AleixoItalo 26/01/2016A tradução do poema medieval pelas mãos de J. R. R. Tolkien. Nascido em 1892 e falecido em 1973 aos 81 anos, J. R. R. Tolkien volta ao mercado agora com mais um novíssimo lançamento... Como todos já sabem, seu filho Christopher Tolkien se encarregou de lançar obras póstumas que Tolkien (daqui pra frente sempre referido ao escritor) deixou, por meio de dezenas de rascunhos e anotações. Desde trabalhos incompletos da Terra Média – como Contos Inacabados – passando por histórias fora dessa, Tolkien continua de uma forma ou outra sempre atualizado no mercado. Quem já leu essas obras, sabe que elas são compostas dos escritos originais do pai, com centenas de comentários extras por parte do filho. Com Beowulf não é diferente.
Todos já devem ter ouvido falar de Beowulf, valoroso e poderoso herói da tribo dos Gautas – do norte da Europa – que tem a incumbência de eliminar Grendel, um nefasto monstro que assolava a corte do rei Hrothgar, na Dinamarca. A batalha de Beowulf contra Grendel e sua mãe, além de outros feitos, como enfrentar as Nixes ( espécie de monstro marinho) em pleno oceano e o embate com um dragão fazem são momentos dessa lenda. Apesar de se passar no norte da Europa, Beowulf é um poema medieval escrito na Inglaterra, em língua anglo-saxã (conhecida como Inglês Antigo).
O que esperar do livro? A obra compreende o poema original – em inglês – e sua tradução para o português. O poema narra a vida de Beowulf e é traduzido diretamente do inglês antigo por Tolkien, que era mestre e fluente nessa língua. Por se tratar de um poema medieval, a trama segue um padrão mais de descrição de Casas e descendências (como Tolkien utiliza muito nas suas obras da Terra Média), graus de sucessão e no visual valoroso dos heróis. Tem-se sim a narrativa dos acontecimentos e da ação, mas tudo segue o estilo medieval de muita pompa e pendendo para o lado mais descritivo. O poema Beowulf em si é pequeno (por volta de 90 páginas) e ocupa uma pequena parte do livro.
Após a tradução do poema, temos uma longa e extensa parte onde Christopher discorre sobre a tradução em si. Aqui ele aborda desde os problemas com a edição final – uma vez que Tolkien não deixou o trabalho pronto para ser publicado, mas sim centenas de páginas e rascunhos fora de ordem – como abordou dificuldades que o próprio Tolkien teve com a tradução do manuscrito original. É interessante a abordagem do inglês arcaico, uma vez que nos é mostrado como a língua inglesa moderna foi nascendo e como palavras que hoje fazem parte do nosso vocabulário surgiram de pronúncias medievais completamente diferentes do significado atual. Ainda é abordado problemas como a origem da lenda – que apesar de ter sido composta na Inglaterra, tem origem muito mais antiga e medieval – e a relação dela com personagens históricos reais.
Ainda no final do livro temos o conto Sellic Spell, uma versão da lenda de Beowulf mas pela visão do próprio Tolkien, que nas palavras dele tem como objetivo principal: “ressaltar a diferença de estilo, tom e atmosfera quando se elimina o que é particularmente heroico ou histórico.” Aqui temos uma versão mais próxima do que estamos acostumados a ler de Tolkien, no estilo mais próximo ao de seus outros livros. ( o livro ainda tem a versão anglo-saxã de Sellic Spell). Para encerrar o livro ainda tem uma versão da lenda em forma de balada.
Em outras palavras Beowulf é bom para quem quer conhecer ainda mais sobre a obra de Tolkien, sendo um excelente memorial em nome do autor e do seu domínio absoluto sobre o inglês antigo, mas ainda assim se trata de um livro mais recomendado para quem tem afeição por Letras ou as origens da língua inglesa do que para quem procura um romance de aventura propriamente dito.
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