Fabiana Vicentim 02/08/2019
Retrato atemporal da sociedade brasileira
Briga de casal ou retrato da classe média versus mídia/jornalismo/intelectualidade/ciências humanas na década de 70, no Brasil, em plena ditatura? Depois de uma noite de amor entre um homem e uma mulher, e um desjejum e um cigarro, tudo se transforma quando esse homem fica colérico depois de ver sua cerca viva comida por saúvas e ataca seus empregados, Mariana e Antonio.
Respondendo à pergunta, arrisco a dizer os dois. A classe média ontem e hoje briga contra qualquer tentativa de racionalidade como numa briga de casal depois de um jantar com uma garrafa ou duas de vinho. Perde-se as estribeiras e mostra sua face mais obscura: fascista, preconceituosa, reacionária e mimada. Um menino que precisa ser banhado e nunca contrariado (literalmente na narrativa), senão faz birra e fica agressivo, perdendo toda sua candura de horas atrás.
Mas a verdade é que essa personagem que parece representar a classe média, sendo um homem, sabe de seus privilégios e sabe que precisam dela, ela é a mais respeitada, a estrutura de toda a sociedade. Estranho que apenas os empregados, a classe trabalhadora, é que são nomeados, tendo assim identidade. Estranho ou não...
Para além da escrita liricamente maravilhosa de Nassar, sua complexidade se encontra, sem dúvida, no retrato metafórico que construiu da sociedade brasileira da época, a classe média e sua relação de amor e ódio com a sociedade, com a mídia, com as ciências e tudo aquilo que aponte suas falhas.