Valéria 01/09/2020
(...) Sou um homem de temperamento impetuoso, com entusiasmos violentos e extrema imoderação em todas as minhas paixões...nesses últimos anos tenho sido capaz de ver minha vida como que de uma grande altitude, como uma espécie de paisagem, e com uma noção crescente da conexão entre todas as suas partes. Isso não quer dizer que não quero mais nada com a vida. Muito pelo contrário, sinto-me intensamente vivo, e desejo e espero, no tempo que ainda me resta, aprofundar minhas amizades, dizer adeus àqueles a quem amo, escrever mais, viajar, atingir novos patamares de compreensão e descontino. Será preciso audácia, clareza e franqueza tentar pôr em ordem as minhas contas com o mundo. Mas haverá tempo, também, para alguma diversão. Sinto uma repentina clareza de enfoque e de perspectiva. Não há tempo para o que não é essencial. Não é indiferença, é distanciamento.
Um menino curioso, inquieto, persistente, que foi médico, escritor, professor e um químico amador apaixonado pelos elementos. Ele dizia: “Elementos químicos e aniversários andam ligados para mim desde menino, quando aprendi sobre os números atômicos. Com onze anos eu podia dizer “sou sódio” e agora, aos 79, sou ouro. Alguns anos atrás, quando dei um frasco de mercúrio de presente a um amigo pelo seu octogésimo aniversário – um recipiente especial que não vaza nem se quebra -, ele me olhou de um jeito esquisito, mas depois me enviou uma cartinha simpática, gracejando: “ Tomo um pouco toda manhã, para a saúde”.
Oliver de certo modo que nunca nos é permitido entender sabia que não chegaria a comemorar o bismuto – que é o elemento 83 -, e de fato não chegou. Ele se foi em Agosto de 2015, duas semanas depois de publicar seu último texto “Shabat”, o último deste livrinho.
Até aqui, estou eu no Zircônio.