Negras Raízes

Negras Raízes Alex Haley




Resenhas - Negras Raízes


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Mobuto 08/02/2013

Vou lhes dizer uma coisa.
A muito tempo não chorava lendo um livro. Em vários momentos da narrativa eu me sentia fragilizado emocionalmente em especial por saber que os relatos eram verídicos e que muito provavelmente meus ancestrais tambem encararam algo parecido.

Via com os olhos da mente os muitos milhares que tinham sdo sequestrados ou que tiveram suas vilas invadidas. Vi homens e mulheres agarrando-se a terra desesperadamente engolindo-a na tentativa desesperada demanter contato com a terra africana que fora seu lar. Imaginei-os açoitados, acorrentados em prateleiras nos porões dos navios.

Eu chorei e sentia que chorava por todas as atrocidades incríveis cometidas ao longo da história pelo homem contra os seus semelhantes, o maior defeito da humanidade.

E quando terminei de ler as 527 páginas tomei a decisão de que iria dar mais valor as minhas raízes. Nunca jamais me envergonharei por ser quem eu sou e jamas deixarei que me rebaixem ou me humilhem pela textura do meu cabelo, pela forma do meu nariz e nem por nenhuma característica pessoal.

Essa mudança de mentalidade deve vir de dentro.
As coisas não ficam melhores se a gente não fazer com que elas fiquem melhores.
Paulo Sérgio So 06/09/2013minha estante
Oi Josiel, permita me intrometer, mas se você se emocionou com o livro NEGRAS RAÍZES, não deixe de ler (diria até que tem a obrigação) o livro UM DEFEITO DE COR de Ana Maria Gonçalves. Antes, procure ler a história de Luiz Gama em algum site na internet. O livro UM DEFEITO DE COR conta a história de sua mãe desde quando foi raptada na África e trazida num navio negreiro para o Brasil.
São 951 páginas que você não conseguirá parar de ler. Aí sim você vai se emocionar, vai chorar, vai soluçar!
Não deixe de ler e depois me diga o que achou.

Um abraço

Paulo Sérgio




gabi 03/05/2015

maravilhoso
Esse livro conseguiu superar todas as minhas espectativas, sempre tive interesse em entender a história dos africanos que vieram para as Americas, no entanto , mesmo quando lemos algo sobre os afroamericanos a historia nunca é contada do ponto de vista do africano, e esse livro desafia essa lógica, da história sempre contada do ponto de vista europeu, e é isso que encanta, que fascina, o Kunta Kintê é um personagem real, que apesar de estar envolto em muitos fatos fictícios, mostra como os africanos se sentiam em relação a terrível escravidão americana.
Eu me apaixonei por essa história de facção ( fato + ficção) de maneira que simplesmente não conseguia parar de ler, e quando terminei a leitura senti que tinha perdido um pouco de mim, porque a impressionante historia do Kunta e seus descendentes se tornou um pouco da minha historia também, vi ali todos os sentimentos que meus antepassados africanos tiveram, e que nós seus descendentes temos atualmente, que é a vontade de conhece-los, exalta-los e gritar para o mundo como temos orgulho da sua força!

Alex Haley com o livro negras raízes contou muito mais que uma bela história, de força, e resistência, mas nos mostrou ( a todos afrodescendentes) a parte da historia contada por nossos antepassados, mostrando todo seu heroísmo, que foi escondido por muitos anos.
Vitor 03/05/2015minha estante
Simplesmente uma Obra Prima!




Mari.Vasconcelos 19/07/2022

Uma história real
Alex Haley faz uma biografia de seus ancestrais. Em particular do africano Kunta Kinte, capturado e trazido da África para a América em meados de 1.750/1.760. O livro traz a trajetória de sete gerações da família Kinte durante a escravidão (passando inclusive pela Guerra de Secessão)no auge do penoso processo de libertação dos escravos até os tempos em que foi escrito(1.976)
As histórias contadas de geração em geração, as muitas e muitas pesquisas, as inúmeras viagens de Haley para legitimar os fatos demorou alguns anos... imagino as emoções que sentiu nessa transgressão ancestral, as histórias causam reflexões e por vezes sangram o coração.
Em relação à Kunta Kinte, desejei que fosse só uma história de ficção para poder imaginar a possibilidade de "Um Final Feliz", mas apesar de tudo, Alex Haley traz um consolo:

"Assim papai foi juntar-se aos outros lá em cima. Sinto que eles estão observando e orientando. E sinto também que eles podem juntar-se a mim na esperança de que esta história do nosso povo pode ajudar a atenuar e alterar o legado de que a história, basicamente tem sido escrita por vencedores"
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busbus 19/04/2021

Leitura impactante ao ponto de revirar o estômago
Conheci Negras Raízes através do filme e por ironia do destinos encontrei a edição original do livro na biblioteca da faculdade.
Comecei a leitura já emocionada e foi difícil concluir, como eu disse chegou em algumas partes do livro que cheguei a ter ânsia de vômito. Faltou 100 páginas pra concluir e eu não consegui ir até o final.
Apesar de tudo,os ensinamentos são únicos.
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Luciano 23/05/2022

O melhor livro que registrei no Skoob
A saga de uma familia americana contada de uma forma mais real possível, a partir do ancestral africano Kunta Kinte,a escravidão, a humilhação dos negros e o sonho de liberdade,todos esmiuçados durante várias gerações. Eu assisti enquanto lia este livro a Série de 1976,e achei fascinante,indico a leitura e também a Série vocês vão se emocionar.
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Roseane 20/01/2018

Que nossa indignação nunca morra.
Negras raízes foi uma leitura bem marcante. Enquanto mulher negra, me encanto cada vez que descubro um pouco mais da história do meu povo antes do sequestro e da escravização. A cultura, os laços familiares, a religiosidade, a força, os ensinamentos, o respeito aos mais velhos, o cuidado, a simbiosidade com a natureza e os animais, o entendimento de ciências como matemática e metereologia, plantio, agropecuária.

Morri de rir ao ver que as mães pretas são muito parecidas. Binta quando prevê o pior para o filho mais velho que planeja uma viagem, sai correndo pela aldeia aos gritos afirmando que que so tinha dois filhos porque havia perdido o primeiro e quando o primeiro retorna da viagem vitorioso ela e a primeira a dizer, eu sabia que ele ia conseguir. Bem mãe mesmo ne? A minha mae ainda ia falar: voltou sao e salvo? Não fez mais que sua obrigacao. (risos).

A partilha do alimento durante as viagens com quem quer que estivesse precisando. A identificacao de diversas culturas, etinias, idiomas ? O conselho dos anciãos ,a organização da comunidade , eleição, o casamento, traição, poligamia, os trajes, a culinária, a transmissão do conhecimento pela oralidade, o aprendizado da escrita? temos muito que aprender sobre a nossa história interrompida.

Derrepente o homem branco chega, fere e sequestra. O livro relata detalhadamente as maldades que o homem branco foi capaz de fazer para o seu enriquecimento financeiro e para o seu prazer pessoal de praticar maldade. As condicoes da travessia dentro do navio negreiro onde homens , mulheres e crianças acorrentados unidos uns aos outros em um porão, um ambiente sem luz, vomitavam, evacuavam, urinavam no local onde estavam acorrentados, apenas quando se formava uma camada muito grossa que cobria todo o chão que o homem branco retirava com uma pá o excesso. Alimentação de péssima qualidade, violência física até que músculos e ossos ficassem expostos para qualquer um que se opusesse a escravidão.

Ao chegar em terra firma, o processo de venda, de fuga, de violência, um ciclo que transformava o povo negro em quase zumbi, não pq eles não tinham força , isso eles tinham muito, mas o homem branco tinha as armas, as leis e a união na perversidade. O livro ainda relata muoto bem a pervesidade do homem branco pobre, trajetoria muito parecida do Branco pobre brasileiro, que chegaram ao Brasil atraves de cotas, pessoas que na Europa não fariam qualquer diferenca, ganharam passagem, terra, semente e trouxeram consigo toda a maldade interna e a exerceram (em) com maestria.

O livro relata bem a trajetoria da mulher negra no processo de escravidão que já comeca a ser violada sexualmente no navio negreiro durante a travessia, começa a trabalhar aos 3 anos de idade, começa a ser violada sexualmente assim que ocorre as modificações do corpo na adolescência, não e dispensada dos trabalho dos campos ate o dia de parir, é alvo de violência física quando grávida para ser vir de exemplo, não tem direito a maternidade pq o filho já e vendido desde o ventre, a qualquer contra gosto dos brancos ela e separada de sua familia?

Kunta, um guerreiro africano que nunca desistiu de si, de sua ancestralidade, de sua história, mesmo sendo tão novo, com 17 anos foi separado de tudo que lhe pertencia ele lutou pra manter viva a sua história, a sua verdadeira história não a do sequestro.

Uma vez ouvi que eu deveria ser agradecida a escravidão negra por ter nascido no Brasil e ter tido direito a ter caderno e hoje ser formada e trabalhar, ainda dói quando lembro.

Leitura forte e necessária. Que nossa indignação nunca morra.

Roseane Corrêa
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Gabriel 21/03/2020

Entre idas e vindas finalmente consegui terminar de ler "raízes", um livro profundamente emocionante onde as lágrimas correm como um rio em momentos de muita tristeza e singela alegria. Um livro que todas as pessoas deveriam ler, independentemente de cor ou credo. Um livro que denuncia o sofrimento dos escravos, mas que acima de tudo nos traz força da ancestralidade; nossas raízes, bagagem espíritual...
Um relato de muita pesquisa, trabalho e amor...
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Bibi 01/07/2020

Magnífico
Entrou para a minha lista de livros favoritos.

Que história fantástica e escrito de forma igualmente fantástica. Com certeza um livro que deveria ser mais popular.

Pode ser uma historia sobre "uma familia americana" mas a realidade bateu perto. Vale muito a pena ler.

Leitura extremamente fácil, quando você vê está imerso(a) na história e não consegue parar de ler.
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Brenda588 25/08/2020

Simplesmente, Incrível
Negras Raízes é uma obra extraordinária e emocionante que nos leva à reflexão sobre aquelas pessoas que antencedaram a nossa geração.
Alex Haley, com anos de pesquisa em documentos e bibliotecas, tece toda a sua genealogia até o último ancestral africano: Kunta Kinte. O livro narra a história desse antepassado desde a sua vida em Juffure, no Gâmbia, percorrendo a escravização que ele sofreu, e sua chegada aos Estados Unidos, onde firmou uma linhagem, e através das fazendas americanas de senhores de escravos, a família continuou até chegar no autor do livro.

Com muitos detalhes, os aproximados 200 anos de gerações retratados na obra percorrem períodos históricos como a Escravidão, a Guerra Civil dos Estados Unidos, e o processo Abolicionista.

Acompanhar a linhagem de Haley começando na África com o Kunta, sabendo que essa família, assim como outras, é fruto de uma das mais dores da humanidade (a escravidão) é de entristecer o coração.
Serão inúmeras vezes que cairão lágrimas de seus olhos, momentos verídicos são narrados do livro e muitos deles não são fáceis de ler. Mas a insistência de Kinte em perpassar a sua história de escravizado através de suas gerações, fez com que Alex Haley no futuro, ouvindo de suas avós sobre um tal africano que viera de uma aldeia na África para a Virgínia, despertasse curiosidade sobre a ideia desta magnífica obra.

Ler este livro é contemplar uma das mais belas narrativas sobre orgulho e persistência de suas origens, apesar das mais terríveis circunstâncias históricas que esta época apresentou. É também olhar para a nossa descendência do passado como brasileiros, e poder enxergar a história de diversos Kunta Kintes, que também sofreram por uma das mais doentes atrocidades humanas, e que são para nós, assim como para Haley: Negras Raízes.
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Matheus.Cuglieri 23/01/2021

Tema conhecido, narrativa cativante
Narrativa detalhada de um arquétipo conhecido: o negro africano escravizado na América. Rico em detalhes, a obra gera grande impacto pelas imagens que cria, e pelo seu desfecho.
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taiz 23/01/2023

Um forte relato sobre a escravidão
Há anos atrás, especificamente em 2015, a Globo exibiu a série Raízes. Lembro de ter me interessado pela temática e lembro mais ainda da sensação desconfortável que me causou. Nem mesmo consegui terminar de assistir. Um tempo depois, descobri que a série se baseava em um livro e fui atrás de ler a obra.

A leitura é lenta, densa e dolorosa.

Alex Haley narra a saga de seus ancestrais, a covardia sofrida por Kunta Kinte, ao ser arrancado de seu lar na África e vendido como escravo nos Estados Unidos. De forma detalhista, o autor conta o caminho de dor percorrido pela sua família, ao longo de 200 anos, até o seu nascimento.

No capítulo final, Alex diz algo que faz pensar: "Só agora eu podia perceber como o tráfico de escravos fora considerado na ocasião, por aqueles que participavam dele, como um simples negócio como outro qualquer, assim como seria comprar, transportar e vender gado hoje em dia".

O período da escravidão foi um dos mais cruéis acontecimentos da história e o livro é apenas uma demonstração de todo o sofrimento, violência, barbaridade e humilhação vividos pelo povo negro, até a conquista da sua liberdade.
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Kizzy 06/01/2013

Simplesmente emocionante
Me chamando Kizzy e ouvindo a história de Kunta Kinte por muitos anos na minha infância, fica difiícil escrever qualquer coisa sobre o livro que não seja completamente parcial!
De qualquer forma, a minha opinião é que apesar de romantizado, todos deveriam ler e se interessar sobre as atrocidades cometidas por mais de 3 séculos contra um povo do qual somos quase na totalidade descendentes.
O mais emocionante do livro talvez seja a forma como o autor chegou äs informações e a pesquisa para a obra. Imagino o como deve ter sido emocionante visitar a tribo onde realmente Kunta viveu e ouvir do sábio da tribo a história de um ancestral!
Fica claro também o como os negros escravizados se tornavam menos combatentes e mais conformados à medida que perdiam as suas raízes. Os negros não eram "bonzinhos"e inofencivos como muitos insistem em dizer, eles eram guerreiros, mas que foram tirados de suas terras e jogados às atrocidades e desumanidades em nome de dinheiro e tentavam de todas as formas vãs se livrar dessa realidade, muitas vezes morrendo no caminho. Mas quando uma pessoa já nasce cativa, aí ela perde sua essencia, ela não conhece outra realidade, isso facilitou muito o trabalho do opressor.
De qualquer forma, nao tendo mais nada que hoje possamos fazer contra toda essa atrocidade, só o que podemos é entender que em toda a américa, somos resultados de gente de todas cores e que devemos juntos lutar para reescrever uma história mais descente.
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Marcia 22/09/2017

não é resenha
Finalmente completei a leitura do livro Negras Raízes de Alex Harley.
Fiquei impressionadíssima com a história e me emocionei junto com os personagens. Como é brutal ser arrancado de sua terra, de seu povo e se tornar animal de carga, forçado ao trabalho pesado , sem a menor condição de vida.
Lendo esse livro hoje, onde tantos animais são tratados como seres humanos, fiquei mais indignada.
Não é fácil encarar a realidade da escravidão ,a intolerância americana, a brutalidade e a ignorância do ser humano
O final do livro o escritor conta a sua jornada para conseguir obter todos os dados.
Uma leitura fascinante e recomendo.
Só li esse livro por causa do desafio literário que a Rita propôs. Só tenho a agradecer.
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Vick 28/02/2019

Uau, serio, que livro foi esse, comprei ele em um sebo pela internet la para o meio do ano passado, é um exemplar bem velho e gasto, o que tornou a experiencia ainda mais significativa, por saber que o próprio livro em minhas mãos tem uma historia, esse exemplar, que já pertenceu a outras pessoas, e me foi mandado por um outro alguém que eu não faço já transmite algo sobre si e sobre as pessoas que o possuiram. Enfim, enrolei para ler porque sabia que de forma alguma seria uma leitura fácil, no final de janeiro comecei a ler e terminei hoje, praticamente um mês depois. O livro me despertou tanta coisa que eu não saberia descrever, é um marco histórico simplesmente, apesar de toda a clara dor que o livro transmite, de algum jeito ele me aquietou um pouco, saber de verdade sobre uma historia que foi parecida com a minha e de meus ancestrais, e de milhões de outras pessoas é incrível, é virar o jogo, é afirmar que a historia não tem que ser eurocêntrica, que nós temos historia, esse livro é necessário, de qualquer forma, é um livro sobre uma família, mas que conta parte da historia da humanidade.

Alex Haley escreveu uma obra prima, mesmo sendo Americano, partes da historia se assemelham muito a escravidão aqui no Brasil, quem me dera um dia ter essa oportunidade, imagino que assim como eu, muita gente já se perguntou de onde veio, qual a historia de sua família, eu mesma pouco sei, a não ser alguns poucos relatos de meus avós sobre seus país ou avós, assim como os milhões de descendentes de africanos aqui no Brasil e nas Américas que tiveram sua historia e cultura negadas. O relato no final do livro, sobre como ele foi a Juffure e encontrou a aldeia de onde seus antepassados vieram e de como eles o receberam como alguém que finalmente retornou, como sendo parte deles, foi lindo. Sem duvida um dos livros mais fortes e sinceros que já tive o prazer de ler.

"Através desta carne, que é nós, nós somos você, você é nós"

P.S. (edit 23/03/2020) : Alguns meses depois que li livro, fiz um trabalho na faculdade sobre história oral e a tradição dos griot na África, e foi muito bonito ter essa visão dada pelo livro, a oralidade é um campo de estudo ao mesmo tempo muito rico e muito complicado, Alex Haley fez um trabalho espetacular, é a história e a literatura caminhando juntas.
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Leonardo 25/11/2019

“Eu sou Kunta Kinte, primeiro filho de Omoro, que é filho do homem santo Kairaba Kunta Kinte! ”
O que fica na nossa memória, quando aprendemos sobre a escravidão, são imagens de escravos negros acorrentados e submetidos a condições subumanas. Essas condições desumanas tiveram o efeito de tirar completamente dos escravos as suas identidades como seres humanos. O livro Negras Raízes, caso tivesse que ser reduzido a poucas palavras, poderia ser resumido como uma saga cujo eixo central gira em torno da importância do nome de alguém e de sua língua como instrumentos de identidade e resistência de um ser humano. Língua, aqui, deve ser entendida no sentido mais amplo. Quando falamos de língua, fazemos referência a todo um repositório cultural de um povo. Esses dois elementos (nome e língua) dão ao ser humano uma compreensão de como ele é no plano individual (no caso do protagonista, seu nome: Kunta Kinte) e coletivo. Kunta Kinte é membro de algo maior do que ele. Na verdade, ele é membro de algo que é maior do que a soma individual de cada membro de sua tribo (os mandinga). E é isso o que nosso personagem central visa resguardar a todo custo. O começo do livro é enternecedor. Ele nos mostra o nascimento de Kunta Kinte e depois o ritual por meio do qual ele recebe o seu nome. Vemos como Kunta, à medida que vai crescendo, toma ciência de toda a sua genealogia e cultura tribal. O livro, nesta primeira parte, mostra como é a rotina de uma tribo africana. Vemos os vários rituais de passagem que levam Kunta Kinte até a condição de homem, na tribo. Essa primeira parte da história (que corresponde a quase um quarto da obra) renderia, por si só, um livro. Esse início de livro é um verdadeiro romance de formação. Em um segundo momento, temos a captura de Kunta e o seu envio para a América via navio negreiro. A narração do tempo que se passou na embarcação foi muito angustiante para mim. Foram várias páginas descrevendo um grande suplício (ver seres humanos reduzidos a animais capturados e acorrentados). Os africanos foram submetidos a condições extremamente insalubres (viviam em meio a seus próprios excrementos, urinas, vômitos). Havia ratos, piolhos e pulgas nos porões do navio. Era um ambiente totalmente escuro, sem ventilação alguma. Eram açoitados por qualquer motivo. Mulheres eram estupradas. Os homens se sentiam com raiva, impotentes ante esse e outros abusos. Vez ou outra subiam até a parte de cima do navio para serem lavados. As cascas das feridas eram esfregadas com força e a água salgada do mar joga sobre elas, causando muito sofrimento. Parece que havia uma determinação dos brancos em não só subjugar os negros fisicamente, mas também moralmente. E assim, se passaram muitos dias nesta angústia (mais ou menos de oitenta a noventa dias). Algum consolo mínimo para eles foi quando começaram a se comunicar (a despeito das diferenças de língua e tribo) na escuridão do porão. Agindo assim, não mais sentiam-se tão sós. Foi muito angustiante ler isso. Isso deveria ser objeto de leitura quando ensinamos para as nossas crianças na escola a história da escravidão. Ler isso por um bom tempo (40 páginas) me deu uma ideia muito mais viva do sofrimento dos escravos. Acho que se eu visse um filme sobre o assunto o impacto não seria tão grande. Esta é a magia da literatura: nos propiciar viver uma série de vivências e sentimentos de uma forma muito forte. Isso suscita reflexões. Isso nos torna mais humanos, pois nos colocamos no lugar do outro. Eu cheguei a parar e pensar: será que existem demônios ou o diabo? Será que isso tudo não é um bode expiatório para nos impedir de chegarmos à conclusão de que o diabo somos nós mesmos na verdade? Em um terceiro momento da trama, Kunta Kinte chega finalmente à América. Lá, ainda que acorrentado e reduzido à condição de escravo, empreendeu inúmeras fugas. A cada fuga frustrada, eram-lhe aplicados castigos muito fortes, cujo ápice culminou na amputação de metade de seu pé. Não podendo mais fugir em razão de sua nova condição deficiente, Kunta buscou se adaptar ao seu contexto opressor. Por ter nascido livre, Kunta nunca foi escravizado em sua mente (e seguiu assim até o fim de sua vida). Acompanhamos ao longo da história inúmeras reflexões de Kunta. Kunta Kinte estranhava os brancos, pois via neles uma determinação de se acharem civilizados e bondosos. Esses brancos não tratavam os negros como um ser humano, mesmo tendo erguido o seu estilo de vida privilegiado sobre o suor escravo. Os brancos desumanizavam os negros ao não permitirem que eles falassem ou fizessem qualquer coisa que remetesse a sua origem tribal africana (e, logicamente, não podiam também saber nada da língua dos brancos, pois poderiam se tornar “perigosos”, pensantes). Os escravos não podiam ter um nome africano ou algo que fosse muito estranho; os negros tinham que ter junto ao seu nome, desde seu nascimento, o nome de seu senhor. E essas situações todas que acarretavam uma perda de identidade eram para Kunta o pior que se podia fazer a um negro. Kunta Kinte estranhava os escravos nascidos na América (muitos, para seu espanto, “meio claros”). A seu ver, parecia-lhe que eles não tinham a menor noção de onde tinham vindo. Não sabiam a que tribo tinham pertencido na África. Não sabiam nada de seu idioma de origem na África. E isso, para esses escravos, para o espanto de Kunta, não era da menor importância. Enfim, Kunta estranhava esses seres sem identidade. Para Kunta, eles eram seres submisso, domesticados pelo homem branco. Kunta sempre orgulhoso de seu nome, língua e pele negra retinta (e sem mistura alguma com uma gota de sangue branco), a princípio não se misturou com esses escravos (ele jurou a si mesmo que não seria como eles). Estes escravos também, por sua vez, estranhavam Kunta. Os escravos que tinham nascido na América sabiam como se portar nas fazendas. Maneiras aparentemente submissas, na verdade, eram máscaras que escondiam formas de se adaptar e resistir (dentro do possível) ao meio cruel em que viviam. Kunta, em seu orgulho, não percebia as coisas assim (por isso que, a princípio, esses negros também não confiavam em Kunta). Aos poucos Kunta se aproximou (o orgulho lhe acarretava muita solidão), criou poucas, mas boas amizades. Teve uma esposa (Bell) e uma filha (Kizzy). Para a filha, sempre fez questão de passar a sua identidade livre - de raízes africanas - o que englobava seu idioma e toda a carga cultural que ele traz. À filha ensinou o nome africano para uma série de objetos e seres. E a sua filha passou para os seus filhos essa herança cultural. E de geração em geração a história de Kunta foi passada. Kunta Kinte significava para seus descendentes as suas origens, o espírito livre e o orgulho de ser negro. De geração em geração temos um desfile de nomes e acontecimentos dramáticos. Acompanhamos algumas revoltas negras malsucedidas, rumores de guerra, o crescente receio do homem branco do sul contra os iminentes ventos de mudança, a guerra civil americana e a libertação dos escravos. O fim da história culmina com o nascimento do autor do livro, Alex Haley (descendente de Kunta Kinte). A partir de seu nascimento acompanhamos uma nova geração de negros libertos que vão conquistando, com trabalho e competência, o seu lugar de dignidade na sociedade americana. Certa vez, o poeta português Fernando Pessoa disse: “A minha pátria é a língua portuguesa”. Acredito que o alcance dessa frase possa ser obtido por meio da compreensão de toda a história de Kunta Kinte. Ele, mesmo senso escravo e longe a milhares de quilômetros de seu lar, sempre carregou a África consigo ao cultivar a sua língua ancestral e toda a sua cultura embutida nela. Cada um luta com as armas que tem, e Kunta Kinte lutou usando a sua amada língua. Kunta lutou preservando a sua memória de homem livre. Quando os brancos tentaram impor um nome a ele (queriam chamá-lo de Toby), na tentativa de despersonalizá-lo, ele reagiu dizendo, indignado: “Eu sou Kunta Kinte, primeiro filho de Omoro, que é filho do homem santo Kairaba Kunta Kinte! ” Negras Raízes... agora parece óbvio, mas só após a leitura do livro pude compreender, em sua totalidade, o significado desse título.
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