A falsa medida do homem

A falsa medida do homem Stephen Jay Gould




Resenhas - A falsa medida do homem


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Marcos606 25/03/2024

Stephen Jay Gould (1941-2002) foi um paleontólogo americano, biólogo evolucionista e escritor científico, este livro, publicado em 1980, é uma pesquisa e crítica das teorias dos séculos XIX e XX que postulavam que a inteligência humana era um número fixo e mensurável. Gould argumenta que os cientistas convencionais não estavam imunes às crenças racistas e preconceituosas generalizadas do seu tempo, e que estes preconceitos inconscientes estão subjacentes à história do determinismo biológico, ou ao argumento de que o comportamento humano partilhado é inato e controlado principalmente pela biologia. Segundo este argumento, as diferenças sociais e econômicas entre grupos humanos são o resultado de características biológicas fixas e herdáveis, e não o resultado de desigualdades sistêmicas dentro da própria sociedade. Aqui, ele analisa e critica as tentativas científicas de provar que valores numéricos fixos podem ser atribuídos a indivíduos e grupos através da medição da inteligência como uma quantidade única.

A primeira parte do livro centra-se na ciência da craniometria, que esteve na vanguarda do determinismo biológico durante o século XIX. Durante este tempo, a investigação científica concentrou-se na compilação de dados numéricos que medem o tamanho dos cérebros humanos, a fim de chegar a uma metodologia racional e objetiva para classificar a inteligência racial. Gould examina as primeiras descobertas científicas neste campo e também reexamina o trabalho dos principais cientistas Samuel George Morton e Paul Broca. Ao rever as tabelas de recolha de dados e as publicações de Morton e Broca, Gould argumenta que, uma vez removidos os preconceitos inconscientes e prejudiciais, os dados científicos mostram que não há provas de diferenças intelectuais baseadas na raça. No entanto, como foram estabelecidas abordagens quantificáveis ​​de medição da inteligência, teorias científicas, a investigação publicada não só foi aceita, como abriu o caminho para outras teorias da inteligência baseadas na raça, incluindo a recapitulação evolutiva e a morfologia criminal.

A segunda parte do livro enfoca o uso de testes de inteligência no século XX. Gould examina o desenvolvimento histórico da escala de QI de Alfred Binet, a sua intenção original sobre como o teste seria utilizado e a sua transmutação num meio de provar que a inteligência é um número biologicamente determinado e herdável. Em sua revisão da pesquisa de H.H. Goddard, L.M. Terman e R.M. Yerkes, Gould traça a aceitação generalizada dos testes de inteligência na América da década de 1920 e detalha como este movimento influenciou o isolamento das chamadas pessoas “débeis mentais”, incentivou os testes de inteligência e a rotulagem de crianças e impactou negativamente as cotas da política nacional de imigração.

Na terceira seção do livro, Gould apresenta o trabalho de Charles Spearman, Cyril Burt e L.L. Thurstone, três pesquisadores de inteligência que popularizaram a ferramenta de modelagem estatística de análise fatorial. Na ciência, a análise fatorial é usada para reduzir sistemas relacionais complexos a uma dimensão singular, simplificando assim os sistemas e fornecendo um meio razoável de interpretar pontos de dados díspares. Ao examinar a história dos testes mentais, Gould fornece uma crítica ao “componente principal” de Spearman e argumenta que o seu fator de inteligência geral (g) era altamente ambíguo e abstrato. Baseando-se em seu próprio conhecimento especializado de análise fatorial, Gould fornece uma análise crítica e aprofundada da lógica de Burt e Thurstone ao usar a análise fatorial para apoiar suas teorias de inteligência hereditária racialmente.

Na sua Conclusão, Gould observa que o desenvolvimento da ciência depende não apenas de novas pesquisas, mas também da refutação de ideias ultrapassadas. Na sua opinião, embora a ciência ofereça muitos caminhos para investigação futura relativamente à intersecção do comportamento humano e da biologia humana, os cientistas devem ter cuidado ao fazer perguntas que pintem um retrato limitado e inflexível do potencial da humanidade.
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Malle 26/11/2023

A flexibilidade é marca da evolução humana
Extremamente necessário, "a falsa medida do homem" por s. j. gould passeia pelas principais teorias que tentaram ? em vão e por muitas vezes, circulares no sentido de partir de uma conclusão preconceituosa ? de quantificar, biologicamente, o nível de inteligência humana, assim como supostas predestinações genéticas.

seja na forma de medidas cranianas ou qi hereditário, gould descreve, em alguns casos desmente, e em outros rebate magistralmente, de forma científica e estatística (digamos então, "no mesmo terreno"), todas essas preconceituosas tentativas de classificação humana.

é uma leitura fácil porém densa, e talvez um pouco deprimente, mas extremamente necessária.
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Matheus.Correa 06/08/2023

Doeu, mas foi necessário
"A biologia criacionista estava profundamente equivocada a respeito da origem das espécies; mas o criacionismo de Cuvier não era uma visão do mundo mais pobre ou menos desenvolvida que a de Darwin. A ciência avança principalmente através da substituição, e não pela adição. Se o barril está sempre cheio, é preciso eliminar as maçãs podres antes de acrescentar outras melhores." - E é sobre teorias, sobre viés e como a ciência pode sim, assim como foi, ser destrutiva. Segregando classes e julgando humanos como sub-humanos. O livro abre um leque de possibilidades do quanto podemos ser manipulados por uma linguagem que não dominamos e o conto do determinismo biológico. O livro é rico em notas e ler é uma experiência social e antropológica. Obter da consciência de que o homem é produto do seu tempo é evidente em cada linha.
(...) Com vossos bicos e outras características, e olhai Nosso primeiro Homem. Ele é o único que adivinhou o Nosso enigma... Quanto a ti, Homem... terás a aparência de um embrião até que te enterrem; mas todos os demais serão embriões diante de teu poder. Eternamente imaturo, sempre conservarás em potencial a Nossa imagem; poderás conhecer algumas de Nossas aflições e sentir algumas de Nossas alegrias. Sentimos pena de ti, Homem, mas também esperança. Agora vai e faze o melhor que puderes.”
Mais de 7.500 pessoas mortas na Virgínia, uma lei que durou mais de 48 anos. Uma regra de esterilização, a frase clássica de que três gerações de idiotas não podem ser toleradas e eu penso no quanto os EUA foram um lugar trágico de preconceitos. Pessoas sendo mortas por serem "imbecis" pessoas que morreram pelo fator G. Pelo teste de QI, pessoas que tiveram as suas vidas usurpadas por monstros, que tinham sim, semelhanças claras com um bigodudo na Alemanha, só que um perdeu uma guerra, os outros não.
"Em 1927, Oliver Wendell Holmes Jr. pronunciou a sentença da Suprema Corte que confirmava a lei de esterilização do Estado de Virgínia no caso Buck contra Bell. Carrie Buck, uma jovem que tinha uma filha supostamente débil mental, havia alcançado uma idade mental de nove anos na escala de Stanford-Binet. A mãe de Carrie Buck, então com cinquenta e dois anos, havia alcançado no mesmo teste a idade mental de sete anos. Holmes escreveu uma das declarações mais famosas e sinistras de nosso século: Mais de uma vez, vimos que o bem-estar público pode reclamar a vida dos melhores cidadãos. Seria estranho que não pudesse pedir um sacrifício menor aos que já solapam as forças do Estado... Três gerações de idiotas já são suficientes."
Doeu, mas foi necessário, porque aquilo que abre seus olhos contra a claridade pouco se importa se você ficará cego depois.
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Romeu Felix 22/03/2023

Fiz o fichamento sobre esta obra, a quem interessar:
O livro "A falsa medida do homem" de Stephen Jay Gould é uma obra que discute a forma como a ciência pode influenciar a nossa visão de mundo e, por consequência, a nossa compreensão da natureza humana. O autor aborda diversas questões importantes relacionadas à biologia evolutiva, ao racismo e ao determinismo biológico.

No primeiro capítulo, Gould explora a história da medição do crânio humano e como essa prática foi usada para justificar a superioridade de certas raças. Ele argumenta que essa crença na superioridade biológica é baseada em preconceitos culturais e não em fatos científicos.

Nos capítulos seguintes, Gould discute a teoria da evolução e suas implicações para a compreensão da diversidade humana. Ele critica a visão de que a seleção natural é o único fator que influencia a evolução, defendendo a importância de outros fatores, como a deriva genética.

O autor também analisa a história do movimento eugenista, que defendia a seleção artificial de características genéticas consideradas desejáveis, e como essa ideia foi usada para justificar a esterilização forçada de milhares de pessoas.

Por fim, Gould discute a relação entre ciência e política e como as ideias científicas podem ser usadas para justificar políticas discriminatórias. Ele argumenta que é importante reconhecer a complexidade da natureza humana e evitar generalizações simplistas baseadas em crenças pré-concebidas.

Em suma, "A falsa medida do homem" é uma obra importante que questiona a visão determinista da natureza humana e a forma como a ciência pode ser usada para justificar políticas discriminatórias. Gould defende a importância de uma abordagem mais crítica e sensível à diversidade humana e sua relação com a ciência.
Por: Romeu Felix Menin Junior.
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AleixoItalo 21/02/2022

O lançamento de 'Origem das Espécies' causou um tumulto também nas ciencias sociais. Partindo da ideia de que as raças humanas também seriam selecionadas por aptidão, diversos cientistas se lançaram na tarefa de provar algo que há muito instigava o soberbo pensamento ocidental: alguns grupos humanos são mais evoluídos que outros! Esse novo "campo científico" se desenvolve primeiro com base na morfologia, que se propunha a estudar e comparar o tamanho dos cérebros, e posteriormente na psicologia com "a medida da inteligência" através dos testes de QI.

O que vemos de fato, é toda uma barafunda de metodologias desordenadas, dados falsificados, falácias narrativas, mas o pior de tudo: cientistas brilhantes, análises robustas e resultados significativos, convencidos de que certos humanos são superiores aos outros.

O que o livro de Stephen Jay Gould nos mostra, são os perigos da ciência executada sem o rigor do ceticismo, com conclusões tomadas a priori e dados coletados apenas para confirmar crenças próprias: a ciência como dogma!

Politicas eugenistas estão presentes desde os primórdios, mas tiveram um impulso intelectual no fim do século IX. Gould mostra como milhares de pessoas foram privadas de um futuro melhor por serem consideradas inaptas, ou como as leis de imigração ficaram muito mais rígidas, baseadas apenas em testes de QI.

Hoje sabemos que não existe nenhuma base científica que sustenta a ideia de humanos superiores. Apesar da Seleção Natural atuar sobre qualquer espécie, a "seleção cultural" é extremamente mais rápida em selecionar e modificar grupos humanos e as infundadas diferenças em testes de inteligência tendenciosos, são mais graças ao contexto social do que à biologia em si.

Hoje essas teorias são consideradas obsoletas, mas a ideologia ainda vive. Nossa espécie é bastante hábil em justificar seus preconceitos, por isso devemos tomar muito cuidado, pois a ciência, nosso maior motor de desenvolvimento atual, quando usada da maneira incorreta, pode causar danos irreversíveis.
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Cássio F B 20/10/2021

A Falsa Medida do Homem
Eu li este livro e ele na verdade fala sobre inteligência e como as pessoas usaram de falácias para classificar as inteligências dos seres humanos, afirmando que certos grupos são superiores a outros.
É muito bom, mas me decepcionei, porque eu comprei pensando que falasse da outra falsa medida do homem que usam para nos classificar, até hoje infelizmente continua sendo muito tabu. Por favor, cientistas, escrevam algum livro falando disso, que denigre muito mais a imagem de certos homens do que a inteligência deles.
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Gustota 22/07/2021

Todos os estudantes de ciências humanas deveriam ler esse livro.
Esse livro me surgiu por acaso, estava na minha lista há tempos, mas sempre ignorei. Recentemente, tivemos uma palestra no doutorado em que um professor de psicologia (famoso por posições no mínimo questionáveis) veio nos dar uma aula sobre psicobiologia. Na palestra, o professor usou sua abordagem genética para ir da estratégia reprodutiva das ostras até o desempenho escolar diferenciado entre os alunos, tudo para dizer sobre o determinismo genético na escola. Eu me senti como naqueles esquemas financeiros de pirâmide, quando sentimos que é um golpe, mas não temos como nos defender dos jargões e das certezas do interlocutor.

Depois de ler esse livro, acho que eu passei a ter argumentos. Stephen Jay Gould foi um famoso paleontólogo e divulgador científico (e talvez você lembre dele de um episódio dos Simpsons em que a Lisa quer desmascarar um esqueleto de um suposto anjo). Sendo biólogo e tendo as mesmas ressalvas a respeito dos maus usos da teoria evolucionária nas humanidades, ele traça todo o lixo científico produzido nesse sentido. Da frenologia à sociobiologia, passando pela eugenia e os testes de Q.I. O pesquisador analisa diretamente os dados dos pesquisadores dessas áreas e, enquanto alguns realmente estavam sendo honestos nas pesquisas científicas, mas limitados pela mentalidade geral de seu tempo, vários outros tiveram seus experimentos desmentidos empiricamente (classes inferiores com cérebros mais avantajados, testes de Q.I. altos para pessoas em subempregos, etc.), mas mesmo assim os dados foram forçados a reproduzir a desigualdade social. Em tempos de absurdos como "Escola Sem Partido" e "Menino Veste Azul e Menina Veste Rosa", esse livro é mais que essencial. Também tem um capítulo só criticando a obsessão dos cientistas sociais com as correlações, o que me deixou com a pulga atrás da orelha.
Ave Fantasma 23/07/2021minha estante
Que bacana sua resenha. Lembro-me de um professor tratando sobre esse assunto na graduação, apontando os erros desses testes, ele havia citado esse autor e eu acabei perdendo a referência. Preciso ler!




Darkpookie 14/03/2021

Comentários e trecho
Gould neste livro traça um histórico do determinismo biológico lido como científico durante muito tempo, as causas do porquê pesquisadores sérios acreditavam na validade dessa hipótese, e também um breve resumo das consequências sociais que essa teoria causou.
As duas principais causas das quais o autor parte para comentar os erros do determinismo biológico e do seu resultado em segregação/eugenia são: a reificação (tendência a converter conceitos abstratos em entidades) e a graduação (tendência a
ordenarmos a variação complexa em uma escala ascendente gradual). Leitura muito importante para conhecer diversas das estratégias usadas para justificar a inferiorização de grupos humanos (principalmente agrupados por características raciais, mas também sociais e de gênero), nestes casos por meio de falsas ciências.
Durante a leitura da obra percebi como a ciência não é imparcial, ainda que o método científico se proponha a ser, e como os próprios pesquisadores, mesmo que não intencionalmente, podem cair em falhas lógicas/estatísticas pautadas em preconceitos e opiniões anteriores. O Gould também apresenta o erro da circularidade argumentativa, ou seja, quando partimos de uma certeza e não de hipóteses, juntamos "evidências" (as vezes forjadas) para comprovar aquela certeza da qual partimos inicialmente, caindo em uma espiral.
A conclusão do livro é especialmente interessante, onde ele fala um pouco sobre a sociobiologia e suas teorias. Deixo a seguir um trecho da finalização:

"Creio que a biologia moderna proporciona um modelo equidistante entre a desalentadora tese de que a biologia não nos ensina nada sobre o comportamento humano e a teoria determinista de que a seleção natural programa geneticamente os comportamentos específicos. De minha parte, considero que a biologia pode contribuir em dois aspectos fundamentais:
1. As analogias fecundas. Grande parte do comportamento humano é, sem dúvida, adaptativa; se não o fosse, já não estaríamos aqui. Mas a adaptação, entre os humanos, não é um argumento apropriado e nem sequer bom em favor da influência genética. Pois nos seres humanos, como afirmei antes, a adaptação pode-se dar pela via alternativa da evolução cultural, não genética. Como a evolução cultural é muito mais rápida que a darwiniana, sua influência deve prevalecer na diversidade de comportamentos exibida pelos grupos humanos. Mas, ainda que um
comportamento adaptativo não seja genético, a analogia biológica poderia ser útil para interpretar seu significado. Com frequência, as exigências adaptativas são fortes, e certas funções veem-se às vezes obrigadas a seguir caminhos fixos, seja qual for o seu impulso subjacente, a aprendizagem ou a programação genética. [...] Nesse campo, os sociólogos incorreram com frequência em um dos erros de raciocínio mais comuns: descobrir uma analogia de inferir uma semelhança genética (neste caso, literalmente). As analogias são úteis, mas têm suas limitações; podem refletir condicionamentos comuns, mas não causas comuns.
2. Potencialidade biológica versus determinismo biológico. Os seres humanos são animais, e, em certo sentido, tudo o que fazemos é regido por nossa biologia. Algumas limitações biológicas estão a tal ponto integradas em nosso ser que raras vezes as reconhecemos, pois jamais imaginamos que a vida pudesse ser de outro modo. Pensemos na limitada variabilidade do tamanho médio do adulto, e nas consequências de vivermos no mundo gravitacional dos grandes organismos, e não no mundo de forças superficiais habitado pelos insetos. Ou no fato de nascermos indefesos (o mesmo não ocorre com muitos animais); de amadurecermos lentamente; de termos de dormir boa parte do dia; de não realizarmos a fotossíntese; de podermos digerir tanto carne quanto vegetais; de envelhecermos e morrermos. Todas essas características são resultado de nossa constituição genética, e todas exercem enorme influência sobre a natureza e a sociedade humanas.
Esse limites biológicos são tão evidentes que jamais provocaram controvérsia. Os temas controvertidos são comportamentos específicos que nos angustiam e que nos esforçamos penosamente por mudar (ou que nos proporcionam prazer e temos medo de abandonar); a agressividade, a xenofobia, a predominância masculina, por exemplo. Os sociobiólogos não são deterministas genéticos no velho sentido eugênico de postular a existência de genes únicos para condutas tão complexas. Todos os biólogos sabem que não existe um gene que “determina” a agressividade ou a posição do dente do ciso inferior esquerdo. Todos reconhecemos que a influência genética pode estar distribuída entre muitos genes, e que os genes fixam limites às possibilidades de variação; eles não estabelecem planos para a construção de réplicas exatas. Em certo sentido, o debate entre os sociobiólogos e seus críticos é uma polêmica sobre a amplitude da gama de variação possível. Para os sociobiólogos, a gama é suficientemente restrita para que seja possível prever a manifestação de um comportamento específico a partir da presença de certos genes. Os críticos respondem que a gama de variação desses fatores genéticos é suficientemente ampla para incluir todos os comportamentos que os sociobiólogos atomizam em diferentes características codificadas por genes separados.
Mas, em outro sentido, minha diferença com os sociobiólogos não se reduz a uma discussão quantitativa a respeito da amplitude das gamas. Ela não será resolvida amistosamente em algum ponto intermediário ideal, quando uma das partes admitirá mais restrição e a outra maior flexibilidade. Os defensores das gamas amplas ou estreitas não ocupam apenas posições
distintas de um continuum: apoiam duas teorias qualitativamente distintas sobre a natureza biológica do comportamento humano. Se as gamas são estreitas, então os genes codificam características específicas e a seleção natural pode criar e manter elementos individuais de conduta isoladamente. Se as gamas são amplas, então a seleção pode estabelecer algumas normas profundamente arraigadas; mas os comportamentos específicos são epifenômenos dessas normas, e não objetos de estudo darwiniano propriamente ditos.
Creio que os sociobiólogos cometeram um erro fundamental de categorias. Eles procuram a base genética do comportamento humano no nível errado. Procuram-na entre os produtos específicos das leis geradoras — a homossexualidade de Joe, o medo de estranhos de Marta —, quando as mesmas leis são as estruturas genéticas profundas do comportamento humano. Por exemplo, E. O. Wilson (1978, p. 99) escreve: “A agressividade dos seres humanos é inata? Essa pergunta, frequente nos seminários universitários e nas conversas mundanas, desperta paixões em todos os ideólogos políticos. A resposta a ela é afirmativa.” Como prova, Wilson cita a constância das guerras na história, e descarta qualquer exemplo de pouca inclinação para a luta: “As tribos mais pacíficas de hoje foram com frequência as mais destrutivas de ontem, e provavelmente voltarão a produzir soldados e assassinos no futuro.” Mas, se alguns povos são hoje pacíficos, então a própria agressividade não pode estar codificada em seus genes: só a sua potencialidade. Se inato significa apenas possível, ou mesmo provável em determinadas circunstâncias, então tudo o que fazemos é inato e a palavra carece de sentido. A agressividade é uma manifestação de uma lei geradora que, em outras circunstâncias, favorece a paz. A gama
de amplitude dos comportamentos específicos engendrados por essa lei é enorme e constitui um magnífico exemplo da flexibilidade típica do comportamento humano. Essa flexibilidade não deveria permanecer velada pelo erro terminológico que consiste em qualificar de “inatas” algumas manifestações da lei cujo aparecimento podemos predizer em determinadas circunstâncias.
Os sociobiólogos atuam como se Galileu houvesse subido ao alto da Torre Inclinada (aparentemente, não o fez), para lançar um conjunto de objetos diferentes em busca de uma explicação em separado para cada comportamento: a violenta queda da bala de canhão como resultado da “baladecanhonidade”; a suave descida de uma pluma como algo intrínseco à “plumidade". Mas sabemos que a ampla gama de comportamentos dos corpos que caem é explicada pela interação entre duas leis físicas: a gravidade e o atrito. Esta interação pode gerar mil formas diferentes de queda. Se nos concentramos em cada objeto, e procuramos uma explicação específica de seu comportamento, estamos perdidos. A busca da base genética da natureza humana nos comportamentos específicos é um exemplo de determinismo biológico. A procura de leis geradoras subjacentes expressa o conceito de potencialidade biológica. O problema não se coloca em termos de natureza biológica contra o adquirido não biológico. Tanto o determinismo quanto a potencialidade são teorias biológicas -, mas buscam a base genética da natureza humana em níveis essencialmente diferentes.
Prosseguindo com a analogia galileana: se a atividade das balas de canhão é determinada pela “baladecanhonidade”, e a das plumas pela “plumidade”, então pouco podemos fazer além de engendrar uma história sobre o significado adaptativo de ambas as características. Nunca nos ocorrerá realizar a experiência histórica decisiva: igualar o ambiente colocando a bala e a pluma no vácuo, e observar um comportamento idêntico em ambas as quedas. Este exemplo hipotético ilustra o papel social do determinismo biológico que é, fundamentalmente, uma teoria dos limites. Interpreta a gama habitual no ambiente moderno como a expressão de uma programação genética direta, e não como a manifestação limitada de um potencial muito mais amplo. Se a pluma atua por “plumidade”, não poderemos mudar seu comportamento enquanto continuar sendo uma pluma. Se seu comportamento é a expressão de leis amplas vinculadas a circunstâncias específicas, podemos prever uma ampla gama de comportamentos em ambientes distintos.
Por que são tão amplas as gamas do comportamento, quando são tão restritas as anatômicas? Nossa defesa da flexibilidade do comportamento é apenas uma esperança social, ou está respaldada pela biologia? Dois argumentos distintos levam-me a concluir que as gamas amplas de comportamento deveriam ser consequência da evolução e da organização estrutural de nosso cérebro. Pensemos, primeiramente, nas prováveis razões adaptativas que determinaram a evolução de um cérebro tão grande. O caráter único do homem está na flexibilidade com que pode atuar nosso cérebro. O que é a inteligência senão a aptidão de resolver problemas de um modo não programado ou, como se costuma dizer, criativo? Se a inteligência nos outorga um lugar especial entre os organismos, parece-me provável que a seleção natural tenha atuado para maximizar a flexibilidade de nosso comportamento. O que seria melhor, do ponto de vista da adaptação, para um animal que pensa e aprende: a seleção de genes específicos da agressividade, do ódio e da xenofobia, ou de leis de aprendizagem capazes de gerar um comportamento agressivo em determinadas circunstâncias e um comportamento pacífico em outras?
Em segundo lugar, devemos ser cautelosos quando outorgamos demasiado poder à seleção natural e interpretamos todas as capacidades básicas de nosso cérebro como adaptações diretas. Não tenho dúvidas de que a seleção natural tenha exercido sua ação no que se refere à construção de nossos cérebros de grande tamanho; confio igualmente em que nossos cérebros se avolumaram para se adaptarem a determinadas funções (provavelmente um conjunto complexo de funções inter atuantes). Mas estas suposições não levam à noção muitas vezes defendida dogmaticamente pelos darwinistas estritos de que todas as capacidades principais do cérebro devem ser produtos diretos da seleção natural. Nossos cérebros são computadores imensamente complexos. Se instalo um computador muito mais simples para realizar a contabilidade de uma fábrica, esse computador também pode realizar muitas outras tarefas, muito mais complexas, não relacionadas com a função original. Essas capacidades adicionais são consequências inevitáveis do seu projeto estrutural, e não adaptações diretas. Nossos computadores orgânicos, muitíssimo mais complexos, foram também construídos para fins específicos, mas possuem uma tremenda reserva de capacidades adicionais, entre as quais está. suspeito, a maior parte das que nos caracterizam seres humanos. Nossos antepassados não liam nem escreviam, nem se perguntavam por que a maioria das estrelas não muda de posição relativa enquanto que cinco pontos luminosos erráticos e dois discos maiores deslocam-se ao longo de uma zona que hoje denominamos Zodíaco. Não é necessário que vejamos Bach como um afortunado efeito secundário do papel da música como elemento favorável à coesão tribal, nem Shakespeare como uma afortunada consequência do papel do mito e da narrativa épica na manutenção dos grupos de caçadores. A maioria das “características” do comportamento que os sociobiólogos tentam explicar talvez nunca tenha sido submetida à ação direta da seleção natural; pode exibir, portanto, uma flexibilidade que as características indispensáveis para a sobrevivência nunca apresentam. Podem mesmo ser chamadas de “características” essas complexas consequências do nosso projeto estrutural? Esta tendência a atomizar um repertório de comportamentos, a convertê-lo em um conjunto de “coisas”, não é mais um exemplo da mesma falácia de reificação que infestou os estudos sobre a inteligência durante todo o nosso século?"
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Marina Milford 19/10/2020

Leitura que me fez refletir
O livro é muito bom, trás reflexões muito nescessárias e me causou muita raiva ao ser apresentada aos argumentos que os hereditaristas usavam e seus nuances que ainda existem na sociedade. A leitura é bastante fluida principalmente na primeira metade. Na segunda metade passa a apresentar muitos dados, podendo se tornar um pouco cansativa, principalmente no último capitulo que trata de "análise fatorial", porém, mesmo assim da pra entender perfeitamente a ideia geral e o motivo das críticas do autor. Recomendo muito a leitura!
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Jojo 09/05/2020

A Falsa Medida do Homem: Histórico de pseudociências para justificar preconceitos
Há uma ilusória crença - até mesmo entre alguns cientistas - de que a ciência é neutra e apolítica. Sobre a biologia recai a crença de que esta pode explicar todas as coisas da sociedade humana em uma relação causal. Porém, no livro "A Falsa Medida do Homem", de Stephen Jay Gould, percebemos o quanto a ciência pode ser usada como ferramenta para reforçar ideias pré-concebidas em preconceitos, racismo, machismo e classicismo, gerando exclusão, manutenção de hierarquias e poder.

O livro é composto por sete capítulos apresentando os principais cientistas e ideias acerca da ciência feita por homens para comprovar suas visões de mundo e justificá-las com o determinismo biológico - baseado em limitações impostas biologicamente para explicar a "inferioridade" de raça, classe e sexo aos homens brancos e ricos. Por exemplo, os cientistas utilizaram a craniometria (medição de crânios) como principal método para compravar diferenças inatas e herdadas de inferioridade de negros e indígenas. Porém, Gould nos mostra como essas medidas apresentam erros científicos e, na verdade, só determinavam os preconceitos sucumbidos por trás. Em tempos de pseudociências, vemos que não são exclusivas do século XXI e como foram sustentadas em crenças particulares, negando ou cegando para observar os fatos.

No quarto capítulo, temos contato com as medições de corpo, principalmente do cérebro, para associar as relações de raças e classes com a criminalidade - o que formou a chamada Antropologia Criminal. Entretanto, mais uma vez, Gould traz à tona os erros e fraudes dessas pesquisas realizadas, que só confirmavam os preconceitos dos cientistas responsáveis.

Por fim, somos apresentados às ideias deterministas e hereditaristas sobre a inteligência humana e como o Quociente de Inteligência (QI) tem sido usado para, novamente, determinar uma inteligência inata e superior de homens brancos e ricos, inferiorizando os grupos marginalizados. Todas essas contribuições, ditas científicas, foram improtantes para decisões políticas.

Ao longo desses períodos, muitos cientistas também tentaram justificar os determinismos e o hereditarismo com base na Teoria da Evolução Biológica (à luz de uma péssima interpretação da teoria evolutiva, eu diria!). Entretanto, os caracteres que tanto tentaram medir são, na verdade, produtos de uma evolução cultural - e não biológica.

Apesar das ideias do determinismo biológico parecerem algo restrito nas medições de cabeças e nos testes de inteligência do século passado, vemos influência enraigadas na nossa sociedade contemporânea. Se você ligar os noticiários, principalmente os sensacionalistas que amam ganhar audiência por casos de criminalidade, verá um apresentador colocando a culpa de crimes em indivíduos sem questionar a estrutura social e ambiental relacionadas - algo muito parecido com a Antropologia Criminal de Lombroso. Lombroso tirou conclusões baseadas em seus preconceitos para associar a criminalidade a um grupo de raça e classe específicos: negros e pobres. Os discursos atuais da massa, influenciada por preconceitos culturalmente herdados e reforçados midiaticamente, são os mesmos, mudando apenas o contexto histórico. Comentários racistas atrelados à ideia de inferioridade e criminalidade, como "Tinha que se preto", "só podia ser, com essa cor", além de enquadramentos policiais de garotos negros e o alto índice de mortalidade da população negra (e muito mais coisas!) são reflexos associados ao histórico das falsas medidas do homem branco.

Também vemos o reflexo na educação: quem já não achou que não era inteligente o suficiente por não ter um dom ou não ter herdado a inteligência? Ou, então, professores que separam seus alunos em "bons alunos" e "maus alunos", muitas vezes atribuindo os maus alunos às classes de periferia, a negros e às mulheres.

Portanto, "A Falsa Medida do Homem" é um livro indispensável para entendermos ciência e a história por trás de preconceitos que aparecem velados - velados apenas para aqueles que não o passam em sua própria pele devido seus privilégios.
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agathatriste 12/02/2020

Ciência e humanidade
O autor, Stephen Jay Gould, é conhecido por seus excelentes trabalhos em divulgação científica. Paleontólogo e biólogo evolucionista, nessa leitura Gould define as teorias da evolução antes de Darwin. Ao decorrer do livro nos é apresentado teorias que se pretendiam justificar o racismo. O livro traz esses fatos com trechos de cartas, ilustrações e outras fontes. É uma ótima forma de aprender mais sobre ciência e como está influência diretamente a sociedade.
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Fábio Valeta 19/07/2015

A falsa medida da ciência
Dentre os vários ramos do estudo da História, um dos meus preferidos é a História da Ciência. Preferencialmente, a das pseudociências: suas teorias, hoje refutadas, entendidas em um momento em que eram consideradas verdades absolutas.

Dentro desse gênero, gosto de ler livros que tratem sobre a Eugenia. E foi esse o motivo que me atraiu ao livro de Gould. Na verdade, o livro não trata da Eugenia propriamente dita, embora ela seja um fator importante, mas ele é majoritariamente sobre o estudo da inteligência das diferentes “raças” e como esse estudo, muitas vezes (para não dizer quase sempre) pautado no absurdo, atraiu uma quantidade tão grande de cientistas e pensadores.

Mais do que fazer uma história em sobre os testes para comprovar a inteligência (ou falta) dela nos diferentes povos, o autor, um biólogo, procura também retomar os dados antigos e analisa-los sem os preconceitos de outrora e com noções mais elaboradas de estatística e análise. Se por um lado essa ideia é bem interessante, acaba tornando o livro muito cansativo para aqueles não tão familiarizados com noções matemáticas que são necessárias para entender alguns dos estudos.

O capitulo 6, por exemplo, foi para mim um martírio, com explicações sobre análise fatorial, bifatorial, “G” de Spearman e outras coisas. Mesmo depois da leitura essas noções continuam sendo completamente obscuras (historiador e matemática não combinam mesmo) e todo o capítulo final do livro pouquíssimo foi aproveitado na leitura.

Mas apesar dos problemas, no geral é um livro bem interessante. Destaco principalmente a parte em que o autor fala sobre Alfred Binet, “pai” dos testes de QI, e como ele via os testes única e exclusivamente como uma forma de identificar deficiências no aprendizado de crianças e, a partir daí, pensar em estratégias para que elas não ficassem atrasadas. E mesmo com ele dizendo categoricamente que os testes de QI NÃO MEDIAM inteligência e NÃO DEVERIAM ser entendidos como uma forma de criar um rank entre as pessoas, foi completamente ignorado. E o QI, se a pessoa não tivesse uma média boa, significava simplesmente que a ela não era inteligente e isso já era o suficiente para determinar o resto da sua vida. Afinal, porque uma pessoa de QI baixo deveria continuar a estudar se nunca será ninguém relevante na vida?

No final das contas, é um bom livro. Mas está longe de ser uma leitura fácil ou mesmo agradável em boa parte do mesmo.
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Dias Radiantes 04/03/2015

Todos deveríam ler esse livro
O autor do livro busca ao longo da história morderna da ciência refutar argumentos hegemônicos e consolidados no meio ciêntífico em determinados períodos.
O interessante é que ele não o faz apartir de dados atuais, mas dos dados dos próprios ciêntistas aos quais quer refutar. Assim, vemos o quanto a ciência não é capaz da neutralidade que se propõe pelo simples fato de ser feita por seres humanos com crenças e premissas.
O livro fala da craniometria aos testes de QI (tão respeitados hoje em dia) e como a ciência por vezes funciona como instrumento para reforçar preconceitos e incitar segregações sociais.

Esse é um dos livro que, com certeza, ampliaram minha visão de mundo e marcaram a minha vida.
Leitura obigatória para todos os que trabalham na área da saúde e da justiça. Mas principalmente para aqueles que querem elevar suas cabeças acima da ignorância e entender um pouco porque as coisas estão do modo como estão.
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JPHoppe 17/05/2011

Neste fantástico livro, Stephen Jay Gould revisa toda a história da ciência utilizada para a discriminação de raças e grupos humanos.

Todas os métodos utilizados, desde a craniometria aos testes de QI de Goddard e Stanford-Binet cometeram um número absurdo de erros e manipulações, incluindo falsificações descaradas de dados para justificar seus preconceitos.

Morton era levado, talvez de modo inconsciente, a ser mais desatencioso com os crânios de grupos por ele inferiores, além de utilizar metodologias com margens de erro além do aceitável estatisticamente. Lombroso, que media corpos, fazia medições de inúmeras variáveis do corpo humano e, ao achar algo que suportasse suas conclusões apriorísticas, as mencionava, ignorando todo o restante. Talvez o caso mais gritante é de Cyril Burt, que simplesmente inventou gêmeos para seus testes, de forma a aumentar sua base de evidências.

O grosso do livro destina-se a revisar os testes de QI, de início propostos por Binet apenas para verificar que crianças necessitavam de educação especial, para mais tarde destinar milhares de pessoas a segregação e humilhação. Como no famoso caso "Buck Vs Bell", com a aterrorizante conclusão de que "duas gerações de imbecis são o suficiente"; e a dor de Doris Buck, esterilizada sem saber e que por anos a fio tentava ter um filho.

Em suma, um livro que, além de desconstruir uma suposta base científica para a discriminação, também é um retrato da paixão de Gould pela ciência e pela vida.

Recomendado.
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de Aquino 22/02/2011

FALSA medida do homem
Stephen Jay Gould destrói a "empresa" dos hereditaristas... raciocínio circular não é Ciência.

Sem atacar pessoalmente, Stephen Jay Gould mostra que todas as "comprovações científicas" da inferioridade de raças e povos na verdade são apenas fruto da aspiração dos cientistas em comprovarem seus pontos de vista - leia-se preconceito. Falsificações, falhas de raciocínio, entre outros artifícios, foram usados para subjugar outros povos.

Muitos exemplos tristes, como o Ato de Restrição da Imigração dos EUA que impediu que muitas pessoas tivessem uma vida melhor, o teste 11+ na Inglaterra...

"A Falsa Medida do Homem" é um livro essencial para os amantes da Ciência e da História.

Muito Recomendado.
JPHoppe 14/05/2011minha estante
Mais tarde, vendo uma entrevista na Reader's Digest, descubro que Daniel Craig, o atual James Bond, falhou no seu 11+ e foi para uma escola secundária o/




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