Paulo Silas 16/12/2022Buscando evidenciar e potencializar a noção de desejo - para além de pretensões outras tantas -, Deleuze e Guattari fazem uma ampla, densa e profunda abordagem crítica contra algumas categorias engessadoras da psicanálise e da psiquiatria, tendo como resultado uma obra complexa que pode ser considerada também como revolucionária no âmbito em que se situa, produção essa resultante do influxo de Maio de 68. Tem-se em "O Anti-Édipo" uma espécie de leitura filosófica crítica da psicanálise, propondo os autores uma leitura diferente sobre a constituição do sujeito e da sociedade em que se situa e constitui, o que resulta naquilo que no campo clínico é designado como esquizoanálise.
Nessa robusta obra que ultrapassa as 500 páginas, há uma divisão capitular que estabelece de forma não necessariamente ordeira os campos tratados em cada qual. No primeiro capítulo, "As máquinas desejantes", os autores abordam e definem importantes conceitos como 'produção desejante', 'corpo sem órgãos', 'máquina' e outros. No segundo capítulo, "Psicanálise e familismo: a santa família", critica-se o imperialismo do Édipo e de algumas outras estruturas na psicanálise. Já no terceiro capítulo, "Selvagens, bárbaros e civilizados", a máquina capitalista civilizada é abordada dentro do contexto de análise proposto pelos autores. No quarto capítulo, "Introdução à esquizoanálise", os autores explanam sobre os conceitos e o processo da proposta esquizoanalítica. A obra é encerrada com um apêndice que funciona como um "balanço-programa para máquinas desejantes".
"O Anti-Édipo" é de uma leitura bastante complexa, cujo processo de estudo é árduo, difícil, exigindo do leitor um mínimo de conhecimento prévio sobre muitas categorias psicanalíticas - ou sobre a psicanálise em geral -, além de pressupor a leitura de obras tantas outras. É um livro desafiador, portanto, que traz uma contundente crítica contra a psicanálise, não a refutando no todo, mas construido diferentes leituras sobre muitas questões tratadas pelo campo psicanalítico - como o inconsciente, por exemplo. Uma obra que reúne elementos da filosofia, da psicanálise, da antropologia, da literatura, da economia, das artes em geral, da ciência, da biologia e da política, constituindo assim uma abordagem plural por Deleuze e Guattari que é e deve ser considerada como uma clássico necessário para o campo das ciências humanas e sociais.