Dani 06/10/2015Resenha: Zulu, Caryl FéreyAli Neuman, um esperto e prestigiado chefe da polícia criminal de Cape Town, mas com um passado marcado pela violência que presenciara quando criança. Hoje cuida de sua mãe, uma senhora cega e muito teimosa, e tenta lidar com a violência da África do Sul com seus colegas Dan Fletcher e Brian Epkeen.
Um crime em circunstâncias misteriosas e chocantes surge, onde uma jovem branca, filha de um ex-campeão mundial de rugby é assassinada brutalmente, tendo seu rosto e dedos completamente desfigurados. Durante a autópsia, é descoberto que ela possuía em seu organismo vestígios de uma droga ainda desconhecida.
Inicia-se, então, a busca de Ali e sua equipe pelo assassino, mas tudo fica mais tenso quando novos crimes surgem, sempre apontando para esta droga.
—Pensei que um rei zulu fosse invulnerável...
—Não morri — disse ele. — Ainda não. - Página 200
Apesar de este livro ter inspirado um filme, de mesmo título, eu ainda não o conhecia mas fiquei imensamente curiosa após ler a sinopse e descobrir que se tratava de um romance policial.
No começo fiquei confusa pois a capa, que mudou após o lançamento do filme, por destaque ao ator Orlando Bloom, que interpreta, pelo que vi em minhas pesquisas, o personagem Brian Epkeen. Isso me intrigou porque, desde o começo, o personagem principal é claramente Ali Neuman, apesar de todos os outros terem bastante destaque e cada um mostrar sua história bem. Lendo a sinopse do filme, aqui, pareceu-me que o filme é bem diferente, com apenas os dois personagens e, talvez, seja por isso Brian ganhar mais destaque. Ao final do livro, no entanto, percebi que Brian era muito mais importante.
Esta questão de cada personagem ter sua história me agradou muito, pois nos faz conhecer cada um e diferenciá-los bem. Os capítulos trazem muitas histórias sobre o passado de cada, evidenciando bem suas personalidades. Ali foi um personagem bem complexo, sempre com uma postura séria e controlada na presença de alguém mas, quando sozinho, muito fragilizado por tudo que viu na vida. Brian no começo me desagradou, famoso por ser muito desleixado e sem compromisso, mas ao decorrer das investigações se mostra muito inteligente.
O livro se desenrola de forma envolvente, ao mesmo tempo que nos faz conhecer os personagens e sua história, e o cenário daquele país. Drogas, doenças, violência, pobreza, fome, racismo, divisão social, tudo isto compõe este cenário. Mostra uma realidade que não conhecemos, com muitas referências históricas.
Estas referências foram um ponto muito positivo para mim, que adora história, e são mencionados constantemente o apartheid, políticos, democracia e as lutas das minorias por seus direitos, sempre com notas ao rodapé para esclarecer.
Como o cenário é marcado pela violência, os leitores de Zulu devem estar preparados para conhecer uma realidade dura, forte e chocante. O autor não poupa descrições nem palavras sujas, não suaviza nenhuma cena, então procure ter estômago forte. A quantidade de palavrões me incomodou bastante, mas é algo compreensível dado o cenário.
Além de nos mostrar um pouco das culturas dos nativos, a violência e investigações, Caryl Férey nos leva a várias reflexões sociais, que estão presentes nos problemas do nosso país também, abordando temas como drogas, prostituição, família, amor, por vezes com uma escrita de certa forma poética e cheia de metáforas.
Um ponto negativo, no entanto, foi o fato de a estória ter ficado um pouco maçante em algumas páginas, com o autor se distanciando muito do foco. Como eu mencionei, gosto do fato de ser explorado cada detalhe e personagem de um livro mas, quando o assunto é uma investigação, é de se esperar que estejamos ansiosos para continuar a desvendar o mistério, sem enrolar muito.
A resolução da investigação veio com uma grande reviravolta, que mostrou como o ser humano pode não ter escrúpulo algum para ter algum dinheiro. O final trouxe muitas cenas de tensão, com uma reflexão sobre se libertar do passado, mas me desagradou em alguns rumos que a estória tomou.
É um livro que prende pela estória, aborda assuntos interessantes, reflexões, introduz uma realidade chocante e que, com certeza, vale apena ser lido por todo estilo de leitor.
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