Carous 01/10/2021Tem uns livros que não são popularmente conhecidos e a injustiça disso dói.
Demorei para desencalhar este livro da minha estante, mas não foi por ter dúvidas de que era bom ou se ia gostar ou não. É porque haviam outros livros mais encalhados na frente para ler.
Finalmente a hora chegou para
My Lady Jane e não me arrependo nem um segundo de tê-lo lido.
Às vezes as editoras acertam em cheio com o trabalho gráfico de um livro provando que captaram o espírito dele. E isso ocorre com
My Lady Jane . Dá pra perceber toda a irreverência da história pela capa.
Dá pra perceber a irreverência da história ao ler o livro também. Se os comentários engraçadinhos das autoras que surgem entre parênteses no meio da narrativa não te atenta pra isso, não sei mais o que irá.
My Lady Jane possui um narrador onisciente que vai externar os pensamentos e sentimentos de Eduardo (o rei), Lady Jane (sua prima e sucessora do trono) e Gifford (marido de Jane), respectivamente. Essa ordem se mantém pelos 30 capítulos sem falha.
Eu gostei de todos os protagonistas e da maioria dos personagens secundários também (uns não foram escritos para que o leitor simpatizasse e eu certamente não fiz isso). Não são personagens complexos com uma enorme psicologia por trás, mas não são rasos também. Os protagonistas foram escritos de forma satisfatória para que se pudesse entender suas personalidades, falhas, inseguranças, motivações e, claro, que a gente gostasse deles e, portanto, torcesse pelo seu sucesso.
Gostei que Jane é mostrada como uma garota ""diferente das outras""", mas não tão diferente assim e não de uma maneira que você já cria ranço por não aguentar esse tipo de personagem nos livros. Ou seja, não se enaltece os hobbies favoritos dela, mas naturalmente expõe o que ela gosta mais ou menos.
Ela é ela e ninguém precisa diminuí-la nem colocá-la num pedestal por isso.
Assim como Gracie é Gracie e Bess é Bess.
Quis ser este livro porque ouvi elogios. Confesso que sem isso não teria interesse porque esse período da História da monarquia britânica que começa lá com o b*ndão do Henrique VIII e encerra na sua filha Elizabeth sempre me angustiou. É tanta decisão errada respingando em quem não tem nada a ver com a história, mas paga do mesmo jeito (às vezes com a vida) que eu fico triste. E além de tudo isso ainda tem a estúpida briga entre católicos e protestantes que sempre me fez pensar por que as pessoas simplesmente não respeitam as outras e vivem em harmonia (eu sei, é muito mais complexo que isso).
Então gostei como as três autoras reinventaram à subida ao trono de Lady Jane Grey, dando ênfase em outras questões e focando nas relações entre ela e Eduardo e ela e o marido.
Este livro tem todos os elementos que gosto em histórias: romance fofo, aventura, releitura, leveza. Não tem insinuações de violência sexual contra mulher e não tem morte de personagens que conquistaram meu coração. E um elemento que nem curto muito - a monarquia. Mas já peguei livros com esses elementos que não me agradaram. Então só posso concluir que foi a condução das autoras que me fez adorar a leitura.
As autoras certamente souberam dividir bem o espaço que cada elemento ia tomar. Tem a dose certa de romance, de aventura, de intriga de modo que eu aproveitei bem tudo isso.
É uma das poucas vezes que consigo me lembrar da idade dos personagens não me incomodar. Eles têm entre 16 e 19 anos, mas não parecem novos demais para lutarem pelo trono nem velhos demais para serem ingênuos, duvidarem de tudo ou quase colocarem tudo a perder por não se comunicarem direito.
Não sei se a tradução tenha interferiu no estilo das autoras. Vi comentários de que o livro era engraçado, mas não gargalhei em nenhum momento. Mas percebi o clima leve e bem humorado da história. Aí fico na dúvida se o tradutor tentou traduzir o estilo delas ou apenas traduziu as palavras.
Mas eu entendi a história, captei as piadinhas, então tudo bem. Inclusive a revisão está muito boa.