Carla.Parreira 17/12/2023
Psicopatas do cotidiano: como reconhecer, como conviver, como se proteger (Katia Mecler). Melhores trechos: "...Em geral, o esquizotípico até gostaria de ter amigos, mas sua inabilidade social torna essa tarefa tão exaustiva que, muitas vezes, ele se irrita com os outros. 'Detesto que me toquem sem a minha autorização. Por que alguém quer me abraçar?', indaga, numa rede social, um indivíduo que se identifica com o estilo esquizotípico. A pergunta leva a outra característica desse traço: a ideação paranoide. Um simples abraço pode causar desconfiança e detonar uma reação agressiva. 'Às vezes, tenho a impressão de que vim de outra galáxia. Não consigo ficar mais de meia hora com outros seres humanos. Na verdade, não me sinto seguro com eles', descreve outro indivíduo com esse estilo. Grupos de apoio tentam ensinar os que se consideram do estilo esquizotípico a melhorar seu convívio social. Alguns relatam que conseguiram estabelecer laços sólidos e duradores – com uma única pessoa. Outros descrevem sua ansiedade na presença de estranhos. 'Eu quero falar, mas não consigo. Começo a ficar nervoso e chega a doer. Nessas horas, desisto', comenta um rapaz que foi diagnosticado com esse transtorno. O sentimento de inadequação se torna ainda mais dramático devido a outra faceta: a necessidade de ficar sozinho. Para sobreviver melhor, o indivíduo com esse traço costuma se isolar em seu mundo imaginário, reforçando sua imagem de excêntrico... A diferença é que o esquizoide mergulha num mundo interior por rechaçar a vida real, enquanto o esquizotípico cria um mundo paralelo por sentir que não pertence ao mundo de verdade... A estranheza, o mal-estar e o constrangimento que um esquizoide pode causar no convívio social são frutos de uma série de características desse estilo. Essa pessoa tem
uma afetividade embotada e uma clara falta de interesse e prazer por quaisquer atividades – do trabalho ao sexo, nada parece realmente chamar sua atenção. Essa indiferença cria um distanciamento que, aos olhos dos outros, soa como desprezo e frieza emocional. A consequência é a tendência ao isolamento, que pode significar sofrimento tanto para ela quanto para os que estão ao seu redor. Conviver com uma pessoa com estilo esquizoide significa,
antes de tudo, suportar o distanciamento e a frieza
emocional. Ela não percebe o problema, portanto,
despreza a ideia de procurar tratamento. O caminho a seguir é outro. Valorize suas competências e não demonstre pena e nem rejeite sua solidão. Por mais anticonvencional que seja, acredite: ela gosta de ficar sozinha. Estranho, do ponto de vista de alguém com esses
traços de personalidade, é estar rodeado de gente... Desconfiança. Essa, talvez, seja a palavra que melhor define um indivíduo com traços do transtorno de personalidade paranoide. São pessoas com grande desconfiança e suspeita em relação aos outros, a ponto de suas motivações serem interpretadas como malévolas. Extremamente observadoras, acreditam que podem ser exploradas, maltratadas ou enganadas, mesmo sem o menor indício de que isso realmente vá acontecer... Precisam manter um elevado controle daqueles ao seu redor. Num primeiro instante, são reservados e cautelosos e parecem mais tímidos do que antipáticos. Depois que firmam laços, tendem a respeitálos, pois valorizam bastante a fidelidade e a lealdade. Não espere, porém, que um indivíduo com essa natureza se entregue por completo nos relacionamentos mais íntimos: ele faz questão de manter sua independência e autonomia. Dificilmente alguém consegue ultrapassar a blindagem afetiva imposta aos outros pelos paranoides... Não é raro se envolverem em processos judiciais, reivindicando algum direito, indenização ou reparação a supostos danos. Em geral, oscilam entre dois extremos, para justificar suas desconfianças. Alguns, com baixa autoestima, sentem-se permanentemente preteridos e rejeitados. Outros acreditam serem dotados de atributos especiais, o que os torna alvo de inveja e hostilidade alheias... Uma pessoa com traços antissociais se vale de subterfúgios para manipular, influenciar ou controlar suas vítimas, até convencê-las a fazer o que quer. Não é difícil imaginar o que acontece quando se depara com quem possui características de um transtorno de personalidade dependente... O transtorno de personalidade antissocial é mais comum entre homens, e há estudos indicando que ter um parente de primeiro grau com o transtorno acarretaria uma predisposição ao problema. É comum que indivíduos com essa natureza também apresentem características dos TPs narcisista, borderline e histriônico. Não há tratamento ou remédio que auxilie quem tem esse transtorno, mas, com o passar do tempo, os traços podem se suavizar... Fique alerta para as tentativas de sedução e manipulação que o indivíduo com essa natureza costuma impor. Se algo lhe parecer muito estranho – ilegal, imoral ou antiético, por exemplo –, não guarde para si. Procure alguém de sua confiança, ou um profissional especializado, e relate o que está ocorrendo. No mínimo, você estará se protegendo de algum problema futuro. Evite, também, confrontar uma pessoa com esse traço. Quando contrariada, ela pode reagir muito mal, inclusive de forma violenta e vingativa. Vai ser perda de tempo tentar repreendê-la: como ela não sente empatia ou culpa, o efeito será nulo. Não espere fidelidade e imponha limites para não ser vítima de abusos psicológicos e de exploração financeira... O borderline parece viver numa montanha-russa de sentimentos – e haja equilíbrio emocional para acompanhá-lo. As pessoas com esse traço vivem entre o amor e o ódio, a idealização e a desvalorização. Seus relacionamentos são instáveis e intensos. Após um primeiro ou segundo encontro, podem fantasiar o companheiro como o amor de sua vida. E mal começam a namorar, já exigem dedicação integral. Também não esperam conhecer melhor o outro para partilhar suas vivências mais íntimas. Porém, se vão do zero ao cem em alguns segundos, fazem o caminho inverso na mesma velocidade. Quando se frustram por não receber o cuidado, a atenção e a proteção esperada, podem perder o interesse subitamente, com igual fervor. Fica claro que possuem baixa tolerância à frustração e à imposição de limites, especialmente diante de um possível abandono real ou imaginário ou de mudanças de planos inesperadas. Em geral, a possibilidade da rejeição desperta uma avalanche de reações destemperadas. Pessoas com traços borderline de personalidade são capazes de reagir com chantagens emocionais e impulsividade, o que, em casos extremos, pode culminar em agressões ao outro ou a si mesmas... Caçadores de atenção. Escolher um objeto que represente o indivíduo com o transtorno de personalidade histriônica é bem simples: o holofote. Em geral, indivíduos com este transtorno têm aparência e comportamento provocativo ou sedutor, de forma um tanto inadequada... Bons sedutores, eles sempre tentam hipnotizar sua plateia. Mestres no entretenimento, são, na maioria das vezes, a alma de uma festa. Também garantem muita animação para as pessoas mais próximas. Mas essas emoções intensas podem mudar de lado. E aí mora o perigo. Se relegados a segundo plano, são capazes de fazer de tudo para recuperar o protagonismo da cena, o que inclui ter reações intempestivas e iradas... Na mente da pessoa com o transtorno de personalidade narcisista, não faltam ferramentas para tornar miserável a existência do outro. Arrogante, abusador, desdenhoso e dominador, o indivíduo com essa natureza é egocêntrico e frio diante do sofrimento alheio. Seu sentimento de grandiosidade é fora do convencional, e ele fica irritado com qualquer situação em que não receba o destaque que julga lhe ser de direito. Além de tudo, é invejoso: está sempre de olho grande nos pertences e nas conquistas das outras pessoas, e não acredita que elas sejam merecedoras... Pessoas com diagnóstico de transtorno de personalidade dependente têm “uma necessidade difusa e excessiva de serem cuidadas, o que leva a um comportamento de submissão e apego que surge no início da vida adulta”. O medo – irreal – de ser abandonada e de não conseguir sobreviver sozinha leva essa gente a dar tudo de si para ter alguém ao lado. Elas serão mansas, dóceis e amáveis, como bichinhos de estimação. A tendência à humilhação não é exclusiva da esfera amorosa... Na vida real, porém, tanto a imaturidade quanto a fantasia do par perfeito podem levar o indivíduo com esse traço a se tornar vítima de abusos. É o que acontece, por exemplo, quando o dependente se depara com pessoas de facetas acentuadas de manipulação, grandiosidade e desonestidade, como sujeitos narcisistas e antissociais... Quando o outro não aguenta e vai embora, o dependente sai à procura de uma nova 'bengala'. Apega-se facilmente, mas o desapego é sempre muito sofrido... O transtorno de personalidade evitativo, com seu padrão difuso de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliações negativas, são indivíduos tímidos, quietos, inseguros, com baixa autoestima e que se sentem socialmente incapazes... O medo do ridículo, da rejeição e da avaliação alheia marcam a vida dos indivíduos desse tipo, principalmente na área profissional...
O problema é que, como se criticam e se rejeitam de forma severa, projetam no outro esse sentimento de exclusão... Como lidar com quem apresenta traços evitativos? Fidelidade e carinho são as palavras de ordem, pois essas pessoas precisam se sentir valorizadas, principalmente em seu pequeno círculo social. Se você faz parte desse seleto grupo, aceite-as como elas são, sem tentar incentivá-las ostensivamente a deixar o casulo. Claro que ajudá-las a ganhar mais confiança e a superar o temor da rejeição é importante, mas não espere que mudem de personalidade, porque isso dificilmente acontecerá. Elas jamais serão a alma de uma festa, por exemplo, o que não as impede de conviver tranquilamente com o outro, desde que respeitem seu jeito reservado... Perfeccionismo. Eis a palavra que expressa uma das principais características de quem apresenta transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo. Como nunca consideram o que fazem suficientemente bom, as pessoas com essa perturbação gastam muito tempo e muita energia com detalhes, regras, formalidades ou listas, a ponto de poderem perder o foco da tarefa principal... É preciso fazer uma distinção entre o transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo e o transtorno obsessivo-compulsivo, o popular TOC. O TOC é um transtorno de ansiedade caracterizado por obsessões e compulsões. São indivíduos que podem lavar as mãos sem parar, contar quantas vezes mastigam ou conferir incessantemente se a porta está de fato fechada. Muitas vezes, o TOC é uma comorbidade do transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo... Obsessivos-compulsivos reagem mal quando alguém surge com uma solução criativa para um problema. Teimosos e rígidos, eles acreditam que só existe uma maneira de fazer as coisas e, para evitar surpresas, relutam em delegar tarefas ou trabalhar em conjunto... Trata-se de pessoas que tendem a seguir princípios morais rígidos e padrões austeros de comportamento e obrigam quem está por perto a agir da mesma maneira. Em contrapartida, são extremamente honestas e íntegras... Personalidade é o resultado da combinação do temperamento e do caráter, ou seja, a combinação de fatores constitucionais e ambientais. Temperamento é a disposição emocional regulada biologicamente e herdada. Já o caráter se forma ao longo do desenvolvimento, em consequência da interação com tudo que vivenciamos no ambiente. Uma vez que a personalidade é uma estrutura dinâmica, a normalidade torna-se intrínseca à capacidade de flexibilidade e adaptação aos diversos estímulos do cotidiano... Alguns transtornos pioram com a idade. É o caso do narcisista, por exemplo. Já o borderline e o antissocial tendem a melhorar com o passar dos anos..."