Filosofia da Vida

Filosofia da Vida Will Durant




Resenhas - Filosofia da Vida


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Pablo Paz 15/06/2023

Filosofia da Vida
"Tecnicamente, como já definimos, a filosofia é 'o estudo da experiência como um todo, ou uma porção da experiência relacionada ao todo'. Imediatamente se torna claro que qualquer problema pode constituir material da filosofia, se for estudado na sua perspectiva total, à luz de toda a experiência humana. A marca do espírito filosófico não é tanto a sutileza especulativa como a amplitude de visão e a unidade de pensamento. Devemos substituir o sub especie aeternitatis [à luz da eternidade] de Spinoza pela sub especie totius [à luz do todo]" (p. 08).

Não tinha pretensões de ler esse livro, escrito originalmente em inglês americano, até ver que o tradutor era ninguém menos que... Monteiro Lobato. E que presente! Não me arrependi da leitura, pelo contrário, foi uma surpresa e uma das grandes leituras que fiz nos últimos tempos. Will Durant (1885-1981) é um daqueles autores que nos provam que é possível fazer literatura sem escrever ficção. Usaria dois adjetivos para sua prosa: sensual e deslumbrante. Sensual porque o li como se estivesse num banquete, ou num churrasco com amigos, ouvindo coisas, causos e teorias daqueles nossos amigos ou tios inteligentes e bem-humorados. Deslumbrante por sua rara qualidade de ser simultaneamente suntuoso e humilde no que propõe. Lógica, Metafísica, Moralidade, Estética, História, Política, Religião. Há um capítulo para cada um desses grandes temas que a Filosofia já tomou por objeto e alguns deles, como o capítulo de Filosofia da História e o da Religião são apresentados à lá Platão, em forma de diálogo, no qual os grandes filósofos e os religiosos expõem seus pontos de vista. Depois dessas leituras, o leitor nunca mais confundirá as visões de mundo de um Bossuet com um Voltaire, de Hegel com Marx, ou entre Catolicismo e Protestantismo, por exemplo.

O autor nasceu em 1885 e a publicação original é de 1929 ou 1930, portanto, deve-se descontar algumas "verdades evidentes de cada época", como o fascínio pela hereditariedade, a maternidade como destino (que a I Guerra Mundial destronou ao jogar as mulheres de classe média para o mercado de trabalho) e algumas considerações sobre o sexo feminino que hoje soariam mais ultrapassadas do que ofensivas ou sarcásticas (até porque o autor é elegante e sarcasmo e elegância nunca serão vistos em companhia). Mas é uma daquelas obras que tem algo de eterno porquanto, além de sua sabedoria, há honestidade e humildade intelectuais. Vale a leitura tanto pelo conteúdo e sua abordagem dos problemas cotidianos da vida sob a perspectiva filosófica - daí o seu título - quanto pela prosa, saborosa por si mesma. E já adianto que minha leitura foi conduzida mais pela prosa do que pelo conteúdo. Ei-lo um exemplo:

"O tempo é o nosso maior amigo e também o nosso maior inimigo; dá-nos a sabedoria e dá-nos a morte (...) Está aí a razão de ser a Escultura a maior das artes: porque esculpe uma beleza tão duradoura como a pedra, e tão fina como a carne humana. (...) E o tempo destruirá a pedra da escultura e os pigmentos da pintura (...) A beleza é penosa de ser criada e fácil de ser aniquilada." (p. 491).

Obrigado Monteiro Lobato por verter esta obra para a nossa língua portuguesa.
JurúMontalvao 17/06/2023minha estante
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