Lili 02/07/2016Pablo Escobar: Meu PaiInteressante conhecer um pouco mais sobre a história do famoso narcotraficante Pablo Escobar, desta vez através dos olhos de seu filho. Como o próprio autor diz desde o começo, este livro não é de maneira alguma uma tentativa de redenção ou justificativa dos erros do pai. Pelo contrário, o personagem me pareceu até bem menos "simpático" do que parece em outras fontes de informação. O relato não é romanceado, os fatos são apenas contados como o autor os viu. Desta forma, percebe-se toda a maldade, o egoísmo e a arrogância de seu pai. Mas esta também não foi a intenção do autor. Por outro lado, ele nos mostra todo o amor de Pablo Escobar por sua família, tudo o que fazia para agradar a seus filhos e o quanto sofria por ter que ficar longe deles enquanto vivia na clandestinidade.
Os quatro primeiros capítulos são muito focados no que o narcotraficante deixou de material quando morreu, todos o seu dinheiro, joias, imóveis, entre outros bens. Pareceu-me que o livro se arrastaria e que deveria se chamar "A Herança de Pablo Escobar". Mas a partir do quinto capítulo são fornecidas muitas informações interessantes sobre toda a sua vida e a de sua família.
Confesso que achei um pouco irritante a maneira como o autor se declara "pobre" mas fala de joias e edifícios que seu pai deixou para ele, sua mãe e sua irmã, com toda a naturalidade. Entendo que eles levavam uma vida digna de reis e quando Escobar morreu ficaram apenas o que se definiria como "bem de vida". Nesse sentido é difícil julgar o que eles realmente teriam "direito", considerando a origem de tudo o que Pablo "conquistou" em vida. Depois de um tempo, acredito que eles conseguiram seguir com suas próprias pernas, trabalhando e vivendo o mais normalmente possível em Buenos Aires, mas dizer que eles recomeçaram praticamente da miséria com certeza é um grande exagero.
Outro ponto interessante do livro é observar que na Colômbia (como no Brasil e em quantos outros países mais), o narcotráfico e outras atividades ilícitas são profundamente entrelaçadas com a política e as mais altas autoridades do país. E que, se um dia uma dessas autoridades resolve dar um basta na situação, isso também costuma ter muito mais a ver com interesses pessoais do que com a tentativa de melhorar o país ou salvar a população da violência.
Durante seus anos de atuação no crime, Pablo Escobar matou direta ou indiretamente milhares de inocentes, apenas por estarem no lugar errado na hora errada. Matou também parentes de seus inimigos, apenas para mostrar quem tinha mais poder. Por fim, matou até amigos quando estes resolveram tentar melhorar a própria situação perante a lei, usando de recursos que poderiam prejudicá-lo. O governo, por sua vez, deixou-o seguir tranquilamente seu caminho e só tentou detê-lo quando seus inimigos se tornaram aliados melhores. Entre os dois polos estava o povo colombiano, que recebia benefícios de Pablo Escobar na forma de campos de futebol, casas populares e outros, e por isso não deixava de ter carinho por ele, mesmo sabendo de toda a violência de que era capaz.
Quanto à família de Escobar, os sentimentos do leitor podem se tornar conflitantes. Como não culpar pessoas que viveram tanto tempo no luxo e no conforto, mesmo sabendo de todo o sangue que corria na origem desse dinheiro? Mas como culpar uma mulher que conheceu o criminoso quando tinha apenas treze anos e nunca mais se separou dele? Como culpar duas crianças que já nasceram nesse mundo, sem conhecer outra forma de vida? É muito difícil decidir se achamos correta ou errônea a atitude dos países que não quiseram receber a esposa e os filhos de Pablo após a sua morte ou se entendemos sua posição, considerando que ninguém sabia naquela época se eles eram apenas sua família ou se além disso eram seus comparsas no crime.
O livro traz muitas informações e levanta muitas questões interessantes para quem se interessa pela biografia de Pablo Escobar e por isso eu o recomendo.