja novidade para ninguém, portanto, falemos um pouco das estórias. Os contos que compõem "Sagarana" são todos ambientados no sertão mineiro e povoados pela sorte de gente que lá reside - consequentemente, o diálogo é permeado por regionalismos, nomes de fauna e flora e um português marcadamente coloquial. Os personagens apresentam os traços físicos típicos da região. Os enredos lidam com o cotidiano do sertanejo (entretanto, dois deles merecem destaque por apresentá-lo da perspectiva de animais: "O burrinho pedrês" e "Conversa de bois").

Todavia, (e é nisto que, na humilde opinião deste leitor, reside a força da literatura roseana) percebe-se que, destituídas de maior especificidade, as tramas possuem uma certa universalidade: são casos que podem se passar tanto no sertão mineiro quanto na Europa medieval ("O sertão é o mundo."). Guimarães Rosa, ao mesmo tempo em que retrata com fidelidade seu berço, tece contos cativantes e atemporais, e, mais importantemente, ao fazê-lo, alcança o que é para mim o objetivo de todo escritor: capturar a essência da alma humana em palavras. Leitura obrigatória para a vida.
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19/11/2012

Contos especiais
Eu adoro os livros (que já li) de João Guimarães Rosa. Adoro a linguagem que o autor usa, os personagens que ele constrói, os cenários e suas descrições tão familiares para mim, mineira e montesclarense.

Sagarana é um livro composto de nove contos, bem ao estilo do autor: “Burrinho Pedrês”, “A volta do marido pródigo”, “Sarapalha”, “Duelo”, “Minha Gente”, “São Marcos”, “Corpo Fechado”, Conversa de Bois”e “A Hora e a vez de Augusto Matraga”. Após pesquisas, descobri que o nome do livro é composto por uma palavra formada pelo hibridismo (junção de radicais de línguas diferentes): “Saga” significa “canto heróico” e é de origem germânica e “rana”, na língua indígena, quer dizer “espécie de”.

Gostei bastante dos contos: “Minha Gente”, “Corpo fechado” e “A Hora e a vez de Augusto Matraga”. “Minha Gente” é um conto com muito lirismo e mostra a história de Emílio, que faz uma visita à fazenda de seu tio, que tenta ganhar as eleições locais, e descobre estar apaixonado pela sua prima, Maria Irma. Os dois tiveram um namorico no passado. Após investidas, ele não é correspondido pela prima, que afirma que conhece o primo muito bem e sabe que ele não gosta dela e sim de uma amiga sua, Armanda e que ela gostaria de apresentar os dois. Incorformado, Emílio vai embora da fazenda, tenta provocar ciúmes com outra mulher, sem sucesso. Então, ele volta para a fazenda do tio, conhece Armanda e acaba se casando com ela.

“Corpo fechado” é narrado em primeira pessoa por um médico de um povoado que é amigo de Manuel Fulô, um personagem muito conversado, dono de uma mula, Beija-Fulô, um de seus maiores tesouros. Pela maneira que a narrativa é conduzida, o leitor acaba simpatizando-se com Manuel Fulô e suas histórias. Certo dia, o valentão da cidade, Targino, resolve ter uma noite com a noiva de Manuel Fulô e avisa para ele que, se ele não interferir, não morre. Desesperado, Manuel recebe a visita do feiticeiro, que lhe propõe “fechar o corpo”do personagem em troca de sua mula (o feiticeiro tinha uma sela que Manuel desejava, ao mesmo tempo, o feiticeiro queria a mula de Manuel). O acordo é fechado e Manuel acaba duelando com Targino, ganhando a luta e passando a ser o valentão da cidade.

Em “A Hora e a vez de Augusto Matraga” o autor, usando a sua linguagem peculiar, constrói uma narrativa com vários temas relativos ao sertão mineiro e personagens muito interessantes, como o próprio protagonista, Augusto Estêves (Nhô Augusto ou Augusto Matraga). Ele é o valentão do povoado, briguento e destemido. Porém, seus capangas o abandonam e sua mulher e filha fogem com outro homem. Augusto Matraga vai à casa do major tomar satisfações com os ex-capangas, mas o major ordena que ele seja espancado e morto. Augusto Matraga acaba fugindo, saltando de um despenhadeiro. Apesar de muito ferido, um casal de pretos o salva e o leva para casa e lá cuidam dele. Após um grande período de recuperação, o protagonista se recupera e decide se tornar uma pessoa melhor, para tentar se redimir dos seus pecados. Ele vai morar na única propriedade que lhe restara, com o casal de pretos. O protagonista começa a trabalhar de sol a sol, sempre ajudando o casal de pretos e as pessoas do povoado. Um dia, aparece na cidade o jagunço mais temido do sertão, Joaozinho Bem-Bem. Este simpatiza com Augusto logo à primeira vista e os dois acabam se tornando grandes amigos. Joãozinho Bem-Bem convida Augusto para se tornar um dos seus. Apesar de tentado, Augusto recusa e os dois se despedem. Após um tempo, Augusto resolve ir procurar sua hora e vez. Em suas andanças, acaba se encontrando com Joãozinho Bem-Bem, que está prestes a matar o filho de um pai, que está implorando pela sua vida. Augusto tenta dissuadir o amigo e os dois acabam se desentendendo e começam a duelar. É uma briga entre compadres, um respeitando o outro. Eles duelam até a morte de ambos.

É claro que houve contos que me tocaram bastante e outros nem tanto. Mas, a leitura sempre vale a pena.
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