Vanessa Rodrigues @letrasdavanessa 29/08/2017O sorriso da HienaO sorriso da hiena, escrito pelo brasileiro Gustavo Ávila, é um suspense policial feito para prender a atenção do começo ao fim! O livro foi lançado pela Editora Verus, em 2017 e tem feito muito sucesso!
O livro é narrado em terceira pessoa e nos apresenta, na maioria das vezes, o ponto de vista de um dos três personagens principais: o assassino David, o psicólogo William e o detetive Artur. A história se passa no Brasil, em uma cidade que não é possível identificar, nos dias atuais e a linguagem é clara e simples, instigante, bem estruturada, com trechos descritivos e diálogos na medida certa.
O personagem com o qual eu mais me identifiquei foi o detetive Artur que possui Síndrome de Asperger e é o melhor detetive da polícia. Ele alterna momentos de brilhantismo dedutivo e outros em que é um chato de galocha, não do jeito engraçadinho, mas do jeito que causa antipatia no leitor. Além disso, a ausência de uma personagem feminina forte é um tópico que incomoda, mas eu entendo que esse não era o foco do livro.
A história está muito bem amarrada e o autor criou uma trama que surpreende pela criatividade e originalidade, regada a boas doses de violência e filosofia. Embora seja um triller, a grande sacada do enredo não é descobrir o mistério ou quem é o criminoso, porque isso o leitor já conhece desde o início, mas sim acompanhar a postura de cada um dos personagens diante dos novos eventos da história e ver como eles lidam com o suspense. Alguns acontecimentos realmente deixam o leitor de queixo caído, porém, em uns poucos momentos, o autor não deixa o leitor descobrir o que irá acontecer, entregando as informações de bandeja, o que é um contrassenso dentro do gênero literário no qual o livro se insere.
Ainda, alguns trechos da história pareceram inverossímeis para mim, causados, por exemplo, pelo fato do autor optar por não usar nenhum sobrenome ao longo do livro. Vejam este diálogo no qual o detetive Artur busca informações com a atendente de um hospital:
"— Preciso de algumas informações sobre um homem que faleceu aqui.
— Qual o nome?
— Ícaro.
— Deixa eu ver… — a mulher digitava rápido. — Esfaqueado.
— Essa informação eu sei. O médico que o atendeu ainda está trabalhando aqui?
— Deixa eu ver… ele já faleceu também."
Só com um nome, a recepcionista conseguiu dar todas as informações que o detetive precisava. Não parece estranho esse diálogo? Ela não precisou de sobrenome, data, nada. Sem contar a agilidade de pesquisa dela. Impressionante!
Outra cena que me chamou a atenção e acredito que chamará também de qualquer um que tenha lido ou assistido A culpa é das estrelas foi essa:
"Artur colocou um cigarro na boca e, poucos segundos depois, um segurança o chamou com um toque no ombro.
— Não é permitido fumar aqui, senhor.
— Eu não fumo — o detetive disse com o cigarro nos lábios.
— Estou falando sério, senhor.
— Eu também.
— Senhor…
— Eu não vou acender.
— Mesmo assim, senhor.
Artur tirou o cigarro e entregou ao segurança.
— Não quer ficar com ele para fumar depois?
— Eu já disse: eu não fumo."
A mesma cena no livro de John Green:
"Um minuto depois, ele enfiou a mão no bolso e abriu a tampa do maço de cigarros. Passados uns nove segundos, uma comissária de bordo loira correu até a nossa fila e disse:
— Senhor, não é permitido fumar neste avião. Nem em qualquer avião.
— Eu não fumo — ele explicou, o cigarro dançando na boca enquanto falava.
— Mas…
— É uma metáfora — expliquei. — Ele coloca a coisa que mata entre os dentes, mas não dá a ela o poder de completar o serviço.
A comissária ficou desconcertada só por um segundo.
— Bem, essa metáfora não será permitida no voo de hoje — ela disse.
O Gus assentiu com a cabeça e devolveu o cigarro ao maço."
Entretanto esses detalhes não ofuscam o fato de ser uma edição muito bem feita, sem erros de revisão ou inconsistências, além da narrativa que nos proporciona momentos de entretenimento alternados com períodos de reflexão e questionamentos.
Gustavo Ávila nasceu em São José dos Campos, interior de São Paulo, sendo assim meu conterrâneo. Ele escreveu e publicou “O sorriso da hiena” de modo independente, até que, em 2016, teve os direitos de adaptação comprados pela Rede Globo e os de publicação adquiridos pela Editora Verus. Consegui identificar no personagem William, alguns traços da história do autor. Seria o psicólogo um alter-ego de Avila?
Esse livro é ótimo para quem gosta de romances policiais, com violência, suspense e um leve toque de humor (Artur, você é demais!). Eu não recomendaria para menores de 18 anos porque as cenas de violência são fortes e algumas envolvem crianças. Mas, se você já é grandinho e gosta de um suspense, esse livro é a escolha certa para você!
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https://senaosou.wordpress.com/