Os Cantos de Maldoror

Os Cantos de Maldoror Conde de Lautréamont




Resenhas - Obra Completa


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Gu Henri 21/11/2018

Lautréamont, o primeiro vanguardista

Lautréamont, pseudônimo de Isidore Ducasse, foi um autor que se fundiu ao seu personagem Maldoror; deveras ao mistério de sua vida. Os mais profundos, inquietantes, pervertidos, perversos e perturbadores desejos de Ducasse estão n’Os Cantos, a saber primeiramente que, algumas personagens foram reais pessoas reais que conviveram com o autor; alguns eram seus colegas de colégio por exemplo, seus nomes se mantiveram iguais aos reais na primeira publicação, porém na versão mais tardia da obra, isso é, na versão definitiva, por censura, houve a mudança, houve a substituição dos nomes pessoais próprios por nomes de animais…

Os Cantos propõem: um estranhamento, uma fuga realidade, confusão, loucura e bestialidade. Lautréamont foi um autor que andou na contra-mão da tradição, porém não foi o primeiro a fazer isto. Anteriormente o simbolismo como movimento já fizera o mesmo: também se opôs ao realismo, mas ainda antes, Baudelaire já era uma figura considerada. Os Cantos de Maldoror apresentam certa similaridade com Poemas em Prosa (ou Spleen de Paris) de Baudelaire, outra semelhança: ambos quando foram publicados fizeram polêmica. Os Poemas em Prosa, talvez, seja a grande inspiração de Lautréamont.

Filosoficamente analisando; a oposição ao realismo está para além de uma simples oposição a própria realidade ou uma fuga desta; é também uma oposição às concepções científicas da época, bem como da tradição filosófica ocidental: do racionalismo, da lógica, da coerência, do belo e das virtudes morais.

Lautréamont canta não só contra a tradição, como canta contra a religião, contra Deus, canta o mal, canta contra os homens, canta contra a razão e canta contra qualquer imposição lógica e coerente, canta contra o belo e também contra as virtudes morais. Aos surrealistas ele se torna a grande referência. Os Cantos eram o caos, eram desordem, eram a escrita sem qualquer barreira da lógica e do racional, eram a escrita automática, sem qualquer veto à criatividade, não houve barreira alguma para impedi-los em sua plenitude enquanto obra de arte livre. Os Cantos de Maldoror revelam uma arte subversiva, contestadora, polêmica, alucinada, onírica, grotesca, repulsiva, perversa, nonsense, e principalmente: única.
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Nesta versão, da editora Illuminuras há: Os cantos, e, As poesias e as Cartas. Farei algumas pequenas análises sobre os dois primeiros. Os cantos de Maldoror cantam o mal, enquanto que, as Poesias, cantam o bem. N’Os Cantos de Maldoror, há maior atração e genialidade. Ambos os livros, usam da cópia literal, do plágio, da paráfrase, da referência, apropriam-se dos escritos de outros autores, em alguns casos, suprimem-se e/ou acrescentam-se palavras, para mudar ou manter o significado.

A inovação é o ponto alto de toda a obra de Maldoror, é a mesma força de inovação que movimentou as vanguardas europeias do entre-guerras, principalmente o dadaísmo e o surrealismo. Tendo ambos os movimentos o ilógico, o escandaloso, o grotesco, o feio e o absurdo como estética. Adentravam domínios que não eram considerados produtos da razão, eram experimentações, produtos do absurdo, da loucura, dos sonhos. Portanto, devemos considerá-las, à luz do entendimento, não só movimentos de vanguarda artísticas, mas político-filosóficos. Demarcando-as como contrárias à razão, isso é, irracionais.

O dadaísmo explorou as possibilidades da crítica à própria arte como arte para atacar ao establishment, aos horrores da Primeira Guerra Mundial e, sobretudo, à sociedade burguesa que causara tudo isso. Para tanto, usou a anti-arte como arte, produziu a arte-conceitual, a performance, etc.

O dadaísmo introduziu objetos industrializados comuns e do cotidiano dentro de contextos artísticos (como os Ready-Made promovidos primeiramente por Duchamp), para contestar a própria arte. Usaram da realocação destes objetos comuns industrializados como arte, portanto, estes objetos tiveram suas finalidades sublevadas. Desta nova adequação surge arte para contestar o próprio ideal de arte e a ideologia da burguesia, pois esta ditava o que era arte. Esta sátira mudara a história da arte. Não havia intencionalidade a ser alcançada pelos dadaístas, embora tenham-na alcançado posteriormente, quando a própria crítica escandalosa, assume uma forma, ou essência marcante deste movimento. Era a própria arte desvinculada de qualquer propósito, de qualquer tentativa de encaixe, era a arte atacando a própria arte, movidos pelo irracionalismo e pelo nonsense, que tornaram partes das características do movimento.

Duchamp ao introduzir a sua famosa fonte (Fontaine), que na verdade era um mictório, num local destinado à arte tornou-a arte. Há diversas questões que podem ser levantadas, que tem paralelo com o intento de Lautréamont.

O nome Maldoror poderia ter uma multiplicidade de significados, a depender do contexto (da língua) a ser pronunciado, da mesma maneira fez Duchamp ao assinar com um pseudônimo seu mictório: assinou R. Mutt, que especula-se, a depender do contexto (da língua) poderia significar múltiplas coisas. O ready-made de Duchamp, como já dito, consistia na apropriação de um objeto industrializado do cotidiano, sem qualquer vínculo com a arte, para transpô-lo numa plataforma que era própria da arte, o mictório é escolhido pois é algo escatológico, portanto que nunca poderia ser encontrado exposto num museu ou num local destinado à arte, era uma zombaria, um escândalo.
Um objeto que teve por finalidade receber urina, quando desvinculado desta finalidade, adquire uma outra: passa a ser arte, ou seja, adquire uma qualidade de ser admirado como arte não tanto por suas qualidades físicas, mas mais pelos questionamentos sobre o que é a própria arte. Aquela arte dadaísta não era somente ornamental, era contestadora, queria impor-se como uma força capaz de mudar a arte. Duchamp gire-o de ponta cabeça, e torna-o uma fonte (ou ao menos diz que seja uma), onde se direcionava urina, agora, pelo nome sugestionado (Fonte) tem-se a ideia da inversão do caminho de tal líquido, ou até mesmo, que se possa ser uma fonte, não havia finalidade, a não ser sublevar o mictório e promover o escândalo.
E, outra similaridade: Lautréamont também usa desta mesma e peculiar tática de se fazer arte, apropria-se de excertos de manuais de zoologia, enciclopédias, e cópias quase ipsis litteris e insere-os aqui e ali n’Os Cantos. Aquilo nos livros de ciência, com jargões e termos técnicos, remetiam puramente e unicamente ao estudo científico agora adquire outra finalidade, tornam-se parte d’Os Cantos, viram portanto arte, ou ao menos fazem parte agora da arte. E nesta proposta lautremoniana constata-se toda a sua genialidade.

Demonstra que a adequação é o que dá a algo valor de arte ou não. Transcrevendo os discursos científicos e realocando-os num livro com o título de “Cantos” Lautréamont transforma-os em apreciáveis, ou ao menos passíveis, de serem considerados arte: agora são parte de um canto, estão na literatura que não somente a científica. Ducasse, ou Lautréamont, precursor de 5 décadas daquilo que as vanguardas europeias viriam a fazer.

Andre Brtéton em seu Segundo Manifesto do Surrealismo de 1929 diz “Tudo nos leva a acreditar que existe um certo estado da mente em que vida e morte, o real e o imaginário, passado e futuro, o comunicável e o incomunicável, altura e profundidade não são mais percebidos como contraditórios.” Buscavam portanto os surrealistas estados mentais que não os das amarras racionais comandadas pela lógica, Os Cantos de Maldoror encarnam bem essa façanha, Mas, lembramo-nos, havia a grande influência freudiana exercida nas mentes dos surrealistas, e a grande questão levantada por Freud era se os nossos sonhos significavam algo. Os surrealistas portanto depositaram sua fé na mudança do mundo, não na racionalidade, pois esta seria a real causadora do mundo ser assim. Buscavam de início a utopia, para tanto, recorriam aos sonhos como os reais condutores da verdade. Os Cantos de Maldoror pela sua classificação inusual de não ser arte, nem literatura, nem lógico, nem coerente, mas onírico, alucinado, chocante, se encaixava bem nesta categoria de arte pela qual buscavam. Lautréamont se torna para os surrealistas o rei deles. Para os surrealistas Os Cantos eram produto deste certo estado da mente, Lautréamont, ou Ducasse, ou quer que fosse que tenha escrito Os Cantos conseguiu adentrar este lugar onde seria a fonte de uma arte original e visionária, uma arte libertadora.
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Biblioteca Álvaro Guerra 23/05/2018

Os Cantos de Maldoror estão divididos em seis cantos contendo estrofes redigidas em prosa poética. Este texto singular, que o próprio escritor chama de “incandescente”, gira em torno de um herói maldito, Maldoror, que, desde o primeiro canto, dedica sua carreira ao mal, travando um combate sem tréguas com o Criador, o Homem e ele próprio. Em perpétuo diálogo com o romantismo e o texto antigo – particularmente com Homero –, esta obra é, entretanto, inclassificável, transitando constantemente do registro poético ao épico, antes de desembocar, no sexto canto, na paródia endiabrada de um “pequeno romance de trinta páginas”. Um livro que não se pode resumir em 10 ou 50 linhas, Os Cantos de Maldoror assombram o leitor pela violência verbal e das ações, e tem feito a crítica pensar no parentesco de Lautréamont com o Marquês de Sade e toda a “literatura do mal” anterior e posterior a ele.

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site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/8573212314
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