Julia G 18/11/2011Virtude Indecente - Nora RobertsResenha publicada originalmente no blog http://conjuntodaobra.blogspot.com
"Meu Deus, jamais soubera que seria assim. O corpo, a mente, talvez até a alma, se é que existia tal coisa, se haviam elevados a alturas imensas e se retesado ao máximo. Todos os outros artifícios que ele usava, o álcool, as drogas, o jejum, nenhum deles chegara nem perto daquele tipo de intenso prazer. Sentia-se nauseado. Sentia-se forte. Sentia-se invencível.
Era o sexo ou o assassinato?
Rindo um pouco, mudou de posição no lençol molhado de suor. Como poderia saber, se aquela fora a primeira experiência com os dois? Talvez houvesse sido a combinação de ambos. De qualquer modo, teria de descobrir." (pág. 67)
Grace, uma escritora bem sucedida, nunca fora próxima da irmã. Queria que fossem amigas, queria que pudessem se conhecer de verdade, mas Kathleen nunca deu abertura para isso. Até que, depois do fim do casamento Kathy e de sua mudança para um bairro pequeno e tranqüilo, Grace convence a irmã a deixá-la passar as férias em sua casa.
E por um momento, elas tiveram tudo isso. Na primeira noite de Grace na casa da irmã, compartilham idéias, conversas regadas a vinho, e Kathleen chegou a contar mais sobre sua vida do que Grace jamais soubera. Conta-lhe que as aulas durante o dia não garantiriam dinheiro suficiente para brigar pela guarda de seu filho, e que, por isso, estava fazendo um trabalho extra durante as noites. Ser atendente de tele-sexo, usando Desireé como codinome, era algo que Grace nunca imaginaria que a irmã fizesse. Mas depois que Kathy garantiu que não haveria como chegarem até ela, que não correria risco, achou divertida a idéia.
Mas alguém chegou. Antes, Grace chegara a pensar em escrever o roteiro de um de seus romances policiais usando esse tipo de atividade como pano de fundo. Só que, dessa vez, ela não conseguia mudar a história, os eventos não eram uma escolha sua. Kathy estava morta, e não havia nada que pudesse desfazer isso.
Ed, um policial visinho de Kathy com quem Grace havia saído na noite em que a irmã fora assassinada, é quem assume o caso e, sem deixar de lado a postura profissional, apoia Grace e tenta dar a ela um pouco de sensatez para lidar com a situação, permitindo um novo sentimento na vida dos dois.
Virtude Indecente, de Nora Roberts, narra a construção do caráter de um serial killer, permitindo-nos compreender o que se passa na cabeça daquela pessoa; em síntese, loucura. Situações inventadas que se tornam tão reais para aquele que as "vivenciam", que podem influenciar todas as suas ações, sua vida. Esse foi o detalhe que mais me agradou na história: saber o tempo quem era o assassino, mas poder conhecer o porquê de suas atitudes, observar o que ele pensava. O quote acima, por exemplo, trata-se de uma passagem logo após o assassinato de Kathleen, quando ele percebe que gostou da sensação proporcionada pelos "atos".
Um detalhe interessante da narração de Nora é que ela intercala primeira e terceira pessoas, inserindo nesse processo todos os personagens. Reparei isso em outro livro dela também, então acho que é uma característica da autora. Na história, isso nos insere no ponto de vista dos envolvidos, e acabamos compreendendo-os, mesmo quando não concordamos com eles. Isso também, aliado à mistura de pontos fortes e fracos dos personagens, tornam-os mais reais.
Grace é uma mulher bem resolvida, bem sucedida e que se descobre forte com o decorrer do tempo. Ela, que sempre tinha alguém para encarar a responsabilidade por ela, precisou tomar as rédeas com a morte da irmã. Os pais precisavam de alguém com fibra, e ela foi esse alguém. Ed é simplesmente hipnotizante, lindo, forte, que quer proteger a mulher que ama, mas não é controlador. É encantador. Apesar de ter a ideia da mulher ideal "dona de casa" no início da história, muda de opinião rapidinho quando conhece Grace. Juntos, os dois são uma graça. Mais que amantes, são amigos.
Impossível deixar de comentar que, sempre que ouço falar dos livros da Nora, fala-se sobre a mistura entre ação, suspense, romance... E tenho que elogiar a autora por conseguir fazer isso com tanta graça (quem seria eu para falar mal, também, hein?). Foi uma mistura muito agradável, sem perder o tom em nenhum trecho, e sem exagero de um ou outro gênero.
Para um primeiro livro que leio da autora, achei bom. Era um pouco menos que esperava, mas não tenho do que reclamar. Quer dizer, até tenho, mas não é culpa da Nora. Isso porque a edição que eu li era vira-vira da Saraiva e durante a história percebi que esse livro era uma continuação de outro, mas o livro que vinha do outro lado não era o primeiro. Até agora não entendi o por quê disso, e não sei qual a ideia de fazerem dois livros em um e separar a série, mas... vai entender!