fev 13/01/2021Esse é um livro que funcionaria melhor se fosse contado em primeira pessoa. A carga dramática aumentaria significativamente. Mesmo que não tenho sido escrito o livro continua bom. A história ainda que repetitiva traz uma perspectiva diferente daquela que estamos acostumados.
Acompanhamos o processo de Ângela em desistir de procurar o filho depois de 30 anos do desaparecimento dele. É uma jornada bem dolorosa porque ela deixou de viver para ficar 30 anos vivendo disso. Eu não consigo nem imaginar como é sentir algo parecido como a perda de um filho. Apesar de entender a questão da Ângela tenho que acreditar que ela seja um pouco egoísta em relação ao filho. Otávio, pai de Felipe, é pouco explorado nesse enredo. Ele está ali apenas como suporte a jornada da esposa. É uma bela relação diga-se de passagem, mas pouco explorada. O narrador só acompanha Ângela. Eu até consigo entender devido aos pré conceitos em que a sociedade impõe sobre mães e filhos. Rafael Gallo elenca esses motivos, mas não me convenceram de forma geral por não ter mostrado o sofrimento do pai.
Gallo também pincela rapidamente a diferença como famílias brancas são tratadas quando precisam de atendimento policial e o que difere de uma família preta. Ângela e Otávio são brancos e ricos e para diferenciar a histórias deles ela relata como aconteceu quando o filho de Dora, fundadora de uma instituição para mães que possuem os filhos desaparecidos, também some. É um detalhe importante mesmo que pouco exectutado.
Outro ponto legal do livro é a relação da Ângela com a sobrinha afilhada Isa. Toda essa situação afetou a família inteira inclusive a sobrinha. Mas isso fez com que elas acabassem se aproximando ainda mais. É legal reparar a importância que uma tem na vida da outra e como isso vai se construindo.
O livro tem uma história dolorosa, mas é bem tranquila de se ler. Recomendo para quem quer ler sobre uma nova perspectiva algo que é tão explorado.